Resenha de A Identidade Cultural na Pós Modernidade de Stuart Hall

May 22, 2017 | Autor: Carlos Orellana | Categoria: Sociology, Cultural Studies, Identity (Culture), Stuart Hall
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A Identidade Cultural na Pós-Modernidade 2003, Stuart Hall, Editora DPA

Hall realiza um breve histórico das noções de sujeito até chegar à noção de identidade. Como descreve bem “o foco principal deste capítulo é conceitual, centrando-se em concepções mutantes" (Hall, 2003, p.23). De acordo com Hall, tentar mapear a história da noção de sujeito moderno é um exercício árduo e acreditar que as identidades eram unificadas e coerentes e tornam-se fragmentadas é uma maneira simplista de compreender o processo. De acordo com Hall, o indivíduo soberano é constituído em dois movimentos históricos: o Humanismo e o Iluminismo. Essa noção de indivíduo consiste numa figura discursiva unificada e racional que se contrapunha ao poder do Estado e da Igreja. Essa primeira noção de sujeito moderno era cartesiano na medida em que era consciente de sua racionalidade e de sua importância no mundo. A noção de sujeito que se segue é do sujeito sociológico advindo de uma estrutura social cada vez mais complexa. Essa estrutura exigia uma interação maior com seu ambiente social. Dois grandes movimentos teóricos contribuíram para articular um conjunto mais amplo do sujeito. O primeiro foi a biologia darwiniana, isto é, o homem mantinha uma base na natureza e ele seria parte de um desenvolvimento natural da espécie. E o segundo marco foi o surgimento de novas ciências sociais que investigaram a integração, as relações e o ajuste do sujeito na sociedade. E a última noção é do sujeito pós-moderno que sofreu vários descentramentos que permitiram uma ruptura com a lógica dualista que vigorava até o sujeito sociológico. Deste modo, o sujeito

pós-moderno terá a disposição uma noção do ‘eu' mais fragmentada em múltiplas representações, o que desestabiliza a forma como a identidade é concebida. O ceticismo metafísico foi o princípio norteador com o qual Descartes tentou compreender o universo e o homem. Assim, Descartes postula que duas substâncias distintas formariam o homem: a substância espacial (matéria) e a substância pensante (mente), portanto desenvolvendo um dualismo entre mente e matéria. No centro da mente, ele pôs o sujeito individual, constituído por sua capacidade de pensar e de raciocinar. E de acordo com John Locke, em seu Ensaio sobre a compreensão humana, definia o indivíduo em termos de mesmidade de um ser racional, isto é, uma identidade que permanecia a mesma e que era contínua com seu sujeito. A identidade da pessoa alcança a exata extensão em que sua consciência pode ir para trás, para qualquer ação ou pensamento (HALL apud LOCKE, 2001, p. 28). Portanto, Locke concebia o sujeito da razão ao mesmo tempo em que sofria as consequências dessa racionalidade. De acordo com Hall, houve uma série de rupturas nos discursos do conhecimento moderno. A primeira descentração refere-se às tradições do pensamento marxista, particularmente, a partir da obra de Louis Althusser. O segundo dos grandes descentramentos no pensamento ocidental é a descoberta do inconsciente por Freud. A teoria freudiana afirma que a nossa sexualidade e a estrutura de nossos desejos são formadas com base em processos psíquicos e simbólicos que funcionam com uma lógica distinta da Razão. O terceiro descentramento está associado ao trabalho do linguista estrutural, Ferdinand Saussure. A teoria de Saussure propõe que a língua é um sistema social e não um sistema individual. Ela preexiste a nós. Posteriormente, o filósofo da linguagem, Jacques Derrida propõe que o significado é inerentemente instável procurando sempre o fechamento (identidade), mas que ele é constantemente perturbado pela diferença. O quarto descentramento ocorre com a obra do filósofo francês Michel Foucault, com a obra foucaultiana há uma genealogia do sujeito moderno. De acordo com Foucault, há um poder disciplinar que não apenas regula e vigia populações inteiras, mas que alcança ao indivíduo e ao

corpo através de instituições (escolas, quartéis, prisões, hospitais, etc.) que controlam as vidas, o trabalho, a saúde sob uma restrita disciplina. O quinto descentramento refere-se ao impacto do feminismo tanto como crítica social quanto movimento. O feminismo contesta politicamente as arenas da vida social, politizou a subjetividade e os processos de identificação e questiona as identidades baseadas em gêneros e sua divisão clássica de papéis. No terceiro capítulo, Hall enfatiza a questão da identidade social. A identidade social constitui uma das principais fontes da identidade cultural. A identidade nacional é um arranjo discursivo que exige dos indivíduos um sentimento de identificação e de lealdade com a contrapartida de uma série de serviços e de proteção pelo Estado-nação. Assim, a identidade nacional é um sistema de representação cultural que na Modernidade ofereceu as bases para as identidades individuais, mas que na Pós-Modernidade dissolve-se dando lugar a outras espécies de representações. Portanto, a identidade configura-se num sistema complexo e dinâmico que se configura no interior dos grupos sociais. Conforme Hall, a cultura nacional é um discurso que produz sentidos e esses sentidos estão contidos nas estórias contadas sobre a nação, a memória e símbolos. Segundo Benedict Anderson, a identidade nacional se constitui como uma comunidade imaginada, pois as diferenças entre uma nação e outra estão na forma como elas são imaginadas. Desse modo, a nação pensada no plano discursivo exerce um papel articulador de uma série de representações. De acordo com Hall, a identidade nacional funda-se, particularmente, em cinco estratégias discursivas. A primeira é narrativa da nação que fornece uma série de estórias, panoramas e símbolos que representam as experiências, as perdas e os triunfos que dão sentido à nação. Em segundo lugar, há uma ênfase na origem e na tradição como algo primordial que sempre esteve presente na nação. A invenção da tradição é a terceira estratégia que representa um conjunto de práticas que servem para incrustar certos valores e normas através da repetição. A quarta estratégia é o mito fundacional que se refere a estória que tenta localizar as origens do caráter nacional. E a última estratégia baseia-se na ideia do povo original que tenta mostrar as origens étnicas da nação.

O quarto capítulo, Hall analisa as transformações das identidades nacionais frente à globalização. De acordo com Anthony McGrew, a globalização se refere àqueles processos, atuantes em escala global, que atravessam fronteiras, integrando e conectando comunidades e organizações em novas combinações de espaço-tempo. Essas novas características temporais e espaciais estão entre os aspectos mais importantes da globalização. O processo de globalização trouxe uma série de consequências para compreensão da identidade, entre elas, a homogeneização cultural como principal fator de reconfiguração das identidades. Entre os processos provocados pela homogeneização cultural estão: a fascinação da diferença, a mercantilização da etnia e da alteridade, a exportação de mercadorias simbólicas como valores, prioridades de formas de vida. Ao mesmo tempo em que amplia as representações ligadas ao local, surgindo movimentos da periferia com identidades renovadas. Esta dialética das identidades globais vs identidades locais acarreta num processo de hibridação, ou seja, um alargamento do campo das identidades e a proliferação de novas identidades.

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