Resenha de \"A interpretação da Bíblia na Igreja\"

May 23, 2017 | Autor: Frank Maciel | Categoria: História e Cultura da Religião, Teoria do Direito, Hermenêutica Do Direito
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Texto: A interpretação da Bíblia na Igreja, Pontifícia Comissão Bíblica, 9ª Edição, 2010, Paulinas, São Paulo. Documento de 23 de abril de 1993, apresentado perante o Papa por aquela Comissão. Documento aprovado por ele como Documento Oficial da Igreja.

Abordagem histórico-crítica
Foca na análise linguística (morfologia e sintaxe) e semântica do texto, valendo-se de conhecimentos filológicos, tudo com o fim de encontrar o texto mais próximo do original. Pensa também na função pragmática do texto: considera-se o texto bíblico como uma mensagem aos seus contemporâneos.

Abordagem retórica
Segundo essa análise, o texto não é mera enunciação de verdades, mas também é uma mensagem dotada da função de comunicar algo num determinado contexto, com uma dinâmica de argumentação e uma estratégia retórica.

Abordagem narrativa
Estuda o jeito pela qual a história é contada de maneira a envolver o leitor no mundo do relato e seu sistema de valores. Uma determinada abordagem narrativa distingue, por exemplo, o autor real do autor implícito, o leito real do leitor implícito.

Abordagem semiótica
Desenvolveu-se, sobretudo, com os descendes da obra de Ferdinand Saussure, segundo quem toda língua é um sistema de relações que obedece a regras determinadas – está relacionada ao estruturalismo, portanto –. Nessa abordagem, não se apela para elementos externos (princípio da imanência), busca-se apreender o sentido do texto a partir do próprio texto e da articulação de seus elementos (p. da estrutura de sentido) e estuda a gramática do texto (como regras que o teto obedece) (p. da gramática do texto), que se revela pelos diferentes níveis desse texto. Há no texto um nível narrativo, um discursivo e outro lógico-semântico. O estruturalismo pressupõe a negação dos sujeitos e da referência extratextual, razão pela qual é recebido com críticas. Mas mesmo assim é muito utilizado.

Abordagem canônica
Estuda a Bíblia na perspectiva do todo, e os articulando de acordo com critérios teológicos, de providência divina em relação ao membros da comunidade cristã. Ele complementa o método histórico-crítico, vendo o desenvolvimento da forma final do texto como um processo providencial. Mas essa interpretação canônica não pode ser um continuo. Devem-se reconhecer as rupturas na formação do texto e nos critérios de interpretação conforme a isso – p. exemplo a passagem para o novo testamento –.

Abordagem com recurso às tradições judaicas
Os judeus conservaram alguma erudição através dos milênios. Um texto que preservaram foi a tradução grega dos Setenta, usada como primeira parte da Bíblia nos primeiros quatro séculos da era cristã.

Abordagem através da história dos efeitos do texto
Conforme ela, um texto se torna uma obra literária porque encontra leitores e a história dessa apropriação contribui para compreensão do texto. Por exemplo, a interpretação do Pentecoste para os pentecostais hoje. Essa parte da Bíblia só veio a produzir um grande efeito recentemente. Também existem textos interpretados de forma racista em determinadas épocas e comunidades: por exemplo, o sinal de Cain como sendo a criação da cor da pele negra.

Abordagem sociológica
Indispensável à crítica histórica, no reconhecimento do contexto em que foi elaborado o texto contribuindo para sua compreensão.

Abordagens através da antropologia cultural
Próxima da abordagem sociológica, diferencia-se dela porque procura definir os diferentes tipos de homens no ambiente social deles, e não propriamente nesse ambiente. Estuda os mitos e lendas de um povo que elaborou o texto comparando-os com os de outros povos.

Abordagens psicológicas e psicanalíticas
Enriquecem o estudo do texto na medida em que buscam compreendê-los enquanto experiências de vida e regras de comportamento. Estuda o conflito da religião com inconsciente humano. Contribuem para decifrar a linguagem humana da revelação religiosa. Contribuem assim, para compreender a linguagem simbólica do texto, típicas da vida religiosa, e que não são puramente de raciocínio conceitual.

Abordagem da teologia da libertação
Não se constitui propriamente numa abordagem, mas numa prática constatável que consistia em buscar o texto no seu contexto de origem, focando na situação vivida pelo povo. Se ele vive em situação de opressão, é preciso buscar no texto um alimento que o retire dessa condição, ajudando com esperança e nas suas lutas. A práxis cristã autêntica é a busca da transformação da sociedade por meio da justiça e do amor.

Abordagem feminista
Nasce nos Estados Unidos no fim do século XIX e busca no texto um amparo na luta pela libertação da mulher e na conquista de direitos iguais aos dos homens. Uma abordagem radical rejeita a autoridade da Bíblia dizendo que ela foi produzida por homens em vista da dominação sobre a mulher. Uma abordagem neo-ortodoxa foca em tudo aquilo que no texto favorece a libertação da mulher, concluindo que esse é verdadeiro sentido do texto no tocante à mulher. Uma abordagem crítica procura investigar o papel da mulher no contexto bíblico, ressaltando que teria existido um igualitarismo entre homens e mulheres durante o cristianismo primitivo, embora depois isso tenha sido abandonado em favor do patriarcalismo – favorece essa tese, por exemplo, o fato de que em outras religiões da época a mulher não podia comungar, como no mitraísmo –.

Abordagem fundamentalista
"A leitura fundamentalista parte do princípio de que a Bíblia, sendo a Palavra de Deus inspirada e isenta de erro, deve ser lida e interpretada literalmente em todos os seus detalhes". Opõe-se a qualquer método científico de interpretação da Bíblia. Começa com a Reforma. O termo "fundamentalismo" é ligado ao Congresso Bíblico Americano de 1895, em Nova York, quando os protestantes conservadores definiram "cinco pontos de fundamentalismo": a inerrância do texto, divindade de Cristo, nascimento virginal, doutrina da expiação vicária e ressurreição corporal, quando da segunda vinda de Cristo. Funda-se numa ideologia não bíblica: doutrinarismo rígido e uma leitura que não pode ser questionada. "Ele se recusa em admitir que a Palavra de Deus foi expressa em linguagem humana e que ela foi redigida, sob a inspiração divina, por autores humanos cujas capacidades e recursos eram limitados". "Ele se omite igualmente de considerar as 'releituras' de certas passagens no interior da própria Bíblia". Por fim, com adesão ao "sola scriptura" torna-se anti-eclesial. "O fundamentalismo convida, sem dizê-lo, a uma forma de suicídio de pensamento". "A abordagem fundamentalista é perigosa, pois ela é atraente para as pessoas que procuram respostas bíblicas para seus problemas da vida".




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