Resenha de: A Perda da Razão Social do Trabalho terceirização e precarização Graça Druck e Tânia Franco (orgs.), Revista Margem Esquerda, n. 11, 2008

A Perda da Razão Social do Trabalho
terceirização e precarização
Graça Druck e Tânia Franco (orgs.)
São Paulo, Boitempo, 2007, 235 p.

Precarização, flexibilização do aparato produtivo, intermediação de
força de trabalho, redução de custos, cooperativismo. Compreender em que
medida esses elementos estão relacionados com a terceirização e quais são
as conseqüências sociais desse que podemos considerar o mais importante
instrumento da reestruturação do capital no nosso país, são os objetivos
analíticos do instigante livro organizado por Graça Druck e Tânia Franco.
O livro é uma reunião de textos de doze autores, divididos em três
partes. A primeira delas, intitulada "A precarização social do trabalho", é
um esforço de traçar um quadro geral no qual está inserido o fenômeno da
terceirização e, ao mesmo tempo, de buscar compreendê-lo na sua história e
nas suas principais configurações contemporâneas. Como declaram as próprias
organizadoras do livro, trata-se de um esforço, também, de agregar alguns
dos principais interlocutores, brasileiros e franceses, da equipe de
pesquisa sediada no Centro de Recursos Humanos (CRH) da Universidade
Federal da Bahia. Dessa forma, o texto de Antunes avança a tese que há um
processo de precarização estrutural do trabalho no capitalismo. Thébaud-
Mony e Druck afirmam que dentro desse processo de precarização é a
terceirização, fenômeno velho e novo, a ferramenta fundamental da última
reestruturação do capital. Carelli, autor do terceiro texto, explora as
diferenças entre a terceirização lícita e intermediação de força de
trabalho. Encerrando a parte I, Lima expõe o debate sobre uma das
principais formas de terceirização hoje no Brasil: através de cooperativas.
Na segunda parte do livro, "Terceirização e flexibilização do
trabalho industrial na RMS (Região Metropolitana de Salvador)/Bahia", os
textos colocam em relevo os resultados da segunda pesquisa sobre a
terceirização da equipe. O projeto "Terceirização: uma década de mudanças",
realizado entre os anos de 2004 e 2006 é um esforço comparativo em relação
aos dados colhidos num primeiro mapeamento da terceirização nessa região –
em empresas de ramos econômicos dinâmicos e cujas atuações envolviam riscos
do ponto vista ambiental e da saúde dos trabalhadores – entre os anos de
1993 e 1995. Os textos de Druck, Franco e Silva nos oferecem um panorama
rico em dados e em análises sobre a terceirização e seus significados para
a classe trabalhadora baiana. A conclusão fundamental corrobora o
diagnóstico da primeira pesquisa: terceirização e precarização são
inseparáveis na realidade das relações de trabalho no nosso país.
Na última parte do livro, "Terceirização e precarização social
acima e abaixo da linha do Equador", o livro inova em relação à maioria das
publicações de caráter científico e acadêmico e da voz aos sindicalistas
envolvidos com os trabalhadores terceirizados das empresas pesquisadas:
Santana, Almeida e Boaventura. Mas não o faz para comprovar teses ou para
ilustrar o que foi dito nos textos anteriores; os sindicalistas são
produtores de conhecimento, relatam suas experiências concretas na
representação e organização de trabalhadores terceirizados, descrevem as
condições de trabalho nas empresas e refletem sobre elas, desenham análises
sobre os desafios, os alcances e os limites da ação sindical. O último
texto dessa parte é a tradução de uma interessante e esclarecedora
entrevista com o sindicalista francês André Fadda, onde são expostas as
duras condições da terceirização no Estaleiro Atlântico, em Saint-Nazaire
(França).
"A Perda da Razão Social do Trabalho", destaca-se, portanto, como
uma obra fundamental para aqueles que desejam e precisam de uma análise
séria e rigorosa da terceirização como mecanismo importante da recomposição
das taxas de lucros das empresas e do domínio sobre os trabalhadores.
Pequenos problemas que acompanham qualquer coletânea de artigos – tais como
algumas repetições de teses e citações ao longo dos textos – não afetam a
profundidade das abordagens. Trata-se de um livro que coroa, com sua
crítica aguda e certeira da terceirização, o extenso, sério e profícuo
trabalho do grupo de pesquisadores do CRH/UFBA e evidencia, ainda uma vez,
a importância da interlocução e do trabalho coletivo para enfrentar,
analítica e politicamente, os desafios impostos aos trabalhadores pelo
capitalismo contemporâneo. – Paula Marcelino.