Resenha de \"Um Jesus popular\" de Néstor Míguez

July 6, 2017 | Autor: Elissa Sanches | Categoria: Theology, Systematic Theology, Biblical Theology
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RESENHAS MIGUEZ, Néstor O. Um Jesus popular: para uma cristologia narrativa. Trad. Sérgio José Schirato. São Paulo: Paulus, 2013.

Elissa Gabriela Fernandes Sanches* Jesus foi um educador ao tentar ensinar ao povo um novo olhar sobre a fé judaica, ele também foi um médico pois realizou diversas curas para todo o tipo de enfermidade, também foi um revolucionário pois, em sua visão, a condição de vida do próximo era mais importante que a própria lei de Moisés, a torah. Jesus foi um exemplar orador, dado que seus discursos permanecem até os dias atuais, e continua orientando milhões de pessoas em toda a história humana, ele foi aquele que se encarnou, consubstância de Deus e corpo simultaneamente, finito e infinito, para salvar a humanidade de sua condição de pecado e disponibilizar a sua graça, além de permitir que a criação adentrasse em uma nova era, de perdão, misericórdia, compaixão e justiça. Néstor Míguez,

autor do obra trabalhada nesta resenha, escreveu

preocupado com a elaboração do texto, com o seu público-alvo e em expor da maneira mais simples (e muitas vezes contextualizada) a narrativa da vida de Jesus com todos os seus principais elementos. Míguez ainda procura manter o valor do método diante da jornada escolhida: uma leitura popular, algo que ele próprio considera um desafio. Já na primeira página o autor questiona: “Como podemos abordar as narrativas e estudá-las sem deixar de ser narrativos?” (MÍGUEZ, 2013, p. 5). No decorrer da história é claramente perceptível o intenso trabalho exegético e hermenêutico para se realizar um leitura popular o mais fidedigna possível. Foi efetuado um grande esforço em ambientar os relatos da história de Jesus de modo a não excluir as histórias mais relevantes. Por exemplo o relato do nascimento de Jesus, a visão de Mateus e Lucas respectivamente, o Ministério que o próprio Cristo começa a desenvolver ao longo de sua jornada, o caso de Maria Madalena, a parábola do rico, a ceia da páscoa, o processo do julgamento e morte de Jesus Cristo e, por fim, a sua ressurreição e sua última aparição aos discípulos e * Graduanda do curso de Teologia na Faculdade Nazarena do Brasil e do curso de Filosofia na Universidade do Sul de Santa Catarina/SC. Lattes: http://lattes.cnpq.br/0876232158731658. Email: [email protected].

SANCHES, E.G.F. Resenha do livro de MIGUEZ, Néstor O. Um Jesus popular: para uma cristologia narrativa. Trad. Sérgio José Schirato. São Paulo: Paulus, 2013. INTEGRATIO, v. 1, n. 1, jan. - jun. 2015, p. 113-115.

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discípulas. O método utilizado abrangeu diversas articulações, como quando Míguez tratou acerca da visão matiana da história de Jesus no qual escreveu todo o capítulo simulando uma conversa com o próprio Mateus, no período histórico em que vivia, como se estivesse lá, lado-a-lado com o discípulo. A mesma proposta ele utilizou com Lucas, e esta ideia da entrevista permeou vários momentos do livro, aplicada a vários outros personagens. Em alguns, ele fazia questão de adentrar em suas realidades, em outros, ele abria espaço para que se contextualizassem a era pós-moderna, como se vivessem nos dias de hoje porém com valores e culturas dos antigos. Se atenta que para fazer uso desta proposta é necessário, no mínimo, ser um observador bastante cauteloso e alerta à personalidade e trejeitos da linguística comunicativa da época. Caso a intenção for realizar um trabalho o mais autêntico possível, não se pode abrir mão de um estudo histórico e cultural aprofundado a respeito da visão de mundo que os personagens possuíam. É necessário se esquecer da realidade em que se vive, e literalmente, se embrenhar em seus contextos de vida. Apesar disso, o autor (MÍGUEZ, 2013, p. 8) afirma que: [...] A cada possível interpretação do relato tornavam-se evidentes para mim os condicionamentos culturais de minha leitura e, portanto, como englobava outras. É isso, justamente, o que o relato não quer fazer. A alternativa é procurar dispor de histórias verossímeis, descobrir a testemunha no testemunho, compartilhar seu mundo. É isso que se pretende com tal aproximação, que recria o relato, interage com ele, torna-o outro relato [...].

Néstor Míguez declara ser muito difícil limpar os relatos das próprias questões socioculturais os quais se vivencia na realidade atual, a contextualização é automática. Essa integração é tão natural que o processo interpretativo se torna subjetivo e variado segundo o modo de vida de cada leitor(a). Neste sentido, o autor comenta que buscou inserir no livro as histórias que demonstravam serem as mais verossímeis possível, nas quais se encontra no relato a fala da própria testemunha, e não somente uma interpretação do testemunho dado. Sob esta ótica, ele buscou construir uma leitura popular, para se desenvolver uma narrativa autêntica. Em

um

dos

tópicos

introdutórios

denominado

“As

artimanhas

do

leitor/autor”, Míguez comenta que uma das grandiosidades da história de Jesus Cristo é que ela pode ser facilmente correlacionada com os dias atuais, em que pobreza e miséria continuam se destacando, bem como a permanência de impérios enquanto riquezas e luxos pertencem à grande minoria da população mundial: SANCHES, E.G.F. Resenha do livro de MIGUEZ, Néstor O. Um Jesus popular: para uma cristologia narrativa. Trad. Sérgio José Schirato. São Paulo: Paulus, 2013. INTEGRATIO, v. 1, n. 1, jan. - jun. 2015, p. 113-115.

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[...] Examino os contextos. Não posso deixar de mencionar o pano de fundo do império, digo-me constantemente, uma vez que é o que tenho em meu próprio pano de fundo. Somente posso pensar diante do império que me incomoda [...]. Vejo os noticiários nestes dias em que escrevo: novas matanças no Afeganistão, no Iraque, Oriente Próximo, as crianças despedaçadas pela bomba. Os novos Herodes nunca se saciam, penso. Sei que os impérios são sempre impérios. (MÍGUEZ, 2013, p. 12)

Portanto, uma reinterpretação por parte do(a) leitor(a) não é só automática como necessária, para que ele reconheça os traços históricos em comum, e, sobretudo, compreenda como Jesus Cristo lidou com esses conflitos em sua época, os quais não foram muitos diferentes daqueles que se experienciam nos dias atuais. O aspecto intencionalmente didático da obra

permite que o(a) leitor(a)

aprenda com a própria vida e ministério de Jesus. Também foi observado o enfoque à vida simples e humana do Filho de Deus, cuidadosamente trabalhada para fins de que a impressão maior fosse a de Cristo como um ser humano comum, contudo capaz de realizar milagres e se dedicar à missão de Deus no mundo, o seu ministério. Esta estratégia é conhecida no método da leitura popular, pois ela permite que o(a) leitor(a), seja pobre ou rico, se veja como semelhante ao personagem principal, portanto se identifique com o texto. Percebe-se que, para uma Cristologia Narrativa, a contextualização é essencial, para que a história não seja somente assimilada pela mente e sim, também, marcada na alma, motivando o(a) leitor(a) a desenvolver uma reflexão que contribua com os próprios valores pessoais e, auxilie em uma nova visão de mundo.

SANCHES, E.G.F. Resenha do livro de MIGUEZ, Néstor O. Um Jesus popular: para uma cristologia narrativa. Trad. Sérgio José Schirato. São Paulo: Paulus, 2013. INTEGRATIO, v. 1, n. 1, jan. - jun. 2015, p. 113-115.

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