GEERTZ, Clifford. “Uma descrição densa: por uma teoria interpretativa da cultura”. In: A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1989. p. 1341. Maynara Costa de Oliveira Silva1
Geertz inicia o capitulo “Uma Descrição Densa: Por uma Teoria Interpretativa da Cultura” utilizando métodos modernos aplicados às ciências sociais, priorizando as investigações antropológicas, questionando a força com que certas idéias surgem no panorama intelectual, à forma como elas se instalam excluindo ideias anteriormente existentes. Para Geertz dado a enorme quantidade do conceito de cultura, faz com que os estudiosos se confundam, em vistas disso para o autor o conceito de cultura é semiótico, porque ela não cabe a uma ciência experimental recheada de regras, mas, serve a uma ciência interpretativa em busca de significados e conclusões. Desta forma, a cultura não simboliza um poder sobre os quais possam ser atribuídos casualmente os comportamentos, os acontecimentos sociais, as instituições e os processos, o que de fato ela simboliza é um contexto na qual todos estes elementos estão inseridos. Como podemos ver em grifos do autor: “O conceito de cultura que eu defendo, e cuja utilidade os ensaios abaixo tentam demonstrar, é essencialmente semiótico. Acreditando, como Max Weber, que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e sua análise; Portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do significado.” (GEERTZ, p.15)
Foi buscando compreender as representações que pessoas dessas sociedades faziam de si e do outro que o autor focaliza os significados simbólicos imprimidos na noção de “eu”. No primeiro capítulo da obra “A interpretação das culturas”, Clifford Geertz cria uma nova tese que coloca a antropologia como uma ciência interpretativa experimental, partindo do viés que a cultura poderia ser um texto, portanto passiva de interpretação e não mera descrição, o texto parte de uma análise concreta. Tendo em vista isso, seria função do antropólogo não apenas descrever os acontecimentos sociais, dados, comportamentos, entre tantas outras descrições, mas caberia a ele também interpretar dentro do contexto em que se encontram, de maneira que exista algum nexo, a terceiros que façam parte ou não desta sociedade. Então, seria uma descrição densa o método adequado à análise interpretativa da antropologia, posto que nela se poderia 1
Mestranda do Programa de Pós Graduação em Antropologia Social – PPGAS/UFRN – e-mail: maycosta
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diferenciar uma piscadela de um tique nervoso, mesmo que as duas coisas utilizasse o ato de contrair a pálpebra direita. As etnografias elaboradas a partir da descrição se caracterizam por haver uma percepção mais aguçada, em que se percebe as “miudezas”, está pode ser verificada através das seguintes características: “ela é interpretativa; o que ela interpreta é o fluxo do discurso social e a interpretação envolvida consiste em tentar salvar o ‘dito’ num tal discurso da sua possibilidade de extinguir-se e fixa-lo em formas pesquisáveis (...) ela é microscópica” (GEERTZ, 1989, p. 31). Portanto, somente a descrição densa poderia nos levar a distinguir entre s tiques nervosos, as piscadelas por conspiração com um amigo, as piscadelas por imitação e as piscadelas ensaiadas (utilizando-se dos exemplos do ensaio critico do autor). A diferenciação poderia ser alcançada através do sentido imposto pelo indivíduo, na proporção em que é compartilhado e compreensível pelos demais. Então, o etnógrafo só poderia captar as distinções de significado buscando o “ponto de vista dos nativos”. Observando o que já fora dito, as criticas feitas a Bronislaw Malinowski mostram que para alcançar o “ver” dos nativos não é preciso morar com eles, tornar-se um nativo ou copiá-lo, porém procurar travar diálogos e estar entre eles para captar o sentido das ações sociais que são trocadas entre os indivíduos. Em vistas disso “deve atentar-se para o comportamento e, com exatidão, pois é através do fluxo do comportamento – ou mais precisamente, da ação social – que as formas culturais encontram articulação” (GEERTZ, 1989, p.27). Clifford Geertz, também faz referência ao uso do discurso social, ou seja, a manipulação que o etnógrafo realiza transformando esse, de uns acontecimentos passados para relatos que podem ser consultados em um momento posterior. Menciona também que os estudos e pesquisas antropológicos são pontos de partida para outras pesquisas. Geertz (1989) acrescenta que etnografia tem que ser mais interpretativa do que observadora, pois o etnógrafo observa, registra e analisa. Geertz destaca condições da teoria cultural, na qual a primeira refere-se às resistências que a abordagens interpretativas almejam realizar com a articulação conceptual. Podemos compreender que nesta condição não se deve limitar o uso de uma teoria ou outra, como se o uso de uma excluísse a outra. Já a segunda condição da teoria cultural refere-se às suas premissas não proféticas, porque as teorias não devem projetar resultados de manipulações experimentais, mas devem sim provocar interpretações de assuntos já exista uma dominação cientifica. Deste modo o autor reforça uma de suas primeiras críticas, mencionada anteriormente, referente à utilização excessiva de teorias que se enquadrem em todo em qualquer estudo, como se o real tivessem que modelado para se adequar às teorias, obrigatoriamente. Segundo Geertz, as teorias necessitam “sobreviver intelectualmente” e não sobreviver alimentando-se do passado. Então, por fim o autor relata que nunca chegou “próximo do fundo de qualquer questão sobe a qual tenha escrito, tanto nos ensaios abaixo como em qualquer outro local” (GEERTZ, 1989, p. 39). Podemos concluir, então, que a análise cultural é
complexa e sempre será incompleta, levando-nos as particularidades do social, compreendendo aquilo que muitas vezes não somos capazes de compreender em nossa cultura, por não haver uma atenção para tais detalhes.