Resenha do capítulo O ESPETÁCULO DO OUTRO de Stuart Hall

July 23, 2017 | Autor: Carlos Orellana | Categoria: Derrida, Stuart Hall, Cultural Representation
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O ESPETÁCULO DO OUTRO


Stuart Hall
























































Carlos Orellana


Santa Maria, 31 de março de 2011








Como nós representamos pessoas e lugares que são significativamente
diferentes de nós? Quais são as formas típicas e as práticas
representativas que nós usamos para representar a diferença na cultura
popular hoje, e de onde essas figuras populares e estereótipos vêm? Essas
são as principais preocupações de Stuart Hall ao analisar o tema da
diferença, ou seja, saber a variedade de imagens que nós dispomos na
cultura popular e na mídia de massa sobre a diferença.


O capítulo apresenta em profundidade as teorias sobre as práticas de
representação conhecidas como 'estereótipo'. O capítulo termina por
considerar o número de diferentes estratégias que intervêm no campo da
representação da diferença bem como sua construção histórica e acima de
tudo as luta dos diversos discursos do que seja o diferente.


Hall como Barthes faz uma análise detalhista das imagens midiáticas,
fotografias, publicidades, anúncios que apresentam o diferente, e percebe
os discursos que compõem esse lugar do diferente na mídia e cultura
popular.


Heróis ou Vilões?


Neste ponto o autor tenta desvendar as condições pelas quais o diferente,
principalmente, o negro se constitui figura do imaginário popular. Aqui ele
comenta como o negro atleta apareceu na capa da cobertura especial dos
Jogos Olímpicos de 1988 da revista Sunday Times é a foto da competição dos
cem metros na final desse evento esportivo. A fotografia na verdade é um
trailer para a reportagem da revista sobre a ameaça de dopping em atletas
internacionais. Ben Johnson foi desqualificado devido ao uso de substâncias
proibidas e a medalha de ouro foi dada a Carl Lewis (o segundo colocado).
Johnson foi expulso do mundo esportivo em desgraça. A reportagem sugere que
todos os atletas (negros e brancos) são potencialmente heróis e vilões. Mas
essa imagem personifica um caso especial. Ele era ao mesmo tempo herói e
vilão. Ele encapsula as alternativas extremas do heroísmo e da vilania no
mundo esportivo.


De acordo com Hall, há muitos pontos para fazer sobre os modos como
representação da 'raça' e 'alteridade' é construída na fotografia. Essa
fotografia também funciona no nível do mito. Há um nível denotativo do
significado (é a fotografia da final dos cem metros e a figura na frente é
Bem Johnson. No nível conotativo ou temático - a questão das drogas – e com
isso há os temas paralelos da 'raça' e da ' diferença'. Muitos significados
estão presentes na fotografia. Mas não há nenhum significado verdadeiro. O
significado flutua.


Então, quais são os significados que a revista privilegia? Barthes
argumenta que, frequentemente, é a legenda que um dos muitos significados
possíveis da imagem, e ancora com as palavras. O significado da fotografia
está na conjunção de imagem e texto. Os dois discursos (escrito e da
fotografia) são necessários para produzir e 'consertar' o significado.


A diferença significa. Ela fala. A diferença ou a alteridade é interpretada
como uma constante e uma preocupação recorrente de interpretar as pessoas
que são etnicamente diferentes da maioria da população.


Agora adicionaremos outra dimensão a questão da representação da diferença,
a sexualidade e o gênero ao conceito de etnicidade e cor. E a imagem do
negro no esporte é enfatizada no corpo, como um instrumento de habilidade.
As fotografias de corpos negros femininos enfatizam o corpo de tal maneira
que muitas vezes seus corpos são representados como corpos masculinos ou
como sendo de um gorila. Há uma estratégia discursiva nessas fotografias de
descrever a diferença a partir de um repertório do imaginário social que se
constitui historicamente, o regime de representação.


Questões sobre a diferença têm emergido nos estudos culturais nas décadas
recentes e tem se posicionado de diferentes maneiras por diferentes
disciplinas. A primeira perspectiva vem da Linguista (associada à
perspectiva de Saussure). O principal argumento usado pela Linguística é
que a diferença importa, pois ela é essencial ao significado; sem ela, o
significado não pode existir. Nós podemos contrastar alguma coisa com seu
oposto. Portanto, o significado é relacional.


Desse modo, Derrida argumenta que há poucas oposições binárias neutras. Um
dos polos do par é geralmente o dominante. Há sempre uma relação de poder
entre as oposições binárias.


A segunda perspectiva teórica que apresenta a diferença da obra de Bakhtin.
A diferença é construída através do diálogo com o outro. Bakhtin argumenta
que o significado não pertence a nenhum dos falantes. Ele surge nas trocas
entre os diferentes falantes. Assim, a palavra não existe numa linguagem
neutra ou impessoal, o falante se apropria da palavra e adapta a sua
própria intenção.


Outro conceito que consegue entender o diferente é a perspectiva
antropológica. O argumento antropológico compreende que as coisas assumem
significado num sistema classificatório de diferentes posições. Assim, a
construção da diferença é a base para o ordenamento simbólico que nós
chamamos cultura. Essa análise antropológica da construção da diferença
nasce dos trabalhos de Lévi-Strauss. Esse antropólogo argumenta que os
grupos sociais impõem significado aos seus mundos pelo ordenamento e
organização das coisas num sistema classificatório.


A quarta perspectiva teórica é de vertente psicanalítica e destaca o papel
da diferença na nossa vida psíquica. Nesse sentido, o outro é fundamental
para a constituição do self e da identidade sexual. De acordo com Freud, a
consolidação das nossas definições de self depende da maneira como nós
formados, especialmente, no estágio designado de Complexo de Édipo. A
subjetividade surge do senso de self que é formado através do simbólico e
das relações inconscientes que a criança forja com o significante outro.


Após apresentar as quatro perspectivas teóricas que fundamentam o outro e o
diferente. Hall apresenta os três principais momentos do Ocidente de
compreensão do negro. O primeiro momento identificado por Hall é o século
XVI quando os comerciantes europeus e os reinos africanos ocidentais
proveram escravos negros por três séculos. O segundo foi de colonização
europeia da África. Esse período é do controle colonial do território
africano. A última fase relatada por Hall foi do pós Segunda Guerra Mundial
quando intensificaram os fluxos populacionais do 'Terceiro Mundo' em
direção a Europa e América do Norte.


Hall a partir de agora revela as imagens europeias em relação à África era
ambígua, isto é, ao mesmo tempo um lugar misterioso, e com uma imagem
positiva relacionada à igreja cristã coopta e santos medievais.
Gradualmente, essa imagem mudou, passando a ser identificada com a
natureza. Desse modo, eles (os grupos negros africanos) eram simbolizados
como primitivos em contraste com o mundo civilizado. O Iluminismo pensou a
África como a fonte de tudo que era monstruoso na natureza.


McClintock argumenta que a racialização das publicidades (racismo como
commodity) serviu para tornar os lares da classe média vitorianas como
modelos do espetáculo imperial, ou seja, reinventa o conceito de raça,
enquanto os colonizados (em particular os africanos) tornaram-se o teatro
para exibição do culto vitoriano da domesticação.


Segundo Hall, a teoria racial aplica uma distinção entre cultura/natureza
diferentemente para grupos distintos. Há uma poderosa oposição entre
civilização (branco) e a selvageria (negro). O discurso racista relaciona a
representação da diferença através do corpo que se tornou o lugar
discursivo do conhecimento produzido e circulado do racismo.


Tipicamente o regime racista da representação foi prática de reduzir as
culturas negras à natureza, uma estratégia de naturalização da diferença.
Isso permitia dizer que se as diferenças entre brancos e negros são
culturais são, portanto, mutáveis e instáveis. Mas se as diferenças são
naturais, elas se tornam fixas, permanentes.


Os traços de estereótipos raciais têm persistido durante o século XX. Em
oposição às representações racializadas baseadas na diferença, nasce
durante o abolicionismo uma ênfase na idéia de humanidade comum. Apesar
disso, os negros ainda eram representados como suplicantes pela liberdade
ou pessoas cheias de gratidão em relação à boa-vontade branca.


Houve muitas reviravoltas da experiência de como o negro era representado
no cinema hollywoodiano. Mas o repertório de figuras estereotipadas dos
tempos de escravidão não está inteiramente desaparecido. Atores negros
apareciam, principalmente, nos filmes do mainstream em papeis de
subordinados.


A partir dos anos de 1950 que o problema da raça aparece cautelosamente sob
a perspectiva liberal branca. A figura chave dessa fase é o ator Sidney
Poitier considerado o heroi da era da integração.


Um movimento mais ambíguo da 'revolução' negra deu-se nas décadas de 1980 e
1990 que aconteceu com o fim do sonho integracionista do movimento dos
direitos civis, a expansão de guetos negros, o crescimento de uma pobreza
endêmica, criminalização. Apesar disso, esse período veio acompanhado de um
de crescimento da autoconfiança e na insistência do respeito pela
identidade cultural negra.


Nesse ponto Hall articula os conceitos que vão constituir o estereótipo.
Estereotipar reduz as pessoas a poucas, simples e essenciais
características que são representadas como fixadas pela natureza. Hall
examina quatro desses aspectos de construção do estereótipo: a construção
da alteridade e a exclusão; estereotipo e poder; papel da fantasia e
fetichismo.


Nesse sentido vimos o estereótipo como uma prática representacional e de
como ela funciona (essencialização, reducionismo, oposições binárias) e os
modos que acontecem (hegemonia/poder/conhecimento) e mais profundamente os
efeitos inconscientes (fantasia e fetichismo).
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