Resenha do filme a Onda sob a perspectiva do artigo A relação entre lei e poder em Hannah Arendt

June 14, 2017 | Autor: Márjole Coletro | Categoria: Sociology, Hannah Arendt, Power relations
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Nome: Márjole Coletro Matrícula: 09.1.8010

Resenha do filme a Onda sob a perspectiva do artigo “A relação entre lei e poder em Hannah Arendt”

A Onda é um filme alemão de 2008, dirigido por Dennis Gansel. Foi inspirado em um livro de mesmo nome do autor americano Todd Strasser e no experimento social da Terceira Onda. O filme se passa em uma escola de ensino-médio em que um professor de autocracia decide fazer um experimento com sua turma. Esse experimento tinha por finalidade demonstrar algo que os alunos consideravam impossível, que era a consolidação de uma nova ditadura na Alemanha. Para provar que, com os incentivos certos, um povo poderia sim, ser conivente com um governo totalitário, o professor impõe a turma certas disciplinas que buscavam “doutrinar” os alunos em um movimento fictício criado pelo professor e denominado a Onda. Assim sendo, facilmente os alunos aceitam a nova ordem e passam a usar inclusive uniformes e se saudarem com um cumprimento próprio. No entanto, o sentimento de unidade e igualdade gerado por essas ações implicaram também em um sentimento de superioridade que levou o experimento a desastrosas consequências. De acordo com o artigo da Maria Aparecida Azevedo de Abreu, cujo o tema se centra na obra de Hannah Arendt, o espaço político é extremamente frágil, tornando necessário algo que assegure a sua existência. Além de ser extremamente frágil, o espaço político ainda se caracteriza como artificial, frágil e contingencial. Artificial pois no espaço político o homem se despe de sua vida privada e se “veste” com uma persona que iguala a todos. Frágil pois é construído por ações e essas ações são imprevisíveis. E contingencial pois o poder dentro do espaço politico só pode ser considerado legítimo se um grupo de pessoas agem em conjunto buscando o mesmo fim. Sendo assim, Hanna Arendt acredita que as leis e determinadas instituições politicas, funcionem como limitadores da ação humana. Ou seja, elas existem como forma de assegurar a existência do espaço politico e protege-lo de sua própria imprevisibilidade. No filme em questão, a partir do momento em que o professor impõe certas regras como, se levantar para falar, ou apenas dirigir-se a ele como “Sr. Wenger”, os alunos passam a agir em uníssono dando a turma e ao professor, como figura de autoridade, o poder advindo da unidade.

No entanto, “a lei não emerge da mesma ação da qual o poder emerge. Ela pode cristalizar a manifestações do poder, mas não é ela própria uma manifestação sua.” Em outras palavras, o texto legal depende da formação de um poder político que, consentindo acerca desse texto legal, confere a este legitimidade e dá início à sua dimensão política. Sendo assim, houve um momento na sala de aula em que os alunos consentiram com as leis impostas pelo professor. Mesmo que a principio a ideia de doutrinamento não fosse bem vista por todos os alunos, o professor conseguiu através do discurso, o apoio dos alunos e com isso um novo e perigoso sistema foi implantado, pois o desejo pela unidade e igualdade pode ser facilmente convertido em sentimentos de superioridade e ódio ao diferente. Hanna alerta que as leis jamais devem ser prescritivas, ou seja, elas devem dizer o que o homem não deve fazer, mas nunca o que ele deve fazer. De acordo com ela, tal atitude poderia levar ao totalitarismo que é exatamente o que acontece no filme. Alan Moore, explicita isso brilhantemente em sua graphic novel “V for Vendetta”. Nessa ficção em quadrinho, Alan cria uma Inglaterra outrora devastada pela guerra e cuja desgraça e sentimento de inferioridade leva o povo a aceitar um governo extremamente totalitário. Em sua obra há uma curiosa definição de fascismo que se encaixa no contexto do filme e do conceito de Hanna Arendt. Em uma das cenas, Adam Susan, o auto chanceler e líder do partido, diz: “Eu conduzo o país que amo para fora da desolação do século XX. Acredito na sobrevivência. No destino da raça nórdica. Eu acredito no fascismo. Oh, sim, eu sou fascista. O que é fascismo? Uma palavra. Um termo cujo significado se perdeu no resmungo dos fracos e traidores. Os romanos inventaram o fascismo. Um feixe de gravetos era seu símbolo. Um graveto sozinho podia ser partido. O feixe resistiria. Fascismo... Força da união. Eu acredito na força. Eu acredito na união. E se a força, a união de propósitos, exige uniformidade de pensamentos, palavras e feitos, que assim seja.” Acredito que esse trecho ilustra bem o que aconteceu na sala de aula do filme A Onda e como as leis podem ser usadas para “nivelar” um povo e implantar o totalitarismo como diz Hanna Arendt.

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