Resenha do livro de Tere Tavares A LICITUDE DOS OLHOS contos, Editora Penalux 2016

May 27, 2017 | Autor: Tere Tavares | Categoria: Resenha
Share Embed


Descrição do Produto

Aos olhos, todo pensamento e sentimento é lícito

Vivian de Moraes

"A licitude dos olhos" (Penalux, 2016), é um livro de contos que tratam das pequenas e das grandes questões pessoais no mesmo nível. Nele, o autor não vai encontrar historiazinhas água-com-açúcar, tampouco grandes histórias aflitivas. O foco dos narradores desses contos é o indivíduo na sua mais franca observação do eu e do que está em volta.
Os nomes das personagens são sugestivos, a maioria estrangeiros, e há até um caso de anagrama, como duas que se revezam num conto ("Espelho") chamados "Maria" e "Airam". Mas a valorização dos nomes conta pouco, no final das contas, para as outras narrativas – é claro que um espelho possa transformar um indivíduo no seu duplo invertido, grande sacada do conto. Mas as pessoas retratadas no cotidiano de pensar e sentir poderiam ser Maria, Airam, Bento ou qualquer outro.
O leitor desta resenha pode estar pensando: "Mas que tipo de livro, é, então, este?" É um livro moderno na sua convicção de ser fluente na linha dos pensamentos e na lida dos sentimentos, sem peripécias que configurem enredos, no estilo de prosa poética. Cada personagem se basta, olhando-se ou olhado pelo olho nesta "Licitude".
Nesse livro, cuja capa exibe muitos olhos (criados pela autora, que também é artista plástica), é lícito não somente ver, mas principalmente ver. A primazia do olhar interno de cada personagem assim é dada por cada narrador ao leitor, que, lendo fluentemente cada conto, vai deparando com a beleza de tudo o que é expresso nos textos:
"Vê, nas pupilas cuja cor o sol revela, afastadas as purezas incertas da noite não dormida pelos olhos descidos do rosto no teu rastro sem caminho – compreende o quanto de luz molha e bendiz a visão que te esculpe a rota."
Esse trecho de "Kanthi" mostra como esse conto faz uma metalinguagem a partir do título do livro: o mesmo olho que é visto, também vê! O conto todo segue esse estilo.
Vale lembrar que na sondagem das personagens em sua luta diária cabe também uma aproximação da autora com a espiritualidade, esse tema que entre nós tem sido subestimado e considerado até pouco artístico. É uma ousadia da autora, sim, mas de forma discreta demais, ou seja, o leitor ateu não vai se incomodar com a forma que tomam os textos.
Para concluir, vale observar (como os olhos lícitos) que o texto tem grandes tiradas sobre a vida, como em "Fragmentos": "A solidão não é uma opção casual, mas um processo de criteriosa escolha."

Vivian de Moraes é escritora e autora dos livros "Sonetos Sombrios", "Poemas e Canções", "haicais/ vivian/ de Moraes" e "As sete cores do carneiro" de forma independente. O quinto livro, "Desconstrução", foi lançado pela Editora Patuá em novembro de 2015. Em seguida, participou do livro "Atibaia: uma cidade, vários olhares", de crônicas. Lançou "Veneno!" (Penalux), livro que organizou, em maio deste ano. "Satan me tirou para dançar" está no prelo, também pela Penalux. Publica no blog viviandemoraes.blogspot.com.



Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.