Resenha e resumo: O príncipe de Maquiavel

June 13, 2017 | Autor: Friedrich Maier | Categoria: Niccolò Machiavelli, Filosofía Política, Ciencia Politica
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Resenha do livro: O Príncipe de Maquiavel Friedrich Maier1 Introdução – Nicolaus Maclavellus ad Magnificum Laurentium Medicem (Nicolau Maquiavel ao Magnífico Lourenço de Médici) O autor explica que a única coisa digna que pode dar ao príncipe é seu “conhecimento das ações dos homens com poder”, introduzindo assim o tema de seu livro, afirmado que “para conhecer a natureza do príncipe, é necessário pertencer ao povo”. I – De quantas espécies são os principados e como são adquiridos O autor define dois tipos básicos de Estados, os principados e as repúblicas. Sendo que os principados podem ser hereditários ou novos; e os novos, por sua vez, completamente novos, ou apêndices de um Estado Soberano. II – Os principados hereditários Maquiavel afirma que nos principados hereditários a dificuldade para mantê-los é menor, visto que seu povo é acostumado e cabe ao príncipe somente continuar a política de seus antecessores e “se não cria uma reação de ódio por algum vício desprezível, não há motivo para não ser benquisto por todos”. III – Principados Mistos O autor discorre a cerca da natureza dos principados mistos levando novas assertivas quanto à natureza e ordem geral das coisas, afirma a volubilidade dos homens que “mudam de senhor com prazer”, ressalta “a necessidade natural e comum que um novo príncipe de defender os novos súditos com armas e outras injúrias” afirmando que são inimigos do novo príncipe todos aqueles que ofendeu ao ocupar o território e afirmando que seus amigos não podem continuar tal. Afirma que é mais fácil manter a conquista de um território de línguas e costumes iguais, cabendo ao príncipe não alterar nem as leis nem os impostos do novo principado, a fim de mantê-lo. A dificuldade encontra-se em territórios com línguas e costumes diferentes, onde se pode manter a ordem de duas formas, a primeira com a manutenção de exército no local, forma cara e errônea, a segunda, fundar colônias de nativos, forma barata e correta de manter a ordem. Ressalta a importância do fator residência do príncipe, pois se o mesmo morar no lugar de sua conquista mais força terá contra estrangeiros e mais poder ante os habitantes. Duas asserções importantes, uma a cerca da conquista “É coisa realmente natural e comum desejar conquistar e sempre que os homens podem o fazem” e quanto a guerra “Nunca se deve deixar continuar uma desordem para fugir a uma guerra; pois não se foge, adia-se e fica-se em desvantagem”. E por fim “Quem é 1

Graduando em Relações Internacionais pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) – Campus de Marília

a cause de alguém tornar-se poderoso será derrubado”. IV – A razão pela qual o reino de Dario, ocupado por Alexandre, não se rebelou contra seus sucessores após a morte deste Maquiavel aponta duas formas de governo um Estado, a primeira onde há um príncipe e todos os outros são servos [Turquia] ou por um príncipe e barões. Sendo que na primeira forma de governo, a invasão por um estrangeiro é dificultada visto à incapacidade de gerar desordem na unidade, mas a manutenção da conquista nesse território é fácil depois de eliminada a família real, já no segundo tipo, a invasão é facilitada, visto a capacidade de gerar desordem, ao obter apoio de um barão, mas sua manutenção é dificultada pela autonomia dos mesmos. V – Como se devem governar as cidades ou principados que, antes de serem ocupados, se regiam por leis próprias O autor afirma que a maneira de manter um principado que outrora possui leis próprias é ao anexálo, ou destruí-lo, residir lá ou, por fim, deixar que continuem a viver com suas leis próprias, exigindo um tributo e colocando no governo poucas pessoas que mantenham o principado fiel. VI – Dos principados novos que se conquistaram com as próprias armas e valor (Virtù) Maquiavel afirma que os príncipes novos devem aprender com os célebres conquistadores da antiguidade, a fim de imitá-los, tentando obter glórias iguais. Nesse ponto é conclusiva a percepção de tempo histórico cíclico do autor. Além disso, a importância da virtù dos príncipes é ressaltada, visto que, segundo o autor, ela pode facilitar ou dificultar a manutenção de um principado conquistado; nesse ponto há a interferência da fortuna [sorte], mas há a advertência “quem menos confiou na fortuna, por mais tempo reteve a sua conquista”. VII – Dos principados novos que se conquistam com as armas e a fortuna de outrem Há a afirmação de dificuldade em se manter Estados fundados rapidamente e com a ajuda de outras pessoas, de modo que os príncipes com origem privada devem ser atentos e “imediatamente preparar-se para o que a fortuna lhes concedeu e lancem depois alicerces idênticos aos que os demais príncipes construíram, antes de tal se tornarem”. VIII – Dos que conquistaram o principado com Malvadez Maquiavel discorre a cerca das formas nefastas de se obter um principado, tocar em tal assunto ressalta o realismo presente na obra do pensador, que não prefere ficar somente nos moldes bons e “corretos” de fundação de um Estado. Mas não haverá glória nessa conquista. Há uma grande assertiva do autor nesse capítulo, afirmando que “ao tomar um Estado, o conquistador deve fazer todas as ofensas necessárias e fazê-las todas de uma vez, para não precisar renová-

las todos os dias e poder, ao não repeti-las, dar segurança aos homens e conquistar sua confiança com benefícios”. Ainda afirma que “os benefícios devem ser feitos pouco a pouco”. IX – O principado Civil O autor afirma que pode haver um tipo de Estado, chamado de principado civil, que pode ser governado por um comum que é erguido do povo, ou de um comum que emana dos nobres. Quanto ao primeiro tipo, Maquiavel afirma sua facilidade de manter o governo, visto que ao subir no poder com a ajuda do povo, a única coisa a ser feita é não oprimi-lo. Mas quanto aos que comuns que emanam da nobreza, estes devem conquistar o amor do povo, visto que se não for assim, será deposto com facilidade. Ao final do capítulo, Maquiavel discorre a cerca da lealdade do cidadão para com seu Estado, firmando uma ideia pequena sobre cidadania. X – Como medir as forças de todos os principados São diferenciados dois tipos de príncipes, aqueles ricos e poderosos o suficiente para poder defenderse de ataques inimigos, daqueles que não o conseguem e por isso refugiam-se dentro de seus castelos e muralhas. XI – Dos principados Eclesiásticos Maquiavel reflete a cerca do Estado Papal, seu poder e sua influência, afirmando que para obtê-lo é necessária muita sorte ou muita virtù, sendo facilmente sustentado, pelo poderio divino constituinte dele. Além disso, afirma sua natureza distinta sendo o único principado onde “[os] príncipes possuem o estado e não o defendem; têm súditos e não os governam. Os Estados, mesmo indefesos, não lhe são tirados”. XII – Os tipos de milícias e os soldados mercenários O alicerce do Estado maquiavélico está nas leis e nos exércitos, mas o autor resolve discutir somente sobre exércitos, entendo as leis como algo inerente a eles. Dessa forma divide os exércitos em próprios, auxiliares, de mercenários e mistos. Afirmando a natureza diabólica dos exércitos mercenários, que somente sugam o dinheiro do Estado em tempos de paz e fogem ante a guerra, por lutarem somente pelo dinheiro. XIII – Os exércitos auxiliares, mistos e próprios Classifica-se a benignidade ou maldade dos tipos de exércitos, sendo os exércitos auxiliares tão malignos quanto os exércitos de mercenários, visto que por lutarem em honra de outro, a ruína é certa, tanto na vitória quanto na derrota de quem os agencia, portanto, esse tipo de exército deve ser evitado a qualquer custo. Dessa forma, os exércitos de mercenários padecem de preguiça, os auxiliares, de falta de virtude. O único tipo de exército confiável e virtuoso para o pensador é o exército próprio, onde os homens são valorosos e lutam por convicções maiores. O exército francês é classificado como misto por utilizar em

parte soldados mercenários (os suíços na infantaria), e próprio, a cavalaria. XIV – Os deveres do príncipe com suas tropas Maquiavel afirma que o único ofício de um príncipe seja a guerra, em todas as suas formas, um bom príncipe deve saber lutar, conhecer terrenos e estudar a história da guerra, visto que sua função é fazer a guerra e dela valer-se para a expansão de seu Estado. Ao dizer que um príncipe deve estudar a história dos grandes heróis e conquistadores, atuar como eles, buscando repetir os mesmo feitos, ele afirma sua posição de ciclismo ante a história, ou seja, para Maquiavel, a história é cíclica, alternando-se de tempos em tempos. XV – As qualidades pelas quais os homens, sobretudo os príncipes, são louvados ou vituperados O realismo, tão presente na obra de Maquiavel, é mais uma vez afirmado, visto que o autor afirma que “Aquele que deixa o que se faz pelo que se deveria fazer aprende a se arruinar em vez de se preservar”, afirmando que existem qualidades boas e más em um príncipe e que algumas vezes o negativo prevalece para a manutenção do Estado. XVI – A generosidade e Parcimônia Maquiavel afirma que a generosidade é uma característica perigosa e pode levar um principado a ruína, visto que para manter tal generosidade é necessário muito dinheiro que depois de esvaziado dos cofres, deve ser obtido pela usurpação do pobre. Por isso, o autor afirma que o príncipe deve antes querer ter fama de miserável, visto que assim, não gasta muito e não usurpa o povo. Mas há uma exceção, quando a generosidade se faz com dinheiro de outros (povos conquistados) ela é correta. XVII – A crueldade e a clemência: se é melhor ser amado do que temido, ou o contrário Para o autor, é melhor ser temido, visto que a clemência pode deturpar as ações de um príncipe, que ao tentar ser clemente, pode fazer de seu povo muito mais infeliz, do que ao ser cruel. “É muito mais seguro ser temido do que amado, no caso de ser preciso renunciar a um dos dois”. Mas esse temor não pode vir a tornar-se ódio, nesse caso o príncipe pode perder sua conquista, Maquiavel finaliza dizendo que o príncipe “Deve somente cuidar para fugir do ódio”. XVIII – Os príncipes e a palavra dada O autor atribui novamente características essenciais ao príncipe, explicando que o combate de um príncipe deve-se dar através das leis, que são humanas, e da força, que é animal. Afirma que ao príncipe cabe saber ponderar as duas formas e utilizar a força, quando as leis falham. Ainda ao tratar da força, afirma-se que o príncipe deve ser forte como o leão, para amedrontar os inimigos, e astuto como uma raposa para escapar de armadilhas.

Quanto à palavra, o autor legitima que quando a mesma não é usada para bem do Estado deve ser esquecida, ou seja, um príncipe não deve sempre observar a palavra. O autor afere também que um príncipe deve parecer sempre bom num discurso, mesmo que na realidade não o seja. “Assim, um príncipe deve conquistar e manter um estado. Os meios serão sempre considerados honrados e por todos louvados”. XIX – Como evitar o desprezo e o ódio O autor atribui dicas aos príncipes, que precisam evitar as coisas que o tornam odioso e desprezível; como aquilo que torna príncipes odiosos é ser usurpador dos bens e das mulheres dos súditos, aquilo que o torna desprezível é quando é considerado volúvel, superficial, efeminado, pusilânime e indeciso. De modo que se o príncipe evita todos esses atributos negativos, possui boa reputação e deve temer muito pouco. Maquiavel distingue nesse capítulo os dois âmbitos da política, um interno e outro externo. Afirmando que a defesa do Estado no âmbito externo se dá pelo uso de boas tropas. Também cria a relação interno-externo, afirmando que se tudo vai bem no âmbito externo, tudo ocorrerá bem no interno. Por fim, explicita a importância de manter o amor do povo, no caso de sofrer alguma conspiração, passando por vários exemplos na antiguidade a fim de ilustrar o que foi proposto. XX – Se as fortalezas e muitas outras coisas cotidianas usadas pelos príncipes sejam úteis ou inúteis Discorre a cerca daquilo que é necessário para manter o Estado, valorando algumas atitudes tomadas ao longo da história: desarmar a população, manter pequenas discórdias para evitar levantes, conquistar amizades e construir ou destruir fortalezas. Quanto a desarmar a população, afirma se o príncipe o faz quando é novo, erra, visto que mostra desconfiança e pode ser odiado pelo povo, todo príncipe deve formar um exército ao fundar um Estado; mas se o príncipe anexar um território deve deixar com armas somente o exército conquistador a fim de evitar levantes. A tática de manter pequenas discórdias entre famílias ou grupos contrários dentro de seus domínios para facilitar o governo, mostra-se perigosa para Maquiavel, visto que tal atitude ao ser boa no tempo de paz, trás a discórdia no tempo da guerra. Quanto às fortalezas, não há uma valoração a ser feita, mas uma reiteração do que já fora, antes de pensar em erguer fortalezas, deve o príncipe procurar não ser odiado pelo povo, pois a maior fortaleza é o povo que ama e é fiel ao seu príncipe. XXI – Como um príncipe deve agir para ser estimado Um príncipe deve comportar-se de forma a emanar poder e glória, para isso deve saber tomar partido nos conflitos do exterior. Afirma que a neutralidade é errada, visto que nunca se obtêm resultado positivo, nem por parte do vencedor, nem do perdedor. Por isso é necessário sempre tomar parte e fazer uma boa guerra, a fim de criar glória e poder.

Além disso, um príncipe deve preocupar-se com seus súditos, estimulando e protegendo as atividades de cada um deles, criando entretenimentos e reunindo-se com eles de vez em quando. XXII – Dos secretários que acompanham o príncipe Afirma a importância e cautela ao escolher e lidar com os ministros constituintes do governo, afirmando que é necessário mantê-los fieis ao governo, através de honrarias e riquezas. XXIII – Como evitar os aduladores O autor ressalta o perigo da adulação, que pode recair quando os conselheiros temem dizer a verdade ou quando podem falar a qualquer momento. Maquiavel afirma que é necessário prudência e cautela, que um príncipe precisa de conselheiros sábios, que possam falar quando solicitado, somente quando solicitados. Ao príncipe, Maquiavel deixa o conselho de não agir diversamente, mudando constantemente de opinião, isso é danoso aos olhos do pensador. Além disso, afirma que um príncipe deve ser sábio por si só e não se manter às custas da sabedoria dos outros. XXIV – Porque os príncipes da Itália perderam seus Estados Afirma que o motivo para a queda de alguns reinos na Itália deve-se a um dos dois motivos, o primeiro, falta de boas armas e de um exército preparado, o segundo, o ódio do povo, ou ódio dos nobres, quando o povo amava. Ressalta que é errada a concepção de fugir do Estado esperando que o povo volte a clamar pelo antigo governo. Conclui “E as únicas defesas que são boas, que são certas, que são duráveis são as que dependem de ti mesmo e do teu valor”. XXV – Quanto pode a fortuna influenciar as coisas humanas e como se pode resistir a ela Analisa a variável fortuna dentro do quadro de dominação e manutenção de um Estado, afirmando que ela determina metade das ações humanas, mas que para bem aproveitá-la ou combatê-la é necessário sempre a virtude, como forma de canalizar a fortuna para o objetivo humano: poder e glória. Compara a sorte a uma mulher, que deve ser surrada, espancada e subjugada e como a mulher é amiga dos jovens, menos cautelosos. Há também a asserção a cerca do ímpeto, que para Maquiavel é necessário e mais proveitoso do que a cautela, afirma que o sucesso ou derrota dos intentos dos homens dão-se por aqueles que ou sabem agir de acordo com seu tempo [sucesso] ou não [fracasso]. XXVI – Exortação para retomar a Itália e libertá-la dos bárbaros O autor então faz um pedido à casa dos Médici, afirmando que é chegada a hora de libertar a Itália do julgo estrangeiro, permitindo que a mesma viva numa nova liberdade, para tal o candidato à receber toda a glória do povo italiano, deve cumprir o que foi dito no livro e seguir os exemplos dos antigos. Maquiavel aponta mais uma vez a importância das armas para um Estado, avisando que a vitória só seria conseguida se o príncipe assim agisse. Conclui com “Não se deve, portanto, deixar passar esta ocasião, para que a Itália,

depois de tanto tempo, veja o seu redentor”. Com um trecho de Petrarca, encerra o último capítulo “A virtude contra o furor/tomará das armas; e o combate será breve,/Pois o antigo valor/ Nos corações italianos ainda não morreu”.

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