Resenha Econômica; Com ou Sem Catupiry, somos todos coxinhas

June 29, 2017 | Autor: Tales Lins Costa | Categoria: Political Economy
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RESENHA ECONÔMICA Ano 22, n°262, 14/11/2014 - PET ECONOMIA CCJE – UFES

COM OU SEM CATUPIRY, SOMOS TODOS COXINHAS A China Ordenou Mesmo Que Hackers Atrapalhassem o Protesto em Hong Kong?

Enquanto o governo se prepara para uma guerra com os manifestantes nas ruas, e diante de ataques online implacáveis, estes ativistas resistem, pacificamente.

Disponível em: http://motherboard.vice.com/pt_br/read/a-chinaordenou-mesmo-que-hackers-atrapalhassem-o-protesto-em-hongkong

Em meados de junho, meses antes dos manifestantes pródemocracia lotassem as vias públicas de Hong Kong com seus guarda-chuvas, ativistas sentaram em frente aos seus computadores disseminando sua mensagem pela internet com a esperança de atrair mais observadores passivos a tomarem parte da ação. De saco cheio de um governo chinês metendo o nariz onde não era chamado, os manifestantes se preparavam para um verão de mudanças. Trabalhando em conjunto com a equipe do Occupy Central, o PopVote, um site criado pela Universidade de Hong Kong e pela Universidade Politécnica de Hong Kong, preparava seus sistemas para hospedar um referendo não-oficial sobre como os cidadão escolheriam votar diretamente para o cargo de diretor executivo de Hong Kong [...]. Pequim havia prometido a Hong Kong que seus habitantes poderiam escolher seu próximo líder em 2017. Mas desta vez, novamente, o governo chinês escolheria os candidatos. Para muitos na cidade-estado, a China não fez o bastante. Eles queriam uma democracia verdadeira e o PopVote os ajudaria a expressar isso. Mas a China queria manter seu domínio, algo que mantém desde 1997 quando a Grã-Bretanha lhe entregou a cidade. Certamente o governo não queria que o Occupy inspirasse outros pelo continente. Os esforços de conscientização do PopVote começaram tranquilos. Os voluntários se cadastravam e participavam de votações simuladas no site na semana anterior à votação de fato, marcada para ocorrer dos dias 20 a 22 de junho. Mas aí chegaram os bots. Milhões deles. A maioria suspeita que o governo chinês lançou uma série de ataques distribuídos de negação de serviço (DDoS, na sigla em inglês) que derrubaram o PopVote, sem precedentes em termos de escala e sofisticação. A China nunca admitiria a culpa, porém. Sua resposta padrão para qualquer acusação de

envolvimento do governo em campanhas hackers sempre foi negar tudo. Nem o Ministério de Relações Exteriores nem a embaixada chinesa em Londres responderam pedidos de pronunciamento. [...]

Disponível em: http://www.giekim.com/2013/02/tirinha-0312-protestobrasileira.html#.VGT1fvnF85M

Comentário Hong Kong é uma região administrativa que, desde 1997, quando o Reino Unido devolveu a soberania da região à China, tem seus líderes políticos escolhidos pelo governo chinês. Agora os cidadãos de Hong Kong, liderados por estudantes, protestam, em um movimento pró-democracia, para que o Chefe do executivo Leung Chun-ying renuncie ao cargo e que haja eleições diretas. O governo chinês chegou a propor eleições diretas, mas com a condição de que ele determinaria os candidatos que concorreriam à presidência, assim como aprovaria, ou não, o candidato que fosse eleito. Desta forma, os protestos continuam, sendo o objetivo dos organizadores e participantes do protesto que o governo aceite que as eleições sejam diretas, que os candidatos não sejam pré-aprovados pelo governo chinês e que seja respeitado a opinião dos eleitores expressa no resultado das eleições. Esse protesto que ocorre em Hong Kong agora, assim como muitos outros acontecendo ao redor do mundo - dos quais muitos desconhecemos por não serem noticiados na mídia tradicional -, nos fizeram refletir sobre alguns aspectos. Se observarmos mais atentamente essas manifestações que ocorrem ao redor do mundo, podemos observar alguns pontos que podem definir os rumos que serão tomados pelos manifestantes e pelos governos a partir de alguns fatores, como

a mobilização política da população, a coerência da pauta de reinvindicações - ou pelo menos a existência de uma -, o nível de hostilidade da população ou do governo e a capacidade do movimento em manter-se firme frente às diversas ondas de repressão que os governos estão acostumados a pôr em prática. De acordo com o geógrafo britânico, David Harvey, lutas de níveis nacionais não são impossíveis, mas elas devem se manter constantes e contar com o apoio de organizações que irão fazer a manutenção dessa luta. Como, por exemplo, o MST, que é uma organização que mantém a luta constante por seus direitos. Nas Jornadas de Junho, vimos um movimento de fervor nacional, mas que se esmaeceu ao decorrer do tempo. Muito por causa da falta de direcionamento do foco da luta e pela falta de seriedade com o movimento, mas também pela falta de uma organização representante, que deve contribuir tanto para a manutenção do foco das manifestações quanto para o apoio para ela se mantenha constante. Desta forma, nós consideramos de extrema importância que as manifestações necessitam de uma mobilização política - por favor, não confundam mobilização política com partido político , de um ou mais representantes responsáveis por manter o movimento organizado e duradouro, pois a única forma de ser ouvido e respeitado aparenta ser se transformando em uma verdadeira pedra no sapato. Governos não temem manifestantes desmobilizados que se acomodam com qualquer promessa de melhora. Um dos exemplos mais marcantes dos últimos tempos foram os movimentos da Primavera Árabe, que foram exemplares no quesito de ocupação. A população tomou as ruas das cidades e não arredou o pé, mesmo com a forte repressão policial sofrida, que resultou em muitos mortos e feridos. Temos como um forte exemplo disso o Egito, em que, mesmo após a destituição de seu repudiado ditador, o povo egípcio não esvaziou o movimento, pois havia um objetivo maior, e, enquanto havia ainda o medo de uma nova ditadura por parte dos militares, a população se manteve na rua até o anúncio e a realização das eleições presidenciais, aí então o povo clamou a verdadeira vitória daqueles que bravamente resistiram a meses de repressão. E isso pôde ser observado em manifestações em vários países do chamado mundo árabe, como Tunísia e Líbia, que resultou na deposição de seus respectivos líderes, ou na Jordânia e no Marrocos que resultou em grandes reformas democráticas. Nas manifestações do Brasil em 2013, vimos que realmente havia uma vontade de mudança, uma reivindicação por melhorias, mas, um movimento que começou muito forte e com a participação de muitas pessoas, começou a perder o rumo e a seriedade. Porém, um problema grande foi o simples fato que muitas famílias participavam das manifestações, ou, pior ainda, pessoas iam nas manifestações por modinha ou para postar no Facebook. Em um protesto, quando a repressão ficava mais séria, não havia um que ficasse para comprar realmente a briga, sendo que nas redes sociais todos eram revolucionários. Com o passar do tempo, o movimento foi perdendo força, visto que, desde seu início, não havia um foco determinado e uma organização que puxasse esse movimento. No fim das contas restou-nos somente algumas pessoas protestando e várias promessas vazias por parte dos políticos. Em Hong Kong, mesmo protestando pacificamente, eles estão vivendo vários tipos de repressão, sendo um deles um novo tipo

de repressão, uma tentativa virtual de desmobilização. O site criado pelos manifestantes, que busca conscientizar e mobilizar a população através de vários informativos e realiza uma série de votações simuladas, sofreu ataques direcionados e em larga escala que quase os tirou do ar. Isso pode ser interpretado como uma nova forma de desmobilização dos manifestantes, com o intuito de esvaziar o movimento sem “sujar” a imagem de quem realizou os ataques - o governo chinês é um dos principais suspeitos -, pois violência gera mídia, e a mídia pode ter um peso muito forte dependendo do lado que ela apoiar. Mesmo assim, com toda essa repressão eles mantiveram as ocupações, negociaram a utilização dos prédios quando foi preciso e pediram ajuda para resistir aos ataques virtuais, mas não desistiram da luta e se mantém firmes, mesmo com a intensificação da repressão e o início de alguns confrontos violentos. Portanto, reiteramos que dois fatores importantes para a solidificação de um movimento forte e relevante são a ocupação e a resistência. A população tem que ocupar as ruas, ocupar os prédios públicos, ocupar todos os espaços considerados vitais para uma cidade, e, mais importante que tudo, não pode desocupar. Por mais forte que sejam as repressões, por mais intransigente que o governo seja, ou mesmo que o governo faça uma série de promessas vazias, a população não pode esvaziar as ruas. Deve haver cobrança, deve ser feito pressão, e se o governo não cumprir, deve se intensificar as manifestações. Então, chega desse movimento de coxinhas revolucionárias, chega de ir em manifestação pra fazer baderna ou tirar foto pro Facebook ou instagram. Não importa se você é reaça ou almofadinha, se é pra fazer um movimento de verdade, é pra ocupar as ruas e não sair enquanto não estiver satisfeito, enquanto o governo não cumprir suas promessas e enquanto não houver mudança. Somos todos coxinhas, não importa qual o recheio, mas sempre tem uma hora de dizer basta, e não é basta apenas às coisas que nos incomodam, é um basta à nossa mansidão e à nossa apatia.

Martinus Cox Bianchin Tales Lins Costa Resenha Econômica é uma publicação do Programa de Educação Tutorial - PET/SESu - do Curso de Ciências Econômicas, com resumos de comentários ou notícias apresentados na imprensa. As opiniões aqui expressas não refletem necessariamente a posição do grupo a respeito dos temas abordados. Qualquer dúvida sobre as atividades do PET escreva para [email protected]

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