Resenha Econômica; Limites da Dependência

June 8, 2017 | Autor: Tales Lins Costa | Categoria: Samarco, Catrástofe de Mariana, Resenha Econômica
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RESENHA ECONÔMICA Ano 23, n°274, 24/11/2015 - PET ECONOMIA CCJE – UFES

LIMITES DA DEPENDÊNCIA Diretor do SAAE: o completamente morto

Rio

Doce

está

12 de Novembro de 2015 às 19:04 por com informações de Caio Miranda DISPONÍVEL EM: http://www.eshoje.jor.br/_conteudo/2015/11/noticias/meio_ambiente/3566 8-diretor-do-saae-o-rio-doce-esta-completamente-morto.html

Um Rio Doce completamente contaminado e morto. É o que aponta resultado de análises laboratoriais de amostras da água do rio encomendadas pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Baixo Guandu. Foi detectada, na onda de rejeitos das barragens rompidas em Mariana, a presença de partículas de metais pesados como chumbo, alumínio, ferro, bário, cobre, boro e até mesmo mercúrio. Luciano Magalhães, diretor do SAAE, define a situação como aterradora. “A situação pode ser resumida em duas palavras: rio morto. Na última terça-feira (10), recolhemos amostras de três pontos do Rio Doce em Minas Gerais. O primeiro no Centro de Governador Valadares, uma água muita densa de rejeitos, a outra a 10km abaixo de Valadares e em Galileia. Somente a do Centro estava inviável de captação, impossível de tratar”, afirmou. E completou: “Não serve mais para nada, nem para irrigação e nem para os animais, muito menos para consumo humano. O cenário é o pior possível. O Rio Doce acabou. Parece que jogaram a tabela periódica inteira. Nossa medida agora é buscar alternativas para captação de água. Já estamos fazendo um canal de desvio do Rio Guandu até a estação elevatória do SAAE”. [...]

Barragem se rompe, e enxurrada de lama destrói distrito de Mariana 05/11/2015 17h14 Disponível em: http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2015/11/barragemde-rejeitos-se-rompe-em-distrito-de-mariana.html

O rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Samarco, cujos donos são a Vale a angloaustraliana BHP, causou uma enxurrada de lama que inundou várias casas no distrito de Bento Rodrigues, em

Mariana, na Região Central de Minas Gerais, na tarde desta quinta-feira (5). Inicialmente, a mineradora havia afirmado que duas barragens haviam se rompido, de Fundão e Santarém. No dia 16 de novembro, a Samarco confirmou que apenas a barragem de Fundão se rompeu. O Corpo de Bombeiros de Ouro Preto, que tem equipes no local, confirmou uma morte e 15 desaparecidos até o momento. A vítima seria um homem que teve um mal súbito quando houve o rompimento. A identidade dele ainda não foi divulgada. O diretor do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Extração de Ferro e Metais Básicos de Mariana (Metabase), Valério Vieira dos Santos, afirma que entre 15 e 16 pessoas teriam morrido e 45 estão desaparecidas, mas ainda não há números oficiais de vítimas. “Lira Itabirana”

I

II

O Rio? É doce.

Entre estatais

A Vale? Amarga.

E multinacionais,

Ai, antes fosse

Quantos ais!

Mais leve a carga.

III

IV

A dívida interna.

Quantas toneladas exportamos

A dívida externa

De ferro?

A dívida eterna.

Quantas lágrimas disfarçamos Sem berro?

Carlos Drummond de Andrade

Comentário O desastre social e ambiental ocorrido em Minas Gerais, pelo rompimento de uma das barragens com resíduos de mineração da mineradora Samarco, é o maior da história brasileira e um dos mais graves já ocorridos no mundo. Sendo assim, tão importante quanto avaliar os estragos e danos irreversíveis ao ecossistema e a vida das pessoas atingidas é entender em que contexto esta situação está inserida. A Samarco é uma subsidiária da Vale e da empresa australiana BHP, sendo que cada uma detém 50% de seu capital. Na atual configuração financeirizada do capitalismo, as empresas deixam de se caracterizar por serem propriedade de apenas um dono, e seu capital é aberto a qualquer investidor que quiser e puder detê-lo. Desta forma, temos no plano internacional a conformação de uma rede de oligopólios que atuam como multinacionais ao redor do globo. No caso da Samarco, 50% do seu capital se encontra na Austrália, o que por si só gera um problema da seguinte ordem: ao se localizar fora dos limites do Estado brasileiro, há algum interesse particular deste capital estrangeiro em assegurar a preservação do meio ambiente no país explorado? Provavelmente não, ou muito pouco. Ao não sofrerem diretamente com os impactos de um desastre ambiental, os acionistas e executivos destas empresas já têm um motivo a menos para preocuparem-se com a segurança das barragens. Mesmo a Vale, que é uma empresa brasileira, sofre do mesmo problema, já que seu capital se encontra disseminado entre investidores internacionais, fundos de pensão e consórcios bancários, ou seja, gente muito distante da realidade de Mariana e Bento Rodrigues e que por vezes não fazem ideia de como essas questões ambientais estão sendo geridas dentro da empresa. Se no capitalismo o objetivo único é o lucro, sendo pouco importantes as questões trabalhistas, de segurança ou ambientais, no sistema acionário isso se intensifica, já que a distância geográfica dos controladores destas empresas aumenta a insensibilidade em relação a estas questões. Em uma primeira instância foi verificado um movimento, por parte da mídia nacional, de tentar encobrir a dimensão do desastre e os fatos que envolvem essa tragédia. No entanto, devido ao grande fluxo de informações, houve uma grande revolta por parte da população sobre essa pequena parte da mídia que limitava e disfarçava as informações. Mas você, leitor, deve se perguntar, com qual intuito essa mídia objetiva livrar a empresa Samarco e os seus respectivos acionistas de se responsabilizarem pela culpa do rompimento da barragem? Quais são os porquês disso? Bem, isso pode ser explicado também pela ligação da própria composição acionária da dona da maior parte da Samarco, a Vale. Esta tem na composição societária a Bradespar, que controla

17% da mineradora. Por sua vez, a Bradespar é controlada pelo Bradesco e tem a Globo Cabo (Grupo Globo) como uma das sócias, que é controlada pelos três irmãos Marinho¹. Dessa forma, podemos perceber o real intuito da mídia nesse processo, a fim de garantir e preservar o valor das ações da Samarco. Assim, a todo o momento há tentativas de encobertar a verdade sobre essa tragédia. Outro elemento importante a ser analisado sobre esse caso, é a lógica do capitalismo periférico e dependente em que está inserido o Brasil. Nessa lógica, nos encontramos com uma economia reprimarizada em que houve o desmantelamento da indústria nacional. Após a abertura comercial brasileira nos anos 90, nossas empresas ou foram compradas por multinacionais, ou fecharam, ou foram privatizadas. Sendo assim, temos atualmente como principal fonte de renda a exportação de commodities e outras matérias primas para as economias centrais e industrialmente mais desenvolvidas, sendo que a exploração desses recursos se dá com técnicas cada vez mais agressivas. Dentro deste contexto, a mineradora Samarco e sua controladora Vale são uma síntese e exemplo concreto das conformações do capitalismo atual. Carlos Drummond de Andrade não chegou a ver este momento, nem do desastre, nem do processo de privatizações dos anos 90 no qual a Vale se insere. No entanto, certamente acompanhara o processo de globalização ocorrido após a Segunda-Guerra Mundial. Dessa forma, Drummond não viu esse processo se completar, mas acompanhou a fase de instalação de empresas multinacionais e a ampliação dessas empresas Estatais que viriam a ser privatizadas futuramente. Em seu poema, “Lira Itabirana”, ele chega a questionar que preço nós pagávamos e pagamos por esse processo, “Entre estatais e multinacionais, quantos ais! [...] Quantas toneladas exportamos de ferro? Quantas Lágrimas disfarçamos sem berro?”. Seguindo o exemplo de Drummond, devemos sim questionar qual é o preço que pagamos por ser uma economia periférica, dependente e primário exportadora, qual é o preço que pagamos para garantir a lucratividade desses acionistas. Pagar este preço Vale à pena? ¹ Fonte: http://www.bahianapolitica.com.br/noticias/41697/ bradesco-e-grupo-globo-tambem-sao-socios-na-samarco.html

Rayssa Deps Bolelli Tales Lins Costa Resenha Econômica é uma publicação do Programa de Educação Tutorial - PET/SESu do Curso de Ciências Econômicas, com resumos de comentários ou notícias apresentados na imprensa. As opiniões aqui expressas não refletem necessariamente a posição do grupo a respeito dos temas abordados. Qualquer dúvida sobre as atividades do PET escreva para: [email protected].

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