Resenha Econômica; Mercado de (especul)Ações

May 23, 2017 | Autor: Tales Lins Costa | Categoria: Economia, Mercados Financieros, Mercado de Capitais, Resenha Econômica
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Mercado de (especul)Ações?!

Impeachment vira produto estruturado em corretoras

Disponível em: http://www.valor.com.br/financas/4519782/impeachment-vira-produto-estruturado-em-corretoras

Para quem acredita no impeachment da presidente Dilma Roussef e também para quem acha que ele não vai acontecer, as corretoras têm produtos a oferecer. Só é preciso escolher um lado. O cenário político binário animou o mercado de produtos estruturados, especialmente pelo apelo do capital protegido. Ao travar o prejuízo máximo, ainda que seja preciso em contrapartida abrir mão de parte do ganho, essas operações dão ao investidor o direito de estar errado.
Diante da crescente probabilidade de um impeachment, ao fim de março, a Ativa Investimentos ofereceu aos clientes uma operação apelidada de "Collar", em referência ao ex-presidente Fernando Collor de Mello. Por meio de uma estrutura criada pela área de pesquisa da corretora, o investido vai ganhar até 30% de valorização da ação da Petrobras, abrindo mão do que ultrapassar este valor, e, caso de queda, terá um prejuízo máximo de 10%. A aplicação mínima é de R$ 1 mil e o vencimento é em junho.

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A falta de previsibilidade chegou a tal ponto que muitas vezes as corretoras têm preferido deixar ao cliente a escolha de em que acredita.

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CSN dispara 70% em 4 pregões; 11 ações saltam mais de 5% hoje e apenas 6 caem
Disponível em: http://www.infomoney.com.br/mercados/acoes-e-indices/noticia/4868535/csn-dispara-pregoes-acoes-saltam-mais-hoje-apenas-caem

SÃO PAULO – As apostas pelo impeachment da presidente Dilma Roussef seguiram guiando o humor do investidor em sessão que o Ibovespa superou alta de 2%, indo para a casa dos 53.000 pontos. Com 11 ações subindo mais de 5%, as ações das siderúrgicas continuaram na ponta positiva do índice nesta quarta-feira (13), com CSN disparando 20% e acumulando alta de 71% nos últimos 4 pregões.
Na sequência, as demais siderúrgicas Gerdau e Usiminas subiram mais de 8%, acompanhadas por Petrobras e Vale, que tiveram alta superior a 5%. Até as exportadoras, que chegaram a cair mais cedo, viraram para alta nesta tarde, descolando totalmente do movimento do dólar. Os papéis da Suzano, do setor de papel e celulose, dispararam 6% nesta sessão, entre as maiores altas da Ibovespa.
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Comentário
O processo de desenvolvimento da globalização financeira levou a uma alteração nas formas de funcionamento do capitalismo. Os fluxos especulativos estão cada vez mais rápidos e volumosos, de forma que saem e entram em determinados mercados de uma maneira nunca antes vista na história econômica. No entanto, com toda essa influência e adoção de políticas liberais, ao contrário do que se pensa, esses fluxos podem trazer malefícios para as economias globais, e principalmente para as periféricas.


Em momentos de instabilidade econômica e política como estes que estamos vivendo, esses fluxos se alteram de acordo com a expectativa dadas às informações presentes. No caso específico da economia brasileira, a Bolsa de Valores apresenta diversas dessas incoerências presentes dentro do sistema capitalista. Desde a criação da mesma, ela que deveria servir para ampliação e captação de capital para as empresas, agora cumpre uma função distorcida, e em muitos momentos é o símbolo dos conflitos políticos presentes, apresentando quedas dos índices quando há repreensão por parte do mercado e aumento quando há aprovação.

A problemática que queremos dar enfoque não está na função não exercida pelo mercado de capitais, mas na posição que ela cada vez mais desenvolve no sistema atual. Hoje, o funcionamento da Bolsa de Valores se assemelha bastante a um jogo de apostas, um verdadeiro cassino, onde o que dita as regras de ganho de rendimentos é a capacidade de especulação e a qualidade das informações disponíveis. Não devemos cair no romantismo de achar que os mercados são por si só eficientes, ou seja, supor que as ações têm um preço de equilíbrio, que seguem uma condição de normalidade de retornos e que esses retornos seguem um random walk - que seguem um padrão aleatório, sem viés.

Ao invés do que as hipóteses de mercado eficientes apontam, há provas de que esse modelo apresenta diversas incoerências que podem ser observadas nos dias atuais. Podemos observar esse fato nas crises financeiras recorrentes, no qual esse fenômeno é um processo de desequilíbrio no mercado, gerado principalmente pelas grandes flutuações dos preços das ações. Como forma de exemplificar o fato que está sendo levantado, pode-se pegar o exemplo do índice OMX 15 -- que é a bolsa de valores da Islândia. Durante o período da crise de 2008 a Islândia, que é um dos países mais liberais do mundo, chegou a perder em sua bolsa de valores 75% do valor de mercado. Claramente a flutuação dessa bolsa de valores sofreu diretamente com uma onda especulativa, as flutuações do valor de mercado são incoerentes com o empreendimento real.

Sabendo que há uma relação entre a esfera produtiva e a financeira, será que existe uma maneira de distinguir o que é empreendimento e o que é especulação dentro do mercado da Bolsa de Valores?

Devido à impossibilidade de saber o que vai acontecer no longo prazo, Keynes distinguiu empreendimento de especulação. O ato de especular é a simples atividade de tentar prever a psicologia do mercado, ou seja, tentar prever qual vai ser a alteração no preço das ações. Já o empreendimento consiste em prever a renda provável dos bens durante toda a sua existência, portanto, é o ato de prever quanto que realmente o investimento real vai lhe render. O problema essencial da especulação ocorrerá quando a maioria do capital que era pra ser usado como empreendimento, passa ser utilizado como capital especulativo, ou seja, não tem ligação com a criação de riqueza real. Dessa forma, como Keynes afirma, "Os especuladores podem não causar danos quando são apenas bolhas num fluxo constante de empreendimento, mas a situação torna-se séria quando o empreendimento se converte em bolhas num turbilhão especulativo".

O impacto dessa maneira abrupta e especulativa que a Bolsa de valores opera distorce a real fase econômica de uma determinada empresa, ou até mesmo do país. Como no caso da Petrobras, que apesar de enfrentar problemas políticos, em um ano obteve variações no valor de suas ações (quedas, em geral), mas variações que não acompanham, por exemplo, o seu real poder produtivo. Em jan/2015 as ações valiam por volta de R$10,00, passado um ano, a mesma ação estava na faixa de R$4,40. Em contra partida, a capacidade produtiva não acompanhou tal queda. No mesmo período houve crescimentos significativos em algumas áreas da Estatal. A produção do Diesel S-10, neste mesmo período, alcançou um crescimento de 40%, o faturamento da rede de franquias Petrobras Distribuidora teve um crescimento de quase 50%, de acordo com site oficial da própria empresa. Na mesma linha de raciocínio, porém com resultados diferentes, a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), obteve em 4 pregões, um aumento acumulado de 71%. Ou seja, em menos de uma semana, a empresa obteve um crescimento de 70%, e que dificilmente não foi acompanhado pela sua capacidade produtiva, nem mesmo pelo montante já produzido.

Nesses momentos de instabilidade econômica, a política se evidência de forma que sem dúvida é um fator que tem influência nas Bolsas, apesar de ser também refém desse jogo de apostas. Decorrente da crise política vivida no Brasil, a Bovespa sofreu diversas mudanças e oscilações em face de eventos da conjuntura política. A descrença no atual governo fez com que o índice da Bovespa entrasse em 2016 com uma considerável queda. Entretanto uma possível saída da atual Gestão conseguiu elevar o Ibovespa de uma maneira interessante. Na base de especulações, a Bolsa teve uma elevação de 15,4 pontos em 3 meses, e a expectativa é de mais alta, caso o processo de impeachment se consume de fato.

Dessa maneira, a Bolsa de Valores tem destoado dos seus princípios de criação, de proporcionar uma ampliação e captação de capital para esfera produtiva. Distanciando desse processo, surge movimentos que tem como foco e objetivo se beneficiarem das variações de preços momentâneos. Ou seja, o formato atual da Bolsa de Valores não está necessariamente interessado em ampliar capital para as empresas, nem no que essas empresas produzem e geram, está direcionada no mero processo de especulação. Devemos entender que esse processo especulativo não proporciona a geração de riqueza real, ou seja, que não é produzida pela esfera produtiva. Portanto, a Bolsa de Valores e seus índices já não podem mensurar com fidelidade o real desempenho da economia, sua atual dinâmica, como dito anteriormente, se aproxima de um jogo de apostas. Será que com isso tudo ainda é possível obter ganhos para a economia com o seu funcionamento?













Matheus Neves
Tales Lins Costa

Resenha Econômica é uma publicação do Programa de Educação Tutorial - PET/SESu - do Curso de Ciências Econômicas, com resumos de comentários ou notícias apresentados na imprensa. As opiniões aqui expressas não refletem necessariamente a posição do grupo a respeito dos temas abordados. Qualquer dúvida sobre as atividades do PET escreva para: [email protected]


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