Resenha: FORTES, Meyer. Festivais rituais e coesão social no interior da costa do ouro

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FORTES, Meyer. Festivais rituais e coesão social no interior da costa do ouro. In: Ritual e performance – 4 estudos clássicos (Cavalcanti, M. L. org.). Rio de Janeiro: 7 Letras, 2014. Resenha Lívia Boeschenstein1 Nos territórios ao norte da Costa do Ouro, atual Gana, os tallensi dividem-se internamente em dois grupos que são duas seitas religiosas: os tallis e os namoos. O povo tale (forma singular de tallensi) ocupa o território da antiga colônia da Costa do Ouro, situada no Golfo da Guiné, na África Ocidental. No estudo do Meyer Fortes, a primeira e principal questão posta é que aparentemente haveria uma unidade estrutural capaz de exibir o que os antropólogos chamam de coesão social, pois apesar de compartilharem uma série de elementos culturais ostensivamente uniformes, não compartilham de uma organização política centralizada. Durante os anos de 1934 e 1935, Fortes elaborou o seu trabalho de campo entre os tallensi. Desta etnografia, derivou um artigo aqui analisado: “Festivais rituais e coesão social no interior da costa do ouro”, publicado em 1936, em que o autor aborda os festivais rituais como mecanismo de significação de coesão social. Quase quarenta anos mais tarde, em 1987, Meyer Fortes retoma sua etnografia numa análise altamente concisa e clara, que atua de forma complementar ao entendimento de seu trabalho original e dá maior enfoque à questão da ancestralidade. Apesar de não dar enfoque a outras questões relevantes como a do parentesco e de outras manifestações culturais como a alimentação e o detalhamento das danças, Fortes consegue explicar as divergências sociais e políticas entre os tallensi de forma esclarecedora através do entendimento dos festivais e sequências rituais. Para o autor, o entendimento dos festivais rituais, que acontecem entre o fim de uma estação de chuvas e começo da próxima, isto é, entre setembro e abril, é a chave para o entendimento da inevidente coesão social entre os dois clãs principais que formam o povo tale: tallis e namoos. De acordo com Fortes, as relações sociais intraclãs são uniformes, no entanto, as relações políticas entre os assentamentos são de outra ordem: a autonomia local é quase absoluta. Segundo o antropólogo, nem mesmo a administração colonial conseguiu estabelecer alguma coordenação concreta, apenas de forma superficial e limitada e contam com a cooperação dos chefes clânicos. As relações políticas de cada assentamento tale tem a ver com as relações que esses mantém para com seus vizinhos.

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Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio.

De acordo com a tradição tale, relatada por Fortes, o Tongo, região em que fica o principal assentamento dos namoos, foi fundado por Mosur, ancestral de todos os povos do Tongo, quando fugiu da região dos mampuru há cerca de dois séculos. Posteriormente, outros imigrantes dos mampuru se estabeleceram como coclãs do Tongo. Os clãs tallis (“verdadeiros tallensi”) podem ser subdivididos em dois grupos: tallis das colinas e os tallis Baari. A linhagem Gbizug é de uma categoria especial, pois assume papéis de mediação e interlocução. Os clãs Baari, Gbizug e Wakyi revindicam a primazia hierarquia. Isto é, discutem e brigam com os mesmos argumentos de que seus ancestrais já estavam na região, vindos da terra ou do céu, quando Mosur chegou, tendo, os outros clãs descendido desses ou imigrado para lá. Namoos e tallis falam o mesmo idioma, possuem as mesmas leis, estão subordinadas a um mesmo sistema econômico e operam sobre uma base homogênea de relacionamentos sociais e econômicos: eles casam entre si, possuem a mesma organização doméstica, trocam mercadorias, presentes etc. Namoos e tallis possuem parentes cognatos entre si. Apesar de diferentes no conteúdo do culto doméstico aos ancestrais, os dois grupos são iguais tanto na forma quanto no dinamismo. A estrutura política é, essencialmente, a polaridade institucionalmente registrada entre os dois grupos é definida e enfatizada nos rituais. O Chefe dos namoos do Tongo, o Naa ou Chefe, que fazem revindicações políticas. Nenhum talli pode se tornar Naa, já que os líderes de clãs e linhagens tallis são os Tendaana (“donos da terra”), estes rebatem às revindicações do Naa, afirmando sua precedência em relação à posse da terra. Os poderes de ambos os chefes são restritos aos seus respectivos grupos. Essas “discussões” não geram conflitos ou embates mais sérios. Há uma provocação em diversas ocasiões que gera uma resposta de afirmação, e assim se dá a dinâmica entre namoos e tallis, na maior parte do tempo – essas provocações remetem a um tempo pré-europeus em que tallis e namoos entravam em embates reais. Além da barreira política, uma série de tabus restringem e separam ainda mais os grupos, mas não de forma a gerar uma barreira intransponível, mas sim de maneira a estabelecer um determinado equilíbrio e “paz” em um conflito intrínseco. O Tendaana de linhagem Gbizug é fundamental para o estabelecimento e manutenção deste equilíbrio, pois se situa numa localidade entre namoos e tallis e é o mediador político e ritual entre os dois grupos, além de poder dirigir-se ao Naa, atuando como mensageiro dos Tendaanas dos tallis das colinas ou dos clãs não tale. Já o principal Tendaana Baari pode abordar o Naa diretamente. A prosperidade da terra e a rituais que desejam uma boa colheita para o próximo ano só são possíveis devido ao equilíbrio ritual e social, de alta tensão, existente entre

Tendaana Gbizug, responsável pelos sacrifícios dirigidos à chefia do Tongo, que protege a vida e o bem-estar do Chefe e, também, a prosperidade da terra. Já o Chefe possui poderes que de fazer chover, sendo responsável pela vida do que é plantado. Desta forma, os dois grupos dependem uns dos outros para ter chuva e terra próspera, a fim de terem uma boa colheita de painço e sorgo e evitarem a miséria e a fome, em caso de eventual estiagem. Os rituais e celebrações são executados após a época de chuvas justamente como forma de agradecimento pelas colheitas bem-sucedidas e como pedidos de sucesso para o próximo ano. Na análise de Fortes, é possível constatar que o equilíbrio entre namoos e tallis está intrinsecamente ligado aos festivais rituais de ambos os grupos. O antropólogo, em seguida, relata minuciosamente os detalhes de danças e formações dos dançarinos, os instrumentos musicais, as cores e as fases dos rituais dos tallensi, que possuem um calendário lunar, sazonal – de acordo com as chuvas, não se prendendo às datas fixas. De acordo com o autor, esses festivais reforçam a razão de ser do povo tale. São sazonais, estruturam e situam os tallensi no tempo, no sentido de ser a partir desses rituais que os nativos se guiam para fazer aniversários ou planejar os trabalhos do próximo ano. Também é a partir dos festivais rituais que os tallensi relembram e exaltam seus ancestrais e prescrevem comportamentos e condutas especiais que dizem respeito às comidas, bebidas, utensílios e coisas de uso doméstico e a purificação destes. Além disso, é necessário o estabelecimento de tabus temporários a fim de evitar conflitos intra e inter-clãs, como brigas de família, caça, casamentos, divórcios, rituais funerários, etc. O antropólogo aborda os rituais como representações extraordinárias e, muitas vezes, contrastantes em relação à vida quotidiana, (FORTES, 1987). A colaboração ritual é o cerne da manutenção da “paz” entre os tallensi, que encaram os festivais como um ciclo obrigatório de trocas simbólicas ou não entre namoos e tallis. Em 1934, no mês de setembro, Fortes estava vivendo entre os namoos, assim, o registro do festival ritual foi feito a partir da perspectiva desse clã. Será necessário, nesta resenha, fazer algum detalhamento dos festivais rituais analisados pelo antropólogo, a fim de possibilitar uma compreensão da ambivalência relacional dos tallensi. No fim do último mês de chuvas, temporada esta que vai de abril até setembro, cuja lua se chama “Lua das Águas”, Tendaana Baari é quem bole, simbolicamente, as chuvas no primeiro dia no mês seguinte, comunicando para todos da região a chegada dos festivais. Os namoos celebram, preparam-se, providenciam todos os preparativos para iniciarem uma intensa temporada de rituais. Uma sessão de adivinhação é crucial para o estabelecimento do sentido do ritual. No quarto dia da lua, anciões vão até o Chefe para que ele convoque o um adivinho para o dia seguinte. A

adivinhação revelará, a partir do que dizem os espíritos ancestrais, quem deverá retirar o tambor sagrado Gingaun (nome que também é o do festival dos namoos) do aposento que fica na corte do Chefe. Fortes revela que há dois tambores, um pequeno, sagrado, trazido por Mosur; e outro, maior, fabricado só para animar mais as danças. Além disso, a adivinhação também revela quais serão os sacrifícios, que possuem dupla função – agradecer pelas primeiras colheita de painço e pelas vindouras de sorgo, e também evitar eventuais tumultos causados pela aglomeração de multidões dançante. Outro fato colaborativo: esses sacrifícios devem ser realizados nos santuários dos ancestrais originais dos namoos. A preocupação com os possíveis conflitos e confusões geradas a partir de uma aglomeração muito grande de pessoas é intensa. As regras estabelecidas e tabus, de certa forma, trabalham ao máximo para evitar esses problemas, como a proibição do derramamento de sangue, castigando o transgressor com uma morte sobrenatural. Na adivinhação, os espíritos ancestrais também revelam o jovem, único autorizado, que iniciará a dança. Os sacrifícios são realizados logo de início, em seguida, a dança noturna começa, minguando assim como a lua. As crianças tomam o terreiro e já na lua crescente, entram os adultos, seguidos de mães jovens com seus filhos. Essa primeira fase, Gingaun deema, é monopolizado pelos jovens em plena efervescência sexual, Por isso, este é um mês considerado perigoso tanto pelos moradores de Baari quanto do Tongo, pois é na Lua das Águas que as paixões humanas e, muitas vezes, efêmeras, são despertadas. Explica-se, portanto, o tabu que restringe as formalidades legais do casamento. Nos festivais rituais as danças são públicas, porém exclusivas do grupo que a promove, tallis e estrangeiros chegam em grandes grupos a fim de assistirem à dança. A quinzena seguinte é a hora da colheita do sorgo. Em seguida, vem a Lua de Daa, quando começa a fase final do “Gingaun de verdade”, ou Gingaun Mena, uma versão amplificada do primeiro. Agora quem comanda são os mais velhos, mas os jovens, as mulheres e crianças também participam. Na segunda semana, o festival toma conta da vida no Tongo, expulsando todas as outras atividades. Orgulham-se no ápice da lua, durante o clímax do festival, da sua chefia com cantos e danças, e homenageiam os ancestrais com túnicas e lanças, vestido tais como esses, que foram homens de prestígio. Na décima quinta noite, há apenas o silêncio. Antes do anoitecer, os nativos penduram suas melhores roupas do lado de fora de casa, para que os mortos a tomem para dançarem, num empréstimo espiritual, e entram, mantendo-se reclusos após o anoitecer. No dia seguinte, o Tendaana Baari visita o Chefe, trazendo-lhe cerveja consagrada num pequeno pote e que deve ser bebida por todos os

presentes. Um tonel do mesmo líquido é despejado sobre o túmulo de Mosur. Bênçãos são proferidas pelo Tendaana Baari e pelo Chefe, há aí a evidência da responsabilidade mútua e a união dos dois grupos e seus respectivos ancestrais para que haja prosperidade entre os habitantes e também nas terras. Quando o Tendaana Baari parte, no mesmo dia, os Baari celebram o Daa. Na mesma noite, o tambor Gingaun maior é levado aos Baari pelo Tendaana Gbizug e Tendaana Wakyi. Os habitantes do Tongo correm para dançar em Baari, próximo ao bosque em que fica o santuário supremo do povo de Baari, o Baat Daa. Os jovens Baari chegam para dançar em vestes rituais de pele de cabra. Quando Tendaana Baari e seus auxiliares rituais chegam, juntam-se à ele os Tendaanas de Wakyi e Gbizug. O grupo sai em procissão silenciosa, jovens carregam potes de cerveja consagrada, adentram o bosque sagrado e lá, os Tendaanas oferecem cerveja sagrada ao Baat Daa. As bênçãos são as mesmas que foram proferidas pelo Chefe, mais cedo, naquele mesmo dia. Um pote da cerveja é enviada para o chefe que está em meio à dança. Eles partem em procissão, marcham em torno de uma árvore que indica o caminho para o Tongo e cantam uma canção cujo tema é “Mosur quer voltar para casa” e encerram o ritual. A dança do Gingaun se encerra por um ano e é feita a celebração do Daa, um alegre festival de ano novo, onde todo Tongo volta para o conjunto residencial do Chefe, vindo de Baari, para celebrar, comerem fartamente, trocarem presentes, usando suas melhores vestes. O retorno também é feito pelas mulheres que se casaram fora dali, trazendo comidas especiais oferecidas pelos maridos. O Daa, segundo Fortes, é celebrado de forma mais calma pelo Tendaana Gbizug, quando ele se encontra com o Chefe do Tongo em um cerimonial realizado no terreiro da dança, área não cultivada que costumava ser o local da morada do primeiro Tendaana Gbizug quando recebeu Mosur. Nesse mesmo local, em uma reencenação ritual, o Tendaana Gbizug recebe os chefes recém-eleitos do Tongo, após a posse, este local se torna proibido para Chefe. Durante a noite, um irmão do Chefe chega ao terreiro, adornado tal como o Chefe e seguido por jovens com potes de cerveja. Por cerca de duas horas, ele permanece sentado na rocha em que sentam os chefes recém-eleitos, pois ali ele é o Chefe, e recebe saudações de homens do Tongo. A chegada do Tendaana Gbizug é anunciada pelo mensageiro, todos dividem a cerveja. O Tendaana se afasta um pouco e chama por seu ancestral, pede bênçãos para a colheita, para as esposas, crianças e felicidade para o próximo ano, e o faz de forma inaudível para os namoos. O falso Chefe volta para o seu conjunto habitacional de origem e todas as pessoas de lá se escondem. O Tendaana vai até o lugar sagrado e secreto onde o

sacrossanto fetiche da Chefia é guardado, derramando sobre ele uma libação e, em seguida, abençoa o Chefe e a terra. Antes de partir, vai até o Chefe saudar o Ano Novo. Assim, o Chefe é renovado em seu posto, num drama simbólico que reencena o início de seu cargo. Durante os dois dias que ainda restam de festival, todo o Tongo celebra o Ano Novo. O grande momento do Daa é o holocausto de sacrifícios em que animais são abatidos em grandes quantidades em sacrifícios aos ancestrais e também para fetiches medicinais, celebrados com danças. Fortes chama atenção para dois pontos nessas celebrações rituais: (1) elas expressam a ambivalência de relações entre namoos e tallis e também a função de mediador do Tendaana Gbizug, explicitando uma união antagônica e recíproca em função de uma responsabilidade mútua. (2) os ritos regeneram e recriam as bases religiosas, mágicas e tradicionais da vida social dos namoos. Para os tallis, o Daa ocorre no primeiro dia da lua seguinte e se chama Boyaraam nmarig. O culto dos Boyar, festival dos tallis, domina a religião e é mantido em grande segredo entre os tallis, sob pena de morte instantânea. Já os namoos, apesar de saberem as datas do Boyaraam, não conhecem muito e nem mesmo se arriscam a falar sobre o assunto. O Boyar, que pode ser qualquer espaço sagrado cuja entrada só pode ser feita em razão ritual, possui grande importância entre os tallis das colinas, mas é mantido em segredo das seções religiosas em Baari e Gbizug. Os rituais boyar se apoiam na noção de sacrifício e cada oficiante (ou representante) deve estar presente no momento. Brigas ou tumultos entre membros devem ser resolvidas em ritos conciliatórios no boyar, pois este é o ápice do culto aos ancestrais, pois é lá que eles residem. Seu poder mágico é tremendo, possui grande potência para a fertilidade, e pode ser usado tanto para fins benéficos quanto para fins maléficos. O Boyaraam é polissêmico, pois tem funções de comunhão – pecados devem ser compensados pelos adeptos antes da invocação; iniciação – jovens tallis são iniciados durante o Boyaraam; e oferenda das primeiras colheitas. Fortes não descreve os rituais do Boyaraam completamente, de maneira tal como entre os namoos. O autor também não explica o porquê de não fazê-lo, talvez seja devido à interdição ritual, mas aborda o fenômeno com detalhes fundamentais, na medida do possível. No primeiro dia da lua, as congregações de boyar iniciam o ritual do Boyaraam. Preparam cerveja, fazem sacrifícios, consultas aos adivinhos e anunciam a chegada do festival. Da Lua das águas em diante, um tabu proíbe todos os não-adeptos ao boyar de comerem em recipientes que tiveram contato com a nova colheita da farinha de sorgo, dessa forma

explicita-se a prerrogativa dos adeptos à prová-las primeiro. É durante uma noite e o dia seguinte que ocorrem os eventos principais. Há similitudes funcionais entre os festivais rituais dos tallensi. De acordo com Meyer Fortes, o Boyaraam dos tallis das colins parece ser homólogo ao Gingaun e ao Daa dos namoos, tanto por sua posição no calendário quanto pelo contexto funcional. Difere-se, no entanto, em um aspecto do Daa, já que é sensacionalmente dramático e há uma participação ritual intensa, quase aterrorizada e, ao mesmo tempo, uma convalidade casual. Adentra-se o boyar em absoluta penumbra, agora é a vez do sacramento dos iniciantes, ponto alto do ritual. As pessoas a serem iniciadas foram tratadas como marginais, mantidas sentadas no chão de terra batida, despidas e segredadas até então, devem, ao sacrificarem uma galinha, jurar segredo, sob pena morte, caso este não seja mantido. Esses jovens foram escolhidos para a iniciação apenas pelo fato de seus pais poderem arcar com cerveja e galinhas. Fortes observa que neste festival a dança não é o cerne de interesse da maneira como ocorre no Gingaun. Tal como no Daa, no entanto, o Boyaraam é a ocasião em que migrantes e filhas casadas voltam para casa, trazendo presentes de seus maridos. Os festivais estudados pelo antropólogo são “festivais de reunião” (p.54), que, através da afirmação da diferença nos rituais exclusivos dos namoos e dos tallis, consolida a identidade dos tallensi. Isto é, é pelo foco na diferença que ocorre a identificação dos grupos. Toda a atividade cerimonial demarca a exclusividade do grupo que a realiza, mas a demarcação da diferença só tem validade política por ser recíproca. Cada comunidade se consolida moral e socialmente ao rejeitar seus vizinhos, no entanto, todos os rituais abordados no estudo de Fortes evidenciam, à maneira dos tallensi ou dos namoos, suas respectivas vitórias sobre os imprevistos e desastres possíveis do ano que se passou, principalmente em relação às boas chuvas e colheita farta. É através dos rituais e técnicas mágicas que cada grupo se fortifica para um novo ano; e é através dos rituais que os grupos se separam, de forma clara, uns dos outros e, no entanto, ao mesmo tempo, unem-se na responsabilidade pelo bem-estar da região. Fortes, ao verificar que nenhum dos dois grupos pode escapar da obrigação de participação e cooperação em ocasiões cerimoniais adequadas, encontra uma possível resposta sobre a escolha do ritual como a forma de gerar equilíbrio entre as sociedades. Na análise do autor, essas formas e situações rituais são infinitamente mais impactantes e poderosas que qualquer outra instituição pragmática do mundo objetivo. Sendo, portanto a coesão social,

grande questão nada óbvia ao olhar do antropólogo e que motivou o texto, no interior dos dois grandes grupos do povo tale uma resultante da ação de mecanismos sociais específicos, que geram um equilíbrio de poderes entre grupos opostos que se sobrepõe à tendência de conflito inerente ao sistema.

Bibliografia Complementar: FORTES, Meyer. Ritual festivals and the ancestors, p. 37-65. In: Religion, morality and the person. Essays on Tallensi Religion. Cambridge, 1987. Ed. by Jack Goody. WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. In: SILVA, Tomaz Tadeu da (org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos Estudos Culturais. Petrópolis: Vozes, 2000.

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