Resenha Mazzoti e Gewandsznajder

Resenha do Artigo 'O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE OS PARADIGMAS', de A. Mazzoti e F. Gewandsznajder.
Nome: Henrique de Carvalho Calado RA: 091513 MESTRADO – PECIM.

A autora parte a discussão com um breve panorama sobre os paradigmas presentes na filosofia da ciência, e como a evolução destes paradigmas aconteceu no tempo até o paradigma qualitativo, que é o primeiro a ser abordado com mais profundidade. Nos anos 80 essa perspectiva é caracterizada a partir da oposição ao positivismo, com um valor de superioridade sobre o segundo. Essa crítica parte de um positivismo ingênuo, que vê o conhecimento como uma verdade absoluta. Esta visão de positivismo é vista com irreal para alguns autores, e, além disso, a visão lógico-positivista não é mais defendida.
Entre as diversas caracterizações do novo paradigma, o "paradigma qualitativo", a que mais satisfaz o autor, principalmente pela sua simplicidade, é a de Patton (1986). Para o autor, a principal característica é a de ser "compreensiva" ou interpretativa. Os sentimentos, comportamentos e valores das pessoas tem sempre um significado, que não é possível se identificar de imediato, precisando ser desvelado. Á partir disso se evidenciam as três características dos estudos qualitativos:
Visão holística: Compreensão à partir das inter-relações de um contexto.
Abordagem indutiva: Observações mais livres, que podem gerar dimensões de interesse durante o processo.
Investigação naturalista: O pesquisador tenta fazer o mínimo de interferência no contexto.
Este novo "paradigma" nos anos 90 formado por três paradigmas distintos: Construtivismo social, pós-positivismo e teoria crítica. Os critérios para avaliar e validar estes paradigmas foram:
Ontológica – Natureza do objeto a ser conhecido.
Epistemológica – Relação entre o conhecedor e o conhecido.
Metodológica – Processo de construção do conhecimento.
A autora agora descreve os paradigmas com mais detalhes, que se resumem em:
Construtivismo social:
Ontologia relativista: As realidades existem sob as formas de múltiplas construções mentais. Referente às suas características:
Epistemologia subjetivista: Subjetividade para trazer à tona as realidades.
Metodologia hermenêutico-dialética: Construções individuais são confrontadas dialeticamente para gerar construções consensuais.
Crítica feita pelso pós-positivistas: Os construtivistas são preocupados nos significados da realidade social mas não se preocupam com a legitimação apresentada pelos significados e nem interagem a realidade geral com os micro-contextos, além de uma falta de motivação para a transformação social.
Uma segunda crítica se refere a tentativa de não contaminar a investigação com as suas próprias teorias, caindo na crítica que antes havia sido feita ao positivismo mais ingênuo.
Pós-Positivismo:
Ênfase em abordagens calcadas no método científico, porém assumindo que a teoria influência o resultado e a observação. Pesquisadores com diferentes referenciais teóricos podem chegar a ter resultados consistentes entre si. Acreditam que as pesquisas qualitativas não podem ter uma objetividade, se referindo de maneira a um "controle de qualidade". Pontos de desequilíbrio do movimento:
Rigor e relevância O controle excessivo das variáveis estranhas diminui a generalização possível do resultado, já que estes ambientes "artificiais" não existem na realidade.
Precisão e riqueza: Excesso de precisão nos dados quantificados trás perda da riqueza qualitativa.
Elegância e aplicabilidade: O controle e a generalização também leva a impossibilidade de se pensar os resultados para contextos com as suas especificidades próprias.
Descoberta e verificação: Desvalorização da descoberta, validando-a apenas como uma etapa em rumo à verificação.
E referente às suas características:
Ontologia crítica-realista: Realidade eterna ao humano, regida pelas leis naturais.
Epistemologia objetivista-modificada: objetividade reguladora com a tradição crítica e o julgamento dos pares da comunidade científica.
Metodologia experimental: Ênfase no "multiplismo crítico" com uso de várias fontes.
Teoria Crítica:
Ela tem foco em questões mais ligadas à transformação social do que as abordagens anteriores. Os críticos também exploram a dualidade objetividade-subjetividade de forma mais problematizada, sem o juízo de valores que aparecia nas teorias anteriores. Sobre a cumulatividade do conhecimento, o movimento é contra a mera ampliação linear dos conhecimentos antigos e precedentes. E referente às suas características:
Ontologia crítica-realista: Fazer os sujeitos atingirem um nível de consciência verdadeira sobre a sua realidade, necessária para a transformação social.
Epistemologia subjetivista: Os valores do pesquisador e a sua teoria fazem parte de todo o processo investigativo.
Metodologia dialógica, transformadora: Aumentar o nível de consciência dos sujeitos.
As diferenças entre os paradigmas esta na prática presente nas diferenças em que elas abordam sobre os pontos cruciais (objetividade, interação da teoria com a observação, papel do pesquisador). Existe a possibilidade de uma pesquisa estar em um hibrido de paradigmas para alguns autores em até três níveis diferentes de acomodação.
Filosófico: Acordo em questões de fundo.
Comunicação social: Conhecimentos de outros paradigmas.
Pessoal: Trabalhar com problemas de outros paradigmas.
Finalizando o trabalho realizado, a autora traz suas considerações sobre a pesquisa educacional atual brasileira:
A pobreza teórico-metodológica.
Irrelevância dos temas escolhidos.
Adoção acrítica de modismos.
Preocupação com a aplicabilidade imediata dos resultados.
Divulgação restrita dos resultados e pouco impacto na prática.
Outra crítica levantada pela autora sobre a produção atual brasileira em educação é a falta de um "pano de fundo" na introdução da pesquisa, gerando uma imagem de que a pesquisa começou e terminou os estudos sobre aquele tema. A autora também lembra como é importante a pesquisa educacional desenvolver conhecimentos que possam ser levados para a prática e para os contextos reais da sociedade.