Resenha Música Eletrônica

July 25, 2017 | Autor: Augusto Armondes | Categoria: Music History, História da Música
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Resenha Combinada dos Capítulos II e III do Livro "Música Eletrônica – a textura da máquina" de Rodrigo Fonseca e Rodrigues

Augusto César Pereira Armondes

Os dois capítulos do livro abordam a evolução tecnológica na área da eletrônica, o modo como isso afetou a estética e produção musical e o seu uso em larga escala nas composições e principalmente na distribuição. A partir dessa nova janela, a música ocidental se transformou profundamente.
Um fato interessante foi refletir sobre o termo música eletrônica. Até então eu considerava apenas como um estilo, dançante, energético, associado a boates e raves, sem a percepção mais intrínseca de que na verdade é, além de outros elementos, uma música feita a partir de equipamentos eletrônicos. Samplers, MIDI, sintetizadores, echo, delay, phaser, tudo isso só é possível pela intervenção da eletrônica na música. Hoje ainda há essa distinção de prateleira como música eletrônica, mas na verdade todas são.
O som é uma grandeza física, uma onda que carrega suas características, como frequência, amplitude, fase, etc. A eletrônica consegue atuar sobre essas características, modulando e/ou gerando novos sons. Hoje essa intervenção é feita na maioria digitalmente, mas no princípio era tudo analógico, através de geradores de frequência, osciladores e sintetizadores.
Na primeira metade do século XX, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, há uma busca por novas estéticas, novas ideias que confrontassem a mesmice dos anos passados. Isso ocorreu em todas as áreas das artes. No âmbito musical temos Debussy e Stravinsky, que já buscavam a ruptura da música ocidental utilizando elementos que não eram comum à prática musical da época. Com o avanço da então inovadora eletroacústica os compositores tinham uma nova ferramenta poderosa para seguir essa linha.
Edgar Varese e John Cage utilizaram muito essas novas possibilidades de fazer sons. Acrescentaram na música o ruído e o silêncio. Consideravam como matéria prima da composição não as tonalidades e as escalas, e sim o som. Exploravam as praticamente infinitas possibilidades que haviam dentro da distância entre duas notas, que até então era o de segunda menor o menor intervalo possível. Modulavam, expandiam, distorciam sem obediência a estética ocidental.
Interessante refletir sobre essa partição dos sons. Fisicamente o som é uma onda. Por exemplo, a nota lá do diapasão tem frequência de 440Hz. A próxima nota é o lá sustenido, com 466Hz. Na estrutura musical onde estamos inseridos o que acontece nesses 26Hz de diferença entre uma nota e outra é desprezado. Pode ser que o ouvido humano não tenha a capacidade de identificar uma mudança de 1Hz, mas não muda o fato de que é uma outra nota. Pode-se criar uma escala dentro desse intervalo de 26Hz e usar essas notas em uma composição.
Essa busca por novas estéticas, utilizando a ação da eletrônica na música, acrescentando ruídos e quebrando as regras tonais estabelecidas foi chamado de música experimental. Um nome bem propício, pois realmente é uma música que acontece por experimentação de um universo que ainda não foi explorado.
Vários estilos musicais que vinham ganhando força na segunda metade do século XX incorporaram a eletroacústica e se modificaram. A música pop, o rock e o funk passaram pelas mãos da eletrônica para se modificarem. Impossível falar de rock sem pensar no símbolo da guitarra elétrica, com seu som distorcido e tudo que ele representa. O funk, com suas batidas de sons graves sintetizados e o loop. Tudo isso só foi possível pela ação da eletrônica na música.
Esses avanços não ocorreram apenas na estética dos sons. A possibilidade de gravação e reprodução abriu um mercado gigantesco que ainda hoje é um dos que mais gera dinheiro no mundo. O vinil, CD, mp3, DVD, BluRay são filhos da eletrônica no mercado de consumo da música.
Com esse mercado em expansão as gravadoras estavam em busca de grupos originais que caíssem no gosto da juventude, um novo consumidor que surgira após a Segunda Guerra Mundial. Nesse momento nada mais original do que usar esse som sintético, futurístico para chamar atenção e o dinheiro desses jovens. Assim grupos de rock dos anos 60, da disco music e do funk nos 70, da música pop de 80 e da música eletrônica de 90, apenas para citar alguns poucos exemplos, utilizaram essas tecnologias para conquistarem o mercado fonográfico.
A eletrônica na música nos proporcionou efeitos, como a distorção, o loop, o dub, os sons de bateria sintetizados largamente usados na década de 80, e com a chegada do mundo digital, tudo isso ficou a um botão de distância. Acho difícil hoje não considerar qualquer música como eletrônica, pois todas elas passam por esse processo de transformação de onda sonora em código binário e depois o caminho inverso para chegar aos nosso ouvidos. E essas mudanças não vão parar por aqui, muita novidade nessa área ainda está por vir.

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