Resenha: O movimento feminista em Mato Grosso do Sul nos anos de 1993/94

May 26, 2017 | Autor: Gabriel Marchetto | Categoria: Feminism, Latin American feminisms
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O movimento feminista em Mato Grosso do Sul nos anos de 1993/94 Carolina Montiel de Sá1 Gabriel Marchetto2 Resumo Apresentamos uma resenha do artigo intitulado “Movimento Social de Mulheres em Mato Grosso do Sul” por Ana Maria Gomes, publicado em 1996, o qual apresenta um levantamento de dados acerca dos grupos sociais de mulheres em Mato Grosso do Sul entre 1993 a 1994. Os grupos sociais femininos enfrentavam um quadro de invisibilidade tanto em Mato Grosso do Sul quanto no Brasil. A invisibilidade enfrentada pelos grupos sociais de mulheres foi definida pela autora como de dois tipos: o primeiro ligado ao caráter transformador do movimento com relação a realidade política e social e o segundo relacionado as questões de gênero presentes nos estudos das ciências sociais e humanas. Apesar de tudo, destaca-se que o SIM – Sistema de Informação Mulher e o MPM – Movimento Popular de Mulheres configuravam-se como os dois grupos mais expressivos de mulheres atuantes dentre os anos de 1993 e 1994. Portanto, os movimentos sociais femininos existem há muito tempo no estado e destaca-se que novos estudos deverão ser realizados com o intuito de atualizar os dados. Considerações iniciais Neste trabalho, apresentamos uma resenha do artigo “Movimento Social de Mulheres em Mato Grosso do Sul” escrito por Ana Maria Gomes3. A autora apresenta os resultados de uma pesquisa realizada entre 1993/1994 e publicado no Cadernos de Extensão Ano 1, Nº 4 da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul em junho de 1996. O artigo de Gomes caracterizou-se como o primeiro trabalho a ter a mulher em sociedade como tema em Mato Grosso do Sul. Portanto, o artigo de Ana Maria Gomes caracteriza-se como um trabalho de extrema importância para compreendermos o início das discussões sobre o movimento de mulheres no estado de Mato Grosso do Sul. Pretendemos, também, dar maior visibilidade para o movimento feminista no estado de Mato Grosso do Sul, ao divulgarmos uma das primeiras pesquisas

Discente do curso de Letras – Português/Inglês na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. Discente do curso de Letras – Português/Inglês na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. 3 Ana Maria Gomes é professora associada na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, unidade de Campo Grande, possui graduação em Sócio Economia do Desenvolvimento pela Université Paris 1 Pantheon-Sorbonne, Mestrado e Doutorado em Sociologia do Desenvolvimento pela Université Paris 1 Pantheon-Sorbonne. 1 2

realizadas sobre o assunto, o que contribui para entendermos melhor a situação do movimento feminista no estado de Mato Grosso do Sul nos anos de 1993/94. A questão da invisibilidade Segundo Gomes (1996, p. 01), o movimento feminista em Mato Grosso do Sul (MS) enfrenta uma situação de invisibilidade, a qual justifica-se “em função de um pensamento tradicional que leva a ignorar os movimentos que tem suas ações voltadas para o cotidiano e em função de uma invisibilidade histórica do gênero feminino” (GOMES, 1996, p. 01). A autora argumenta que existem dois principais tipos de invisibilidade com relação ao movimento social de mulheres em MS nos anos de 1993/94. O primeiro está ligado ao caráter transformador do movimento com relação a realidade política e social. Já o segundo relacionase as questões de gênero presentes nos estudos das ciências sociais e humanas. A respeito da primeira invisibilidade, a autora argumenta que o há uma ideia predominantes nas Ciências Sociais, de que o movimento social só tem validade quando entra em embate direto com o Estado, com o intuito de promover alguma mudança. Portanto, se “esse embate não acontece, se os movimentos não logram acabar com a reprodução capitalista, estes serão fatalmente assimilados pelo sistema”. (GOMES, 1996, p. 02). A autora ainda argumenta que quando a mulher adere a algum tipo de movimento, como por exemplo, seja por reinvindicação pela abertura de creches, escolas ou por melhor tratamento de água, esgoto, entre outros, ela é colocada frente a novas relações de poder na sociedade e consequentemente se envolve em uma situação de tensão dentro de sua própria casa, sua família, seu ambiente de trabalho, entre outros. “Essas relações de poder têm como base as relações de gênero que reproduzem as desigualdades entre homens e mulheres” (GOMES, 1996, p. 03). A respeito disto, destaca-se também: […] a participação da mulher no movimento rompe sempre com sua condição de invisibilidade pública. Este rompimento não é feito, na maioria das vezes, sem tensões no interior da família. A decisão de participar é quase sempre acompanhada de resistência à participação por parte de pais, maridos, e até mesmo filhos, entendida na maioria das vezes como resistência a quebra do cotidiano familiar e de padrões morais acordados no interior da família e da comunidade. Se isto é verdade, no entanto, não esgota a explicação sobre a resistência: a saída do privado para o público envolve a entrada em uma rede de relações que pressupõe novos saberes, novas, informações que, por sua vez, redefinem as relações de poder ao nível privado. (PINTO JARDIM, 1992).

Uma concepção tradicional de movimento social, portanto, não possibilita a criação e manutenção de movimentos que visem lutar contra a opressão social causada pelas relações de

poder em sociedade entre homens e mulheres. Tal fato causa certo desprezo pelos movimentos sociais, o que causa invisibilidade dos mesmos. A respeito do segundo tipo de invisibilidade, a autora destaca que devemos relembrar a questão da invisibilidade do gênero feminino ao longo da história em todas as áreas do conhecimento. Portanto, as mulheres “passam despercebidas pelos historiadores, antropólogos, sociólogos, pelas políticas de saúde, pelas políticas de formação profissional, etc.” (GOMES, 1996, p. 04). Com relação ao conceito de sexo e gênero, a autora destaca que ao falarmos sobre sexo levamos em consideração a diferença biológica natural que nos torna homens e mulheres com funções diferentes na sociedade, mas que possui um papel inferior e de exclusão, condenando a mulher ao esquecimento, a invisibilidade e a submissão. Ao contrário do sexo, que é uma condição biológica, o gênero “é uma construção social de relações e o caráter dessas relações é o da dominação masculina mais o da subordinação feminina” (GOMES, 1996, p. 05). A autora destaca que ao estudarmos a mulher, também se estuda o homem ao abordarmos as relações sociais entre os dois. A autora afirma que a partir da realização de estudos desta natureza, poderemos “entender a questão de a mulher ser considerada menos inteligente, passar a ser quase uma propriedade do homem após o casamento, a ter os salários mais baixos pela mesma função” (GOMES, 1996, p. 05). Segundo Gomes (1996, p. 05), devemos incluir a relação social entre homens e mulheres em todos os estudos de todas as áreas do conhecimento. As relações sociais entre homens e mulheres são construídas no seio de nossa sociedade e, portanto, não são estáticas ou imutáveis, podendo ser transformadas e mudadas. Portanto, “os movimentos sociais de mulheres assumem uma importância fundamental na medida em que contribuem para mudar e transformar essas relações” (GOMES, 1996, p. 06). O movimento feminista em Mato Grosso do Sul Gomes (1996, p. 06) destaca que utilizou um método pouco convencional para a obtenção dos dados de sua pesquisa, pois visava dar visibilidade a um movimento que existia, mas não era visível. A autora também afirma que foi muito difícil localizar os grupos de mulheres atuantes em MS. Foram levantados 75 grupos de mulheres organizados em MS e também foram localizadas duas importantes forças organizadas que atuavam no estado em 1993 e 1994:

SIM – Sistema de Informação Mulher: grupo que atua na formação, assessoria e pesquisa voltado para mulheres dos bairros da periferia de Campo Grande e do interior do estado. MPM – Movimento Popular de Mulheres: congrega grupos de mulheres que desenvolvem um trabalho ligado à comunidade. De acordo com Gomes (1996, p. 07), o principal objetivo do artigo foi dar maior visibilidade ao movimento feminista como um todo, ao primeiramente, refazer a história do movimento. Em seguida, foi realizado o levantamento da situação desse movimento no que concerne ao número de grupos atuantes, atividades desenvolvidas e capacidade de intervenção na sociedade local nos anos de 1993/94. A autora optou por utilizar dados provenientes do SIM e do MPM, por serem os movimentos mais expressivos daquela época. O SIM tem sua origem no grupo de mulheres Guavira. Este grupo se reunia para estudar, debater e refletir sobre a problemática da mulher. Ele era composto fundamentalmente por mulheres de classe média: psicólogas, sociólogas, professoras, médicas, etc. Gomes (1996) também realizou uma entrevista com uma das coordenadoras do grupo e afirmou que a criação do grupo foi impulsionada pelo envolvimento da própria coordenadora e de outros membros no jornal feminista “Mulherio” de São Paulo. A autora afirma que inicialmente o grupo não tinha como objetivo a criação de uma organização de mulheres, mas “uma entidade de mulheres que desse apoio a quem estivesse organizando e trabalhando com mulheres” (GOMES, 1996, p. 09). Apesar da sede do SIM estar localizada na cidade de Campo Grande e desenvolver grande parte das suas atividades em Mato Grosso do Sul, o âmbito da ação e atuação do SIM abrangia toda a região do Centro Oeste, dando assessoria, organizando e participando de encontros em toda essa região. Já o MPM, iniciou suas atividades com grupos de mães (crochê, tricô, etc), os chamados grupos Pastorais Sociais, que foram, aos poucos, evoluindo para reivindicações como água e luz para os bairros. O MPM atuou em Corumbá, Três Lagoas e Dourados. Em 1984, por estar em região próxima a São Paulo (Três Lagoas), a coordenação da Pastoral Social começou a se relacionar com grupos de mulheres de São Paulo e a partir de então o grupo envolveu-se mais ativamente com questões de reinvindicação de direitos das mulheres em MS. A autora também conseguiu traçar um perfil dos grupos populares de mulheres existentes em Mato Grosso do Sul através do estudo de uma amostra de 75 diferentes grupos. A autora afirmou que os 75 grupos estavam organizados em “16 diferentes cidades do estado,

sendo que as cidades de Dourados e Campo Grande, juntas, concentram 70% do total de grupos” (GOMES, 1996, p. 10). Gomes (1996, p. 10), também identificou os anos nos quais se formaram mais grupos sociais femininos em MS até 1994: 1980 (06 grupos), 1987 (09 grupos) e 1988 (12 grupos). Considerações finais As duas principais forças do movimento urbano de mulheres encontradas na região de MS nos anos de 1993/94 foram o SIM – Sistema de Informação Mulher e o MPM – Movimento Popular de Mulheres. A autora também destaca que o movimento social de mulheres em Mato Grosso do Sul existia já há algum tempo e mantinha-se fortemente ativo apesar de todas as dificuldades enfrentadas. Podemos concluir que os movimentos sociais de mulheres em MS existem há muito tempo e incentivamos pesquisas que procurem atualizar os dados apresentados aqui, com o intuito de apresentar um panorama dos movimentos feministas atuais em Mato Grosso do Sul. Referência GOMES, A. M. Movimento Social de Mulheres em Mato Grosso do Sul. Campo Grande: Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Cadernos de Extensão, Ano 1, Nº 4, 1996.

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