Resenha: O olhar crítico sobre Caramuru

July 7, 2017 | Autor: Tarcísio Queiroga | Categoria: History, Historia, História do Brasil, Brasil, História, Resenha
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INSTITUTO LATINO-AMERICANO DE ARTE, CULTURA E HISTÓRIA (ILAACH) HISTÓRIA - LICENCIATURA

O OLHAR CRÍTICO SOBRE CARAMURU CARAMURU: A INVENÇÃO DO BRASIL

TARCÍSIO MOREIRA DE QUEIROGA JÚNIOR

Foz do Iguaçu 2015

O filme Caramuru: A invenção do Brasil trata de demonstrar sobre o processo inicial de colonização do Brasil, após naufragar na costa brasileira, na região da atual Bahia, o português Diogo Álvares Correia, é surpreendido por indígenas da tribo dos tupinambás. Conta à história que após ele estar cercado pelos nativos, Diogo pegou uma arma de fogo e disparou um tiro para o alto, vindo a matar um pássaro. Surpreendidos os tupinambás o interpretam como o Caramuru, que significa o filho do trovão. Tal foi o respeito que ele adquiriu na tribo, que o chefe daquele povo, que se chamava Itaparica, ofereceu sua filha Paraguaçu ao Caramuru. A partir disso, deu-se então a origem do povo brasileiro, que seriam os descendentes dos nativos e dos portugueses. Devem-se levar em consideração alguns aspectos sobre essa história, que servirão como base para a resenha. O primeiro ponto é que essa história tem como objetivo principal explicar a origem do povo brasileiro, como já foi dito acima, o brasileiro é descendente dos indígenas e dos lusitanos. O segundo ponto a ser abordado, é como o Caramuru tenta impedir alguns costumes, que eram típicos dos nativos, pois aqueles costumes para ele não eram vistos como corretos, agarrado aos valores éticos e morais de uma mentalidade europeia, com a ideia do que era civilizado, não obstante, mostra já desde o início o europeu impondo a sua cultura e seus costumes aos povos americanos, o grande exemplo disso é a cena em que Paraguaçu e Moema, tentavam dar a hospitalidade tupinambá aos franceses e Caramuru as impediu, pois aquilo era inaceitável para a cultura de seu povo. O terceiro ponto é a busca pelo ouro e riquezas minerais no novo mundo, pelos europeus, inclusive o filme retrata a Marquesa Isabelle de Sevigny perdendo seu título de marquesa, pois é enganada por Paraguaçu que lhe promete ouro em troca de ela abdicar de se casar com Diogo. O quarto ponto é a busca pela retirada do pau-brasil, um ponto interessante da narrativa cinematográfica é a cena em que os franceses chegam à costa brasileira e negociam a extração do pau-brasil com Diogo e Itaparica. Através da comédia é mostrado como os europeus tratam de explorar a mão de obra do novo mundo, como argumento Dom Vasco diz que com a extração, o fluxo comercial do país aumentaria, Dom Vasco teria o paubrasil, Diogo trabalharia e Itaparica não faria nada. Nesta cena é explícito o sistema de exploração da Europa na América e como já se consolidava uma mentalidade pré-capitalista, visando lucros econômicos. Portanto, os pontos apresentados anteriormente, possibilitam que o filme seja apresentado em uma aula de história, porém este deve ser visto sob um olhar crítico. Para realizar as críticas, usaremos o texto de Luis Eduardo Cortés Riera “Ocho pecados capitales del historiador”. No primeiro ponto que foi abordado, sobre o objetivo principal do filme,

criar uma história que explique a origem do povo brasileiro. Seria muita inocência acreditar que a origem do brasileiro foi após 1500 com a chegada dos portugueses aqui, a história do Brasil é tão antiga quanto à da Europa, quando Portugal alcançou o Brasil, pode se dizer que surge o mestiço, mas dizer que a invenção do Brasil se dá somente após 1500 seria totalmente errôneo, e segundo a obra de Riera, caso acreditarmos que realmente foi o português que criou o povo brasileiro e graças à colonização europeia que o Brasil é assim atualmente, cairíamos no pecado de determinismo e acriticismo. O segundo ponto que destaco nesta resenha foi à tentativa do europeu impor sua cultura aos povos nativos. Esta característica foi muito comum, e os europeus seguiram com esta imposição cultural até o século XIX na época do imperialismo. Foi destacado acima a cena em que Diogo tenta impedir as tupinambás a dar a hospitalidade típica de seu povo aos franceses, neste caso está muito presente entre os europeus a mentalidade de provincianismo, acreditar que sua cultura é a correta, infelizmente são poucas as exceções entre os teóricos europeus que não julgam a outra cultura como inferior como é o caso de Michel de Montaigne em sua obra Ensaios, capítulo XXXI dos Canibais. Terceiro ponto, a extração de riquezas minerais, o filme trata do assunto em um caráter cômico, mas por intermédio da história é possível observar que principalmente os espanhóis praticaram verdadeiros genocídios contra os indígenas para conseguir o ouro, isso ocorre devido à mentalidade que os colonizadores possuíam, qual era enriquecer muito em um curto espaço de tempo. Portanto, não importava o preço, como é possível ver inclusive na abdicação do casamento de Isabelle Sevigny com Diogo devido à promessa do ouro. Um assunto que deve ser tratado com cuidado é falar que um dos motivos de América Latina não ter se desenvolvido tanto quanto aos Estados Unidos, é resultado da exploração de minérios preciosos, se afirmamos isso caímos no pecado de determinismo de Riera. O quarto ponto está um pouco relacionado com o último aqui apresentado, pois também está associado à extração, porém neste caso não é um metal precioso, e sim o paubrasil. Aqui é interessante perceber como o filme tem certa perspectiva do olhar europeu sobre o índio, como aquele sujeito que não quer trabalhar, como preguiçoso, um historiador considerar este pensamento como verdadeiro seria muito errado, pois aqui há um forte provincianismo, o índio não ficava o dia inteiro deitado em uma rede sem fazer nada. Outra crítica possível de ser feita aqui é em relação aquele pensamento europeu de que eles estavam trazendo a riqueza para o país, que aumentaria o comércio, como o filme através da brincadeira apresenta. Se pararmos por um momento e pensarmos, os europeus trouxeram várias vezes argumentos como esses de que a colonização e extração seriam positivas, pois o

índio se tornaria civilizado, ou então, o indígena seria uma pessoa melhor. Afinal, usando o argumento dado por Dom Vasco no filme, o de trazer riquezas para o país, no que isso mudaria a vida dos indígenas, isso seria bom apenas para os colonizadores, portanto se analisarmos do ponto de vista ameríndio a extração em nada seria benéfico.

Referências Bibliográficas: CARAMURU, A Invenção do Brasil. 2001. Direção: Guel Arraes. OCHO PECADOS DEL HISTORIADOR, 2012, Luis Eduardo Cortés Riera. ENSAIOS, CAPÍTULO XXXI DOS CANIBAIS, 2001, Michel de Montaigne.

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