Resenha: Os meios de comunicação como extensões do Homem (McLuhan)

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Descrição do Produto

Discente: Mateus da Silva Bento
Disciplina: Produção textual para meios impressos
Exercício: Análise crítica

MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. Trad. de Décio Pignatari. São Paulo: Cultrix, 2007.

Nesta obra, compreendemos a razão de McLuhan ser considerado um teórico além de seu tempo. A visão do autor acerca das mídias é ampla, não se restringindo aos meios de comunicação de massa. Alguns postulados ficam claros no decorrer da leitura, a começar pela afirmação de que as mídias são extensões do corpo humano, isto é, prolongamentos dos nossos sentidos. Esses meios possibilitam, de certa maneira e independentemente de seu conteúdo, um contato com a realidade.
McLuhan ressalta que as novas tecnologias devem obter cada vez mais praticidade, especialidade e velocidade para continuar evoluindo. Assim aconteceu com a escrita: especializou-se com o telégrafo, evoluindo ainda mais com o tempo e fazendo toda a sociedade evoluir juntamente. Logo, as formas sociais existentes sofrem o impacto direto causado pelos fatores da aceleração e ruptura nas evoluções das extensões da sociedade, culminando em novos envolvimentos humanos e novas organizações.
Nesse sentido, as tecnologias, entendidas como extensões, são maneiras de se traduzir um modo de conhecimento em outro. Ao usarmos qualquer prolongamento tecnológico de nós mesmos, estamos o aceitando. Por exemplo, ao ler um jornal, assistir televisão ou escutar rádio, o indivíduo reconhece essas extensões dele próprio, assim como os efeitos que elas provocam.
A partir da inserção da tecnologia elétrica, que transfere ações de conhecimento consciente para algo físico, o homem percebe que as mídias são extensões de si. A eletricidade representa a informação pura, o meio sem mensagem, que revolucionou a existência do homem e eliminou barreiras de tempo e espaço. As lâmpadas, por exemplo, não têm conteúdo como um jornal tem artigos, porém é um meio que tem um efeito social, pois permitem criar espaços durante a noite que do contrário seriam envoltos pela escuridão.
McLuhan classifica as mídias em hot (quentes) e cool (frias). Enquanto os meios quentes prolongam um único de nossos sentidos em alta definição, em saturação de dados, não deixando espaço para ser preenchido ou coisas a serem completadas; os meios frios prolongam em baixa definição, fornecendo pouca informação e abrindo um enorme espaço a ser preenchido e completado. Um exemplo de meio quente é a fotografia. Quanto aos meios frios, podemos citar o telefone e a caricatura.
Os meios frios envolvem vários sentidos simultaneamente e disponibilizam menos informações, exigindo a intervenção do espectador para interpretar e completar livremente os vazios deixados pelas mídias, à medida que os meios quentes não fomentam a imaginação, pois já comunicam de forma explícita e intensa.
Ao tentar inserir novos meios em uma sociedade, é preciso observar se tal cultura é quente ou fria, para que a aplicação de meios diversos não cause impactos negativos, não permitindo que as pessoas os absorvam. Além disso, o uso dos meios quentes ou frios deve estar em consonância com a realidade da comunidade para que o equilíbrio geral não seja perturbado ou extinguido.
Esse pensamento vale também para o contexto organizacional. Quando o profissional de Comunicação opta por usar um meio quente no lugar de um meio frio, ele impede ou diminui de forma trágica a participação das pessoas, uma vez que o novo meio é completo e não deixa margem para que seja preenchido.
Outro postulado de McLuhan se refere ao fato de que o meio é a mensagem. Isso significa que as ações humanas, juntamente com suas associações, são configuradas e controladas em suas proporções e formas pelo meio. O que está incluso e o modo como são usados esses meios são diversos, como também ineficazes na estruturação da forma de tais associações. Muitas vezes os meios cegam o indivíduo, impossibilitando que ele veja qual o meio originário por considerá-lo parte de sua vida a ponto de ser uma extensão dele próprio.
Desse modo, a tecnologia é uma extensão ou auto-amputação de nosso corpo, sendo que tal extensão exige novas relações de equilíbrios entre os demais órgãos e extensões do corpo. A partir do momento em que se utiliza uma extensão de nós mesmos sob a forma tecnológica, há a implicação de necessariamente adotar essa extensão. No decorrer do uso da tecnologia, do seu corpo em extensão diversa, o indivíduo é constantemente modificado por ela e, em contrapartida, também a transforma.
O mito grego de Narciso está diretamente ligado à experiência humana com as mídias. Na história, o jovem Narciso tomou seu próprio reflexo na água como sendo de outro. A extensão de si mesmo pelo espelho enfraqueceu suas percepções, tornando-o um servomecanismo de sua própria imagem refletida ou prolongada. Dessa forma, Narciso constituiu um sistema fechado, demonstrando que o indivíduo se torna fascinado por qualquer extensão de si mesmo em qualquer material que não seja o dele.
Outro postulado presente na obra mostra que as mídias são o "motor da história", fazendo esta ser vista como uma evolução dos meios de comunicação. Nesse sentido, a humanidade passou por três fases fundamentais: a sociedade tribal, com domínio da voz; a galáxia Gutenberg, dominada pela escrita e, sobretudo, pela imprensa; e a galáxia Marconi, dominada pelas mídias eletrônicas, configurando uma verdadeira aldeia global. Para McLuhan, com mais de um século na implosão provocada pela eletricidade, os seres humanos estariam se aproximando de sua fase final de extensão: a simulação tecnológica da consciência.
As extensões do homem agregam implicações psíquicas e sociais. Elas se tornam interligadas, sendo uma intrinsecamente relacionada com a outra. Assim ocorre com a noção que a roda, a bicicleta e o avião nos trazem, visto que cada um se mostra como a evolução do outro e muitas características são compartilhadas entre eles, revelando a ligação existente e a extensão humana que provocam.
O vestuário é encarado como uma extensão da pele, sendo identificado como um mecanismo de controle térmico e como uma maneira de definir-se como ser social individualizado. A habitação possui uma postura muito próxima à tomada pelo vestuário, pois também possui o objetivo de agregar mecanismos corporais de controle térmico. O dinheiro prolongou o desejo do homem por coisas longínquas a partir das coisas que possuía perto de si. Os jogos são extensões da consciência humana em padrões inventados e estabelecidos pela sociedade, sendo verdadeiros meios de comunicação social e de integração por parte de todos os seus membros.
Observamos, então, o papel que as mídias assumem na vida social e na própria história da humanidade. A atuação desses meios possibilitaram transformações nos modos de ver e viver o mundo. Dessa forma, a obra de McLuhan contribui para conhecermos melhor as extensões do nosso corpo e mente. A leitura do livro é fundamental para quem busca compreender melhor os meios que moldam a nossa vida e facilitam a integração dos seres humanos com o mundo.

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