Resenha : SANTOS, JR. Ronaldo Rosa.. Com o giz de cera, as crianças. In: Formas e tempos da cidade. LIMA FILHO, Manuel Ferreira, MACHADO, Lais Aparecida (orgs). Goiânia: Canone Editoral/Ed. UCG, 2007, pp.229-242.

June 19, 2017 | Autor: Raquel Conte | Categoria: Psicanáliese E Psicologia Social, Psicologia
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RESENHA CRÍTICA


Nome: Raquel Conte
Curso: Doutorado em Diversidade e Inclusão
Data: 05/06/2015
Disciplina: Dinâmicas culturais e territorialidades

REFERÊNCIA DA OBRA:
SANTOS, JR. Ronaldo Rosa.. Com o giz de cera, as crianças. In: Formas e tempos da cidade. LIMA FILHO, Manuel Ferreira, MACHADO, Lais Aparecida (orgs). Goiânia: Canone Editoral/Ed. UCG, 2007, pp.229-242.
Nesta obra o autor Santos (2007) mostra seu trabalho desenvolvidos com crianças, através de desenhos, como forma de representação da cidade de Goiânia. De acordo com o autor, ao desenhar sobre a cidade, as crianças estão narrando suas historias, mostrando sua opinião e sua percepção. Não há explicitação do autor da idade e nem da forma como as crianças foram selecionadas, mas indica que elas fizeram parte de um trabalho que contribuiu para a reconstituição de vozes sobre a cidade. Como a cidade de Goiânia foi planejada com projetos arquitetônicos, a idéia era reproduzir os desenhos para representar a cidade, só que essa atividade foi realizada pelas crianças. De acordo com os resultados da pesquisa de campo, o autor enfatiza que as crianças vivem a cidade, escolhem seus lugares, identificam problemas, apontam soluções, desenvolvem uma imagem da cidade e buscam conhecimento. Cada representação é muito particular. De acordo com Cohn (2005, citado por Santos, 2007) os significados elaborados pelas crianças são qualitativamente diferentes dos adultos, sem por isso serem menos elaborados ou errôneos e parciais. Um dos fatos observados nos desenhos das crianças, é que elas separam a cidade em duas: a das crianças e dos adultos. De acordo com Vogel (1995, citado por Santos, 2007) as crianças na idade escolar que vivem as cidades grandes estabelecem relações racionais com a mesma. Neste sentido enfrentam o transporte coletivo, o cálculo do trajeto entre a residência e escola, as preocupações com a segurança, o transporte e o trânsito. Com a modernização das cidades, também houveram mudanças no plano espacial das mesmas, em busca de uma racionalização do tempo e da distância de um lugar para outro. O autor assinala que um dos aspectos desenhados pelas crianças refere-se aos locais que remetem ao consumo de mercadorias, como o shopping. O autor identifica que reconhecer este local como um espaço de troca, que permeia um significado social, não deixa de ser um aspecto cultural. Também houve , nos depoimentos das crianças, uma preocupação com a segurança, a ordem, com a autoridade e as crianças de rua. Há a percepção das crianças das agitações no centro da cidade, da correria e dos problemas sociais. Isso está associado com a idéia de metrópole, ao mesmo tempo, são oferecidos pelas grandes cidades oportunidades e possibilidades diversas, porém, elas segregam, excluem e promovem a hierarquia social. Também apareceu a preocupação das crianças com o policiamento, com o transporte coletivo, com os espaços de lazer para a população, demonstrando uma possível preocupação com um mundo melhor, com uma cidade mais harmônica e que diminua as diferenças e desigualdades. Mas as crianças também trouxeram em seus desenhos a percepção de lugares eleitos para a descontração e para o prazer. O que surpreendeu nos resultados, é que o patrimônio arquitetônico da cidade não foi incluído nos lugares favoritos, indicando que o patrimônio cultural além de ser nomeado deve também ser reconhecido como índice de comunalidade, com a conotação de algo em comum, público e social. A noção de patrimônio e os bens tombados pelo IPHAN não povoam o imaginário infantil e não aprecem nos desenhos das crianças. O autor também procura estabelecer uma relação entre as cores utilizadas nos desenhos, procurando relacionar os espaços com os seus significados , de acordo com as cores utilizadas. Identifica as cores vermelho, azul, amarelo, verde, branca como cores alegres. A cor marrom, laranjado e o azul escuro representariam um lugar, casa, supermercado, shopping, edifícios. A cor cinza representaria tristeza. Estas referências o autor se baseia nos estudos de Canevacci (1997, citado por Santos, 2007). Mas o que ele encontrou nos desenhos das crianças foram muitas cores, portanto, Goiânia foi representada em cores diversas.
Relação com meu objeto de pesquisa
O texto é de muita clareza, originalidade e criatividade. Apesar do autor não referir quem foi sua amostra, como a idade e a seleção destas crianças, é possível pensar no meu objeto de pesquisa em termos de metodologia. Achei interessante o uso de desenhos com as crianças, como uma forma de perceber como elas se vêem e vêem a cidade. Talvez uma possbilidade de incorporar uma metodologia de desenho, além de narrativas (que já haviam sido pensadas) para as mulheres e crianças que vivem em situação de violência doméstica, possa representar como elas se vêem no mundo: da casa, da escola e da cidade ou bairro...
Interessante pensar que elas possam revelar espaços mais importantes para elas, bem como preocupações e desejos a respeito do mundo ao seu redor. A forma como cada uma dessas pessoas vive e significa a violência do cotidiano precisa ser de certa forma representado para além das queixas nos serviços ou da posição de vítima das situações.
De forma lúdica e afetivamente sedutor, o trabalho de Santos permite o desejo de saber mais sobre os desenhos, sobre as crianças e sobre outros resultados do trabalho.



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