Resenha sobre: A vida privada de Helena de Tróia nos loucos anos 20 em Hollywood / O Príncipe do Egito / Mergulhar no Satyricon de Fellini: a pintura da tumba do mergulhador de Paestum e a cena da pinacoteca

July 7, 2017 | Autor: Gabriel Forgati | Categoria: Classical Reception Studies, Estudos Clássicos no Brasil, Estudos Clássicos, Usos Do Passado
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA – MEMÓRIA E IMAGEM (1º PERÍODO 2015) HISTÓRIA ANTIGA Prof. Dr. RENATA SENNA GARRAFONI

Adriene Mitally Ramos de Paiva Daniel Donato Ribeiro Gabriel Antonio Forgati Michele Souza de Oliveira

Resenha sobre: A vida privada de Helena de Tróia nos loucos anos 20 em Hollywood, de Maria Cecília de Miranda Nogueira Coelho. A AUTORA Graduou-se em Matemática (1985) e Filosofia (1989) pela Universidade de Brasília. Realizou Mestrado em Filosofia na Universidade de São Paulo (1997) e Doutorado em Letras Clássicas pela mesma instituição (2002). É Pós-doutora pelo Núcleo de Estudos Antigos e Medievais da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais – aonde leciona desde 2010 – com o projeto “Dissa erga: A produção de emoções e os esquemas retóricos das narrativas no teatro grego antigo e no cinema contemporâneo”. Desenvolve pesquisa, principalmente, nas áreas de Filosofia Antiga, Teatro Grego e Latino, Literatura Grega e Arqueologia Histórica.

ESTRUTURA TEXTUAL Maria Cecília Coelho divide seu texto “A vida privada de Helena de Tróia nos loucos anos 20” – publicado na Revista Clássica em 2013 – em resumo (com as palavras-chave) e o texto propriamente dito, sem subdivisões (tópicos ou capítulos). Ao final, antes da Bibliografia, a autora apresente algumas tomadas do filme “A vida

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privada de Helena de Tróia” (1927), do diretor húngaro radicado no Reino Unido, Alexander Korda.

RESUMO A primeira obra analisada pela autora, que é também a obra principal de sua análise, é o filme de Alexander Korda The private life of Helen of Troy, de 1927. Korda, segundo a autora, quis fazer, no filme, uma paródia do mito de Helena, trazendo a história para um contexto de comicidade dos anos 20, apesar de o tempo do filme se passar na Antiguidade. Diante disso, a autora aponta elementos e características dos personagens que eram próprias dos anos 20: o aspecto flapper de Helena; a liberalidade com que é tratado, no filme, assuntos como adultério, que reflete a própria liberalidade dos anos 20; e as preocupações atuais dos personagens, como a preocupação de Helena com a moda e a de Menelau com a pescaria. A autora segue então examinando cenas do filme que comprovam essa “atualidade” das questões apresentadas em um filme sobre a Antiguidade. A segunda obra é um romance de Erskine de nome homônimo ao filme de Korda, lançado em 1925. A autora sustenta o argumento de o que o filme teria sofrido influências do romance, não só visível por terem o mesmo nome, mas por alguns elementos e cenas do livro que o filme reutiliza. Porém, apesar da influência, há diferenças consideráveis entre ambas as obras, a considerar por suas intenções: enquanto o romance dá enfoque na complexidade dos personagens, nas questões éticas e morais que fazem parte da história de Helena, o filme tem a intenção de ser cômico, destituindo então da sua narrativa certas cenas e personagens que dão seriedade e complexidade à história. A autora fará o mesmo exame de partes e cenas com o romance, comprovando agora a complexidade e a humanização dos personagens que buscava o autor em seu livro. A terceira e última obra a ser analisada pela autora é a peça de teatro The Road to Rome de Sherwood que esteve em apresentação na Broadway de janeiro de 1927 a janeiro de 1928. Também aqui Coelho traçará algumas influências possíveis que o filme de Korda tenha sofrido da peça, porém apontando suas diferenças, a começar pela trama: enquanto Korda faz uma releitura de um mito

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grego, a peça trata de uma história romana. Os protagonistas da peça são Amytis, bela jovem romana, mulher de Fabius Maximus, militar e político romano e Hannibal, general cartaginês. A autora resume a trama e então traça os paralelos possíveis entre The Road to Rome e o filme de Korda: ambas as obras tratam de adultério, apesar de ocorrerem em situações e contextos diferentes; também em ambas as obras há a existência de uma bela jovem; e, por fim, há uma cena em comum entre o filme e a peça, em que há o pedido por parte da mulher ao marido para que ele a leve no teatro. Diante dessas três análises, a autora fecha seu texto discutindo sobre como a década de 20, e não só ela, mas todas as épocas, recepciona as obras clássicas e como elas releem e resignificam os clássicos, trazendo-os para questões da sua atualidade, o que a autora sintetiza citando Machado de Assis: “Cada tempo tem a sua Ilíada; as várias Ilíadas formam a epopéia do espírito humano”.

Resenha sobre: O Príncipe do Egito, de Raquel dos Santos Funari

A AUTORA Licenciou-se em História pela Faculdade de Filosofia de Belo Horizonte (1986). Realizou Mestrado (2004) e Doutorado (2008) na Universidade Estadual de Campinas também em História. É, hoje, professora do Colégio Santo Américo, supervisora da Educação Infantil do Ensino Fundamental e Médio, professora na UNICAMP, e colaboradora da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, além de ser pesquisadora colaboradora em pós-doutoramento no Departamento de História da Unicamp, reconhecida por seus trabalhos nas áreas do Ensino da História e Egiptomania. O presente trabalho é resultado da sua tese de doutorado, defendida em 2008. Pesquisa, sobretudo, o ensino didático na História e as representações do Egito Antigo no cinema. “O Príncipe do Egito” foi resultado de sua tese de doutorado, defendida em 2008.

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ESTRUTURA TEXTUAL O “Príncipe do Egito – um filme e suas leituras na sala de aula”, de Raquel dos Santos Funari, é na verdade sua tese de doutorado, defendida em 2008 no Programa de Pós Graduação da UNICAMP, posteriormente publicado pela Annablume em 2012. É iniciado com a apresentação do Prof. Dr. André Leonardo Chevitarese, do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A seguir, a Dra. Renata Senna Garrafoni, Professora do Departamento de História da Universidade Federal do Paraná, redige seu prefácio, discorrendo sobre o uso do cinema nas salas de aula. A tese propriamente dita – no recorte selecionado – é dividida em dois capítulos, cada qual com suas subdivisões.

RESUMO Com o desejo de analisar o uso de filmes dentro das salas de aulas como material didático para ensinar-se história, como a autora mesmo aponta em sua Introdução, Funari começa o seu texto fazendo um panorama geral sobre a História Cultural e o cinema, em seu primeiro capítulo “História Cultural e Cinema”. Esse capítulo mostra-se fundamental, visto que insere o leitor nos métodos e nas discussões que a autora tratará durante seu texto. Funari explica História Cultural como aquela que “investiga a dimensão coletiva

dos

processos

de

representação”

(FUNARI,

R.

S.

2012:

25),

consequentemente, na História Cultural, tudo pode se tornar fonte, inclusive os filmes. Para a autora, os filmes tornam-se fontes históricas ricas, na medida em que ligam-se, através de seu diretor e produtores, de seus contextos tanto temporais quanto

locais,

a

valores

ideológicos

e

políticos,

a

padrões

sociais

e

comportamentais, convicções religiosas etc. Em suma, os filmes são discursos e como tais, podem e devem ser problematizados pela História. Além disso, outra característica dos filmes enunciada pela autora é a sensibilidade que ele causa no espectador, “as emoções provocadas pelas imagens, de modo a reconhecer valores sociais e questionar os próprios valores” (FUNARI, R. S. 2012: 29). Assistir a um filme torna-se então uma atividade social, de formação do subjetivo, e é por isso que o uso pedagógico dos filmes é defendido pela autora.

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No segundo capítulo “O Príncipe do Egito”, a autora analisará a produção cinematográfica norte-americana O Príncipe do Egito, de 1998, produzido pela Dreamworks Pictures, inicialmente pontuando momentos da produção, como as influências artísticas contidas no filme, a construção das personagens etc. Depois disso, Funari lista críticas feitas sobre o filme e discorre sobre os relatos bíblicos sobre o protagonista do filme, Moisés. E, por fim, em seu último tópico “Transcrição comentada do ‘making of’ do Príncipe do Egito”, a autora faz seus comentários acerca do uso que os produtores fizeram da narrativa do Êxodo judaico, resignificando-o e a trazendo para um viés atual e ocidental.

Resenha sobre: Mergulhar no Satyricon de Fellini: a pintura da tumba do mergulhador de Paestum e a cena da pinacoteca, de Airton Brazil Pollini Júnior.

O AUTOR Bacharel em Ciências Econômicas pela UNICAMP (1996), Mestre em História Econômica pela mesma casa (1999), e Doutor em História e Arqueologia do Mundo Antigo pela Universidade de Paris X – Nanterre (2008 - Histoire et archéologie des mondes anciens). Atualmente é pesquisador colaborador do Núcleo de Pesquisas Estratégicas (NEE) da UNICAMP, e desenvolve pesquisa em História econômica da Antiguidade, História Antiga (Grega, principalmente), e Arqueologia (Clássica e Histórica).

ESTRUTURA TEXTUAL O artigo “Mergulhar no Satyricon de Fellini: a pintura da tumba do mergulhador de Paestum e a cena da Pinacoteca”, de Airton Pollini, foi publicado no período semestral “História – Questões & Debates” da Universidade Federal do Paraná (Ano 25 – N. 48/49 – Jan. a Dez. 2008). Pollini abre o discurso com breve resumo, subdividindo seu paper em cinco breves capítulos, encerrado por sua conclusão.

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RESUMO Airton Pollini inicia discorrendo sobre a descoberta da tumba do mergulhador em 1968 na necrópole Tempa del Peste, onde se enterravam, supostamente, os habitantes do vilarejo próximo. A necrópole encontra-se perto da cidade de Poseidonia, atual Itália. O objetivo da obra do autor é fazer uma análise arqueológica da tumba e dos seus afrescos. Segundo Pollini existe uma dificuldade se enquadrar as pinturas da tumba na arte “puramente” grega ou na arte dos lucanos, etruscos e campanos. O autor afirma que o contato da cultura grega com a cultura indígena teria criado uma cultura própria da região. A pintura do mergulhador especificamente e a sua simbologia já haviam sido retratadas em obras literárias gregas; porém, não se tem vestígios de pinturas sobre elas, principalmente em tumbas. O autor analisa, a partir da tumba do mergulhador, o estatuto social do indivíduo que foi enterrado, possibilitando o conhecimento da economia e da política da comunidade em que esse indivíduo habitava. Essa comunidade, por ser uma área de fronteira, expressa e evidencia em parte como era o contato e troca de conhecimento entre os gregos e as populações indígenas nas fronteiras. A tumba do mergulhador é um documento que pode justificar essa teoria de uma sociedade plural, uma vez que, segundo Pollini, cada elemento que a compõe é grego, porém, seu contexto e união não são. Por fim, o autor aborda como Fellini se utilizou da arqueologia da composição da cena da pinacoteca no seu filme Satyricon e como a pintura da tumba do mergulhador serviu como exemplo de pintura grega clássica que se adequava ao contexto do filme, uma vez que aquela possui uma cena homoerótica explícita que se encaixa no amor de Encólpio e Gídeon no filme de Fellini.

COMENTÁRIOS GERAIS Notadamente, a relação da História no cinema é estudada com afinco pelos mais variados estudiosos, desde Walter Benjamin e a Escola de Frankfurt até os dias atuais, cada qual em sua subjetividade. Abandonando o pessimismo de intelectuais frankfurtianos, como Adorno, o que parece unânime entre tais pesquisadores é que não é imprescindível julgar se o cinema segue total, integral e

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incondicionalmente o relato histórico propriamente dito, se ele tem o intuito de alienar as massas ou não, mas sim como a adaptação de um momento histórico foi feito para o cinema, considerando o tempo em que foi feito, o local, os diálogos com os textos clássicos, quais as ideologias políticas vigentes na época e qual o posicionamento do diretor etc. A Helena de Tróia de Korda, por exemplo, encontrase inserida numa mentalidade típica dos anos 1920; o filme não demonstra a Antiguidade de fato e sim revela a construção desse período no imaginário popular na época em que foi produzido. Também é patente a recepção dos clássicos no cinema e o interesse desse nesse momento específico da História. Claramente, algumas “modas” são mais recorrentes em determinados momentos, indo e vindo conforme a demanda da indústria cinematográfica, como os heróis, as adaptações de peças de teatro e obras literárias, relatos bíblios etc. Os textos retratam como os filmes fazem parte da constituição do imaginário coletivo de uma sociedade, e como eles também são usados como artifício político de manipulação. Os filmes que tratam a Antiguidade Clássica são, muitas vezes, usados na construção de um ideal de democracia, masculinidade, submissão feminina e de ocultação da sexualidade homoerótica nos filmes. Valores e preconceitos que são da contemporaneidade são tratados nesses filmes como se fossem, de certa forma, naturais na sociedade. A produção hollywoodiana, sobretudo, marca o cinema com os valores estadunidenses mais enraizadas, como the american way of life (modo americano de se viver): noção de família, moral, religião, auto sacrifício, liberdade individual, democracia, pertencer à elite, cair e voltar ao topo etc. Na Tentativa de retirar os textos canônicos de um pedestal idealizado pelo século XIX, majoritariamente, do que Martin Bernal chama de “’torre de marfim’, ou ‘torre de observação’”, que os doutores Pedro Paulo Funari, Renata Garrafoni e Renato Pinto citam na abertura de O Imperialismo Romano¹ (p. 2), alguns diretores optaram por utilizar obras que descontruíssem a noção, que o tema possuía, de serem conservadores, isolados e estritamente sérios, mostrando um lado mais caricato e cômico do período antigo.

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REFERÊNCIAS COELHO, Maria Cecília de Miranda Nogueira. A vida privada de Helena de Tróia nos loucos anos 20 em Hollywood. São Paulo: Annablume, 2013. FUNARI, Raquel dos Santos. “O príncipe do Egito”: um filme e suas leituras na sala de aula. São Paulo: Annablume, 2012. POLLINI JÚNIOR, Airton Brazil. Mergulhar no Satyricon de Fellini: a pintura da tumba do mergulhador de Paestum e a cena da Pinacoteca, in História: Questões & Debates. Ano 25 – N. 48/49 – Janeiro a Dezembro de 2008. Curitiba: Editora UFPR, 2008. PERFIL de Maria Cecília de Miranda Nogueira Coelho :: NAU Editora ::. Disponível

em:

. Acesso em 7 de junho de 2015 CURRÍCULO dos Sistemas de Currículos Lattes (Maria Cecília de Miranda Nogueira

Coelho).

Disponível

em

. Acesso em 7 de junho de 2015. CURRÍCULO dos Sistemas de Currículos Lattes (Raquel dos Santos Funari). Disponível

em

. Acesso em 7 de junho de 2015. CURRÍCULO dos Sistemas de Currículos Lattes (Airton Brazil Pollini Júnior). Disponível

em

. Acesso em 7 de junho de 2015.

NOTAS 1. GARRAFFONI, R. S.; FUNARI, P. P. A.; PINTO, R. O estudo da antiguidade no Brasil: as contribuições teóricas recentes. In: Pedro Paulo Abreu Funari; Richard Hingley; Renata Senna Garraffoni; Renato Pinto. (Org.). O imperialismo romano. 1 ed. São Paulo: Annablume, 2010, v. 1, p. 9-25.

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