Resenha sobre: O estudo da Antiguidade no Brasil: as contribuições das discussões teóricas recentes, de Renata Senna Garrafoni, Pedro Paulo Funari e Renato Pinto.

July 7, 2017 | Autor: Gabriel Forgati | Categoria: Estudos Clássicos no Brasil, Estudos Clássicos, Richard Hingley
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA – MEMÓRIA E IMAGEM (1º PERÍODO 2015) HISTÓRIA ANTIGA Prof. Dr. RENATA SENNA GARRAFONI

Resenha sobre: O estudo da Antiguidade no Brasil: as contribuições das discussões teóricas recentes, de Renata Senna Garrafoni, Pedro Paulo Funari e Renato Pinto.

Adriene Mitally Ramos de Paiva Daniel Donato Ribeiro Gabriel Antonio Forgati Michele Souza de Oliveira

OS AUTORES Dra. Renata Senna Garrafoni Graduou-se em História pela Universidade Estadual de Campinas em 1997, onde também realizou Mestrado (Bandidos e Salteadores: concepções da elite romana sobre a transgressão social) e Doutorado (Técnica e destreza nas Arenas Romanas: uma leitura da gladiadora no apogeu do Império). Atualmente é professora associada de dedicação exclusiva na Universidade Federal do Paraná, sendo tutora do PET-História na mesma instituição. Suas principais linhas de pesquisa englobam: Intersubjetividade e pluralidade: reflexão e sentimento na História; História Antiga e Medieval; Arqueologia; Epigrafia; e Literatura Latina. Dr. Pedro Paulo Funari Pela Universidade de São Paulo, graduou-se em História e realizou Mestrado (Antropologia Social) e Doutorado (Arqueologia). Desde 1996 é docente livre da Universidade Estadual de Campinas. Suas principais linhas de pesquisa são: Arqueologia (histórica, clássica e pública); Antiguidade e a posteridade do mundo antigo; Relações interprovinciais no mundo antigo; patrimônio histórico e cultural; e

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relações de gênero entre antiguidade e modernidade. Foi orientador de mestrado e doutorado da coautora desta obra, Renata Senna Garrafoni, com quem também atuou na publicação dos títulos: Gêneros e Conflitos no Satyricon: o caso da Dama de Éfeso; Morte e Vida na Arena Romana; Arqueologia e Mundo Antigo; entre outras. É o pioneiro no estudo crítico da Antiguidade no Brasil. Dr. Renato Pinto Bacharel em História pela Universidade de São Paulo, onde também realizou Mestrado em Arqueologia. Doutorou-se em História Cultural pela Universidade Estadual de Campinas. Pesquisa, principalmente, estudos sobre a Bretanha Romana, Roma Antiga, Imperialismos, Relações de Gênero e Sexualidade, Usos do Passado e Teoria da Arqueologia. Também participa do grupo de pesquisa Antiguidade e Modernidade: História Antiga e Usos do Passado (grupo coordenado pelos doutores Renata Senna Garrafoni e Glaydson José da Silva).

ESTRUTURA TEXTUAL O texto “O estudo da Antiguidade no Brasil: as contribuições das discussões teóricas recentes” é um capitulo – escrito pelos doutores Garrafoni, Funari e Pinto – do livro O Imperialismo Romano, que reúne artigos escritos pelo historiador britânico Richard Hingley. O capítulo divide-se em Introdução, O Estudo da História Antiga no Brasil, Sobre Hingley, e em como se estrutura o livro, introduzindo o leitor nos temas tratados nos artigos do estudioso, respectivamente. Por fim, um tópico acerca da contribuição do estudo crítico da Antiguidade. É encerrado com o agradecimento dos autores e a bibliografia utilizada.

RESUMO O estudo crítico da História Antiga e a rejeição da postura eurocêntrica de dominação começa com Edward Said, que publicou o livro “Orientalismo” na década de 1970, discorrendo acerca das políticas imperialistas que moldaram uma noção de inferioridade no Ocidente sobre os povos do Oriente. Inspirado nas ideias de Said,

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Martin Bernal começa seus estudos sobre a relação entre a Antiguidade e a Modernidade e os Usos do Passado. Essa relação traz à tona a discussão de desconstrução de uma história eurocêntrica. Ambos os autores, em seus estudos, refletem sobre como se deu a construção da História Antiga favorecendo discursos de poder na virada do século XIX para o XX. Glaydson José da Silva, estudioso brasileiro, colabora com o assunto tratando sobre como os estudos clássicos são vistos como tradicionais, conservadores e hierárquicos. No Brasil, os estudos da Antiguidade nas universidades começam a aprofundarse a partir da década de 1980, após a abertura política pós Ditadura Militar (19641985). Tal discurso foi influenciado pelos estudos de Claudiomar Gonçalves e Pedro Paulo Funari. Os estudiosos discutiram sobre os problemas e avanços dos estudos clássicos: ao mesmo tempo em que faltavam cursos de línguas clássicas (latim e grego) e fontes atualizadas, por exemplo, a fundação da SBEC (Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos) em 1985 organizou e fortaleceu os estudos da Antiguidade nas universidades brasileiras. Posteriormente a isso, foi dado certo incentivo ao estudo da Arqueologia como ciência auxiliar da História. Num primeiro momento, houve certa tensão entre essas duas ciências devido à dificuldade de acesso à cultura material e aos campos arqueológicos desse período específico da história. Nas últimas décadas, as universidades brasileiras têm procurado desenvolver o estudo das línguas clássicas e da cultura material do Mundo Antigo, bem como o aprofundamento das reflexões e estudos acerca deste por meio de programas de pós-graduação, de grupos de pesquisa e de espaços de discussões. Consoante a esse pensamento críticos acerca da Antiguidade Clássica, o britânico Richard Hingley propõe uma versão do que se entende por Império Romano. Hingley é professor do Departamento de Arqueologia da Universidade de Durham, na Inglaterra. As publicações desse estudioso desconstroem discursos imperialistas do início do século XX, concomitantemente buscando o uso da arqueologia para alcançar esse fim. Em quatro artigos em especial, Hingley ocupa-se, com extrema criticidade, dos estudos sobre um processo denominado “Romanização”, que basicamente consistiu na dominação romana – militar e cultural – de determinados povos e a assimilação destes.

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No artigo “O Legado de Roma” (1996), Hingley aborda como a história do Império Romano foi utilizada pelo Império Britânico, no século XIX e início do XX, como forma de justificar a legalidade de sua expansão territorial e sua noção de superioridade sobre outros povos (especialmente africanos e asiáticos). Num primeiro momento desse texto, o autor traçará paralelos entre os dois impérios; em seguida, trata de como alguns povos foram conquistados sem imposição; e, por fim, desmistifica uma alegoria chamada “Imperialismo Positivo”, em que as populações nativas seriam indiferentes à dominação. Os estudos de Hingley acerca dos assentamentos rurais romano-bretões e a formação da província da Bretanha Romana, estudando a organização política, econômica e social dessa província, constatada por pesquisas arqueológicas que determinavam o que seriam as villae (vilas), pequenos povoamentos ou outras propriedades simples, é o tema central do artigo “O Campo Romano” (1991), que nos permite uma visão mais complexa daquela sociedade. Em “Diversidade e Unidade Cultural” (2009), Hingley desenvolve os estudos sobre como os centros acadêmicos – especialmente estadunidenses e britânicos – utilizam-se da Antiguidade para desenvolver um papel político e social segundo seus interesses. Novamente, o estudioso faz uso do termo “Romanização”, ao discorrer sobre como conceitos de civilização e processos foram distorcidos para justificar ações imperialistas na contemporaneidade. Encerra seu trabalho dizendo que as academias dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha julgavam-se herdeiras dessa missão civilizadora dos romanos. E por fim, no texto “O Muro de Adriano” (2008), há uma discussão a respeito do desinteresse arqueológico do estudo de um dos maiores monumentos do Império Romano nas Ilhas Britânicas, construído no início do segundo século da Era Cristã, o Muro de Adriano, edificada pelo imperador homônimo. O monumento compreendia a fronteira do Império e ajudou, ao longo dos séculos, na construção de um sentimento identitário de ingleses e escoceses.

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COMENTÁRIOS FINAIS A partir da leitura do recorte selecionado é possível assimilar, primeiramente, a importância da arqueologia junto à história, fornecendo, a partir de cultura material, uma ampla e profunda base para infinitos estudos e aplicação da história com os Usos do Passado. Como segundo ponto, podemos, sem dúvida, destacar a nocividade de conceitos canônicos para a história; tais conceitos, engendrados por elites – principalmente imperialistas, em um momento de dominação de povos na Idade Contemporânea – para justificar seus atos de dominação e repressão. Tal pensamento, desde os Romanos, que chamavam de “bárbaros” aqueles de cultura e idioma diferente do seu, permitiu a criação de uma dicotomia entre “civilizados” e “não-civilizados”, do ponto de vista do explorador/conquistador. Essa apropriação de conceitos e atitudes do Mundo Antigo Clássico deve ser refletida com o pensamento crítico da História, como Richard Hingley faz em seus textos, buscando cada vez mais a veracidade nos estudos historiográficos pós-colonialistas e, acima de tudo, buscando compreender a construção, por diferentes visões em diferentes temporalidades, acerca da Antiguidade e o papel que essa construção teve na afirmação da identidade e da legitimidade de um povo e de sua ação em determinado contexto.

REFERÊNCIAS GARRAFONI, Renata Senna; FUNARI, Pedro Paulo Abreu; PINTO, Renato. O estudo da antiguidade no Brasil: as contribuições teóricas recentes. In. Pedro Paulo Abreu Funari; Richard Hingley; Renata Senna Garrafoni; Renato Pinto. (Org.). O imperialismo romano. 1ed. São Paulo: Annablume, 2010, v. 1, p. 9-25. PLATAFORMA

Lattes:

Renata

Senna

Garrafoni.

Disponível

em:

. Acesso em 23 de março de 2015. PLATAFORMA

Lattes:

Pedro

Paulo

Abreu

Funari.

Disponível

em:

. Acesso em 23 de março de 2015. PLATAFORMA Lattes: Renato Pinto: Disponível em: . Acesso em 23 de março de 2015.

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STAFF

of

Durham

University:

Richard

Hingley.

Disponível

em:

. Acesso em 31 de março de 2015. USOS do Passado: Apresentação. Disponível em: . Acesso em 2 de abril de 2015.

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