Resenha sobre: O “Legado de Roma: ascensão, declínio e queda da teoria da Romanização, de Richard Hingley.

July 7, 2017 | Autor: Gabriel Forgati | Categoria: Romanization, Romanização, Estudos Clássicos no Brasil, Estudos Clássicos, Richard Hingley
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA – MEMÓRIA E IMAGEM (1º PERÍODO 2015) HISTÓRIA ANTIGA Prof. Dr. RENATA SENNA GARRAFONI Resenha sobre: O “Legado de Roma: ascensão, declínio e queda da teoria da Romanização, de Richard Hingley.

Adriene Mitally Ramos de Paiva Daniel Donato Ribeiro Gabriel Antonio Forgati Michele Souza de Oliveira

AUTOR Richard Hingley é professor do Departamento de Arqueologia da Universidade de Durham, no norte da Inglaterra (Reino Unido), e também membro do Centro de Estudos Culturais Romanos e do Instituto de Estudos Avançados Medievais e Modernos. Suas principais linhas de pesquisa envolvem o contexto cultural do Imperialismo Romano, a natureza das fronteiras físicas e a história dos estudos clássicos. Também desenvolve trabalhos em Gestão do Patrimônio (aspectos práticos e teóricos), História do desenvolvimento da Arqueologia Romana, e Sustentabilidade e paisagens históricas.

ESTRUTURA TEXTUAL O artigo de Richard Hingley é apresentado no livro O imperialismo Romano: novas perspectivas a partir da Bretanha, editado pela Annablume em 2010 e organizado pelos doutores Renata Senna Garraffoni (UFPR), Pedro Paulo Funari (UNICAMP) e Renato Pinto (UNICAMP) e traduzido por Luciano César Garcia Pinto. É dividido em seis capítulos, sendo o primeiro deles a Introdução; os quatro

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seguintes os que discorrem sobre o tema propriamente dito (intitulados, respectivamente: “Traçando paralelos entre Grã-Bretanha e Roma”, “O conceito de romanização”, “Declínio e queda do conceito de Romanização”, e por fim “Complexidade da resposta e da oposição”); e a sexta e última parte refere-se à Conclusão do autor. O artigo é encerrado com os agradecimentos e com a Bibliografia utilizada por Hingley.

RESUMO Na apresentação inicial de seu artigo, Hingley elucida os três tópicos que discutirá. No primeiro deles o autor discorre sobre a forma como os britânicos usaram o império romano para traçar paralelos entre si, definindo suas ambições e moldando a ideologia de seu próprio império a partir disto, principalmente como continuadores do desenvolvimento europeu em seu tempo. No segundo ponto, o estudioso aborda os conceitos obtidos a partir da teoria da romanização e como isso afeta os estudos atuais de arqueologia romana. No terceiro tópico o autor sugere a urgência de novas demandas acerca dos estudos sobre o Império Romano. O autor, portanto, afirma que os britânicos usaram a imagem da Roma clássica na criação da sua identidade nacional e para fundamentar sua política expansionista. Essa assimilação da cultura romana clássica é vista, segundo o trabalho de Camden¹, na forma como os estudiosos ingleses associaram a Rainha Elizabeth I (1558-1603) com imagens da Antiguidade, efetivando sua soberania britânica e imperial, contudo, o estudioso esclarece que os britânicos não se viam como descendentes genealógicos dos romanos, mas compartilhavam da mesma “moral”. A Grã-Bretanha expõe seus argumentos políticos com o intuito de justificar suas ações que se assemelhariam, conforme Hingley, mais à República Romana – período em que Roma expandiu-se e conquistou a maioria dos territórios que manteve sob seu domínio durante o Principado – do que propriamente a fase do Império. Esse império, segundo Hingley, busca em Roma sua força, sua identidade, seus conceitos de Justiça, moral, orgulho, administração, mas também se utiliza da Antiguidade Clássica como inspiração no seu sistema educacional, na formação do que o autor chama de “perfeito gentleman” (Hingley: 2010, p. 31).

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Richard Hingley marca a influência dos trabalhos de Francis Haverfield², como A romanização da Bretanha Romana (1905) e de uma conferência que esse proferiu em 1911 no primeiro congresso geral anual da sociedade romana, nos estudos do século XIX sobre o tema. O autor aponta como Haverfield enfatizou em seus trabalhos a importância da defesa das fronteiras territoriais – não só da sede imperial como também das colônias – e da assimilação provincial, sempre associando a República romana com a Grã-Bretanha. Ele construiu um modelo para esse processo de assimilação, chamado Romanização, sendo esse relacionado aos conceitos de “progresso” e “desenvolvimento” muito utilizados no século XIX. O termo Romanização passará a ser associado às ideias de desenvolvimento, aculturação e a forma como os nativos adotaram e assimilaram a cultura “romana”. Tal associação influencia nos estudos sobre a cultura material que coloca a si mesma em um patamar superior e elitista, padronizando toda cultura material da região e da época como "cultura romana”. Esses estudos – principalmente de Harverfield e Millet3 – afirmam que os nativos reagiram de forma pacífica a essa cultura material “romana e que estes tinha interesse em fazer parte dessa cultura” (idem, p. 37). O autor do artigo afirma, como último ponto da discussão, a necessidade de se renovar os estudos sobre a Antiguidade, de forma mais realista e menos determinista, enfatizando que os povos não foram totalmente pacíficos na assimilação da cultura romana e que essa cultura é fruto de uma diversidade do próprio império e que isso é explícito na mudança da cultura material e que assim como na forma que a Grã-Bretanha se utilizou de Roma como ideal moral, essa teorias imperialistas sempre se reciclam com novos argumentos.

COMENTÁRIO FINAIS O historiador britânico Keith Jenkins, em seu livro A História Repensada4, define que a História é, em virtude de quem a escreve (os historiadores) fruto do seu momento histórico. O igualmente britânico Richard Hingley afirma que o “estudo da Bretanha romana no passado tem sido, em parte, determinado pelo contexto da sociedade em que se desenvolveu tal estudo” (Hingley: 2010, p. 35). Em vista dessa assimilação é possível compreender os motivos que levaram os estudiosos do

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século XIX na empresa de elaborar um conceito de “Romanização” e de como esse conceito é empreendido para justificar a ação imperialista do Império Britânico. No autojulgamento de descendentes civilizadores dos romanos, os britânicos promoveram, em suas colônias, a assimilação de sua própria cultura junto aos povos conquistados, inclusive incentivando o ensino do inglês em detrimento dos idiomas nativos. Resquício disso é visível atualmente, por exemplo, quando a Índia tem por idiomas oficiais o hindi e o próprio inglês. O que nos parece patente é a necessidade que Hingley propõe quando já se encaminha para o final de seu discurso, de descontruir esse conceito de Romanização, uma vez que essa assimilação que outrora os romanos teriam imposto ao seus domínios não foi “simples e direcional” (Idem, p. 42). Novas visões da Antiguidade em geral, e não apenas de Roma, é um estudo proeminente na Historiografia atual, pois deve empenhar-se em elaborar modelos menos deterministas. Hingley considera ainda que não houve total passividade dos nativos conquistados, como os britânicos tentaram afirmar; havia um interesse em certos povos de se incorporarem ao Império Romano, principalmente das elites locais desses povos, desejosos de um status mais importante junto ao Ocidente e a seu próprio povo.

REFERÊNCIAS HINGLEY, Richard. “O legado de Roma” in: O Imperialismo Romano: novas perspectivas a partir da Bretanha. 1 ed. São Paulo: Editora Annablume, 2010, pp. 27-48. Prof R Hingley – Durham University. Disponível em: . Acesso em 29 de abril de 2015. Richard

Hingley’s

webpage.

Disponível

em:

. Acesso em 29 de abril de 2015. Westminster Abbey >> William Camden. Disponível em: . Acesso em 30 de abril de 2015

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Francis John Haverfield (1860-1919), Roman historian and archaeologist. Disponível

em:

. Acesso em 30 de abril de 2015. Professor Martin Millet – Faculty of Classics. Disponível em: . Acesso em 30 de abril de 2015.

NOTAS 1.

William Camden (1551-1623), historiador inglês, grande estudioso do reinado

da rainha Elizabeth I da Inglaterra; também desenvolveu uma gramática de grego que tornou-se um padrão de trabalho na época. 2.

Francis John Haverfield (1860-1919) foi um historiador de Roma e

arqueólogo britânico. 3.

Martin John Millet, arqueólogo britânico, professor de Arqueologia Clássica

na Faculdade de Clássicos da Universidade de Cambrigde, Inglaterra, Reino Unido. 4.

JENKINS, Keith. A História repensada. Tradução de Mario Vilela. 3 ed. São

Paulo: Editora Contexto, 2007, p. 52.

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