Resenha sobre \"Opinião pública/opinião publicada\" , de Michel Maffesoli

May 24, 2017 | Autor: Marcílio Duarte | Categoria: Gestão Cultural
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MARCÍLIO DE CASTRO DUARTE
Resenha sobre "Opinião pública / opinião publicada", de Michel Maffesoli
Paper apresentado ao Curso de Especialização em Gestão e Políticas Culturais da Universidade de Girona, como exigência parcial para conclusão do curso.
Ribeirão Pires
22 de janeiro de 2017

A ideia central do ensaio de Michel Maffesoli é a estetização da existência e a importância que devemos dar a uma vida menos racional, pessimista e desiludida com o mundo e valorizarmos a filosofia da vida. Essa estetização nada mais é do que dar permissão à arte para infiltrar-se em nossas vidas cotidianas, em um mundo dominado pelos limites do racionalismo quantitativo.
O sociólogo inicia seu ensaio com uma mensagem importante: o perigo das palavras. Por terem sido, no decorrer do tempo, banalizadas, seu significado pode ser da mais absoluta falsidade. Confundir as palavras é confundir a própria vida. Um modo de evitar isso seria encontrá-las e (re)transformá-las em palavras fundadoras, ou seja, palavras cujo significado visa a recuperação do vínculo social que a sociedade moderna perdeu – ou abandonou. Essa busca pelo vínculo social perdido (ou o estar-junto fundamental) consiste em lutar contra a sacralidade das teorias clássicas, contra o conformismo lógico e contra o aprisionamento ideológico. Para Maffesoli, o que importa é ampliar o espaço dos pensamentos. Substituir, na medida certa, o prosaico pelo poético.
Mas não é só a palavra que preocupa o autor. A opinião, o julgamento, o ponto de vista, o modo de ver as coisas, o enunciado de algo, em duas modalidades conceituais – pública e publicada – o inquietam. A opinião pública, que ele considera menos nociva, é eminentemente frágil e inconstante, contudo, preserva o seu caráter humano. Já a opinião publicada, é pretensamente científica e não passa de presunção enunciada, verborragias e lugares-comuns. É por este caráter generalista que se torna útil para uma midiacracia – uma espécie de condotiero eletrônico – cujo fito é a imposição da mediocridade geral e do silêncio, referendados pela falta de contestação no debate público.
Voltando às palavras, Maffesoli afirma que a própria palavra crise está em crise. Dado o uso constante e muitas vezes inadequado, seu termo foi banalizado e seu significado falseia, atraiçoa. Para ele, a palavra crise expressa a necessidade de retornar periodicamente aos fundamentos da vida cotidiana. São valores que garantem a solidez do vínculo social. Naturalmente desgastados com o tempo, como o amor e a amizade, os valores originais da sociedade, que desmoronaram, precisam ser resgatados. Isso porque a sociedade, quando se torna civilização, é instituição, existência estável. A cultura é a vida social, viva, espontânea, o choque amoroso.
Todos os pontos citados acima servem de base para uma reflexão sobre a atuação do gestor cultural. Poderíamos considerar também o interessante conceito do pensamento apocalíptico", que nos chama para o domínio e revela aquilo que está necrosado, mas o espaço desta resenha é limitado.
Assim, para encerrar, uma tese que podemos considerar útil para o campo da gestão de políticas culturais é a comparação oportuna entre os mitos de Prometeu e Dionísio. Embora sejam inversas, as polaridades devem se complementar, tal como na teoria da União dos Opostos, proposta por Heráclito de Éfeso. Nem muito se deve dar a Prometeu, o mito progressista da modernidade, da ciência e da tecnologia, nem muito a Dionísio, que personaliza o mito do imaginário, do onírico e do lúdico. Deve-se buscar o equilíbrio entre os dois polos, "ao ritmo de um pêndulo cíclico, onde um cede o lugar ao outro e vice-versa". Nem a pura "orgia" dionisíaca, nem a "chatice" científica prometeica.
Referências
MAFFESOLI, Michel. Opinião pública / opinião publicada in: Saturação. Tradução de Ana Goldberger. São Paulo: Iluminuras: Itaú Cultural, 2010. 120 p.

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