Resenha: Um livro bom, pequeno e acessível sobre pesquisa qualitativa. (SILVERMAN, David)

May 26, 2017 | Autor: Mateus Bento | Categoria: Comunicacion Social, Pesquisa, Pesquisa Qualitativa, Metodologias de Pesquisa
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Descrição do Produto

Discente: Mateus da Silva Bento
Disciplina: Teoria e Pesquisa em Relações Públicas
Exercício: Resenha

SILVERMAN, David. Um livro bom, pequeno e acessível sobre pesquisa qualitativa. Trad. de Raul Rubenick. Porto Alegre: Bookman, 2010.

David Silverman é professor emérito de Sociologia no Goldsmiths College e Professor visitante no Departamento de Administração do King's College, sendo ambos na University of London.
Nesta obra, Silverman tece uma análise sobre a pesquisa qualitativa a partir de um olhar mais abrangente ao que encontramos nos considerados livros-texto. O objetivo do autor é justamente estimular o leitor a repensar as suposições e generalidades transmitidas pelos livros-texto.
Silverman aponta que uma constatação dos profissionais de pesquisa qualitativa se refere ao fato de que todos nos movimentamos em identidades múltiplas. Assim, o livro proporciona aos estudantes uma incursão em questões mais amplas que muitos livros-texto deixam de lado. Ao mesmo tempo, oferece a um empregado que almeja saber quais tipos de estudos são mais apropriados a busca pelo conhecimento para além dos limites dos manuais. Mais que isso, proporciona a todos nós cidadãos o entendimento da marca registrada da vida diária.
As tentativas de Silverman em fazer pesquisa social de valor colocaram-no frente a frente com questões de princípios que são tanto metodológicas quanto teóricas. O autor destaca a exigência de que a pesquisa qualitativa seja metodologicamente inventiva, teoricamente viva e empiricamente rigorosa. Nesse sentido, ela coloca em contestação formas consagradas de comportamento dos pesquisadores e abre caminho para novas perspectivas.
No capítulo 1, Silverman mostra os tipos de questões embasadas em teorias que os pesquisadores qualitativos podem apresentar. Usando fotografias e trechos de romances e peças teatrais revela uma tradição na qual atividades rotineiras podem ser transformadas em fatos exibidos como se tivessem feições corriqueiras. O autor usa o termo "etnografia" e vez de "observação" para descrever a atividade dos pesquisadores qualitativos. Para ele, a etnografia (etno=gente, graf=escrita) se refere a palavras altamente descritivas sobre determinados grupos de pessoas.
Silverman salienta que o objetivo da etnografia deveria ser lidar com os fatos, sem deferência a qualquer agenda estranha social, política ou mesmo pessoal. De fato, a boa etnografia é chocante em sua pureza, em seu rude compromisso com a celebração das coisas como elas são. Ao resgatar o pensamento de Sacks, Silverman chama a atenção para os detalhes. Para Sacks, um trabalho sério presta atenção aos detalhes e considera que, se algo tem importância, deve ser observável.
No capítulo 2, Silverman procura demonstrar por que normalmente faz sentido em pesquisa qualitativa começar pelos dados disponíveis no cotidiano. Entretanto, adverte para o fato de que precisamos ser menos preciosistas acerca dos dados "próprios", pois a análise de dados secundários também é um método importante em pesquisa qualitativa. Em última instância, a importância maior recai na qualidade da análise dos dados ao invés das fontes.
Todavia, o autor não descarta a possibilidade de uma análise errada dos dados. Isso pode ocorrer quando se foca apenas em um extrato de entrevista, sem analisar sua posição em uma conversação ou sem compará-lo com outros extratos que podem contar uma história diferente.
Assim, não há dados bons ou ruins, pois tudo depende daquilo que se pretende fazer com eles e também da pergunta levantada na pesquisa. Por isso, em qualquer pesquisa, a escolha dos dados deve depender do problema a ser pesquisado. Além disso, todas as polaridades devem ser investigadas.
No capítulo 3, Silverman demonstra que a força maior da pesquisa qualitativa reside em sua capacidade de estudar fenômenos que são indisponíveis em outros campos, podendo usar dados de ocorrência natural para localizar as sequencias interacionais ("como") nas quais os significados ("o que") dos participantes se desenrolam. Em contrapartida, a pesquisa quantitativa se satisfaz com uma definição operacional de cada fenômeno e não conta com recursos necessários para descrever como tal fenômeno é constituído. Desse modo, sua contribuição para os problemas sociais é desequilibrada e limitada.
No capítulo 4, Silverman revela que a pesquisa qualitativa tem uma contribuição exclusiva a fazer para nosso entendimento da maneira pela qual a sociedade funciona e de como pode ser mudada. Para isso, apropria-se do que Miller e Fox chamam de "pesquisa focada discursivamente sobre cenários sociais". Assim, duas áreas importantes mencionadas pelo autor são: "comportamento organizacional e tecnologias" e "relações profissional-cliente". Enquanto na primeira, conforme Miller, Dingwall e Murphy detectaram, uma das principais forças da pesquisa etnográfica está na possibilidade da observação levar à identificação de melhores práticas anteriormente não identificadas; na segunda as pesquisas qualitativas baseadas em entrevistas com clientes têm forte apelo, revelando aos profissionais fatores que não estavam disponíveis na consulta, além de habilidades que nem suspeitavam possuir.
O autor enfatiza que a uma pesquisa bem sucedida precisa responder aos vários públicos eventualmente preparados para ouvir aquilo que temos a dizer. Por isso, é preciso escrever de uma maneira que aborde as preocupações compartilhadas pelo público, de modo a relacionar a pesquisa com suas necessidades e fazendo-o se interessar pelo trabalho.
No capítulo 5, Silverman questiona a respeito das formas pelas quais a pesquisa qualitativa demanda atenção e prova ter valor. A partir de Denzin e Lincoln, o autor apresenta dois estilos comuns de pesquisa em pesquisa qualitativa, a saber: captação do ponto de vista do indivíduo e aceitação das sensibilidades pós-modernas. Na primeira abordagem, os pesquisadores qualitativos pensam ser possível se aproximar da perspectiva do ator, isto é, do ponto de vista dos participantes da pesquisa, através de detalhadas entrevistas e observações, sendo os pesquisadores quantitativos raramente capazes de captar as perspectivas dos sujeitos.
Já na segunda abordagem, utilizam-se métodos alternativos, como inclusão da emocionalidade, responsabilidade pessoal, textos multivocais e diálogos com sujeitos. O autor reconhece que atualmente a pesquisa qualitativa compreende abordagens pós-modernistas do tipo "performance etnográfica", "etnodrama" e poesia.
Entre as questões que os pesquisadores qualitativos devem ter em mente e que podem ser usados pelos leitores para julgá-los, Silverman destaca: clareza, razão, economia, beleza e verdade. Assim como afirmou Popper, o autor aponta a necessidade de um esforço por parte do pesquisador em ser autocrítico e cuidadoso e evitar precipitar-se em conclusões no próprio trabalho. Deve-se evitar a síndrome da cauda do pavão e fatiar as explicações até que fiquem reduzidas ao mínimo necessário para dar sentido aos dados. Além disso, a preocupação com a beleza na execução dos relatórios jamais deve desconsiderar os fatos (verdades).
Por fim, Silverman transforma a argumentação tratada na obra em um conjunto de cinco pontos do que se deve e não deve fazer no tocante à realização de uma pesquisa qualitativa de valor. Assim, não se deve: tratar a vida corriqueira como óbvia; supor que as experiências das pessoas são a fonte mais confiável de dados; pensar que um relatório de pesquisa pode basear-se na citação de alguns exemplos que deem sustentação ao argumento; supor que a pesquisa qualitativa oferece uma resposta direta aos problemas sociais ou que não há nada de prático a oferecer; e supor que a pesquisa precise de cargas de teorias ou deva acompanhar as mais recentes modas do campo teórico.
Quanto ao que se deve fazer, o autor menciona: tratar de ações, cenários e eventos óbvios como potencialmente importantes; reconhecer que conversa, documentos e outros artefatos podem oferecer dados reveladores; buscar localizar o que precede e acompanha qualquer indício de dado; reconhecer as capacidades rotineiras de que todos fazem uso e tentar iniciar um diálogo com as pessoas com base no entendimento da maneira pela qual as citadas capacidades funcionam na prática; e entender a importância em desenvolver um argumento com base na filtragem crítica dos dados.
Diante do exposto, a obra de Silverman mostra-se relevante para estudantes e profissionais que buscam não por um manual de metodologia (um livro-texto), mas que desejam conhecer pontos fundamentais que podem nortear a prática da pesquisa qualitativa.




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