Resolução da prova de \"Sociologia da Educação\" - curso de Ciências Sociais (2007)

May 19, 2017 | Autor: V. Aguiar Caloti | Categoria: Sociologia da Educação, Educação, Durkheim, Marx e Weber
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Resolução de prova em 2011. Síntese das ideias de Durkheim, Marx e Weber na
esfera da educação, segundo a obra: RODRIGUES, A. T. Sociologia da
educação. São Paulo: Lamparina, 2007.

Vinícius de Aguiar Caloti


Durkheim, em sua obra, entreviu a existência de um "reino social"
(reino moral), que em sua acepção, seria o locus no qual se processariam os
"fenômenos morais", composto por âmbitos constituídos por idéias/ideais
coletivos; abrigo de toda vida social.
Para Émile Durkheim, a sociedade e a vida coletiva devem possuir suas
leis próprias, independentes da vontade humana, precisando de serem
conhecidas, mediante a Sociologia. Sua pretensão é apresentar a Sociologia
como uma ciência positiva e um estudo metódico. Ele via a "lei"
(científica) como uma relação necessária – a descoberta da lógica inscrita
no próprio real, enunciada pelo cientista.
Na concepção durkheimiana, o meio moral (que serve de entorno aos
indivíduos) deve ser tomado como dado bruto à observação científica, isento
dos valores do cientista. A Sociologia, enuncia, é o estudo dos fatos
sociais; estes são exteriores ao indivíduo, anteriores, coercitivos e devem
ser tratados como "coisas" (visando livramento das pré-noções e pré-
conceitos não científicos) – objetos de intelecção que a inteligência
humana não penetra de imediato, necessitando do auxílio da ciência. Assim
compreende, pensando os fatos sociais, que a sociedade está na cabeça de
todos.
Para o pensador supracitado, as representações podem ser individuais
ou coletivas. As representações sobre os fatos sociais são percebidas em
coletivo (compartilhadas), logo são exteriores às consciências individuais.

Segundo o sociólogo, em suma, se agimos conforme a vontade da
sociedade, é porque assim aprendemos e fomos educados pra isso. Tal
educação possui conteúdos, que são dados pelo meio moral que
compartilhamos. Conforme o tipo de divisão do trabalho social vigente,
formata-se a cooperação entre os indivíduos e, por conseguinte, a vida
moral que forma a base dos conteúdos transmitidos – crenças, valores e
normas, perpassadas geracionalmente.
O consenso é imprescindível para a existência da sociedade, para a
cooperação e a vida social. Pouca divisão do trabalho, indica solidariedade
pautada na semelhança entre pessoas (solidariedade mecânica), além de uma
consciência coletiva mais forte e extensível a um número maior de pessoas
(ex: sociedades tribais indígenas). Já a solidariedade por diferença entre
pessoas, solidariedade orgânica, caracteriza-se por ampla divisão do
trabalho e diferenciação social, indicando uma consciência coletiva menos
densa, propiciando liberdade/autonomia relativas, para pensar e agir, um
pouco mais amplos.
A educação na acepção de Durkheim é educação moral, sendo pedra
angular, para a manutenção da coesão social. Ela é essencialmente o
processo pelo qual aprendemos a ser membros da sociedade – a educação é
socialização. Como existem vários meios morais nas sociedades complexas,
não existe educação única, homogênea. Socializar-se seria aprender a ser
membro da sociedade e aprender o seu devido lugar nela, devido às divisões
em classes, grupos, profissões, etc. Por mais específicos que sejam os
meios morais, para os quais somos educados, sempre existirão crenças e
valores básicos que devem ser comuns a todos.
Karl Marx apresenta um pensamento analítico e normativo. Para ele, a
contradição é o modo pelo qual a realidade se expressa. Segundo o autor, o
motor da história seria a luta de classes (lei da história) e, para se
compreender a sociedade capitalista e sua direção, devido às contradições
internas, é necessário conhecer essa chave interpretativa (lei).
Marx e Engels depreenderam a história humana como uma relação entre os
homens e, entre estes e a natureza. Consoante eles, o trabalho é uma
categoria fulcral, para se pensar a estruturação societária. A
hierarquização e estratificação das classes sociais distorceram o modo pelo
qual os homens tomam consciência da relação entre os mundos, material e das
idéias.
O desenvolvimento das forças produtivas foi responsável pelos
incrementos de produtividade e domínio do humano sobre a natureza. As
relações sociais de produção e a forma de propriedade implicam, no
capitalismo, na cisão entre meios de produção e trabalho assalariado. Para
se compreender a categoria: "modo de produção", é necessário analisar o
desenvolvimento das forças produtivas, a forma de propriedade e as relações
de produção.
As classes sociais (categoria marxiana e marxista) estão associadas à
posição no modo de produção material. No capitalismo, "burguesia" define
uma classe que detêm capital e meios de produção, enquanto "proletariado",
delineia outra que nada retêm, senão a sua força de trabalho, que "troca"
no mercado pelo salário – renda ou riqueza menor que aquela que o
proletário rende ou produz (cria), mediante o seu trabalho.
Enfim, salário não remunera o trabalho realizado, mas apenas uma parte
dele; sendo a outra parte, o lucro. Proletariado e burguesia são classes
principais (fundamentais), mas não todas as classes no capitalismo. O
antagonismo entre as relações de produção e o desenvolvimento das forças
produtivas pode implicar na Revolução (cambio da forma de propriedade e
relações de produção), pela insurgência da(s) classe(s)
dominada(s)/subalterna(s) e deposição da(s) classe(s) dominante(s) ou no
declínio das classes em luta.
Segundo Marx, a consciência está ligada às condições materiais de
vida, ao intercâmbio econômico entre os homens. As idéias, as concepções
sobre como opera o mundo, são representações que os homens fazem a respeito
de suas vidas, do modo como as relações aparecem na sua experiência
cotidiana. Essas representações são, portanto aparência e implicam, num
primeiro momento, numa falsa consciência (invertida, pois se prendem à
aparência e não são capazes de captar a essência das relações, as quais os
homens estão de fato submetidos).
No capitalismo o trabalhador é separado do controlo autônomo sobre seu
trabalho e de seus frutos. O trabalho é percebido como algo exterior a si,
pertencente aos outros (alienação). O trabalho alienado engendra a falsa
consciência no humano. Tal acesso às aparências, sem a capacidade de
compreensão do processo histórico real, atina à ideologia – sistema
ordenado de idéias, concepções, normas e regras que condicionam e
estruturam as vidas dos homens, fazendo-os parecer realizarem suas
autovontades. A ideologia social dominante, numa sociedade é a ideologia da
classe dominante.
Quanto à concepção de Marx e Engels sobre educação, estes afirmam não
existir "educação" em geral. Conforme o conteúdo de classe ao qual estiver
exposta, ela pode ser uma educação para a alienação ou emancipação. Marx
versa que os conteúdos educacionais devem contemplar três dimensões:
educação mental, física e tecnológica; objetivando romper com a separação
entre trabalhos manual e intelectual, e também com a parcialização das
tarefas impostas pela divisão do trabalho nas fábricas modernas, para
romper com a alienação do trabalho.
A sociedade para Max Weber é uma teia de significados. Tem como
pressuposto heurístico a neutralidade axiológica, afirmando que a ação
social deve ser interpretada, quanto a valores, mediante o sentido que o
ator social atribui a ela – o objeto das ciências da cultura será a
decifração (o sentido) da ação social (condutas humanas).
Segundo Weber, a ação social ocorre, quando o indivíduo leva os outros
em consideração, no momento de tomar uma atitude, de praticar uma ação.
Agir em sociedade, implica nalgum grau de "racionalidade" pelo ator em
relação aos outros indivíduos circundantes. Assim M. Weber pensa a ação
social como: racional com relação a fins, a valores, ao regular e ação
social afetiva. Ideou outrossim, os tipos puros de comportamento e pautou-
se no individualismo metodológico – porque para ele, o indivíduo constitui
o único portador de um comportamento provido de sentido, racionalidade.
A Sociologia weberiana é Compreensiva, referindo-se à análise dos
comportamentos movidos pela racionalidade dos sujeitos com relação aos
outros. A tarefa dessa Sociologia é interpretar esse agir, de modo que ele
se torne um agir compreensivo – um agir dos homens que se inter-relacionam.
Weber define as categorias: "agir em comunidade" – agir que se baseia
na expectativa que temos relativa ao comportamento dos outros; "agir em
sociedade" – seria um agir em comunidade, no qual as expectativas se
arraigam nos regulamentos sociais vigentes. Para o sociólogo, as regras
funcionam como "condensação de expectativas recíprocas", tornando o
universo social organizável e inteligível pelos valores sociais. O ator
social em busca de seus objetivos e levando em consideração a existência
das normas, pode deliberadamente fazer parte de uma coletividade, orientada
de comum por estes referenciais – associação racional com fins.
Quando as pessoas obedecem às regras, não só porque temem a punição,
mas também porque estão convencidas da necessidade de obedecer, visto
introjetarem a norma, então, a dominação consoante Weber, fundamenta-se no
consenso da legitimidade. O estabelecimento de uma ordem social "com
relação a fins" torna-se cada vez mais amplo. O consenso aí constituído é
obtido mediante regras e coação, e uma crescente transformação das
associações em instituições organizadas de maneira racional com relação a
fins se opera na sociedade.
O processo histórico de racionalização origina a forma de dominação
legítima (os três tipos puros de dominação): dominação tradicional,
carismática e racional-legal. A complexificação da sociedade gera conflito,
necessitando da regra. A regulamentação mais desenvolvida das lutas em
sociedade aparece em Weber como um aparato especializado de domínio, que é
o Estado moderno. A racionalização das sociedades é, pois, uma crescente
transformação dos modos informais e tradicionais de extração de obediência
em instituições organizadas racionalmente, impessoalmente e legalmente,
para a obtenção dessa obediência.
A educação, para Weber, é o modo pelo qual os homens ou determinados
tipos de homens, em especial, são preparados para exercer as funções que a
transformação causada pela racionalização da vida lhes colocou à
disposição. A educação, na medida em que a sociedade se racionaliza,
historicamente, torna-se um fator de estratificação social, um meio de
distinção, de obtenção de honras, prebendas, poder e dinheiro. No modelo
ideal weberiano, a educação é, conforme o caso, socialmente dirigida a três
tipos de finalidades: despertar o carisma, preparar o aluno para uma
conduta de vida e transmitir conhecimentos especializados.
Weber via na pedagogia do treinamento imposta pela racionalização da
vida, o fim da possibilidade de desenvolver o talento do ser humano, em
nome da preparação para a obtenção de poder e dinheiro. A racionalização na
acepção weberiana é inexorável, invencível e a educação especializada, a
lógica do treinamento, para Weber, também o seria.
Pressupondo um exemplo concreto, acerca da educação social ou moral, a
partir da projeção dos clássicos da Sociologia (Durkheim, Marx e Weber),
para a realidade brasileira, poder-se-ia enfocar, enquanto objeto, a
divisão social (formatação) entre o ensino técnico-profissionalizante,
ofertado por instituições tais como o SENAI, SENAC, etc; e o ensino de
caráter acadêmico-científico, fornecido pelas Universidades públicas,
estaduais e federais, etc. - difusivo pelo país.
Pensando-se no concepto: educação social-moral durkheimiana, numa
sociedade complexa, vigendo dentro da coetânea divisão social do trabalho
(logo, constituída de vários meios morais); há abundância de cursos técnico-
profissionalizantes, para formar quadros técnicos, objetivando suprimento
dos quadros da indústria e setor de serviços nacional, incluso com a
promessa de campanha do partido no poder (hegemônico) e a coalizão que
condensou, de criar um "prouni para a formação técnico-profissional".
Outrossim o governo federal procura expandir o número de titulados com
graduação, notadamente, mediante o REUNI (parido para as universidades
públicas federais, embora em detrimento da minoração da qualidade do ensino
superior...) e promovendo as faculdades privadas, através do PROUNI, pela
isenção de impostos, barganhando a concessão de bolsas aos alunos egressos
do ensino médio nas escolas públicas...
Na sociedade complexa existe ampla divisão do trabalho e muitos meios
morais; conforme a divisão social em classes, grupos e profissões, há a
necessidade dos indivíduos de se integrarem aos diversos quadros
profissionais que a dita sociedade, anexa à uma economia em desenvolvimento
(semiperiférica, no caso brasileiro), requer para se socializarem e
integrarem-se à sociedade. Para Durkheim, socializar-se é aprender não só a
ser membro da sociedade, mas também é descobrir seu local/posição nela. Os
sistemas educacionais contemporâneos não são homogêneos, sempre existirão
crenças e valores básicos comuns às classes, grupos e indivíduos, o que
promove a coesão social.
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