Resolução de conflitos entre gêneros: como meninas e meninos resolvem conflitos interpessoais

June 4, 2017 | Autor: Adriana Braga | Categoria: Gênero, Resolução de Conflitos
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Resolução de conflitos entre gêneros: como meninas e meninos resolvem conflitos interpessoais Adriana Regina Braga* Vanessa Aparecida Ghidotti Celente** Resumo Meninos e meninas, pré-adolescentes, apresentam diferenças significativas entre gêneros nos gostos, jogos, conversas e interesses, demonstrando uma mistura de amor e ódio nos comportamentos entre os sexos. O objetivo desta pesquisa foi verificar nesta faixa etária, se as meninas e meninos se colocam, e resolvem ou não de uma maneira semelhante hipotéticos conflitos interpessoais que eles enfrentam em situações comuns da vida cotidiana, como: jogos de grupo, recreação, vida em comunidade, situações de autoexposição, desrespeito, desejos em geral e injustiças. Foram utilizados como ferramentas de pesquisa, quatro hipotéticos conflitos morais aplicados por Vicentin (2009) em sua pesquisa de doutorado. O grupo focal foi composto por 54 alunos, entre os quais 27 meninas e 27 meninos, com idades entre 10 e 11 anos, pertencentes a uma escola pública na região metropolitana de Campinas. Com base nos resultados obtidos, observou-se que nos momentos em que a solução de conflitos é difícil, as meninas tendem a ser mais submissas e os meninos mais agressivos. No entanto, houve uma similaridade entre os sexos, quando os meninos ou meninas resolveram os conflitos de forma assertiva. As análises e estudos foram apoiados em autores e pesquisadores da área de Psicologia do Desenvolvimento Moral. Palavras-chave: gênero; conflito interpessoal; puberdade; desenvolvimento moral.

Resolution of conflicts between genders: how the boys and girls solve interpersonal conflicts Abstract Boys and girls, teens, show significant differences between genders in tastes, games, chats and concerns, demonstrating a mix of love and hate in the behaviors between * Professora da Universidade Federal de São Paulo – IFCL – Doutora em Psicologia do Desenvolvimento Humano e Educação, Unicamp. Membro do GEPEM, Grupo de Pesquisas em Moralidade. E-mail: [email protected] ** Professora e Especialista em: As relações interpessoais na escola e a construção da autonomia moral – UNIFRAN –SP. E-mail: [email protected]

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sexes. The objective of this research was to verify in this age range, if girls and boys place themselves, and solve or not in a similar way hypothetical interpersonal conflicts which they face in common situations of everyday life, such as: group games, recreation, life community, situations of self-exposure, disrespect , overall desires and injustices. It were used, as research tools, four hypothetical moral conflicts applied by Vicentin (2009) in his PhD research. The focus group was composed by 54 students, among which 27 girls and 27 boys, aged between 10 and 11 years old belonging to a public school in the metropolitan region of Campinas. Based on the results obtained it was observed that in the moments when the solution of conflicts is difficult, girls tend to be more submissive and boys more aggressive. However, there was a similarity between the genders, when boys or girls can solve the conflicts in an assertive way. These analyses and studies are relied on authors and researchers of Psychology of Moral area. Keywords: Gender; Interpersonal Conflict; Puberty; Moral Development.

Resolución de conflictos entre los sexos: ¿cómo los niños y niñas resuelven los conflictos interpersonales? Resumen

Los niños y niñas, adolescentes, muestran diferencias significativas entre géneros en los gustos, juegos, charlas y preocupaciones, lo que demuestra una mezcla de amor y odio en los comportamientos entre los sexos. El objetivo de este estudio fue verificar en este rango de edad, si las niñas y los niños se colocan, y resolven o no de una manera similar, formas hipotéticas de conflictos interpersonales que se enfrentan en situaciones comunes de la vida cotidiana, tales como: juegos de grupo, la recreación, la vida en comunidad, las situaciones de auto-exposición, falta de respeto, los deseos y las injusticias. Cuatro de los conflictos morales hipotéticos aplicados por Vicentin (2009) en su investigación de doctorado fueron utilizados como herramientas de investigación. El grupo de enfoque fue compuesta por 54 estudiantes, entre los cuales 27 niñas y 27 niños, de edades comprendidas entre 10 y 11 años pertenecientes a una escuela pública en la región metropolitana de Campinas. Con base en los resultados obtenidos se observó que en los momentos en que la solución de los conflictos es difícil, las niñas tienden a ser más sumisos y los niños más agresivos. Sin embargo, hay una similitud entre los géneros, cuando los niños o las niñas pueden resolver el conflictos de manera asertiva. Estos análisis y estudios se basaron en autores e investigadores de Psicología de área moral. Palabras clave: Género; conflictos interpersonales; la pubertad; el desarrollo moral.

Introdução Como educadores, percebemos com frequência meninas e meninos a partir dos 7 anos de idade se dividir em grupos do mesmo gênero e se distanciarem do sexo oposto. Reúnem-se para conversar e brincar, excluindo 86

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assim o gênero oposto nos trabalhos em grupos, nos horários de intervalo e em outros momentos, manifestando a separação por meio de brigas, agindo com intolerância e agressividade. Cada sociedade tem seus valores e costumes próprios, dos quais cada indivíduo se apropria para estabelecer suas relações familiares, sociais e profissionais. Leme (2004, p. 372): [...] a cultura em que se processa a socialização da criança desempenha um papel fundamental neste aprendizado de resolução de problemas interpessoais, no sentido em que diferentes sistemas de valores expressam diferentes ideais de vidas, que constituem o universo simbólico que dá significado nas interações sociais de um dado grupo.

Os alunos em seu cotidiano dentro e fora da escola se deparam com diversos conflitos sociais, cognitivos, físicos e emocionais (TOGNETTA, 2006). As relações vivenciadas por eles são simétricas, ou seja, entre os pares e assimétricas, relações unilaterais entre o aluno e a autoridade. Essas trocas de experiências possibilitam novas aprendizagens e desenvolvimento desses sujeitos, que vão a partir dessas relações, construindo-se, aos poucos, como indivíduos únicos, cidadãos pertencentes e atuantes em seu meio. As maneiras como as meninas e os meninos entendem, lidam e resolvem conflitos morais, é uma forma de demonstração de conhecimento e desenvolvimento. Essa pesquisa teve como objetivo investigar de que maneira meninos e meninas na puberdade resolvem hipoteticamente conflitos interpessoais e verificar se há semelhanças ou diferenças nessas resoluções, e dessa forma compreendendo melhor o pensamento das crianças. O universo da pesquisa foi uma escola estadual na região metropolitana de Campinas. O trabalho desenvolvido foi uma pesquisa qualitativa e quantitativa, no qual, foram aplicados quatro conflitos interpessoais utilizados por Vicentin (2009) em sua tese de doutorado. Os conflitos selecionados para esta pesquisa são adequados à idade e realidade vivenciada pelos sujeitos. A aplicação foi realizada com 27 meninos e 27 meninas, na faixa etária entre 10 a 11 anos. Para a análise das respostas foram utilizados os estilos assertivo, submisso, agressivo e suas nuanças (VICENTIN, 2009). O estilo assertivo é utilizado quando os sujeitos envolvidos resolvem o conflito utilizando o diálogo. É uma maneira não agressiva, na qual se manifestam as ideias e sentimentos dos envolvidos. No estilo submisso o sujeito se submete à vontade do outro, não expondo suas ideias e sentimentos. Já no estilo agressivo são utilizadas agressões verbais, gestuais ou físicas para resolver conflitos, impondo-se de forma violenta e autoritária. As nuanças ocorrem quando é utilizado mais de um estilo para resolver o mesmo conflito. Revista Múltiplas Leituras, v. 4, 2, 2011, p. 1-2 ISSN 1982-8993

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Os conflitos entre os pares Piaget, biólogo e pesquisador suíço, desenvolveu uma teoria na qual procurou explicar o funcionamento das estruturas mentais, e como essas estão inseridas no conjunto de todas as outras estruturas biológicas do ser vivo, isto é, o seu funcionamento é comum a todos os seres humanos como os demais sistemas do corpo. São estruturas pré-formadas no organismo e passam a se diferenciar e especializar em relação às regulações fisiológicas, ao interagirem com o meio. Para Piaget (1974), o conhecimento está relacionado aos instrumentos que o sujeito possui para compreender o meio com o qual interage, conhecimento este que constrói, passando por estágios que se desenvolvem, obedecendo a uma escala qualitativa de suas interações e ações sobre o objeto. Barry J. Wadsworth (1997), afirma que “os atos intelectuais são entendidos como atos de organização e de adaptação ao meio” (p. 15). As necessidades cognitivas fundamentais, de compreender e de inventar, alimentam as estruturas mentais. Essa adaptação cognitiva ocorre a partir de sucessivas equilibrações durante os processos de assimilação e acomodação, complementares entre si, que acontecem na busca pelo equilíbrio, diante de uma situação de desequilíbrio cognitivo, afetivo, moral, ou social, e assim, modificando e ampliando, suas estruturas, alcançando novos estágios de desenvolvimento. O desenvolvimento intelectual está diretamente ligado às experiências sociais do sujeito, pois este, também, depende das interações sociais. Piaget (1932:1997) afirma que o desenvolvimento moral é construído da mesma forma que o desenvolvimento cognitivo, e apresenta as tendências morais em três momentos: a anomia, a heteronomia e a autonomia. Como elucida Vinha (2000), a educação, embasada em relações de colaboração e cooperação, se torna um importante instrumento que auxilia no desenvolvimento moral. Da mesma maneira que a criança precisa de mediação para aprender conceitos da escola, ela também necessita ser amparada para se desenvolver moralmente. A criança ao nascer se encontra no nível de desenvolvimento moral, classificado por Piaget (1932:1997), como anomia, ou seja, ela não compreende o que é certo ou errado, uma ausência de regras, que vai diminuindo à medida que a criança vai convivendo com as regras, e se desenvolvendo cognitivamente, e assim compreendendo os limites estipulados, tornando-se heterônoma. A heteronomia faz que seja orientada em suas ações, por reguladores externos a ela, como: a autoridade do adulto, as regras, as recompensas, as punições, e outras razões reguladas pelo ambiente. Com o tempo, a partir de sua vivência social, das relações simétricas, em um ambiente reflexivo e cooperativo, ela 88

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começará a construir os valores morais e futuramente poderá conseguir agir de maneira autônoma. A autonomia moral é a consciência dos princípios éticos universais em que o sujeito não mais aceita as regras apenas por obediência, mas também porque consegue compreender e desejar uma vida embasada na reciprocidade, no respeito mútuo, nos direitos universais, na preservação da dignidade humana e justiça. A passagem da heteronomia para a autonomia depende, além do desenvolvimento cognitivo, da qualidade moral das relações e ambiente, vivenciados pelo sujeito. Essas relações devem se basear no respeito. Inicialmente, esse aparece de forma unilateral, como uma relação desigual. A criança respeita porque possui diferentes medos: punição, decair aos olhos, perder o amor da pessoa querida. Este respeito deve caminhar para se tornar mútuo, no qual a criança passa a ter oportunidades de colaborar e estabelecer trocas. As primeiras trocas cooperativas ocorrem com seus pares, uma relação entre iguais e, somente depois, de um tempo, conseguirá tê-la, com o adulto que possibilitar, nessa relação, a reciprocidade e a cooperação, contribuindo, assim, para a construção da autonomia na criança (TOGNETTA, 2006).

Conflito: uma oportunidade ou um problema no desenvolvimento das crianças? Muitos estudos estão sendo direcionados procurando entender e melhorar o contexto escolar. Tognetta (2003) mostra, em seus estudos, que o ambiente escolar é um ambiente autoritário. Vinha (2003) compartilha da mesma opinião, denominando o cotidiano escolar de autocrático. Suas pesquisas apresentam que as decisões tomadas nestes contextos são centralizadas nas pessoas, que representam a autoridade, e assim, poder de decisão. As regras são criadas e impostas por elas, desestimulando e até inibindo as tomadas de decisões dos alunos. Estes, muitas vezes, não possuem espaço para problematizar e discutir sobre sua realidade, contribuindo assim para que resolvam seus conflitos de maneira submissa, sem questionar as próprias ideias, sentimentos e vontade, sem se colocar no lugar dos outros, sem procurar a melhor forma para conviver em grupo. Para que a pessoa possa identificar e conhecer suas ideias, sentimentos, direitos e deveres e relacioná-los com os do outro, é necessário que ela tenha desenvolvido recursos afetivos e cognitivos. O sujeito precisa conseguir pensar de maneira recíproca, ser capaz de utilizá-los em situações de conflitos interpessoais e para que isso ocorra, ele precisa de espaço. Sastre e Moreno (2002) apontam em seus estudos que é necessário que as pessoas possuam oportunidades de Revista Múltiplas Leituras, v. 4, 2, 2011, p. 1-2 ISSN 1982-8993

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conversar e discutir sobre situações de conflitos interpessoais, que consigam se colocar, se expressar livremente, identificar seus sentimentos, para que possam desenvolver estratégias de resolução de conflitos. Quando a criança depara com um ambiente centralizador, essas oportunidades não acontecem, pelo fato de as decisões serem determinadas pelas autoridades locais, favorecendo resoluções de conflitos, mais submissas ou agressivas. Percebe-se a importância de refletir sobre qual é o papel da escola e dos educadores para contribuir com a construção de valores morais da criança para que ela possa buscar sua felicidade e alcançar uma personalidade ética. A escola tem um papel fundamental, pois a todo o momento está lidando com a construção de regras e resolução de conflitos. É a partir dessas situações que a criança irá se desenvolver moralmente, é a partir das relações que ela estabelecerá com os outros e com os resultados obtidos que irá construir seus valores morais. Vinha (2000) afirma que quando o adulto pratica reciprocidade com a criança, este comportamento facilita as relações de cooperação e respeito mútuo entre as crianças, influenciando no desenvolvimento de justiça. Para Tognetta (2006), uma maneira que pode auxiliar a criança a adquirir respeito pelo outro é o adulto mostrar a importância de ela se colocar no lugar do outro, pensando como ele se sentiu e como poderia resolver o conflito da melhor maneira. O educador contribui com este desenvolvimento, e não é apenas sua fala que a criança irá compreender e sim as relações que ela estabelece com o outro e a maneira como resolve seus conflitos. Muitas vezes, ela só conseguirá agir moralmente quando tiver mais idade, em séries mais avançadas, mas mesmo assim é preciso reconhecer a necessidade de trabalhar a resolução de conflitos com crianças bem pequenas, para que futuramente elas consigam resolver seus conflitos de maneira assertiva. Os estudos desenvolvidos por Gilligan (1982) demonstraram um contraste na orientação de meninos e homens com a de meninas e mulheres, nas estratégias, raciocínio e aplicação de conceitos éticos na resolução de conflitos. Apoiada nas ideias de Gilligan, essa pesquisa tentou verificar, se em um mesmo ambiente, e em uma faixa etária específica, na qual as personalidades, entre os gêneros, são muito diferentes e conflituosas, se há diferenças na forma de resolução de conflitos.

Pesquisa Instrumentos e métodos O universo da pesquisa é uma escola estadual na região metropolitana de Campinas. A escola está localizada em um bairro de classe média próximo ao 90

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centro da cidade. A maioria dos alunos mora nas proximidades, numa região de grande diversidade econômica. A escola tem alunos de classe média baixa, média e média alta. O espaço escolar é amplo, com grandes salas de aulas frequentadas por um número grande de alunos. O espaço externo também é amplo, possui vários ambientes onde os alunos podem se encontrar para conversar e praticar esportes. A aplicação foi realizada numa sala de aula com 27 meninos e 27 meninas, na faixa etária entre 10 a 11 anos. Para o desenvolvimento da pesquisa, primeiramente, foram selecionadas duas salas de aula de maneira aleatória, com meninas e meninos de 10 e 11 anos de idade. As pesquisadoras procuraram estabelecer um laço com as crianças, para que essas se sentissem seguras em resolver os conflitos interpessoais. Observaram no cotidiano escolar os conflitos que são mais constantes, verificando quais são os mais comuns e onde ocorrem. As crianças foram comunicadas quanto a sua participação na pesquisa, e que esta seria por meio da resolução de conflitos interpessoais, onde não existia certo ou errado e sim respostas individuais e diferentes, de acordo com a história de vida de cada um. Esclareceu-se que seus nomes não seriam divulgados, que o interesse estava no conteúdo escrito por elas. Portanto, solicitou-se que não colocassem seus verdadeiros nomes, e sim, pseudônimos. Em seguida, aplicou-se os conflitos. As pesquisadoras solicitaram autorização dos alunos e de seus pais para utilizar as resoluções de conflitos. Para finalizar, os resultados foram categorizados de acordo com os estudos Vicentin (2009). Analisou-se as formas de resolução de conflitos interpessoais, verificando semelhanças ou diferenças. Foi realizada uma pesquisa qualitativa e quantitativa. O questionário que foi distribuído aos alunos, teve como objetivo possibilitar que se expressassem de maneira livre, dizendo o que pensavam, sentiam e como agiriam hipoteticamente diante dos conflitos sugeridos. Foi trabalhado com uma amostra de 27 meninas e 27 meninos, para apurar suas opiniões, atitudes, interesses e sentimentos. Os dados coletados por meio de um questionário com quatro conflitos seguidos de perguntas claras e objetivas, e apresentados em gráficos percentuais, com os dados obtidos, com o objetivo de facilitar o entendimento dos resultados. É importante ressaltar que as pesquisas quantitativas e qualitativas oferecem perspectivas diferentes, porém não são opostas. Possuem abordagens que podem ser utilizadas em conjunto (MINAYO, 2007). Diante dessa necessidade, optou-se pela utilização das duas para ter-se assim mais informações do que se obteria caso os métodos fossem utilizados isoladamente.

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Resultados Os critérios utilizados para a categorização das respostas encontradas foram embasados no trabalho de Vicentin (2009). Consideraram-se os estilos de resolução de conflitos apresentadas no quadro a seguir. Tabela 1: Respostas do Estilo de Resolução de Conflito Estilo de resolução de conflito Agressivo

Submisso

Assertivo

Assertivo – Submisso; Submisso – Agressivo; Assertivo – Agressivo.

Respostas A resposta apresenta uma maneira de coagir o outro e de desrespeitá-lo, utilizando violência física, verbal ou gestual em relação às vontades, intenções, sentimentos, ideias e ações do outro como: agressão física, agressão verbal, deboche, ironia, humilhação, chantagem, manipulação, olhar, situações de desrespeito. A resposta não valoriza a própria vontade, sentimento e opinião, deixando prevalecer o que o outro quer e faz, para não ocorrer um enfrentamento da situação que originou o conflito. Essa não ação, não ocorre pelo fato da concordância do sujeito e sim por sua omissão e fuga da realidade como: mudar sua opinião ou vontade diante da opinião e vontade do outro, aceitar o que o outro determina mesmo não concordando, não expor suas ideias com receio da reprovação alheia, se calar por medo de ser julgado. A resposta que apresenta a valorização do diálogo para resolver o conflito, considerando e respeitando as próprias vontades, ideias, sentimentos, direitos e deveres, e as do outro com o mesmo valor e intensidade, buscando o bem-estar de todos como: utilizar o diálogo como maneira de expor seus sentimentos e vontades e ouvir os sentimentos e vontades do outro, expor suas opiniões utilizando a argumentação apontando seus motivos e ouvindo a fala do outro, buscando fazer-se entender e entender o outro, se preocupar com a maneira que o conflito será resolvido para que fique igualmente satisfatório para ambas as partes.

Respostas que apresentam mais de um estilo na resolução do conflito, não sendo possível a determinação de apenas um.

A categorização foi realizada a partir das respostas dos sujeitos, e da maneira como os mesmos resolveram e justificaram os conflitos propostos no questionário recebido, não sendo possível considerar o tom de voz e expressões faciais. Outros dados analisados foram os sentimentos que os participantes revelaram sentir diante das situações hipotéticas apresentadas. Foram propostas no questionário entregue aos participantes as seguintes perguntas: “Como você se sentiria? Escreva o que você faria nesta situação. Por quê?” Foi realizado um levantamento de todos os sentimentos descritos pelos sujeitos da pesquisa. Optou-por usar as seis categorias desenvolvidas nos estudos de Vicentin (2009) por dois motivos: pelo fato de se ter utilizado suas situações hipotéticas neste estudo e devido à similaridade dos sentimentos encontrados. Apenas foram retirados os sentimentos que não apareceram nesta pesquisa, substituindo a maneira como foram descritos, mudando assim, as palavras utilizadas pelos sujeitos. As categorias empregadas foram as seguintes: 92

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Tabela 2: Categorias Apontadas nas Respostas Categoria 1

Normal, nada, não ligaria, não guardo mágoas, não me sinto mal, sem entender, ignoraria, quieto (a situação não gera, segundo a afirmação do jovem, sentimento qualquer ou negativo e sim sentimentos positivos ou de indiferença).

Categoria 2

Mal, ruim, chateado, angustiado, triste, muito triste, não gostaria (a situação gera sentimentos negativos ou pouco definidos pelo participante da pesquisa).

Categoria 3:

Bravo, nervoso, revoltado, raiva, irritado, ofendido, furioso, não confiaria, (a situação gera sentimento negativo normalmente acompanhado de reação externa, mas que evidencia a não aceitação em relação à ação alheia).

Categoria 4

Humilhado, magoado, angustiado, excluído, péssimo, vontade, ameaçado, medo, maltratado, aborrecido, enganado, fraco (a situação gera sentimento negativo de inferioridade em relação à ação alheia).

Categoria 5

Envergonhado, culpado (decorre da aceitação do juízo alheio ou do autojuízo negativo).

Categoria 6:

Outros (não se pronunciam quanto aos sentimentos).

Para maior compreensão da relação categoria, conflito e respostas, no quadro três os dados são apresentados em quatro categorias, significantes no contexto da pesquisa. Tabela 3: Apresentação das Categorias dos Conflitos e Respostas Conflito

Respostas

Conflito 1: Você está jogando com seus amigos. Você tenta jogar o melhor possível, mas erra o tempo todo. Seus amigos começam a caçoar de você e xingam você de vários nomes. Como você se sentiria? Escreva o que você faria nesta situação. Por quê?

“Eu me arrependo, mas ele vai xingar de qualquer nome, ele xinga minha mãe e por isso, eu vou e bato nele.”

Conflito 2: Você está na fila da cantina. Vem um colega da sua idade e do seu tamanho, e empurra você para fora da fila. Como você se sentiria? Escreva o que faria nesta situação. Por quê?

Conflito 3 Você empresta seu livro preferido para um amigo. Uns dias mais tarde, ele devolve o livro, mas algumas páginas estão rasgadas, a capa suja e amassada. Como você se sentiria? Escreva o que faria nesta situação. Por quê?

“Se fizessem isso comigo iria para o fim da fila. Porque algumas vezes fico com medo.”

“Chateado com meu amigo, eu ia reclamar e pedir outro, porque quando uma pessoa te empresta alguma coisa você tem que cuidar superbem, pois não é seu.”

Categorias A resposta foi considerada agressiva, pois o participante utiliza a força física para resolver seu conflito. Pertencente à categoria 6, pois não fez referência aos sentimentos envolvidos.

A resposta foi considerada submissa, pois o participante nem tenta resolver o conflito gerado, ele anula seu direito e vontade deixando prevalecer a vontade do outro. O sentimento envolvido é o medo, pertencente à categoria 4. A situação gera sentimento negativo de inferiorização em relação à ação alheia. A resposta foi considerada assertiva, pois o participante valoriza o diálogo para resolver seu problema, considera e respeita as próprias vontades, ideias, sentimentos, direitos e deveres e as do outro também. Propõe alternativa para resolver o conflito. O sentimento envolvido é chateado, pertencente à categoria 2, sendo um sentimento negativo.

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Conflito 4: Você está tomando lanche na cantina. Um colega está comendo uns chocolates deliciosos. Você pede pra lhe dar um só, mas ele diz “Não”. Como você se sentiria? Escreva o que faria nesta situação. Por quê?

“Eu ficaria com vontade. Porque quando eu tivesse, seria gentil e daria para ele.”

A resposta foi considerada submissaassertiva, pois o participante no primeiro momento nem tenta resolver o conflito gerado, ele anula seu direito e vontade deixando prevalecer a vontade do outro, mas no segundo momento leva em consideração o sentimento negativo que teve e a vontade que sentiu, não desejando que o outro passasse pela mesma experiência ruim que passou, respeitando assim as próprias vontades, ideias, sentimentos, direitos e deveres e as do outro também. O sentimento envolvido é vontade, pertencente à categoria 4. A situação gera sentimento negativo de inferiorização em relação à ação alheia.

Para a categorização das respostas dos sujeitos, as pesquisadoras e mais dois juízes levantaram seus pontos de vista, discutindo a respeito, definindo qual estilo melhor condizia com a questão, a partir da conceituação dos estilos de resolução de conflito definidas por Deluty (1979 e 1981), usadas por Leme (2004a e 2006a) e por Vicentin (2009). Diante da análise inicial da comparação dos estilos de resolução e discussão, a partir da convergência das opiniões, transferia-se para outro conflito quando havia divergência nos pontos de vista, discutiam-se as impressões e hipóteses até chegar-se a um consenso. Após discussões, houve 100% de concordância sobre a categorização da amostra das respostas. A amostra contou com 27 participantes do sexo feminino (50%), dezessete com 11 anos, nove com 10 anos e uma com 12 anos e 27 participantes do sexo masculino (50%), dezoito com 11 anos, sete com 10 anos e dois não colocaram a idade. Optou-se em realizar o estudo com o mesmo número entre os gêneros. Tabela 4: Apresentação dos Resultados Apresentados pelos Sujeitos: Submisso

Agressivo

Assertivo

Submissoassertivo

Submissoagressivo

Assertivo-submisso

Menina

47,22%

22,22%

25,93%

Menino

40,74%

34,26%

23,15%

2,78%

0,93%

0,93%

0,0%

0,93%

0,0%

Observação: apenas 0,93% das meninas e 0,0% dos meninos não responderam, justificando dificuldades em conseguir preencher o questionário. A fim de facilitar a visualização dos dados coletados, as resoluções dos quatro conflitos hipotéticos foram colocadas em forma de gráficos, utilizando as porcentagens correspondentes de acordo com o número de respostas coletadas. 94

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O primeiro gráfico contém os dados referentes aos estilos de resolução de conflito utilizados pelas meninas e pelos meninos diante dos quatro conflitos propostos. Neste gráfico, foi utilizada a nomenclatura dos estilos agressivo, submisso, e assertivo. Quando a resposta continha mais de um estilo, abreviou-se para melhor visualização. As abreviações são as seguintes: Sub/Asser, para submisso–assertivo, Sub/Agre, para submisso–agressivo, Asser/Sub, para assertivo–submisso. O que define o estilo que vem primeiro na abreviação é a primeira resposta do sujeito seguida pelo segundo estilo, por isso existem duas respostas com os estilos assertivos e submissos, mudando a ordem. Na Asser/ Sub, a primeira resposta do indivíduo foi assertiva e na Sub/Asser a primeira resposta do sujeito foi submissa. 50% 40%

47,22% 40,74% 34,26%

30% 22,22%

25,93% 23,15%

20% 10% 0%

2,78% 0,00%

0,93% 0,93%

0,00% 0,93%

0,93%

0,00%

Agressivo

Assertivo

Submisso

Sub/Asser

Sub/Agre

Asser/Sub

Não Sabe

Meninas

22,22%

25,93%

47,22%

2,78%

0,93%

0,00%

0,93%

Meninos

34,26%

23,15%

40,74%

0,00%

0,93%

0,93%

0,00%

Gráfico 1: Dados referentes aos estilos de resolução de conflito utilizados pelas meninas e pelos meninos diante dos quatro conflitos propostos. A resolução dos quatro conflitos respondidos pelas meninas teve predominância do estilo submisso, seguido do assertivo, agressivo, submisso-assertivo, submisso-agressivo, do não sabe e ninguém respondeu de maneira assertivo-submisso. A resolução dos quatro conflitos respondidos pelos meninos teve predominância do estilo submisso, seguido do agressivo, assertivo, com igualdade do submisso-agressivo e assertivo-submisso e não obtiveram respostas os estilos submisso-assertivo, e não sabe. Ao analisarmos os resultados, percebemos diferenças em alguns aspectos e semelhanças em outros. As semelhanças encontradas são em relação aos números de respostas destinadas à maneira assertiva de resolução de conflito. Neste ponto não houve uma diferença considerável, um número muito próximo de meninas e meninos resolveram os conflitos de modo muito similar. As diferenças Revista Múltiplas Leituras, v. 4, 2, 2011, p. 1-2 ISSN 1982-8993

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encontradas foram em relação às resoluções de maneira submissa e de maneira agressiva. As meninas, quando encontram dificuldades em resolver um conflito, se inclinam para a omissão de seus sentimentos, ideias e vontades, deixando as dos outros prevalecerem, e os meninos, quando se sentem intimidados e com dificuldades em resolver um conflito, tendem a se impor por meio da agressão verbal ou física. Estes resultados nos mostram que quando ambos os gêneros estão confortáveis e não intimidados tendem a resolver os conflitos de maneiras muito parecidas, mas quando se sentem intimidados, ambos apresentam dificuldades em se expor, em buscar o diálogo para a resolução dos conflitos, tendendo assim cada um para uma forma diferente e particular de resolução. Percebemos também uma diferença em relação à temática dos conflitos, influenciando na resolução tanto das meninas como dos meninos, modificando assim a predominância das respostas. 70% 60%

62,96%

59,25%

50% 40% 30%

25,92%

20%

14,81%

10% 0%

25,92%

3,70%

3,70%

0,00%

3,70%

0,00%

0,00% 0,00%

0,00% 0,00%

Sub

Agr

Ass

Sub-ass

Sub-agr

Ass-sub

Não sabe

menina

62,96%

3,70%

25,92%

3,70%

3,70%

0,00%

0,00%

menino

59,25%

25,92%

14,81%

0,00%

0,00%

0,00%

0,00%

Gráfico 2: Conflito 1 A resolução do primeiro conflito respondido pelas meninas teve predominância do estilo submisso, seguido do assertivo com igualdade do agressivo, submisso-agressivo e submisso-agressivo, não tendo respostas assertivo-submisso e não sabe. A resolução do primeiro conflito respondido pelos meninos teve predominância do estilo submisso, seguido do agressivo, assertivo e não obtiveram respostas os estilos submisso-assertivo, submisso-agressivo, assertivo-submisso e não sabe. A resolução do segundo conflito respondido pelas meninas teve predominância com igualdade dos estilos submisso e assertivo, seguidos com igualdade pelo agressivo, submisso-assertivo e submisso-agressivo não obtendo resposta assertivo-submisso e não sabe.

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50% 40% 30%

33,33%

29,62%

33,33% 29,62%

33,33% 29,62%

20% 10% 0%

0,00% 0,00%

0,00%

3,70%

0,00%

3,70%

3,70% 0,00%

Sub

Agr

Ass

Sub-ass

Sub-agr

Ass-sub

Não sabe

menina

33,33%

29,62%

33,33%

0,00%

0,00%

0,00%

3,70%

menino

29,62%

33,33%

29,62%

0,00%

3,70%

3,70%

0,00%

Gráfico 3: Conflito 2 A resolução do segundo conflito respondido pelos meninos teve predominância do estilo agressivo, seguido com igualdade dos submisso e assertivo, seguidos com igualdade do submisso-agressivo e assertivo-submisso. Não obtiveram respostas os estilos submisso-assertivo e não sabe. 50%

44,44%

40%

37,03%

44,44% 37,03%

30% 20%

18,51% 18,51%

10% 0%

0,00% 0,00%

0,00% 0,00%

0,00% 0,00%

3,70% 0,00%

Sub

Agr

Ass

Sub-ass

Sub-agr

Ass-sub

Não sabe

Menina

18,51%

37,03%

44,44%

0,00%

0,00%

0,00%

3,70%

Menino

18,51%

44,44%

37,03%

0,00%

0,00%

0,00%

0,00%

Gráfico 4: Conflito 3 A resolução do terceiro conflito respondido pelas meninas teve predominância do estilo assertivo, seguido de agressivo, do submisso, do não sabe e não obteve respostas o submisso-assertivo, submisso-agressivo e assertivo-submisso. A resolução do terceiro conflito respondido pelos meninos teve predominância do estilo agressivo, seguido do assertivo, do submisso e não obteve respostas os submisso-assertivo, submisso-agressivo, assertivo-submisso e não sabe.

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80% 74,07% 70% 60%

55,55%

50% 40%

33,33%

30% 18,51%

20%

11,11%

10% 0%

7,40%

0,00%

0,00%

0,00% 0,00%

0,00% 0,00%

0,00% 0,00%

Sub

Agr

Ass

Sub-ass

Sub-agr

Ass-sub

Não sabe

Menina

74,07%

18,51%

0,00%

7,40%

0,00%

0,00%

0,00%

Menino

55,55%

33,33%

11,11%

0,00%

0,00%

0,00%

0,00%

Gráfico 5: Conflito 4 A resolução do quarto conflito respondido pelas meninas teve predominância do estilo submisso, seguido pelo agressivo, do submisso-assertivo e não obteve respostas o assertivo, submisso-agressivo, assertivo-submisso e não sabe. A resolução do quarto conflito respondido pelos meninos teve predominância do estilo submisso, seguido do agressivo, do assertivo e não obtiveram respostas os estilos submisso-assertivo, submisso-agressivo, assertivo-submisso e não sabe. Outro dado analisado foram os sentimentos que os sujeitos revelaram em suas respostas. Foi proposto no questionário diante das seguintes perguntas: “Como você se sentiria? Escreva o que faria nesta situação. Por quê?”. Fez-se o levantamento dos sentimentos descritos pelos participantes da pesquisa. Optou-se por utilizar as seis categorias desenvolvidas nos estudos de Vicentin (2009). Denominadas como: Categoria 1, Categoria 2, Categoria 3, Categoria 4, Categoria 5 e Categoria 6. Acima, na discussão estão descritos os sentimentos pertencentes a cada categoria. 50% 40% 32,41% 28,70%

30%

27,78% 28,70% 19,44%

20% 10% 0%

16,67% 10,19%

9,26% 8,33%

13,89%

0,93%

3,70%

Categoria 1

Categoria 2

Categoria 3

Categoria 4

Categoria 5

Categoria 6

Meninas

9,26%

32,41%

10,19%

19,44%

0,93%

27,78%

Meninos

8,33%

28,70%

16,67%

13,89%

3,70%

28,70%

Gráfico 6: Percentual entre meninas e meninos nas categorias 98

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Diante da resolução dos quatro conflitos respondidos pelas meninas, os sentimentos que mais apareceram foram os que fazem parte da categoria 2, seguidos pela categoria 6, categoria 4, categoria 3, categoria 1 e, por fim, os sentimentos que menos apareceram nas respostas das meninas foram os que fazem parte da categoria 5. Diante da resolução dos quatro conflitos respondidos pelos meninos, os sentimentos que mais apareceram foram os que fazem parte da categoria 2, seguidos pela categoria 6, categoria 4, categoria 3, categoria 1 e, por fim, os sentimentos que menos apareceram nas respostas dos meninos foram os que fazem parte da categoria 5. Pode-se observar que tanto as meninas quanto os meninos manifestaram seus sentimentos de maneira parecida. A sequência das categorias é a mesma, o que muda é a porcentagem apresentada em cada uma delas. Ao analisar esses dados, percebe-se que os resultados se assemelham bastante entre as meninas e os meninos. Os sentimentos que mais apareceram para ambos foram os da categoria 2, sentimentos negativos ou pouco definidos pelos participantes, as meninas tiveram 32,41% e os meninos 28,70%. Em seguida, novamente ambos concordaram, predominando a categoria 6, que é a que não pronunciaram quanto aos sentimentos, as meninas com 27,78% e os meninos com 28,70%. A maior diferença encontrada foi em relação às categorias 3 e 4. As meninas obtiveram um número maior de respostas em relação à categoria 4. A situação gera sentimento negativo de inferiorização em relação à ação alheia, 19,44% seguida da categoria 3, a situação que gera sentimentos negativos normalmente acompanhados de reação externa, mas que evidencia a não aceitação em relação à ação alheia, com 10,19%. Nestas duas categorias as respostas dos meninos se inverteram, eles obtiveram mais respostas em relação à categoria 3, com 16,67%, seguido da categoria 4, com 13,89%. Novamente em consenso ficaram com a categoria 1: a situação não gera, segundo a afirmação do jovem, sentimento qualquer ou negativo, e sim sentimentos positivos ou de indiferença, sendo meninas com 9,26% e os meninos com 8,33% ; e, por último, novamente se assemelharam com a categoria 5, decorrente da aceitação do juízo alheio ou do autojuízo negativo, as meninas com 0,93% das respostas e os meninos com 3,70% das respostas.

Considerações finais Com essa investigação, pudemos verificar a maneira que meninos e meninas, na puberdade, resolvem hipoteticamente conflitos interpessoais.

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Verificou-se que, de uma maneira geral, as meninas e os meninos utilizam maneiras semelhantes. Os resultados da pesquisa mostram que os gêneros obtiveram uma proximidade percentual quando utilizaram a maneira de resolução assertiva. Notou-se que quando os gêneros não conseguiam resolver seus conflitos utilizando o diálogo, levando em consideração seus sentimentos, vontades, ideias e as do outro, eles buscaram maneiras diferentes para resolver seus conflitos. As meninas, recorrendo às maneiras mais submissas, e os meninos, às maneiras mais agressivas. Diante desses dados, podemos refletir e considerar que tipo de ambiente essas crianças estão inseridas. Provavelmente, o baixo índice de assertividade entre esses alunos, de 10 a 11 anos, está relacionado ao pouco estímulo para a autonomia moral proporcionada nesse ambiente. Pesquisas mostram o quanto os ambientes autoritários e autocráticos comprometem o desenvolvimento moral dos alunos, levando-os a pensar e agir de maneira submissa, limitando o uso de estratégias assertivas. Em relação aos sentimentos, o que predominou para os meninos e meninas foi primeiramente a categoria 2. A situação gera sentimentos negativos ou pouco definidos pelos participantes da pesquisa, como “mau”, “não gostaria”, seguido da categoria 6. Os participantes não se pronunciaram quanto aos seus sentimentos. Esse dado aponta que as crianças tiveram sentimentos negativos, não identificando o que estavam sentindo, não conseguindo denominar seus sentimentos com clareza, levando à reflexão novamente ao ambiente em que estão inseridas. Como as crianças poderiam identificar com clareza e expor seus sentimentos se elas não estão acostumadas a realizar essas ações em seu cotidiano? Com isso, conclui-se que as diferenças apresentadas não são cognitivas ou biológicas, e sim sociais. As meninas tendem à submissão devido à criação ainda machista que recebem. É muito comum deparar com o pensamento que mulher tem que se comportar, e que falar alto, questionar, brigar, retrucar, não é algo feminino, não é o que a sociedade espera das mulheres. A tendência dos meninos à agressão reflete a mesma educação machista, na qual é transmitida a ideia de que meninos são fortes, sempre estão certos, que não podem chorar nem expor seus sentimentos. No entanto, essa mesma sociedade necessita de cidadãos, independente do gênero, plenamente capazes de superar desafios e transformar a realidade buscando maneiras para se conhecer melhor, compreender mais o outro, vivendo de forma respeitosa. Percebeu-se que a distância existente entre meninos e meninas nesta faixa etária é mais social do que cognitiva, as crianças interagem entre si, em momentos que ambas estão dispostos e, em outros momentos, prevalece o interesse 100 Revista Múltiplas Leituras, v. 4, 2, 2011, p. 1-2 ISSN 1982-8993

pessoal diante das atividades que mais desejam realizar. Isto é, as crianças possuem desejos, habilidade, gostos, atitudes e preferências individuais muito diferentes, por isso buscam a proximidade com pessoas que possam realizar suas atividades prediletas de maneira agradável e prazerosa, pois socialmente seus papéis são bastante distintos, mas cognitivamente essas diferenças não existem. Muitos estudos mostram que quando a pessoa se conhece, consegue identificar os próprios sentimentos, ela consegue se colocar no lugar do outro e identificar o que ele está sentindo em determinada situação, a resolução de conflito se torna mais respeitosa, se direcionando a um estilo assertivo de resolução (SASTRE; MORENO, 2002; TOGNETTA, 2006). Concluiu-se que quando as crianças não aprendem maneiras assertivas de resolver seus conflitos interpessoais, elas os resolvem da maneira que aprenderam, ou seja, de uma forma submissa ou agressiva, se anulam ou impõem sua força, pois este é o repertório que elas possuem. Desta maneira, pensa-se ser fundamental que as crianças tenham um espaço na escola para aprender, refletir, expor seus sentimentos, e trabalhar com as resoluções de conflitos. Pode-se entender melhor o pensamento e a maneira de se colocar das crianças, nesta faixa etária, que fazem parte dessa sociedade, e conseguiu-se um maior entendimento e possível contribuição para o desenvolvimento das mesmas. Defende-se a ideia e a necessidade de que os profissionais de educação precisam realizar um trabalho direcionado à resolução de conflitos para que os alunos tenham repertório suficiente para resolverem seus conflitos interpessoais de maneira assertiva. O cotidiano escolar é um ambiente que forma cidadãos, ele é privilegiado para a construção e transformação da sociedade em que se encontra.

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