Respeitável público! O projeto de Musicalização Infantil da UFBA tem a honra de apresentar: “O Circo” de Alda Oliveira

September 8, 2017 | Autor: Luan Sodré | Categoria: Musicalização Infantil
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Respeitável público! O projeto de Musicalização Infantil da UFBA tem a honra de apresentar: “O Circo” de Alda Oliveira Angelita Maria Vander Broock UFBA [email protected] Roseane Ramos Mota UFBA [email protected] Luan Sodré de Souza UFBA [email protected]

Resumo: Este relato de experiência é resultado do trabalho realizado no projeto de Musicalização Infantil da UFBA no segundo semestre de 2008, ao utilizarmos a obra o Circo, de Alda Oliveira, como fio condutor e tema para o semestre e que resultou num espetáculo de música, dança e artes circenses no Circo Picolino de Salvador, numa parceria com os alunos desta escola. Sendo assim, o objetivo deste artigo foi descrever e relatar passo a passo este processo. Palavras chave: UFBA; Musicalização Infantil; Circo.

Musicalização Infantil O Curso de Musicalização Infantil da UFBA é um projeto de extensão universitária que atende aproximadamente 130 crianças da comunidade soteropolitana de 0 a 6 anos de idade distribuídas em 13 turmas. Este curso iniciou-se em setembro de 2006, para crianças com idades entre 0 e 4 anos e surgiu para ampliar o quadro de cursos de extensão da Instituição, onde as crianças podiam iniciar sua educação musical apenas aos 5 anos de idade (BROOCK, 2007). Desde 2008 o projeto passou a contemplar crianças de 0 a 6 anos, num trabalho conectado entre professores e estagiários. Há muito que ser dito sobre este curso, mas neste artigo vamos nos limitar a falar sobre uma experiência impar que tivemos no segundo semestre de 2008 ao utilizarmos a Obra “O Circo” da compositora Profa Dra. Alda Oliveira como fio condutor e tema para o semestre. Nesta ocasião contávamos com uma equipe de quatro professores e dois colaboradores.

Sobre a obra

1127 De acordo com Oliveira (carta escrita pela compositora em maio de 20091), a série de canções “O Circo” foi composta numa época em que ela trabalhava na escola de Dança da UFBA na década de 1970. Alda era pianista do Grupo de Dança Contemporânea e fazia trabalhos de Educação Artística com colegas das áreas de dança, teatro e artes visuais com crianças em idade escolar do Ensino Fundamental na Escola de Dança e que era coordenado pela Professora Dulce Aquino, atual diretora desta escola. Este trabalho foi apresentado no pátio da Escola de Teatro da UFBA, com direito a figurinos e maquiagem para as crianças e contando com a participação de vários professores de dança e músicos, sendo que Alda estava ao piano e a música foi tocada ao vivo. “Embora o trabalho fosse direcionado para o desenvolvimento artístico global e para expressão corporal, a música composta especialmente para o trabalho serviu de base para toda a produção” (relato de Alda Oliveira). Alda mostrou-se muito feliz quando pedimos algumas de suas composições para trabalharmos com as crianças da musicalização, “pois além de não estarem publicadas ou editadas, estas canções estavam desprezadas no fundo da gaveta” (relato de Alda Oliveira).

Processo de trabalho 1. Vivência musical com Alda Oliveira. Antes do início das aulas com as crianças, os professores tiveram a chance de realizar uma vivência musical com Alda, que consistiu na aprendizagem das músicas. Neste encontro, além de nos familiarizarmos com as canções, pudemos refletir sobre o mundo circense encontrado na obra e conhecer um pouco sobre a história das músicas. Este encontro foi fundamental e serviu de alicerce para a construção do trabalho desenvolvido com as crianças e pais da Musicalização.

2. Vivência corporal com Alba Ribeiro Este encontro também aconteceu antes do início das aulas com as crianças, e o principal objetivo foi que os professores pudessem ter consciência do uso do corpo nas aulas e de como explorar certos movimentos com as crianças, fazendo-nos entender a importância da expressão corporal para o desenvolvimento musical do indivíduo. 1

 Esta carta será usada como referência em todo o texto e será identificada como “Relato de Alda Oliveira”. 

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3. Reflexão sobre as músicas – o que trabalhar em sala de aula? Fizemos algumas reuniões e analisamos toda a obra, observando os conceitos musicais presentes em cada música, bem como cada tema abordado e buscamos músicas de outros autores que fossem relacionadas ao assunto e que pudessem trabalhar os conceitos musicais encontrados. Desta forma, pudemos estruturar as aulas baseadas nestes conceitos e repertório. De acordo com o relato de Alda Oliveira: “Quanto à aprendizagem das crianças e professores, o projeto teve sucesso muito grande, pois as crianças cantaram, se expressaram corporalmente, conheceram elementos relacionados ao circo e às canções, aprenderam a fazer crescendo, diminuindo, acelerando, ritardando, a ir subindo os sons e descendo, tanto em graus conjuntos quanto em glissandos.” Tendo em vista que esta avaliação de Alda foi feita a partir da apresentação, podemos notar que o trabalho realizado em sala de aula teve reflexo direto no resultado final. Vale considerar que todos os professores do projeto estavam conectados e que as discussões sobre as aulas resultaram na harmonia entre todas as turmas, logicamente respeitando suas particularidades e considerando a flexibilidade pedagógica sugerida para o professor e a sua capacidade para desenvolver habilidades de adaptação e liderança em qualquer grupo, conforme sugere a Abordagem PONTES proposta por Oliveira (2006).

4. Parceria com o Circo Picolino Para aproximar nossos alunos ao mundo circense, estabelecemos uma parceria com a Escola de Circo Picolino. Esta parceria consistiu na oportunidade de nossos alunos assistirem uma aula de Circo do Grupo Mirim, na participação deste grupo na nossa apresentação e na oportunidade de realizarmos um ensaio geral na semana anterior à apresentação. O objetivo da aula de circo aberta aos nossos alunos foi integrá-los com os alunos do circo, uma vez que os dois grupos estariam juntos na apresentação. Neste encontro, nossos alunos puderam ver as outras crianças num dia normal de aula, sendo que estas exploravam as técnicas do circo como malabarismo, trapezismo, tecido, arame, monociclo, contorcionismo, etc. Ao final deste encontro, nossos alunos ensinaram aos alunos do circo a música Refrão da obra, onde todos puderam cantar juntos numa integração através da música.

5. Outras manifestações circenses que aconteciam na cidade

1129 Este tema do circo foi muito sugestivo e resultou numa participação ativa dos pais, que estavam sempre atentos ao que acontecia na cidade e que fosse relacionado ao assunto. Um dos eventos foi a temporada do Circo Estoril em Salvador. Combinamos de ir todos juntos ao circo e presenciar os vários elementos que estavam sendo trabalhados em sala. Sendo assim, esta experiência teve ligação direta às aulas posteriores à visita, uma vez que podíamos aproveitar as reflexões e lembranças dos alunos e relacioná-las aos objetivos das aulas. Neste caso, pôde-se considerar algumas características da Abordagem PONTES, que segundo Oliveira (2007) pode estimular, guiar e estruturar as ações dos professores de música de forma criativa, considerando os diferentes aspectos que acompanham o processo de ensino e aprendizagem, principalmente as vivências culturais, as características pessoais dos alunos, a essência do contexto sociocultural e as experiências prévias dos alunos.

6. Gravação do CD Para dar continuidade ao projeto, sentimos a necessidade de gravar as músicas, para que pudéssemos utilizar em sala de aula e para que os pais pudessem ouvir e cantar com seus filhos no ambiente familiar. Este foi um momento muito importante para os professores, pois tivemos a oportunidade de trabalhar diretamente com duas pessoas extremamente experientes: Alda Oliveira e Jamary Oliveira, que fez todos os arranjos de forma belíssima, baseando-se nos acompanhamentos feitos por Alda. De acordo com Alda “Jamary fez um excelente trabalho e conseguiu espelhar as minhas expectativas para cada canção nos arranjos finalizados ao computador. Fizemos as gravações com Angelita e um grupo de professores (Roseane Ramos e Anderson Brasil), e finalmente foi impresso o cd, no estúdio de Jamary. Tudo feito com carinho, dedicação e nenhum custo: “home made”! Para ajudar o programa de Musicalização, permitimos que fossem vendidos os CDs aos pais por um preço módico, a fim de pagar o custo da apresentação no Circo Picolino.”

7. Criação e aprendizagem das coreografias - Ensaios Todas as músicas foram coreografadas, sendo a maioria por Alba Ribeiro e uma por uma mãe do projeto (Polyana). Segundo Alba, sua maior inspiração para a criação das coreografias foram as crianças e a música e, de acordo com um email escrito por ela em maio de 2009, a experiência foi “Fantástica. Explorar um movimento e com ele ver a reação dos bebês e ver outra movimentação nascer, se desenvolver, se completar através do primeiro movimento é muito legal. Fazer com que os acompanhantes percebessem que podiam realizar

1130 a façanha de dançar carregando os bebês, soltar, arrodear à tempo de pegá-los de volta, cair e levantar, rolar, tudo à tempo da letra e melodia da música foi um grande desafio.”. Embora Alba já tivesse uma idéia de como seria a coreografia, ela foi criando e se adaptando de acordo com as respostas de cada grupo, considerando suas respostas e limitações. Sendo assim, Alba compareceu em muitos ensaios, onde ela pôde criar e ensinar às crianças, aos pais e aos professores as coreografias. Outros ensaios aconteceram somente com a presença dos professores, que precisaram vencer o desafio de explorar o corpo e memorizar a seqüência de movimentos proposta por Alba.

Apresentação - Produção A apresentação foi realizada no dia 09 de novembro de 2008 no Circo Picolino e contou com um público de aproximadamente 600 pessoas. Para a realização deste evento, precisamos organizar diversos detalhes: - para pagar o aluguel do circo, cobramos uma taxa simbólica de cada criança. Para outros gastos de produção contamos com a ajuda da Escola de Música da UFBA; - a entrada para a apresentação não foi cobrada, sendo que os ingressos foram um livro ou um brinquedo, posteriormente doados ao circo, uma vez que eles possuem projetos sociais que colaboram com a formação e alfabetização de crianças; - a divulgação foi realizada através de cartaz e e-mails. Vale ressaltar que o cartaz foi produzido por uma das mães do projeto (Dani Antoniazzi), que recolheu desenhos dos nossos alunos e fez uma montagem muito interessante; - os figurinos e maquiagem foram de responsabilidade dos pais, no entanto, Fátima Suarez (que também era mãe do projeto), nos emprestou diversas roupas, que foram utilizadas por alguns alunos e pelos professores; - as músicas foram cantadas ao vivo, utilizando como base os arranjos gravados no CD. Convidamos três cantores para nos dar suporte; - os alunos do grupo mirim do Circo Picolino participaram de toda a apresentação, demonstrando seus números a cada Refrão e demonstrando suas habilidades em determinadas músicas, como a do Trapezista e Equilibrista, por exemplo. A apresentação contou com a participação e envolvimento de várias pessoas: Professores do projeto Angelita Broock, Michele Costa, Roseane Ramos e Anderson Brasil – Marcus Rocha e Luan Sodré (colaboradores); Participação especial dos cantores Amélia Dias, Letícia Bartholo e João Maurício Ramos; das atrizes Alice Cunha e Fernanda Veloso e dos

1131 artistas de circo Binho e alunos do grupo mirim da Escola de Circo Picolino. Além da Participação de Alda Oliveira, Jamary Oliveira e Alba Ribeiro.

Comentários sobre o trabalho realizado Num domingo ensolarado e tendo a praia como paisagem, o resultado final e o envolvimento de todos os participantes foram surpreendentes e renderam muitos elogios e alegrias. “Os professores todos enfeitados e fantasiados se misturavam aos alunos, aos circenses, fazendo a alegria reinar. O som funcionou bem, deixando todos à vontade, sem necessidade de ter inibições ou esquecimentos. Os músicos convidados deram um ar de música ao vivo e contribuíram para tornar a apresentação mais brilhante e real” (relato de Alda Oliveira). Muitos relatos foram enviados por e-mail e pudemos perceber uma satisfação muito grande dos pais. Entretanto, notou-se que alguns detalhes poderiam ter sido mais bem explorados, como uma melhor direção de cena, ou mais tempo para ensaio, por exemplo. Porém, visto que o objetivo era didático, pode-se dizer que seu resultado foi satisfatório. Em sua avaliação, Alda diz que “No geral, valeu a pena o esforço da realização do circo. Houve uma emoção e reações de afeto e alegria. Os bebês, levantados pelos pais, ‘voando’ no céu, as bailarinas dançando com as mães, o mágico, os trapezistas, o Pepe, os bonecos sabidos, todos levaram a magia do circo para a nossa imaginação de eternas crianças.”

Considerações finais Trabalhar com este tema foi realmente algo muito estimulante. Esta obra de Alda é realmente fantástica e não subestima a capacidade de ninguém. Esperamos que este relato de experiência possa servir de estímulo para que outros educadores musicais possam trabalhar com um tema tão rico e mágico que é o Circo, criando assim mais uma possibilidade de repertório. Esta obra pode ser trabalhada em qualquer nível de educação e se adequar aos mais diversos grupos e situações de ensino.

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Referências BROOCK, Angelita M. V. A influência da música no comportamento de crianças participantes do projeto de musicalização para bebês na UFBA. Anais do 3º Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais. Salvador, 2007. Pp. 651-657. OLIVEIRA, Alda; BROOCK, Angelita; CANDUSSO, Flávia; et al. Construindo PONTES significativas no ensino de música. Ictus – Periódico do Programa de Pós Graduação em Música da UFBA, Vol. 8 nº 2, dezembro de 2007. OLIVEIRA, Alda. Educação musical e diversidade: pontes de articulação. Revista da ABEM, n. 14. Porto Alegre, 2006. Pp. 25-34;

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