RESPONSABILIDADE SOCIAL E AÇÃO SOCIAL DAS EMPRESAS: UM ESTUDO SOBRE PRÁTICAS BRASILEIRAS JOANA AFONSO SIQUEIRA (ENCE)
[email protected] RITA DE CASSIA MONTEIRO AFONSO (UFRJ)
[email protected] MAURÍCIO CESAR DELAMARO (FEG/UNESP)
[email protected] ARMINDA EUGENIA MARQUES CAMPOS (UNESP)
[email protected] ROBERTO DOS SANTOS BARTHOLO JR (UFRJ)
[email protected]
Resumo:
A ATUAÇÃO DAS EMPRESAS RESPONSÁVEIS É VISTA, COM FREQUÊNCIA, APENAS COMO INVESTIMENTOS DE RECURSOS, PRINCIPALMENTE FINANCEIROS, EM PROJETOS SOCIOAMBIENTAIS. ALGUNS ESTUDOS MOSTRAM QUE, APESAR DA CONSTANTE ADESÃO AO MOVIMENTO, POUCAS FORAM, DE FATO, AS MUDANÇAS NA GESTÃO EMPRESARIAL. ESTE ARTIGO UTILIZA-SE DE ELEMENTOS DA ESTATÍSTICA NÃO-PARAMÉTRICA PARA BUSCAR TENDÊNCIAS INDICADAS POR DADOS REUNIDOS PELA PESQUISA AÇÃO SOCIAL DAS EMPRESAS (2002, 2006), REALIZADA PELO INSTITUTO DE ANÁLISES SOCIAIS E ECONÔMICAS APLICADAS (IPEA). O OBJETIVO DO ESTUDO FOI COLABORAR PARA A COMPREENSÃO SOBRE AS AÇÕES VOLUNTÁRIAS EMPRESARIAIS PELO BEM COMUM E CONHECER AS PRÁTICAS EMPRESARIAIS NESSA ÁREA PARA DESCOBRIR PADRÕES QUE POSSAM EMBASAR PROPOSTAS PARA ESTIMULAR A TRANSPOSIÇÃO DO DISCURSO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL PARA A PRÁTICA. OS RESULTADOS DESTE ESTUDO INDICAM ALGUMAS TENDÊNCIAS ENTRE AS EMPRESAS BRASILEIRAS, NO QUE DIZ RESPEITO A AÇÃO SOCIAL: UM MAIOR PERCENTUAL DE EMPRESAS ATUANTES ENTRE AQUELAS COM MAIS FUNCIONÁRIOS E ENTRE AS EMPRESAS DA REGIÃO SUL. OS RESULTADOS SUGEREM AINDA QUE ESTUDOS DO MESMO GÊNERO, COM MAIOR APROFUNDAMENTO, PODEM TRAÇAR UM QUADRO DETALHADO QUE INDIQUE COM MAIOR REFINAMENTO A DISTÂNCIA ENTRE IDEIAS PRECONIZADOS E A PRÁTICA DAS EMPRESAS E EMBASAR PROPOSTAS PARA REDUZIR ESSA DISTÂNCIA.
XVIII SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
Gestão de projetos e Engenharia de produção
Bauru, SP, Brasil, 08 a 10 de novembro de 2010
Palavras-chaves: RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL; AÇÃO SOCIAL DAS EMPRESAS; GESTÃO RESPONSÁVEL; ESTATÍSTICA NÃO PARAMÉTRICA.
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CORPORATE SOCIAL RESPONSIBILITY AND SOCIAL ACTION: A STUDY ABOUT BRAZILIAN COMPANIES´PRACTICES Abstract: THE PERFORMANCE OF THE RESPONSIBLE COMPANIES IS OFTEN CONSIDERED ONLY AS INVESTMENT OF RESOURCES, PRIMARILY FINANCIAL, IN SOCIAL AND ENVIRONMENTAL PROJECTS. SOME STUDIES SHOW THAT DESPITE THE CONSTANT ADHERENCE TO THAT MOVEMENT, FEW COMPANIIES HAVE IMPLEMENTED REAL CHANGES IN BUSINESS MANAGEMENT. THIS ARTICLE USES NON-PARAMETRIC STATISTICS TO SEARCH FOR TRENDS INDICATED BY DATA GATHERED BY THE SURVEY ABOUT CORPORATE SOCIAL ACTION (2002, 2006) UNDERTAKEN BRAZILIAN INSTITUTE FOR SOCIAL AND APPLIED ECONOMICS (IPEA). THE STUDY´S OBJECTIVE WAS TO CONTRIBUTE TO UNDERSTAND CORPORATE VOLUNTARY ACTIONS FOR THE COMMON GOOD. KNOWLEDGE ABOUT COMPANIES’ PRACTICES IN THIS AREA MAY LEAD TO DISCOVER PATTERNS THAT MAY SERVE AS BASIS FOR PROPOSALS TO STIMULATE THE TRANSPOSITION OF DISCOURSE ABOUT SOCIAL RESPONSIBILITY INTO PRACTICE. THE RESULTS INDICATE SOME TRENDS AMONG BRAZILIAN COMPANIES, WITH REGARD TO SOCIAL ACTION: THE GROUP OF LARGER COMPANIES HAS A WIDER PERCENTAGE OF SOCIAL ACTION DEVELOPERS; SOUTHERN REGION HAS A LARGER PROPORTION OF ACTIVE COMPANIES. RESULTS ALSO SUGGEST THAT SIMILAR STUDIES, WITH GREATER DEPTH, CAN DRAW A DETAILED PICTURE THAT MAY SHOW WITH GREATER REFINEMENT THE DISTANCE BETWEEN IDEAS AND PRACTICE AND SERVE AS BASIS FOR PROPOSALS TO REDUCE THAT DISTANCE. Keyword: CORPORATE SOCIAL RESPONSIBILITY; CORPORATE SOCIAL ACTION; RESPONSIBLE MANAGEMENT; NON-PARAMETRIC STATISTICS
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1. Introdução Artigos recentes apresentados em encontros na área da engenharia de produção apontam que a responsabilidade social empresarial - RSE - pode ser administrada numa perspectiva meramente adaptativa (AFONSO, CAMPOS e BARTHOLO, 2009; CONCEIÇÃO, 2009; DIAS et al., 2009; JESUS, 2009; VELLANI e ALBUQUERQUE, 2009; SIQUEIRA, 2009), contrariando o essencial do que tenta promover. Os resultados destes estudos são convergentes com os realizados por importantes instituições na mobilização e criação de ferramentas para RSE no cenário nacional: o Instituto Ethos de Responsabilidade Social e Empresas (2007a) e o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (2008). Segundo o vice-presidente executivo do Instituto Ethos, Paulo Itacarambi, em paralelo à popularização da temática da responsabilidade social e à incorporação de seu discurso ao senso comum, as ações para mudanças reais mostravam-se ainda tímidas: “... houve muitos avanços no movimento e contribuímos para isso, mas poucas mudanças de fato foram feitas e cada vez mais fica evidente a urgência em fazê-las. Já não basta trabalhar no plano da mudança da gestão das empresas. É indispensável que elas mudem suas práticas e incorporem novos conceitos (...) a gente avançou bastante, mas mudou muito pouco. Diante do que ainda é necessário fazer, as mudanças foram muito pequenas, seja na empresa, seja na sociedade. Temos de mudar mais rapidamente, precisamos adotar estratégias mais eficientes para promover essa mudança” (MARCONDEZ, 2009).
Para o próprio Instituto Ethos, a responsabilidade social está definida como a integração de um conjunto de interesses que unem empresas e seus diversos stakeholders, conquistada pela relação entre estes atores e pela incorporação destas considerações na gestão empresarial por meio de sua governança corporativa (ETHOS, 2007b). Para a norma internacional de responsabilidade social, recém aprovada, a responsabilidade social se caracteriza pelo desejo da organização de incorporar considerações socioambientais em seus processos decisórios e se responsabilizar pelos impactos de suas decisões e atividades na sociedade e no meio ambiente (ISO 26000, 2010:20). Em ambas as definições e a complexidade dos diversos interesses e expectativas serão avaliadas pela transparência dos resultados em três dimensões de atuação: a econômica, a ambiental e a social, que juntas representam a sustentabilidade empresarial ou o tripple bottom line (ELKINGTON, 2001). Entretanto, as práticas de responsabilidade social têm ganhado visibilidade especialmente por meio das ações sociais das empresas, muito mais do que por mudanças estruturais nas formas de gestão ou de produção. A maior parte dessas ações sociais corresponde a projetos que as empresas mantêm, apóiam ou em que investem. Ou seja, traduzem-se em aporte de recursos – principalmente financeiros – em projetos sociais e ambientais por parte das empresas, algumas de uma forma mais estruturada e transparente do que outras. Essa correspondência pode comprometer em certo grau a premissa de não privilegiar grupos específicos nas relações com stakeholders (BORGER, 2001; FISCHER, 2002). O cenário aponta para a necessidade de mudanças ou para uma mudança de etapa: da sensibilização para a ação. Neste âmbito, entender a natureza das ações sociais empresariais pode indicar inúmeras questões relevantes que sirvam de base para orientar as mudanças sugeridas pelos estudos como necessárias.
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Assim, a principal motivação deste artigo é analisar, por meio de elementos estatísticos não paramétricos, dados apresentados por duas edições da pesquisa Ação Social das Empresas (2002 e 2006), realizadas pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), e contribuir para o entendimento de aspectos relevantes que possam ajudar a orientar propostas de mudanças na atitude empresarial. 2. Pesquisa Ação Social das Empresas – a base de dados utilizada O conceito utilizado pelo IPEA (2002 e 2006) para “ação social” compreende, deliberadamente, uma definição ampla, na qual são consideradas as ações realizadas pelas empresas para atender comunidades em áreas como assistência social, alimentação, saúde, educação e desenvolvimento comunitário, variando desde pequenas doações eventuais a instituições ou pessoas até projetos estruturados. Em sua definição, são excluídos do conceito as ações obrigatórias de cunho legal, o cumprimento de normas ambientais e as contribuições compulsórias para SEBRAE, SESI, SESC, SENAI, SENAC e SENAR. As duas edições da pesquisa Ação Social das Empresas (IPEA, 2002 e 2006) têm um caráter pioneiro, pois cobriram o universo de empresas privadas no país - com um ou mais funcionários -, possibilitando comparações e generalizações ainda não conhecidas em estudos sobre o assunto. Segundo o IPEA (2002), a pesquisa “inaugurou uma nova frente sobre a investigação do envolvimento das empresas no campo social com o objetivo de identificar o papel que o setor privado lucrativo pode assumir na implementação das políticas sociais, ou seja, até que ponto as empresas podem partilhar com o Estado o atendimento dos direitos sociais básicos dos cidadãos”. A primeira edição (2002) apresenta os resultados nacionais sobre as ações sociais de caráter privado (referente aos anos fiscais de 1998 – região sudeste; 1999 regiões nordeste e sul e 2000, região norte) e é a primeira pesquisa a mapear a ação social das empresas de todos os portes e setores no Brasil. A segunda edição (2006), atualiza e aprofunda o conhecimento dos investimentos ou doações (referente aos anos fiscais de 2003 para as regiões sudeste e nordeste e 2004 para as regiões sul, centro-oeste e norte), direcionados às áreas de saúde, educação, alimentação, meio-ambiente, capacitação e desenvolvimento comunitário, ajudando a entender o que as empresas realizam na área social, entre benefícios concedidos aos funcionários e familiares e também à sociedade de maneira geral. 3. Apresentação do estudo 3.1 - Tendência de crescimento Nosso primeiro objetivo é verificar se há ou não tendência de crescimento no montante investido ao longo dos anos. Isso foi feito com base na Tabela 1, através do uso do Teste de Wilcoxon (CONOVER, 1999: 352), com as hipóteses H0: E(Yi) ≥ E(Xi) versus H1: E(Yi) < E(Xi), onde E(Xi) representa a média do montante investido em 2000 e E(Yi), o montante investido em 2004. Tabela 1 - Gasto social em ações para a comunidade Montante Investido Montante / PIB Região 2000 2004 2000 2004 Sudeste
5,7 bilhões
3,3 bilhões
0,66
0,34
Nordeste
406,6 milhões 537 milhões
0,2
0,22
Sul
500 milhões
562,7 milhões
0,19
0,19
Centro-Oeste
184 milhões
240,8 milhões
0,16
0,18
Norte
75 milhões
93,8 milhões
0,1
0,11
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Brasil
6,9 bilhões
4,7 bilhões
0,43
0,27
Fonte: IPEA, 2006
Com 95% de confiança a hipótese nula é aceita. Assim, há evidências de crescimento do montante investido em ação social no Brasil do ano de 2000 para o ano de 2004. 3.2 - Relação número de funcionários e empresas investidoras em ação social A partir dos dados da Tabela 2 testamos, através do Qui-Quadrado de homogeneidade (CONOVER, 1999: 199), a diferença de probabilidade entre as subpopulações de uma mesma coluna. Isso quer dizer que avaliamos se a variável “número de empregados” influencia na atividade social da empresa ou se a probabilidade de encontrar cada situação quanto à ação social (não realizou, realizou exclusivamente para empregados etc.) é a mesma, independente do número de funcionários. Tabela 2 - Número de empresas privadas segundo atividade social realizada em 2003/2004, por número de empregados Atividade Social Número de empregados Não realizou De 1 a 10
Realizou exclusivamente para empregados
Realizou para Realizou empregados e exclusivamente para comunidade a comunidade
Total
103.196
132.925
292.270
113.873
642.264
De 11 a 100
18.363
33.786
181.466
24.166
257.781
De 101 a 500
1.523
4.863
41.749
1.586
49.721
263
479
15.857
1.704
18.303
20.544
29.248
62.036
18.351
130.179
Mais de 500 Não sabe / Não respondeu Fonte: IPEA, 2006
Assim, temos as hipóteses H0: p1j=p2j=p3j=p4j para todo j=1,2,3,4 versus H1: pij ≠ pkj para qualquer j=1,2,3 e 4 e quaisquer i,k=1,2,3 e 4. Fizemos, paralelamente, o teste QuiQuadrado de independência (CONOVER, 1999: 205), responsável por verificar se o evento “determinada empresa tem x empregados” é independente do evento “mesma empresa realiza atividade social y”. Utilizamos as seguintes hipóteses: H0:P(linha i, coluna j)=P(linha i)xP(coluna j), para todo i=1,2,3,4 e todo j=1,2,3,4, versus H1:P(linha i, coluna j) ≠ P(linha i)xP(coluna j,) para algum i=1,2,3,4 ou algum j=1,2,3,4. A realização dos testes conduz a duas conclusões, de certa maneira complementares: em primeiro lugar, concluímos que a probabilidade de uma empresa realizar determinada atividade social (ou não realizar nenhuma) varia de acordo com o número de empregados da mesma e, como segunda conclusão, temos que a empresa fazer ou não ações sociais depende da quantidade de pessoal ocupado. Outra verificação interessante compreende o nível de relação – positiva ou negativa – existente entre o número de funcionários e a realização de ação social. Isto é, para diferentes faixas quanto a número de empregados, a quantidade de empresas que realiza alguma atividade social é maior ou menor. A mesma verificação é feita para o número relativo das que não realizam nenhum tipo de atividade social. A Figura 1 nos traz o percentual de empresas atuantes para cada faixa, quanto a pessoal ocupado. Vemos que, embora as empresas menores sejam maioria, em termos relativos são as que menos realizam atividades sociais e as realizam de forma mais restrita, voltadas apenas para comunidade ou para empregados. O contrário também ocorre: quanto maior o número de funcionários menor a porcentagem das empresas que não atuam.
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86,6%
84,0% 70,4%
45,5%
20,7% 16,1%
17,7% 13,1% 7,1%
De 1 a 10
9,8%
9,4%
3,2%
3,1%
De 11 a 100
9,3% 1,4%
De 101 a 500
2,6%
Mais de 500
Não Realizou
Realizou Exclusivamente para Empregados
Realizou para Empregados e Comunidade
Realizou Exclusivamente para a Comunidade
Figura 1 - Percentual de empresas conforme atuação e por intervalo de pessoal ocupado. Fonte: autores, com base em IPEA (2006).
Ao analisar dados referentes apenas a atuação ou não, sem considerar a quem a ação é voltada (comunidade, empregados ou ambos), o resultado se mantém como pode ser visto na Figura 2. 98,56%
96,94%
92,88% 83,93%
16,07% 7,12% De 1 a 10
3,06%
De 11 a 100 Não realizou
De 101 a 500
1,44% Mais de 500
Realizou
Figura 2 - Percentual de empresas atuantes por intervalo quanto a pessoal ocupado. Fonte: autores, com base em IPEA(2006).
Para confirmar a relação positiva entre o número de empregados que a empresa ocupa e a realização de atividade social, realizamos o Teste de Kendall para cauda superior (CONOVER, 1999: 319). Como as hipóteses: H0: X e Y são independentes vs. H1: os pares de observação tendem a ser concordantes. Para verificar a relação existente entre as variáveis 7
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“número de empregados” e “número de empresas” que não atuam socialmente foi realizado o Teste de Kendall para cauda inferior (CONOVER, 1999: 319), visto que a hipótese alternativa é de correlação negativa, como segue: H0: X e Y são independentes vs. H1. Os pares de observação tendem a ser discordantes. Em ambos os testes, para α igual a 5% foi rejeitada H0 de independência. Logo, com confiança de 95% (1- α), temos que, quanto maior, em relação ao número de funcionários for a empresa, maior a tendência a participar de ações de cunho social. E o contrário também é verdadeiro. Quanto maior a quantidade de pessoal empregado, menos empresas deixam de atuar. Esse é um resultado previamente esperado, visto que empresas com maior pessoal tendem a ter mais recursos disponíveis para doações e investimentos sociais. 3.3 - Relação setor de atividade econômica e empresas investidoras em ação social Para traçar um “perfil” dos investimentos sociais privados no Brasil, avaliamos se as atividades sociais variam de acordo com o setor da economia, partindo dos dados da Tabela 3 e resultando nos gráficos das Figuras 3 e 4. Tabela 3 - Número de empresas privadas segundo atividade social realizada em 2003/2004, por setor de atividade econômica Atividade Social Realizou exclusivamente para empregados
Setor de atividade econômica Não realizou
Agricultura, sivicultura e pesca
Realizou para empregados e comunidade
Realizou exclusivamente para a comunidade
Total
437
993
5.036
591
7.057
14.703
31.601
85.423
24.710
156.437
6.110
13.498
10.235
2.256
32.099
Comércio
74.209
69.861
236.193
83.883
464.146
Serviços
31.296
28.546
127.331
24.041
211.214
Indústria Construção civíl
Fonte: IPEA, 2006 71,4% 60,3% 54,6% 50,9% 42,1% 31,9% 20,2% 15,8%
14,1% 6,2%
8,4%
Agricultura, Sivicultura e Pesca
19,0%
9,4%
Indústria
16,0% 15,1%
18,1% 14,8% 13,5%
11,4%
7,0%
Construção Civíl
Comércio
Serviços
Não Realizou
Realizou Exclusivamente para Empregados
Realizou para Empregados e Comunidade
Realizou Exclusivamente para a Comunidade
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Figura 3 – Percentual de empresas conforme atuação por atividade econômica. Fonte: autores, com base em IPEA(2006). 93,8%
90,6% 84,0%
81,0%
19,0% 6,2% Agricultura, Sivicultura e Pesca
16,0%
9,4%
Indústria
Construção Civíl
Não Realizou
85,2%
14,8%
Comércio
Serviços
Realizou
Figura 4 - Percentual de empresas atuantes por atividade econômica. Fonte: autores, com base em IPEA(2006).
Aparentemente, não há indícios na amostra de que empresas dos diferentes setores da economia atuem de forma uniforme. A fim de comprovar o fato para a população realizamos o teste Qui-Quadrado de homogeneidade (CONOVER, 1999: 199), com as hipóteses que seguem: H0: p1j=p2j=p3j=p4j=p5j para todo j=1,2,3,4 versus H1: pij ≠ pkj para qualquer j=1,2,3 e 4 e quaisquer i,k=1,2,3,4 e 5 e através do teste Qui-Quadrado de independência (CONOVER, 1999: 205), com H0:P(linha i, coluna j)=P(linha i)xP(coluna j), para todo i=1,2,3,4,5 e todo j=1,2,3,4, versus H1:P(linha i, coluna j) ≠ P(linha i)xP(coluna j,) para algum i=1,2,3,4,5 ou algum j=1,2,3,4. Ambos os testes rejeitaram as hipóteses nulas. Sendo assim, vemos que empresas de diferentes setores da economia fazem investimentos sociais com diferente intensidade. A probabilidade quanto ao número de empresas que não realizam atividade social, realizam somente para empregados, realizam somente para comunidade e realizam para ambos é diferente, dependendo do setor da economia que consideremos. O conjunto formado pelas empresas dos grupos “Agricultura, Silvicultura e Pesca” e “Indústria” realizam mais investimentos que os grupos “Construção Civil, o Comércio e os Serviços”. 3.4 - Relação idade da empresa e empresas investidoras em ações social Outra variável que possivelmente influencia na realização ou não de ações sociais é a idade da empresa. Através dos dados da Tabela 4, utilizando análise gráfica e o teste de homogeneidade, verificamos a existência de diferença em relação ao número de realizadores de atividade social para cada intervalo de idade das empresas, como mostram as Figuras 5 e 6. Tabela 4: Número de Empresas Privadas segundo atividade social realizada em 2003/2004, por idade. Atividade Social Idade da empresa Não realizou
Realizou exclusivamente para empregados
Realizou para empregados e comunidade
Realizou exclusivamente para a comunidade
Total
Até 5 anos
12.343
12.253
35.781
8.190
68.567
De 6 a 10 anos
15.388
32.741
101.920
19.085
169.134
De 11 a 15 anos
11.238
16.899
73.524
20.313
121.974
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De 16 a 20 anos
9.869
17.089
61.376
25.651
113.985
Mais de 20 anos
29.750
28.204
115.980
32.041
205.975
Não sabe / Não respondeu
49.539
31.666
65.334
30.237
176.776
Fonte: IPEA 2006 - Primeira etapa IPEA/DISOC (2004/2005)
60,3%
60,3% 56,3%
53,8%
52,2%
22,5%
18,0% 17,9%
19,4% 13,9% 11,3% 9,2%
11,9% 9,1%
Até 5 anos
De 6 a 10 anos
16,7%
14,4% 13,7%
15,0%
15,6%
8,7%
De 11 a 15 anos
De 16 a 20 anos
Mais de 20 anos
Não Realizou
Realizou Exclusivamente para Empregados
Realizou para Empregados e Comunidade
Realizou Exclusivamente para a Comunidade
Figura 5 - Percentual de empresas segundo atuação e por intervalo de idade. Fonte: autores, com base em IPEA(2006). 90,90%
91,34%
90,79%
85,56%
82,00%
18,00% 9,10%
Até 5 anos
9,21%
De 6 a 10 anos
8,66%
14,44%
De 11 a 15 anos De 16 a 20 anos Mais de 20 anos
Não Realizou
Realizou
Figura 6 - Percentual de empresas atuantes por intervalo de idade. Fonte: autores, com base em IPEA(2006).
Utilizamos o teste de Kendall (CONOVER, 1999: 319), para verificar a hipótese de que não há relação alguma entre as variáveis, informação que nos parece pertinente, tendo visto o gráfico.
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Realizamos então o teste para cauda superior para verificar possível correlação positiva e o da cauda inferior, para correlação negativa. Temos as seguintes hipóteses, respectivamente: H0: X e Y são independentes vs. H1: os pares de observação tendem a ser concordantes e; H0: X e Y são independentes vs. H1: os pares de observação tendem a ser discordantes. Chegamos à conclusão de que para α = 0,05 as variáveis apresentadas são independentes. Assim, o fato de uma determinada empresa estar há mais tempo no mercado não influencia positiva ou negativamente quanto a atuação social. Este fato pode estar relacionado à tradição da cultura organizacional e às conseqüentes dificuldades de mudanças nas empresas estabelecidas há mais tempo. Por outro lado, as empresas com menor tempo de existência podem dispor de menos recursos para investimentos. 3. 5 - Relação estado sede e empresas investidoras em ação social A Tabela 5 mostra o número de empresas privadas por Unidade da Federação, segundo a atividade social realizada. Tabela 5 - Número de empresas privadas segundo atividade social realizada em 2003/2004, por Unidade da Federação Atividade Social Não realizou
Realizou exclusivamente para empregados
Minas Gerais
12.575
5.450
56.885
19.077
93.987
Espírito Santo
4.016
371
8.138
1.960
14.485
Rio de Janeiro
11.631
5.873
34.611
4.890
57.005
São Paulo
50.772
31.970
140.691
31.537
254.970
Bahia
3.150
2.873
14.405
4.672
25.100
Pernambuco
1.929
2.627
10.173
2.008
16.737
Ceará
1.948
1.604
7.119
2.750
13.421
Outros Estados
4.910
2.343
14.930
4.615
26.798
Paraná
4.095
29.134
46.125
11.342
90.696
Santa Catarina
3.053
13.310
39.218
17.425
73.006
14.390
21.106
48.442
10.350
94.288
2.772
5.713
15.915
5.674
30.074
Goiás
5.997
9.023
14.699
2.948
32.667
Distrito Federal
1.113
6.354
8.242
1.315
17.024
459
1.360
158
2.682
4.659
Pará
2.157
2.427
1.720
6.115
12.419
Resto da Região Norte
1.788
2.961
2.747
6.121
13.617
Região
Sudeste
Nordeste
Sul
CentroOeste
Estado
Rio Grande do Sul Mato Grosso e Mato Grosso do Sul
Amazonas Norte
Realizou para empregados e comunidade
Realizou exclusivamente para a comunidade
Total
Fonte: Adaptado de IPEA 2006
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91,7%
8,3%
Sul
87,6%
85,7%
Centro-Oeste
Norte
Não realizou
81,2%
18,8%
14,5%
14,3%
12,4%
85,5%
Nordeste
Sudeste
Realizou
Figura 7 – Percentual de empresas atuantes por região – Fonte: Adaptado de IPEA 2006
95,8% 95,5% 93,5%
90,1% 88,5% 87,5% 86,6% 85,5% 84,7% 82,6% 81,6% 80,1% 79,6% 72,3%
4,2% 4,5% 6,5%
a ta C n a S
19,9% 20,4% 15,3% 17,4% 18,4% 14,5% 13,4% 9,9% 11,5% 12,5%
ia ul rá al ná co as na ai s tari Para Fed er azo n ambu Bah s Ger Cea e do S to nd na Am Pern Mi stri Gr a o De i R Não Realizou
27,7%
s o o o á Par Go iá Paul Jan eir S an t o o t ã e i S io d sp ír R E
Realizou
Figura 8 – Percentual de empresas atuantes por Unidade da Federação. Fonte: Adaptado de IPEA 2006
Pela Figura 7, a região mais atuante é a sul, seguida da centro-oeste. A região sudeste apresenta a menor participação. Pela Figura 8 percebemos que, na amostra selecionada, há diferenças notáveis entre as ações sociais por estados, chegando a até 20 pontos percentuais. Santa Catarina aparece como estado mais atuante. Rio de Janeiro e São Paulo, apesar de terem importantes economias, atuam pouco, comparados aos demais. Espírito Santo é o estado que menos atua dentre os analisados no gráfico. O único Estado do sudeste com atuação expressiva é Minas Gerais. Com o intuito de testar a dependência entre as variáveis “unidades da federação” e “número de empresas em cada nível de atuação social”, realizamos os testes Qui-Quadrado de 12
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independência e de homogeneidade. As células em cinza na Tabela 5 não foram incluídas nos testes por estarem representando o montante relativo a mais de um estado, podendo distorcer os resultados. Para o teste de homogeneidade temos as hipóteses que seguem: H0: p1j=p2j=p3j=p4j=p5j =p6j=p7j=p8j=p9j=p10j=p11j=p12j=p13j=p14j j para todo j=1,2,3,4 versus H1: pij ≠ pkj para qualquer j=1,2,3 e 4 e quaisquer i,k=1,2,3,4,5,6,7,8,9,10,11,12,13 e 14. Já para o teste de independência as hipóteses são: H0: P(linha i, coluna j)=P(linha i)xP(coluna j), para todo i=1,2,3,4,5,6,7,8,9,10,11,12,13 e 14 e todo j=1,2,3,4, versus H1: P(linha i, coluna j) ≠ P(linha i)xP(coluna j,) para algum i=1,2,3,4,5,6,7,8,9,10,11,12,13 e 14 ou algum j=1,2,3,4. As hipóteses nulas são rejeitadas. Com isso, podemos afirmar que o número de empresas atuante em cada “nível” de atividade social, varia de acordo com a unidade da federação em que as empresas estão localizadas. 4. Considerações finais Este estudo exploratório e inicial utilizou os dados da pesquisa Ação Social das Empresas e teve como objetivo analisar o comportamento das empresas que investem em ações sociais no Brasil. Pode contribuir com o desenho de propostas de mudanças necessárias no cenário atual, para avançar da etapa de sensibilização das empresas em relação à responsabilidade social empresarial para a atuação efetiva. Com 95% de confiança, podemos afirmar que há tendência de crescimento dos investimentos do ano de 2002 para o de 2004, fato que pode estar relacionado à crescente evidência da responsabilidade social empresarial. Identificamos, também com 95% de confiança, que empresas com grande número de funcionários atuam mais em atividades sociais que empresas com menor número. Nas empresas com mais colaboradores, este fato pode estar associado possivelmente à existência de recursos disponíveis para este tipo de investimento. Sendo as empresas com menor número de funcionários em maior quantidade, para que se mobilizem também estas, talvez seja necessário maior esforço de contaminação na cadeia produtiva. Em relação à localização das empresas e o montante investido, verificamos que há notável diversidade. Todavia, grosso modo, podemos localizar maior percentual de empresas com esse tipo de investimento na região sul e menor percentual na região sudeste. Em relação à idade das empresas, o que identificamos foi que essa variável não possui influencia sobre o número de empresas atuantes. Ademais, para finalizar, podemos afirmar que a quantidade de empresas que investe varia de acordo com o setor da economia. Este estudo exemplifica o tipo de contribuição que análises de dados secundários sobre a atuação real de empresas quanto a ação social podem trazer. Estudos similares com maior profundidade, relacionando maior número de variáveis entre si podem ser empreendidos, de forma a ter um quadro mais nuançado quanto ao que as empresas realizam como ação social e a ter mais condições de propor formas de ampliar e intensificar sua atuação no campo da responsabilidade social. Referências AFONSO, R.C.M.; CAMPOS, A.E.M.; BARTHOLO, R. Balanço Social das Empresas de Telecomunicações no Brasil de 2003 a 2007: do investimento social privado à gestão da responsabilidade social. In: XXIX Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Salvador: ENEGEP, 2009. BORGER, F. H. Responsabilidade social: efeitos da atuação social na dinâmica empresarial. 2001. Tese (Doutorado em Administração) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo. CONCEIÇÃO, T. O.. et al.. Responsabilidade Social Corporativa na Ótica dos Funcionários de uma Rede de Supermercados. In: XXIX Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Salvador: ENEGEP, 2009.
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