RESPOSTA DO CONSUMIDOR BRASILEIRO FRENTE ÀS QUESTÕES DE BEM-ESTAR DO FRANGO

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Bem-estar vs. Pagamento



RESPOSTA DO CONSUMIDOR BRASILEIRO FRENTE ÀS QUESTÕES DE BEM-ESTAR DO FRANGO
Raquel Baracat T. R. da Silva, Thayla M. R. de Carvalho Curi, Nilsa D. S. Lima, Irenilza A. Nääs
Faculdade de Engenharia Agrícola da UNICAMP

Introdução
O bem-estar animal é demanda constante dos mercados importadores de carne de frango e este tema já vem sendo trabalhado pelas grandes integradoras brasileiras, com base em respostas científicas de pesquisas desenvolvidas no Brasil e no exterior. Este tema está vinculado direta ou indiretamente às questões de eficiência das construções rurais e da ambiência, presença de gases agressivos e excesso de ruído, entre outros (Brasil, 2001; Broom, 2006; DEFRA, 2006, Alves, 2012). Neste sentido, nos países em que estas questões estão presentes, observa-se o aumento no número de diretrizes, regras e leis, tanto no setor público quanto no privado a fim de estabelecer padrões mínimos de bem-estar animal (Phillips, 2009).
Na Europa, há uma diretiva específica para a proteção dos frangos de corte, a qual estabelece regras mínimas para o bem-estar das aves e apresenta indicações sobre as práticas de gestão com foco particular em densidade, regime de luz, qualidade do ar, treinamento e orientação para pessoas que lidam com aves, bem como o monitoramento de planos para detenção e abatedouro (Meluzzi & Sirri, 2008). Entretanto, algumas vezes o bem-estar tem sido relacionado com o aumento do custo do produto, sendo um entrave na comercialização dos que apresentam melhorias na qualidade de vida dos animais e acredita-se que este cenário irá melhorar somente quando o consumidor e estiver disposto a pagar pelo investimento (Molento, 2005; Verbeke, 2009).
Melhorias no bem-estar animal nos atuais níveis de produtividade requerem modificação dos métodos de produção, assim como melhor entendimento de normas e legislações. Bem-estar possui custo econômico, nem sempre aceitável à natureza das coisas. É preciso esperar que qualidade (daí valor mais elevado) da mercadoria não pode ser adquirida sem custo algum, ou recurso adicional, e todos nós estamos habituados a isso (McInerney, 2004).
Esta pesquisa visou analisar o perfil de um grupo consumidor na questão do bem-estar animal, em função da disposição em se pagar mais pela carne de frango criado nestas condições. Foi também avaliada a conscientização do consumidor frente ao bem-estar na produção de frangos de corte apoiada em normas e legislações vigentes.

Levantamento de dados e resposta do consumidor
Foi utilizado um questionário online contendo questões relacionadas a temas descritos a seguir, nas seguintes categorias: idade, nível de educação; gênero, estado civil, tamanho da família, e faixa salarial dos entrevistados. Quanto aos temas relacionados ao bem-estar animal enfatizaram-se os pontos:
Conhecimento sobre a produção de frangos de corte.
Nível de conhecimento sobre as questões gerais de bem-estar animal, como isenção de dor, sofrimento, condições de alojamento, entre outros.
Interesse em pagar mais na carne do frango criado em condições de bem-estar.
Conhecimento sobre a legislação brasileira e internacional sobre bem-estar animal.

Com 206 respostas de consumidores de todas as regiões brasileiras, foi elaborado um banco de dados. Foi utilizada a técnica de datamining para a descoberta das variáveis que determinassem os padrões de consumo, conforme recomenda Chapman et al. (2000). O intuito desta tarefa foi identificar quais fatores são eleitos como mais importante para definir: 1) a disposição do consumidor em pagar um valor superior para uma carne de frango com mais qualidade, mais sustentável e que apresentou bem-estar na produção da mesma; 2) bem como identificar quais fatores são considerados importantes para identificar um consumidor consciente sobre as questões de bem-estar na produção e abate do frango de corte.
A partir da seleção destes fatores, foi possível vincular o perfil dos consumidores consultados com o interesse em se pagar mais caro pela carne de frango, além de se avaliar a consciência dos mesmos em relação à produção de frangos em função do bem-estar animal.
O maior grupo de entrevistado caracterizou-se entre 36-45 anos, com ensino superior completo. A maioria tinha o estado civil de casado e sem filhos. A faixa salarial mais representativa era acima de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). A s Figuras 1, 2 3 e 4 mostram estes resultados.



Figura 1. Perfil da idade dos consumidores entrevistados
Figura 2. Perfil do gênero dos consumidores entrevistados


Figura 3. Perfil do estado civil dos consumidores entrevistados
Figura 4. Perfil da faixa salarial dos consumidores entrevistados

Observou-se nos entrevistados que, quanto maior a idade, maior o nível de instrução, e maior o poder aquisitivo, maior é a preocupação e a exigência com o bem-estar animal. Isto indica que, para esta faixa de consumidor, existe a consciência da importância de uma legislação especifica para produção animal, contendo normas mais rigorosas de bem-estar. Entretanto, percebe-se a falta de conhecimento a respeito da legislação sobre bem-estar animal (Figura 5). Por exemplo, nas perguntas como: "Você conhece alguma legislação de proteção animal?" e "Você acha que o frango que você consome deve ser protegido por legislação específica?", a maioria das respostas está relacionada ao conhecimento de uma legislação sobre bem-estar, que ainda não existe no Brasil, mas que são adotadas normas internacionais na produção de animais de criação. Provavelmente, estes consumidores tem acesso à informação sobre este tema a partir de leitura de material estrangeiro do comércio internacional. No Brasil não há normatização legal sobre o tema, embora haja iniciativas em associações de produção de animais.

Figura 5. Percentual de respostas sobre o conhecimento do consumidor da legislação animal.

O consumidor sabe que são indispensáveis leis específicas e normas rigorosas de bem-estar na produção animal para que os animais tenham níveis de saúde, bem-estar, nutrição e ambiência garantidos durante o processo produtivo. E como não há um monitoramento amparado legalmente tornam as condições de produção com bem-estar vulneráveis a muitos "padrões genéricos de manejo" desses animais durante a vida produtiva. A maioria dos consumidores está disposta a pagar mais por uma carne produzida com bem-estar, porém nem todos os consumidores estão dispostos a pagar o preço sugerido na pesquisa, que era R$13,00 a mais no quilo, em valor atual (Figura 6).

Figura 6. Percentual de respostas a respeito do conhecimento do consumidor sobre o bem-estar e o interesse em pagar mais pelo frango criado em condições adequadas.

Considerações finais
A mídia não tem poupado esforços para conscientizar e orientar o consumidor sobre a importância de adquirir alimentos seguros e confiáveis. Em contrapartida, governos e setores da produção estão implantando medidas eficazes para atender tais exigências que, muitas vezes, são transformadas em barreiras não tributárias no comércio internacional e/ou regional (Silva, 2012).
Por outro lado, a importância do mercado exportador para a avicultura nacional, associada à inexistência de normas específicas que atendam as condições brasileiras leva, muitas vezes, a desvios de compreensão de itens que não se adaptam necessariamente às condições brasileiras de produção de frangos. Segundo pesquisa do IBOPE - Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (2012), cerca de 8% dos brasileiros já se declararam vegetarianos, representando cerca de 15 milhões de consumidores. Dentre as justificativas da isenção da carne na dieta, destaca-se a má condição dos sistemas produtivos em que os animais são criados, preocupação com o meio ambiente e questões de saúde.
Neste contexto, destaca-se a importância do desenvolvimento de normas brasileiras sobre a produção de frangos de corte, bem como a divulgação aos consumidores sobre como o frango é produzido, e como as questões de bem-estar animal estão presentes desde o ovo fértil até o abate e comercialização do produto.

Referências Bibliográficas
Alves, Ana F.P. O papel do consumidor nas políticas de sustentabilidade. Lisboa, 2012. Dissertação (Mestrado em Engenharia do Ambiente, perfil de Gestão e Sistemas Ambientais) Faculdade de Ciências e Tecnologia, FCT, Universidade Nova Lisboa, setembro 2012.
Brasil. LEI n. 9.605/98, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá providências. In: BRASIL. Constituição Federal: código penal, código de processo penal/ organizador Luiz Flavio Gomes - 3 ed. rev. atual e ampl - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001 - (RT – mini- códigos).
Broom, D.M. Behaviour and welfare in relation to pathology. In: INTERNATIONAL CONGRESS OF THE ISAE, 38, 2004, Helsinki, Finland. Proceedings ... Helsinki, Finland: International Society for Applied Ethology (ISAE) Special Issue 2004. Applied Animal Behaviour Science, 2006. v. 97, n. 1, p. 73-83.
Chapman, P.; Clinton, J., Kerber, R., Khabaza, T., Reinartz, T., Shearer, C., Wirth, R.: CRISP-DM 1.0 Step-by-step data mining guide, 2000.78p. Disponível em: www.crisp-dm.org/CRISPWP-0800.pdf. Acesso em: 20 de Julho de 2016.
Defra – Department for Environment, Food and Rural Affairs – UK – Welfare Act, 2006. Inglaterra. Disponível em: http://www.defra.gov.uk/animalh/welfare/act/index.htm. Acesso em: 22 de Julho de 2016.
Ibope - Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística – 2012. Dia Mundial do Vegetarianismo: 8% da população brasileira afirma ser adepta do estilo Disponível em: http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/paginas/dia-mundial-do-vegetarianismo-8-da-populacao-brasileira-afirma-ser-adepta-ao-estilo.aspx. Acesso em: 24 de Julho de. 2016.
McInerney, J. Animal welfare, economics and policy: report on a study undertaken for the farm & animal health economics. Division of DEFRA, 68p.2004.
Meluzzi, A.; Sirri, F. Welfare of broiler chickens Ital. J.Anim. Sci., v.8 (Suppl. 1), p.161-173, 2009.
Molento, C.F.M. Bem-estar e produção animal: aspectos econômicos – revisão. Archives of Veterinary Science, v.9, n1, p.1-11, 2005.
Phillips, C. The Welfare of Animal: The Silent Majority. 1.ed. Neatherland: Springer, 2009, 220p.
Seco, C. F. C.; Oliveira, E. M.; Amorim, R. M. Comportamento do consumidor: fatores que determinam o processo de compra no mercado varejista em Palmas/TO. Revista Científica do ITPAC, 2014, v.7, n.3, p.1-13. Disponível em: . Acesso em 25 de Julho de 2016.
Silva, Raquel B. T. R. da. Itens normativos de bem-estar animal e a produção brasileira de frangos de corte. Campinas-SP, 2012. Tese (Doutorado em Engenharia Agrícola) Faculdade de Engenharia Agrícola – FEAGRI, Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, 17/10/2012 -
Verbeke, W. Stakeholder, citizen and consumer interests in farm animal welfare. Animal Welfare, v.18, p.325-333, 2009.

Legislação Animal



Estado Civil


Faixa Salarial
Faixa-4
57%


Gênero




Idade
16 a 25 anos
3%
26 a 35 anos
31%
36 a 45 anos
40%
Acima de 45 anos
26%



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