Restauro da Charola do Convento de Cristo

July 22, 2017 | Autor: Cláudia Maié | Categoria: Art History, Arquitectura, Restauration and Conservation, História da arte, Restauro
Share Embed


Descrição do Produto

FACULDADE DE LETRAS UNIVERSIDADE DE LISBOA DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

Trabalho prático apresentado no âmbito da Unidade Curricular de História e Teoria do Restauro, regida pela Professora Doutora Maria Jõao Baptista Neto

Restauro da Charola do Convento de Cristo

Cláudia Maié Pires Vaz Nº 43971

13 de Novembro de 2011

Índice Introdução ………………………………………………………………………… 3 História da Charola ……………………………………………………………….. 4 Restauro da Charola ………………………………………………………………. 6 Bibliografia ……………………………………………………………………….. 13

2

Introdução Em Portugal, a arte românica atingiu um dos seus picos com a construção da igreja do Convento de Cristo, em Tomar. Classificado como Monumento Nacional, em 1907, e como Património Mundial, pela UNESCO, em 1983, a Charola apresenta-se não só como um testemunho da arquitectura templária, como, também, um exemplar grandioso do Manuelino. As diversas pinturas murais (figurativas ou não), os estuques e outros materiais riquíssimos, que têm como suporte as superficies arquitectónicas interiores da Charola, encontravam-se bastante degradados e a necessitar de intervenção urgente. Para além da problemática relativa à conservação das várias espécies artísticas, seria importante pensar no tratamento estético e na leitura que resultaria das diversas campanhas que coexistiram na Charola. O processo de restauro terá iniciado na década de 80, prolongando-se até 2009. Em Novembro de 2007 iniciou-se a execução de dois projectos de restauro na Charola do Convento de Cristo, sobre os quais irá recair este trabalho.

3

História da Charola A Charola do Convento de Cristo, assumindo um carácter genuíno, pertence à campanha de obras românicas e góticas, dos séculos XII e XIII. Apresenta o mesmo desenvolvimento planimétrico que a capela palatina de Aixla-Chapelle de Carlos Magno, tratando-se de um edifício poligonal, com oito faces no tambor central e uma nave envolvente de dezesseis tramos. Foi concluída no século XII, tendo como principal responsável D. Gualdim Pais. A mando do Infante D. Henrique, governador da Ordem de Cristo entre 1420 e 1460, foi realizada a primeira alteração do edifício: a abertura de dois tramos a ocidente, de modo a poder instalar o coro e a tribuna. Possuía uma porta a nascente, que se manteve em funcionamento até à reforma manuelina. Desta época datará também o tubo de órgão de madeira e couro, ainda presente na Charola. A maior campanha de obras é promovida, mais tarde, por D. Manuel, entre 1495 e 1521. Ao longo desta campanha são rasgados dois dos dezasseis tramos da parede externa, abrindo um espaço a ocidente, implantando o grande arco triunfal que une este espaço à igreja manuelina. É desta época, também, o enriquecimento do programa iconográfico da Charola, transformada em capela-mor: douraram-se as nervuras das abóbadas; aplicação policromática em elementos ornamentais; enriquecimento de algumas superfícies com trabalhos em estuque; pintura, a seco sobre o reboco. O registo superior dos tramos do deambulatório exterior é constituído pelas grandes pinturas murais (representação da Vida de Cristo e as dores de sua Mãe), intercaladas pelos janelões – os tramos impares têm janela e os pares pintura. No caso dos tramos 13 e 15, estamos perante entaipamento das janelas originais com posterior execução de pintura mural, respectivamente representações de Adão e Eva e Apresentação de Cristo a Pilatos. A Charola é centrada por um tambor octogonal onde são representados dezasseis anjos (dois em cada face) com objectos da Paixão. O registo médio é ocupado pela pintura sobre madeira e o registo inferior apresenta as pequenas capelas térreas, com excepção dos tramos 1 e 14 (capelas de maior profundidade), 9 (túmulo), 7 (janelão – original entrada da Charola) e os tramos 6 e 8 que ostentam portas de acesso, respectivamente, às torre sineira e claustro do cemitério. Os tramos 15 e 16 não possuem registo inferior. As esculturas de vulto, do artista flamengo Olivier de Gand, foram instaladas sobre mísulas coroadas por baldaquinos dispostos nas esquinas do arcos do tambor

4

interior da Charola. Estas obras incluem, além do Calvário, representações de Santos e Doutores da Igreja, bem como Profetas do Antigo Testamento. Em Outubro de 1985, é feito um levantamento global, documentado fotograficamente, da degradação do monumento e da falta de manutenção que este padecia, em particular o castelo templário. Nos anos 2001 e 2002, foi realizada uma intervenção de conservação e restauro em dois tramos do exterior do desmbulatório. Estes foram sendo restaurados um a um, tendo sido assim intervencionados mais quatro tramos. Particularmente importante, foi a descoberta de pinturas contemporâneas de D. Manuel I (1510 – 1518), que cobriam a abóbada do deambulatório, e que tinham sido recobertass de cal numa época posterior. Acabaram por ser removidas na campanha de obras para a recuperação da Charola realizada no final dos anos 80 do século XX.

5

Restauro da Charola Na primeira Campanha de Conservação e Restauro, na sequência do lançamento de Consursos Públicos Internacionas, e graças ao apoio da CIMPOR (único mecenas), foi possível fazer a intervenção em duas zonas extensas da Charola. Entre Novembro de 2007 e Abril de 2008 foi efectuado o restauro do Arco Triunfal e seu intradorso; e entre Novembro de 2007 e Maio de 2008 foi feito o restauro de seis tramos do deambulatório exterior. Em Novembro de 2008, iniciou-se a segunda campanha que visava o restauro dos restantes tramos do deambulatorio exterior. Respectivamente à primeira campanha de restauro efectuada na Charola, a pintura do arco e dos tramos encontrava-se muito fragmentada devido à degradação e perda da camada pictórica nas juntas dos blocos de pedra.

Arco Triunfal, antes da intervenção

Arco Triunfal, depois da intervenção

6

Toda a zona do Arco Triunfal é uma intervenção posterior à construção da Charola. O friso apresenta uma tentativa de colocação de folha de ouro por cima de uma outra camada, o que lhe conferia um tom acastanhado. Ao intervencionar essa zona, os restauradores não voltaram a usar folha de ouro, apenas cobriram as lacunas com pintura. A intervenção centrou-se em restabelecer a unidade e leitura estética da composição, através da reintegração e tratamento cromático das lacunas da pintura. Relativamente aos tramos intervencionados na primeira campanha, era o 16 que apresentava uma pintura mural em pior estado.

Tramo 16 (Promenor), antes da intervenção

Tramo 16 (Promenor), depois da intervenção

7

Este tramo apresentava-se cheio de lacunas e problemas a nível das juntas dos blocos de pedra. A pintura feita em cima da pedra já sofreu diversos repintes, criando uma amalgama de cores de intervenções anteriores. Para levar a cabo o restauro deste tramo foi necessária uma limpeza seguida de fixação de pigmentos, fecho das juntas e reintegração cromática. Esta intervenção visou a conservação e restauro de pinturas murais sobre pedra (figurativas e decorativas), estuques policromados, pedra policromada, cantarias, talha dourada e madeiras e ainda couro gravado e policromado.

Tramo 16 (Promenor - Cristo), antes da intervenção

Tramo 16 (Promenor – Cristo), depois da intervenção

A cara de Cristo apresentava-se quase que imperceptível, já só se notando os seus contornos (cabelo e barba).

8

Tramo 16 (Promenor – Anjo), antes da intervenção

Tramo 16 (Promenor – Anjo), depois da intervenção

A cara do Anjo apresentava tons de azuis que, possivelmente, não haviam pertencido à sua pintura original. Todos estes aspectos tornavam difícil a leitura destas pinturas murais. Um possível factor de deteriorização deste tramo seriam as possiveis infiltrações, visto que este se encontra na junção da Charola com a Igreja adicionada posteriormente.

9

Tramo 16 (Promenor), antes da intervenção

Tramo 16 (Promenor), depois da intervenção

Em volta dos janelões da Charola, encontramos trabalhos realizados em estuque, compostos por diversas placas. Estas placas eram rebocadas no próprio sitio, seguindo uma ordem crescente. Em data desconhecida, todos os estuques foram caiados, nalguns pontos mais espesso, noutros nem tanto. A caiação foi entupindo todos os relevos do estuque, destruíndo o seu efeito decorativo. Durante o restauro, numa pequena área, foi feita a remoção da cal para uma percepção aproximada do efeito decorativo original dos estuques.

10

Promenores envolventes dos janelões

Para a remoção da cal, foi efectuado todo um trabalho demorado, feito mecanicamente a bisturi. Nos enchalços das janelas, o fundo dos estuques era, originalmente, policromado, reforçando o efeito decorativo. No decorrer da segunda campanha de restauro da Charola do Convento de Cristo, aquando do restauro dos restantes tramos, foram descobertos alguns fragmentos de um vitral que se encontrava por baixo do janelão do Tramo 1. Nesses fragmentos podemos observar um rosto completo.

11

Promenores dos fragmentos de vitral

Juntamente com o restauro dos tramos 1, 2, 3 e 4, a 2ª campanha levou a cabo a restauração de todos os objectos em madeira assim como do deambulatório exterior da charola.

Guadamecil

Baldaquino

12

Bibliografia BARBOSA, Álvaro José, “Habitar o património: O caso do Convento de Cristo”, Universidade Católica Portuguesa SANTOS, Carlos Emanuel, “A Charola Templária de Tomar – Uma Construção Românica entre o Oriente e o Ocidente”, Medievalista, [online], nº4, (2008) S.a., “Arte restaurada com muito engenho”, News CIMPOR, [online], s.l., s.d. S.a., “A Pintura da Charola de Tomar”, Instituto Português de Conservação e Restauro http://www.ipmuseus.pt http://charola.blogs.sapo.pt

13

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.