Resumo: A Abstração e o Invisível (Arte Abstrata, cap. 1). GOODING, Mel.
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Resumo A Abstração e o Invisível, de Mel Gooding Gabriel Eduardo Rosa Introdução “Toda arte é abstrata, no sentido de que toda arte se envolve no mundo e nos aspectos abstratos dele para nos apresentar um objeto ou acontecimento que aviva ou ilumina nossa apreensão do mundo.” (GOODING, 2002, p. 6). Essa busca pela abstração nos artistas, essa renúncia da representação naturalista, se dá pela perseguição de uma nova realidade e um diferente modo de representar as experiências do mundo, pois muitos viam a representação figurativa como uma limitadora para experiências essencialmente espirituais. Esse tipo de experiência, transcendental, espiritual, era o objetivo que alguns artistas abstratos gostariam de proporcionar ao realizar uma obra abstrata. E apesar de não haver um movimento dito “Abstracionismo”, diferentes artistas podem ser agrupados pela característica de seus ideais. Um problema que surge com a palavra “abstrato” é quanto ao seu significado. Não se tinha qualquer conceito definitivo quanto a esse tipo de estética. Existiam diferentes formas de abstração, com efeitos e intenções distintas (“pintura pura”, de Guillaume Apollinaire; “suprematismo”, de Malevich; “neoplasticismo”, de Mondrian; etc). No entando uma origem pode ser delineada: a referência da música arte puramente nãorepresentacional. E mesmo com esse aspecto nãorepresentacional da arte abstrata, muito poucos artistas diziam que este era um “impulso para longe da natureza”, na verdade diziam o contrário. Diziam que era uma pintura de “fatos”, a cor era um “fato”, a linha era outro e a forma era outro. Juntos formavam algo difícil de descrever. Dada essa dificuldade de definição, será abordado “Arte abstrata” como coisa não figurativa.
A Abstração e o Invisível Malevich e o Infante Real
“Quadrado preto suprematista” de Malevich tornouse uma obra emblemática. É quase a primeira pintura completamente abstrata. Instigante, essa obra propõe à reflexão e exige um tanto de imaginação. É um vazio profundo, pintura icônica, um mistério, “plenitude última”, e também a primeira pintura que usa absolutamente ela mesma como tema. Nessa imagem, Malevich tinha visto uma nova maneira de pintar. O que importava aí era aquilo que não podia ser visto, e sim imaginado força interior, a energia espiritual dentro das coisas. Essa era a intenção do suprematismo: apresentar ou retratar esse “mundo nãoobjetivo”. Malevich fora influenciado fortemente pelos pintores cubistas e desde 1910 estava no centro da experimentação artística russa. Usava de muitas referências de fontes nativas russas e combinavaas com referências cubistas. Além destas, teve influências do místicomatemático russo P. D. Ouspensky e seus escritos sobre a “quarta dimensão”; essa estaria além da geometria convencional da linha, do plano e do volume. “A pintura tornase uma espécie de metafísica intuitiva, insinuando outra dimensão da realidade, só acessível à imaginação, só tornada visível pela arte.” (GOODING, 2002, p. 17). Kandinsky e o Piano de Muitas Cordas Logo percebemse bastantes diferenças quando se compara a obra Improvisação nº 19 de Kandinsky, com sua simplicidade hierática, “cor vívida sem forma e uma imagem quase figurativa um pouco estranha”, com as pinturas suprematistas: drama quase geométrico. Em seu título já se pode sugerir que a obra foi feita utilizando de ímpeto interno, como um pianista ao compor uma peça. Como Kandinsky já havia dito: “a cor é uma força que influencia diretamente a alma. A cor é o teclado, os olhos são os martelos, a alma é o piano com suas muitas cordas. O artista é a mão que toca, apertando uma tecla ou outra, para causar vibrações na alma.” Essa relação com a música é de extrema relevância para todo o pensamento abstracionista desse artista. Este acreditava que a pintura, tal qual a música, deveria exprimir os sentimentos e intuições mais profundas sem o emprego da “reprodução de fenômenos naturais”. “Dessa aspiração surgiu “o desejo moderno de ritmo na pintura, de construção matemática abstrata, de
notas repetidas de cor, de pôr as cores em movimento”; em resumo, de abstração.” (GOODING, 2002, p. 20). A origem mística de Kandinsky se dá em duas referências principais: origem russa ortodoxa, e ensinamentos utópicos do teosofista Rudolf Steiner. Também com objetivos espirituais, assim como Malevich, buscou as formas e cores puras da pintura, de modo a se libertar das formas terrenas, como em “Improvisação controlada: fuga”. Aqui se vê a representação de, realmente, uma fuga: “da existência física e da contingência trágica”. Kandinsky: “A criação da obra de arte é a criação do mundo”. Mondrian e o Boogie Woogie Assim como para Kandinsky e Malevich, para Mondrian a pintura era uma prática filosófica e espiritual. Baseavase nas doutrinas teosóficas que sustentavam uma progressão da humanidade: da desarmonia dualista presente para uma redescoberta da unidade do ser, como na harmonia que existiu antes do pecado original. Sua progressão particular ocorreu de um naturalismo expressionista, fauvista (ex.: “A árvore vermelha”, de 1908, que assinala uma metáfora estritamente “trágica” da natureza contingente, que uma pura arte “plástica” teria função de transcender), para a calma e equilibrada abstração pura. A obra “Composição nº VI (Composição 9, fachada azul)” marca um momento decisivo na composição de um olhar abstrato por Mondrian. À partir da árvore vermelha intensa, ao longo dos anos, passa para uma imagem mais fria e esquemática como “Composição Oval (Árvores), de 1913 e “Composição nº VI”, de 1914. Apesar disso, “Fachada azul”, baseandose em esboços de uma parede, ainda está muito envolvido na “realidade febril do aquiagora”, com um certo ar de esbocismo. É entre 1920 e 1930 que os Mondrians clássicos parecem ter “transcendido a turbulência interna” das pinturas anteriores. Todos estes, à partir de 1921, utilizam apenas das cores primárias, preto, branco e cinza. Mondrian também buscou eliminar a ilusão de espaço tridimensional; perspectivo, e mesmo que parecesse um processo racional na verdade era bem intuitivo, como ressalta Adrian Heath ao falar que “Mondrian era um “action painter” trabalhando em câmera
lenta”. A única referência que tinha do mundo físico era da dança. “Ele pretendia que o design delas”, de suas pinturas, “tivessem alguma coisa em comum com os ritmos contrapontísticos da dança moderna e do jazz uma pintura é subintitulada “Foxtrot”; suas duas últimas obras foram intituladas “Boogie Woogie” ” (GOODING, 2002, p. 30).
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