Resumo Expandido: População em situação de rua: a representação do outro na sociedade

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População em situação de rua: a representação do outro na sociedade



Resumo: O presente ensaio busca discutir acerca da temática relacionada à
População em Situação de Rua (PSR). Tem como foco a relação que este
constrói perante o ambiente urbano, através das construções identitárias
que são elucidadas de forma a considerarmos o ato de caminhar. As ideias de
considerar a PSR como uma classe desorganizada enquanto estrutura social
também é colocada nesta discussão a fim de entender seu processo de
identidade sociocultural.

Resumo Expandido:
Quando se aborda a temática de população de rua, sempre se discute o
assunto a partir de um ponto que não traduz a real situação. Quer pela a
relação da População em Situação de Rua e o Estado ou a mídia, ou pela sua
condição econômica, um dos fatores que se considera preponderante para a
imposição e aceitação da sua condição. Entretanto, o viés de análise
partindo do indivíduo, entendendo a sua condição de morador de rua enquanto
uma representação do meio social, se apresenta como elemento crucial de
discussão e compreensão dentro da esfera pública como um todo.
O que se propõe, de início, é observar o sujeito e colocar a questão
do morar na rua como algo secundário, definindo como uma persona, uma
característica na composição pessoal do indivíduo. Para isto, é necessário
expor as outras faces que este também possui, mas são reduzidas pela sua
condição de homeless, desprovido de ambiente de repouso particular[1].
Desconstruindo a ideia de classes estruturadas sobre conceitos
econômicos, Bourdieu aponta também que em determinados grupos, existem
estímulos colocados sobre características em comum, que seriam suficientes
para criar uma classe (BOURDIEU, 1989).
Porém, alguns elementos necessários para a estruturação do pensamento
de classe, ainda se colocam facultativos. A mobilização e o reconhecimento,
que seriam esses elementos essenciais para a elaboração do pensamento,
ainda não estariam presentes.
Ao colocar a População em Situação de Rua enquanto classe provável,
porém desmobilizada, poder-se-ia colocar a PSR como um corpo social
desorganizado, mas que constitui a construção de um discurso semelhante,
sendo este o elemento de associação entre os agentes. Pode-se assim,
definir estes indivíduos que constituem esta possível classe, enquanto
condicionados e definidos como moradores de rua, a formação de uma fachada,
um mecanismo usado como ação conjunta do grupo perante a sociedade. Seria,
como define Goffman a utilização do equipamento expressivo, aplicado aqui
de maneira associada (GOFFMAN, 1985). Para a realização da fachada de forma
eficaz, o autor aponta para dois elementos simbólicos que devem condizer
com a representação: O cenário e a maneira. O cenário, neste caso, se
engendra como o ambiente urbano, a cidade. As ações dos agentes sociais
acontecem dentro desta esfera simbólica, onde se emitem discursos e são
realizadas ações que contribuem para a manutenção e o fortalecimento da
fachada. Como elementos constitutivos deste cenário, podemos colocar as
condições da rua, a estrutura da cidade – o plano urbanístico como um todo
(prédios, casas, praças, vias) –, as relações tecidas pelos indivíduos para
além de sua condição – relações referentes ao trabalho, relações
familiares, relações sociais e políticas.
Com relação a definição da maneira, ou do modo de agir deste
indivíduo, Goffman postula acerca de uma outra vertente da fachada. A
fachada pessoal, como postulo ao autor, se coloca não só como elemento que
compõe a fachada social, mas também como essencial para a constituição e
construção da maneira de agir do indivíduo (GOFFMAN, 1985).
Parte do que constrói a personalidade do indivíduo está presente na
fachada pessoal. Logo, as definições adotadas para caracterização de um
indivíduo que reside em logradouro público em sua maioria, partem da
fachada social (grupo) para social (morador).
Esta maneira descrita, que se refere ao modo de atuação social deste
agente, é um dos elementos que fazem parte da afirmação dos níveis de
fachadas existentes e aqui analisadas. Este agir está diretamente
relacionado com a retórica discursiva do indivíduo, principalmente no que
diz respeito ao discurso itinerante e estratificado, definido por Michel de
Certeau como retóricas ambulatórias (CERTEAU, 2014).
Goffman conclui as definições acerca da construção da fachada
definindo o entendimento acerca da realização da "maneira", pelo que se
pode concluir, está relacionada não só ao agir, as ações do indivíduo, mas
também com os aparatos simbólicos que este desfruta para a construção da
sua persona (GOFFMAN, 1985). Estes elementos constituem de forma ampla, a
enunciação do discurso da População de rua, ou talvez, discursos,
entendendo não apenas a enunciação linguística deste dentro do contexto
social, mas também o seu agir, a construção cultural, as ressignificações
feitas por este sobre o espaço, e relacionado a este último paradigma, o
próprio caminhar.
A ferramenta do discurso aqui apresentada de maneira objetiva
(enunciação) e subjetiva (elementos simbólicos e apropriações do espaço)
tem talvez sempre a mesma função, a disputa de poder dentro da ordem
social.

Referências

BOURDIEU, Pierre (1997). Efeitos de Lugar. In: ___________(org.). A miséria
do mundo. Petrópolis, RJ: Vozes. p.159-166.
BOURDIEU, Pierre (1989). O Poder Simbólico. Rio de Janeiro, RJ: Bertrand
Brasil.

CERTEAU, Michel de (2014). A invenção do cotidiano: Artes do fazer.
Petrópolis, RJ: Vozes, p.57-70.
FOUCAULT, Michel (1979). Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Edições
Graal.
GOFFMAN, Erving (1985). Representações. In: _________. A Representação do
Eu Cotidiana. Petrópolis, RJ: Vozes. p. 25-75.
GOFFMAN, Erving (2013). As características da Instituições totais. In:
_________. Manicômios, Prisões e Conventos. São Paulo, SP:
Perspectiva, p. 13-109.

Dados do Autor:
Nome: Lucas Eduardo Dantas
Títulação máxima: Mestrando
Instituição de Origem: PPG Mídia e Cotidiano - UFF
E-mail de contato: [email protected]
GT indicado: Mídia e Democracia: linguagens


Breve biografia
Lucas Eduardo Dantas é mestrando em Mídia e Cotidiano pela Universidade
Federal Fluminense, linha de pesquisa: Linguagens, Representações e
produção de sentido. Possui graduação em Comunicação Social pela
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (2011-2014), com ênfase em
Jornalismo. Atuante nas áreas de Antropologia da comunicação e Comunicação
e Sociedade, nas temáticas de criminalização da pobreza e criminalização da
População em Situação de Rua (PSR).


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[1] Entende-se real função do lar neste quesito, se reduz a mera questão de
proteção do mundo, o local de repouso, ou seja, de descanso da realidade
social que se apresenta porta afora. Podemos colocar a necessidade de
possui residência fixa como um elemento capitalista baseado no 'ter'
implícito na cultura e na ordem social vigente.
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