Resumo Fernando Novais

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CE 105 - Fundamentos da Teoria Econômica
Pâmela Cruz Kinjô RA: 175441
Texto: 'Conversa com Historiadores brasileiros: Fernando Novais'
O entrevistado nasceu no estado de São Paulo, no ano de 1933. Filho de professor e de uma dona de casa, Fernando Novais sempre soube que queria seguir a carreira de seu pai. Formou-se em História pela Universidade de São Paulo, onde trabalhou como professor da cadeira de História Moderna até sua aposentadoria, em 1986. Da USP foi para a Unicamp, onde se instalou no então recém inaugurado Instituto de Economia, onde deu aula sobre História Econômica.
Novais é bem claro quanto sua posição em relação a História e a ciência. Para ele, a disciplina não faz exatamente parte do clube das científicas. É um saber muito mais antigo, contemporâneo com a filosofia e as artes. A História não responde às mesmas demandas que as outras ciências – a disciplina está ligada à necessidade humana de criação de memória. Para ele, tem dois significados: é todo acontecer humano, mas é também a narrativa desses acontecimentos; logo, de acordo com a primeira definição, todas as sociedades têm história. Já de acordo com a segunda nem todas. A demanda que responde a história é a demanda de criação de memória social, uma demanda que data desde os primórdios do homem. As Ciências Sociais, especialmente a Sociologia, tem seu nascimento no século XIX, com Durkheim, Weber e Marx. A Economia vem da Revolução Industrial e suas consequências. São definidas suas áreas de estudo, seu método. Ciência é isso: objeto claramente recortado e um método adequado ao objeto. O quão mais adequado é esse método para o objeto maior cientificidade é dada à pesquisa. O objeto da História é o acontecer humano em qualquer tempo. A impossibilidade, a incapacidade de delimitar esse objeto é o que faz da História, história. Ademais, a disciplina não possui um método próprio. Emprega métodos da economia, da antropologia, da estatística, etc. para auxiliar em sua formulação, mas não são próprios e nem delimitam e/ou amarram seu estudo. Em especial em relação às ciências sociais, é preciso distinguir os objetivos das duas. Enquanto a primeira busca recortar a realidade e a partir desse recorte reconstituir a realidade e chegar a sua explicação; o historiador não recorta, ele sacrifica essa conceptualização para não perder a totalidade da realidade.
Há uma discussão no texto sobre as divergências e possíveis convergências entre o Marxismo e a Revue des Annales, revista francesa sobre História, muitíssimo influente nos debates ao longo do século XX. Fernando defende que, assim como o diálogo entre Marx e Weber, o diálogo entre o Marxismo e os Annales é indispensável, mesmo sendo, ao mesmo tempo, conflituoso e, por vezes, caminharem juntos. Mais adiante, discute-se a crise das utopias. Como seria o mundo sem utopias? Seria ele como o conhecemos hoje? Para o entrevistado, o marxismo, como construção social e como discurso, assim como o movimento socialista, pode ser encarado como uma das derradeiras utopias, que pretendia ser utopia e ser científica, e ainda não cedeu lugar à razão. É de importância maior discutir como seria a sociedade sem utopia antes de considerar como a mesma seria sem história. O marxismo, por ser utopia, por ser incerteza, é uma aposta, assim como é a aposta pascaliana em Deus. Entretanto, a primeira é imanente, pois visa mudar a vida de um, ou da humanidade; já Pascal faz uma aposta transcendente, por apostar no divino, no sagrado.
Voltando ao Brasil, começa o diálogo sobre a questão colonial e seus desdobramentos. Qual o tipo de economia vigente na época, qual o tipo de acumulação empregado, etc. Discute-se também sobre as influências do professor, sobre seus colegas de profissão, como Caio Prado Jr., Celso Furtado, Sérgio Buarque de Holanda, Raimundo Foro, Gilberto Freyre... São todos expoentes do pensamento social brasileiro, defendendo cada um seu ponto de vista. Faoro e Furtado, por exemplo, partem sua análise sobre o Brasil a partir do Estado.
Discute-se muito sobre o tipo de economia – a economia colonial era única: não era capitalista, feudal ou escravista. Tinha características próprias. O modo de produção colonial tinha três principais características: produção mercantil dominante, compulsão do trabalho e externalidade da acumulação (o que não significa que toda acumulação seja fora). O professor distingue também o escravismo antigo do moderno, ressaltando a questão da raça, do tempo e do lugar. Além disso, na economia escravista colonial, o escravismo tem seu desenvolvimento na periferia, e por lá fica – ou seja, não alcança o centro. Já em Roma, o que era observado era que do centro partia para as regiões periféricas o escravismo.
Novais fala um pouco também sobre a Independência do Brasil e sobre as diferenças entre as leituras tradicionais de historiadores portugueses e brasileiros sobre o ocorrido. A Independência foi uma tentativa dos locais ficarem com a parte maior do excedente. O drama brasileiro era a diferenciação desses 'locais' – não queriam se associar ao colonizado (negros e índios) mas também não queriam fazer parte dos colonizadores (portugueses).
Como diz F. Novais, "(...) a minha formulação é que a Independência significou negar a colonização e ao mesmo tempo reivindicá-la. O Brasil é sim produto de Portugal, mas para se constituir como tal teve que se separar e negar Portugal. Essas duas coisas têm de ser analisadas conjuntamente, para entender o que vem depois" (NOVAIS, p. 140).

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