Resumo sobre a aquisição de linguagem no Behaviorismo e Gerativismo

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Behaviorismo e Gerativismo: resumo sobre a aquisição de linguagem. 1. Introdução

Falar da fala é um paradoxo necessário no estudo na linguística (e principalmente da psicolinguística). Afinal, como alguém consegue aprender ou desenvolver a fala? Nosso grupo decidiu viajar sobre as três principais perspectivas de aquisição da língua humana (Behaviorismo, interacionismo e gerativismo) e analisar pontos fortes e fracos de cada uma delas. Também, ao fim, diremos nossas impressões sobre qual teoria nos chamou mais atenção e o porquê disso.

2. Behaviorismo:

Como o nome sugere, o behaviorismo vai tratar todo o aprendizado humano como “comportamento” (behavior)1. Portanto, o behaviorismo não traz consigo uma teoria de aquisição propriamente dita, mas sim a “coisa como ela é”. Essa teoria tem alguns nomes famosos como John B. Watson e Bloomfield, mas, sem dúvidas, é em Burrhus Frederick Skinner que esta teoria encontra o seu maior defensor. De acordo com a teoria behaviorista, a Psicologia deve se ocupar do comportamento observável das pessoas e dos animais, não com eventos internalizados que ocorrem na mente e que não podem ser observados. Diferentemente das outras teorias, o behaviorismo trata dos comportamentos, pois estes podem ser descritos cientificamente sem que se recorra a eventos internos fisiológicos ou a construtos hipotéticos tais como pensamentos e crenças. Assim, tendo por pressuposto teórico uma investigação empírica da língua, o behaviorismo (e mais especificamente Skinner) vai tratar a aquisição de uma língua numa relação exclusiva com o ambiente em torno do ser humano aspirante a fala. Para todos os atos humanos (inclusive para a fala), Skinner fala em “estímulo – resposta –

De acordo com Bock; Furtado; Teixeira (1999, p. 44-45), “hoje, não se entende comportamento como uma ação isolada de um sujeito, mas, sim, como uma interação entre aquilo que o sujeito faz e o ambiente onde o seu „fazer‟ acontece. Portanto, o Behaviorismo dedica-se ao estudo das interações entre o indivíduo e o ambiente, entre as ações do indivíduo (suas respostas) e o ambiente (as estimulações).” 1

reforço”, onde uma atitude é estimulada e reforçada mediante a resposta, criando uma espécie de hábito. Assim se dá a aprendizagem para um behaviorista: criando-se um hábito. Quando falamos em estímulos, devemos ter em mente que há a possibilidade de estímulos positivos (tais como bater palmas, abraçar, dar algo em troca de um comportamento desejado), de estímulos negativos (como a retirada de algo que causa desconforto quando um comportamento desejado é alcançado), além da punição (uma consequência ruim por um comportamento indesejado) 2. O discurso behaviorista se aproxima muito daquele que é usado com animais em adestramentos e é exatamente dali que esta teoria vem. Os primeiros experimentos de Skinner vêm do mundo animal. Dadas as proporções, não há diferença entre o comportamento humano e o animal, por exemplo. Eis aí um ponto nevrálgico na análise do behaviorismo: humanos funcionam como animais.

2.1 Aquisição de língua

Em termos diretos, a aquisição de língua de uma criança se dá mediante a experiência que a criança tem com a língua. Variáveis múltiplas se encaixam aqui, como, por exemplo, a quantidade de material linguístico com o qual a criança está exposta, a qualidade desse material, o reforço recebido, etc. Nesse sentido, podemos falar em um input linguístico (dados de entrada que contém Estímulo – evento que afeta os sentidos do aprendiz; Reforço – evento que resulta no aumento da probabilidade da ocorrência de um ato que imediatamente o precedeu; etc.) e num output linguístico (dados de saída que o aprendiz dá, ou seja, as respostas aos estímulos que o aprendiz produz).3 De acordo com Schulz (2011, p. 362), “para Skinner, os seres humanos são „organismos vazios‟, termo com o qual sugeria que não há nada dentro de nós que possa ser invocado para explicar o comportamento em termos científicos”. A criança, portanto, nasce vazia, sem nenhuma predisposição ou material linguístico para a fala e, assim, na sua interação, na quantidade, na qualidade e no reforço do input vai tornar a produção output cada vez mais avançado. Em resumo, quando uma criança começa a imitar 2

Bock; Furtado; Teixeira (1999, pp. 49-53). É importante relembrar que o caminho que esse input faz dentro da mente humana é ignorado pelos behavioristas. Apenas o observável, empírico e comportamental é analisado. 3

os sons que a rodeia e as pessoas ao redor começam a sorrir, comemorar e incentivar ela a que faça mais aquilo, aí está o reforço de um output que, por conseguinte, é um reflexo do input que é o próprio contato com esses sons. As crianças aproximam-se de um comportamento linguístico desejável e, por meio de reforços, elas vão atingindo um nível desejado de língua. Skinner sugeriu que é dessa maneira que as crianças aprendem o comportamento complexo da fala. Os bebês emitem sons espontâneos e desprovidos de sentido, que os pais reforçam ao sorrir, rir e conversar. Depois de um certo tempo, os pais reforçam esse balbucio de formas distintas, fornecendo reforçadores maiores para sons que se aproximam de palavras. Com a continuação do processo, o reforçamento dos pais torna-se mais restrito, fornecido apenas quando do uso e da pronúncia adequados. Portanto, o comportamento complexo de aquisição do domínio da linguagem é modelado por meio de reforçamento diferencial em estágios. (SCHULZ, 2011, p.371)

Alguns outros tipos de estímulos, como a nomeação de um objeto sempre que este estiver no ambiente (bem como a repetição desse nome), são fundamentais para que a criança aprenda o significado das coisas. É importante salientar que o estudo dos significados das palavras é algo deixado de lado pelos behavioristas por causa de suas prerrogativas teóricas que não admitem estudos sobre coisas inobserváveis como um conceito mais abstrato de palavras. Uma ênfase muito grande é dada à repetição para a aprendizagem, o que causa uma crítica muito forte de outras teorias para com o behaviorismo por este não tratar da capacidade que o ser humano tem de entender enunciados completamente novos. Se tudo é imitação, onde fica a criatividade linguística de uma pessoa que pode criar um enunciado totalmente novo sem nunca tê-lo ouvido antes? Os behavioristas não respondem essas críticas pelo mesmo fato de sempre: as coisas da mente não passam de teorias e, como diz o próprio Skinner: “Não se pode chegar a resultados, ficando sentados e teorizando sobre o mundo interior. Quero dizer a estas pessoas: atenham-se aos fatos!”4

3. Gerativismo

O Gerativismo tem como principal teórico Noam Chomsky, professor de linguística no MIT (Massachusetts Institute of Technology). Algo importante a ser frisado é

4

Skinner citado em Schultz (2011, p. 362)

que Chomsky era um teórico, ou seja, não fazia pesquisas empíricas 5. Mais especificamente falando, Noam era um sintaticista e seus estudos apontam para a teoria de que a linguagem no ser humano é algo inato e faz parte de uma Gramática Universal. Em súmula, essa teoria fala em uma linguagem inata, ou seja, que as partes cruciais da habilidade humana para a linguagem já estão sedimentadas no cérebro no nascimento da criança, isto é, são partes de nossa biologia, geneticamente programadas. Com isso, não se quer dizer que o ambiente não é importante, como bem salienta Quadros; Finger (2007, p. 36): Nessa perspectiva, isso não quer dizer que o ambiente seja irrelevante. Na verdade, o ambiente determina a direção que a criança vai tomar em relação à língua a qual é exposta. A metáfora behaviorista de que a criança é uma tábula rasa, que nasce sem qualquer tipo de conhecimento prévio, estaria completamente equivocada. Nessa visão, a metáfora utilizada poderia ser outra, como na comparação da criança a uma flor, que vai precisar de condições para se desenvolver.

3.1 Aquisição da língua

De acordo com essa teoria, a aquisição da língua não se dá só pelo imitar dos adultos. Diz Simas (2015, p. 13) que tal hipótese disserta ainda, que as produções das crianças não são simples imitações de adultos, pois existem produções que não se verificam na fala dos adultos, por isso são originais. Portanto, defende-se que as crianças possuem suas próprias regras de fala, mas com o convívio com os adultos vão moldando sua fala às regras deles.

Chomsky entende língua como “um sistema de regras que une sinais fonéticos às interpretações semânticas” 6. Para adquirir esse sistema, o ser humano possui um “dispositivo de aquisição de língua” (DAL) que “vem de fábrica”. Esse DAL formula uma série de Gramáticas hipotéticas (a partir do input linguístico que vem das pessoas mais próximas da criança), até chegar numa gramática parecidíssima a do adulto, o chamado estado final. O DAL funcionaria da seguinte maneira: primeiramente, formulam-se várias hipóteses sobre a gramática da língua à qual a criança está exposta; depois, verifica-se se tais hipóteses se encaixam na gramática da língua; então, analisam-se os resultados e, se 5

Com isso, não queremos afirmar que não haja pesquisas no gerativismo, mas que Noam Chomsky não as faz, ou seja, outros teóricos aplicam suas teorias e metodologias. Com isso, apontamos para o famoso pêndulo das relações humanas: quando, de um lado, temos um extremo (behaviorismo trata apenas do desempenho de uma língua, i.e., de uma língua externa), o próximo movimento tende a ser o extremo oposto (gerativismo vai tratar apenas da competência, ou seja, de uma língua interna). 6

Chomsky, citado em Simas (2015, p. 14).

há a correspondência de tal hipótese com a língua, continua-se com elas; se não há a correspondência, formula-se outras hipóteses. Assim, segundo a teoria gerativista, o ser humano possui um dispositivo separado para língua, o que, segundo Correa (1999, pp.341-342) faz todo o sentido, tendo em vista as pesquisas no campo cognitivo que mostram vários casos de pessoas com deficiências cognitivas profundas, de origem genética ou congênita, que mantêm sua capacidade linguística preservada (e vice-versa, i.e., pessoas com deficiência linguística, mas sem reflexos significativos na cognição). O fato de esse dispositivo ser universal se comprova, segundo os gerativistas, no fato de que todo o desenvolvimento típico de uma criança para com a aquisição de linguagem se dá de forma mais ou menos igual. As crianças, em um desenvolvimento típico, balbuciam por volta dos oito meses de idade, produzem as primeiras palavras entre o primeiro e o segundo ano de vida, fazem as primeiras combinações de palavras já antes do início do segundo ano e, por volta do terceiro ano, já produzem sentenças estruturadas. (QUADROS; FINGER, 2007, p. 34) A aquisição de língua não baseada apenas no exterior (como a teoria behaviorista era) auxilia no entendimento da criatividade linguística. De acordo com Quadros; Finger (2007, p. 25), com essa teoria fica evidente que "o ser humano possui uma capacidade criativa para, a partir de alguns elementos restritos, expressar e compreender cadeias de forma irrestrita”. Em outras palavras, aqui entra o conceito de “pobreza de estímulos”, que diz que com um mínimo de input linguístico, as crianças conseguem formular a gramática básica e, a partir dela, criar inúmeros enunciados totalmente novos. De acordo com Quadros; Finger (2007, p. 34), as crianças usam palavras novas de forma apropriada, embora muitas vezes nunca as tenham ouvido antes e entendem sentenças que nunca escutaram/visualizaram. Enfim, elas adquirem tão rapidamente as palavras e as suas possíveis formas de combinações, que não há como deixar de pressupor a existência de algum tipo de conhecimento inato que propicie o desenvolvimento da linguagem. A criança adquire a linguagem sem nenhum tipo de esforço, sem instrução explícita, com evidência positiva (isto é, sem correções, em diferentes contextos sociais), em pouco tempo e da mesma forma em diferentes línguas, ou seja, todas as crianças parecem passar pelos mesmos estágios de aquisição. Para explicar tudo isso, torna-se necessária a concepção de que existe algum tipo de conhecimento que faz parte da natureza humana, o conhecimento lingüístico.

As regras que a criança adquire, de acordo com a perspectiva gerativista, têm a ver com estruturas profundas das frases. Chomsky admite haver inúmeras diferenças

entre as línguas, mas que numa análise profunda, as línguas têm estruturas universais. Um exemplo prático é a conhecida “árvore sintática de Chomsky”, diagrama que busca analisar a estrutura profunda dos enunciados. No fim das contas, todas as línguas demonstram ter um Sintagma Nominal (SN) e um Sintagma Verbal (SV) para constituir uma sentença. Também isso é uma herança genética, visto que está presente em todas as línguas conhecidas. Portanto, a teoria gerativista tende a olhar para a língua como uma coisa inata, que depende um pouco do ambiente, mas que tem a sua essencialidade já presente na mente do ser humano. É algo próprio do ser humano (i.e., nenhum animal consegue aprender a linguagem humana) e configura numa estrutura cerebral específica, ligada com outros sistemas cognitivos cerebrais, mas independente. A aquisição se dá pelas formulações de hipóteses do DAL que têm conexões importantes com o input externo. Há, então, uma Gramática Universal e uma Estrutura Sintática Profunda comum em todas as línguas. Poderíamos elencar alguns pontos fracos nessa teoria, como, por exemplo, o fato de que a criança recebe bastante estímulo das pessoas em volta que repetem inúmeras vezes palavras e enunciados. Além disso, poucas pesquisas empíricas foram feitas pelo próprio Chomsky, o que acaba por tornar sua teoria não muito pragmática (não em seu sentido linguístico). Também, a questão das metáforas na língua se torna um pouco complexas no gerativismo: o mapeamento entre um campo mais concreto que busca explicar um campo mais abstrato, na língua, parece refletir a própria cognição como um todo. Se a língua é um dispositivo separado da cognição e há esse mapeamento, a relação entre as duas faculdades, ou, campos cognitivos deveria ser muito mais forte do que uma mera conexão primária.

Obras citadas BOCK, Ana M. Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes T. Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia. 13ª edição. Saraiva: São Paulo – SP, 1999. SCHULTZ, Ellen; SCHULTZ, Don E. Teorias da personalidade. São Paulo: Cengage Learning, 2011. SIMAS, Fábio M. As grandes teorias linguísticas: revisão teórica. Revista Transdisciplinar Logos e Veritas, Cabo Frio – RJ, Vol. 02, nº 06, 2015, pp. 12-30.

CORREA, Letícia M. S. Aquisição Da Linguagem: Uma Retrospectiva Dos Últimos Trinta Anos. D.E.L.T.A., São Paulo – SP, Vol. 15, N.º ESPECIAL, 1999. (339-383) QUADROS, Ronice M.; FINGER, Ingrid. (Orgs.) Teorias de Aquisição da Linguagem. Florianópolis: Editora da UFSC, 2007.

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