Resumos de dissertações defendidas em 2009 no Mestrado em Filosofia da UFG

June 14, 2017 | Autor: Revista Inquietude | Categoria: Mestrado, Faculdade De Filosofia Da UFG
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Resumos Dissertações defendidas em 2009 no Mestrado em Filosofia da UFG

A pluralidade humana: condição e meta da política no pensamento de Hannah Arendt Cícero Josinaldo da Silva Oliveira O objetivo desta dissertação é considerar os três movimentos teóricos que a meu ver articulam o pensamento político de Hannah Arendt, de seu “achado” inicial a seu mais ulterior desdobramento. Nesse sentido, considero que o conceito arendtiano de pluralidade humana percorre três importantes momentos em virtude dos quais pôde se tornar o eixo dos escritos políticos dessa autora. Estes momentos são: a desconstrução histórico-ideológica da antipluralidade (manifestada na dominação totalitária e na nossa tradição do pensamento político); a explicitação do caráter factual da pluralidade como condição humana que se manifesta na ação e, por fim, a argumentação de que a organização política é o ordenamento privilegiado para a afirmação da pluralidade, na medida em que a esfera pública (como mostra o fenômeno político grego) é o espaço correlato da ação.

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A co-pertinência entre ser e homem no pensamento de Heidegger: em busca da unidade esquecida Daniel Rodrigues Ramos Discute-se nesta dissertação, ao modo de uma reflexão fenomenológica, a co-pertinência (Zusammengehörigkeit) entre Ser e homem. Trata-se de um conceito que aparece explicitamente no pensamento fenomenológico de Martin Heidegger, sobretudo, a partir dos anos 30, quando o pensamento heideggeriano interroga o sentidodo da Verdade segundo a história do Ser, isto é, como Ereignis. A reflexão, entretanto, parte do pressuposto de que a co-pertinência é uma noção presente no pensamento de Heidegger desde o desenvolvimento fundamental-ontológico da questão do Ser, representado principalmente pela obra capital de 1927, Sein und Zeit. Por essa razão, a reflexão principia discutindo a unidade do itinerário de pensamento de Heidegger, mostrando que a viragem (Kehre) dos anos 30 é responsável por uma transformação que instaura a mesma questão do Ser em um âmbito mais originário que aquele de Sein und Zeit. Admitindo desde o início que a co-pertinência traduz a mútua referência entre Ser e homem, advinda da unidade primordial, em dependência da qual ambos realizam historicamente sua essência, e não uma relação secundária e posterior entre dois pólos subsistentes em si, a discussão prossegue explicitando as estruturas da existência humana, pelas quais a co-pertinência é abordada nos diferentes níveis de elaboração da questão do Ser. Nesse sentido, o esforço central da dissertação se resume em circunscrever a ambiência espaço-temporal da mútua referência. Primeiramente, privilegiam-se as análises do projeto compreensivo-interpretativo da existência humana e da linguagem, conforme Sein und Zeit. Depois, conforme os Beiträge zur Philosophie, a mesma ambiência é circunscrita tendo em vista a fundação do Dasein como a dimensão intermediária entre homem e Ser, por ser a instância de suportabilidade do acontecimento da Verdade. Ao final, o projetar-se da existência humana se desvela como um lance do Ser, de tal maneira que o movimento de realização da Essência do Ser se mostra como sendo o mesmo da consumação da existência histórica Inquietude, Goiânia, vol. 1, n° 1, jan/jul - 2010.

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dos homens. Assim, o acontecer da Verdade, pelo qual o Ser se dá como fundamento abissal, conjuga-se com o acontecer histórico da existência humana, conferindo a ela, em virtude da abissalidade de seu fundamento, um movimento unitário de abrir e de velar o mistério do Ser. Sendo essa conjunção a manifestação do espaço e tempo originários, o existir humano aparece como a instauração do espaço-temporal do abismo do Ser, sempre em consonância com uma possibilidade histórica. Desse modo, a co-pertinência aparece como um envio histórico, na forma de uma interpelação que o Ser dirige ao homem, mas que se consuma à medida que o homem responde, ou seja, responsabiliza-se pela destinação de sua existência segundo os apelos do Ser. Assim, o pensamento, compreendido como uma faculdade humana durante toda a história da metafísica é reconduzido a sua essência: aquilo pelo qual o homem corresponde aos apelos históricos do Ser. Pensar consuma a íntima referência do homem ao Ser e, portanto, é o modo privilegiado de pôr em obra a existência humana em unidade com o Ser. Pelo pensamento, porém, o homem tem se compreendido separado e diante do Ser. Por isso, a reflexão desta dissertação é um caminho em busca da unidade esquecida entre homem e Ser.

O conceito de ação no pensamento filosófico e político de Hannah Arendt Diego Avelino de Moraes Proponho com esta dissertação abordar o conceito de ação e, consequentemente, de poder em Hannah Arendt, e como estas duas categorias comportam o fundamento para a constituição de um espaço público genuíno, onde reina a liberdade, consequentemente, a política. Pretendo dividi-la em três partes gerais, contendo subpartes necessárias, didaticamente, à sua composição. Na primeira parte, trato da diferenciação arendtiana para as três categorias centrais no seu entendimento da modernidade: o trabalho, a fabricação e a ação. O ponto nevrálgico de www.inquietude.org

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discussão se situa em torno à ação, em sua esfera ‘subjetiva’, vista como manifestação pré-política, bem como a forma com que a ação pari passu ao discurso se configura nas relações humanas, passando para o terreno ‘intersubjetivo’. Na segunda parte discorro sobre o curso da ação no decorrer da história da humanidade, situando suas diversas interpretações, distorções e refutações ao longo dos principais eventos e épocas históricas. Por fim, a terceira parte tem como meta analisar o redimensionamento que o conceito de ação sofreu na modernidade tardia, sobretudo após as revoluções, em especial a francesa e a americana, apontando para um novo horizonte político.

Uma avaliação da estrutura de tipos presente na terceira seção da Begriffsschrift, à luz do cálculo lambda Hiury Duarte Corrêa O tema da nossa dissertação é a idéia de que, por trás da idiossincrática notação lógica utilizada por Frege, podemos encontrar a noção de abstração como componente fundamental de sua Begriffsschrift. Tal posição vai contra a concepção ordinária como, por exemplo, a que encontramos na introdução de Van Heijenoort àquela obra. Ela contraria, também, a rejeição de Frege à possibilidade de se referir a entidades insaturadas. Argumentamos que a noção de abstração aparece tanto como parte das posições filosóficas de Frege – como, por exemplo, a idéia de que a quantificação é uma predicação de segunda ordem – como, também, de sua prática lógica.

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de causalidade em Hume. Faz-se primeiramente uma consideração histórica sobre como tal conceito foi tratado por filósofos anteriores e que de alguma forma o moldaram até que chegasse a Hume. Analiso então a contribuição do empirista inglês ao assunto, até o controverso momento onde ele introduz a idéia de conexão necessária. A parte final do trabalho é dedicada ao estudo das principais correntes interpretativas que tentam lançar luz à verdadeira opinião de Hume acerca da conexão necessária e das implicações de tal opinião para sua teoria.

A relação entre a teoria física e o desejona filosofia política de Hobbes Maria de Lourdes Silva O objetivo deste trabalho é mostrar a relação entre a teoria física e a teoria política no pensamento de Thomas Hobbes. A aproximação entre essas teorias é possível porque Hobbes não distinguiu o modo como os corpos físicos e os homens se movem: todo corpo se move em decorrência da ação de outro corpo. Ao sofrer a ação, o corpo reage e aparecem no seu interior princípios de movimentos ou conatus, mas que podem se manifestar por um movimento externo, determinando, inclusive, a sua direção. E o conatus proveniente da reação no homem aparece sob a forma de sentimento: desejo ou aversão. Os conatus ― desejo e aversão ― desencadeiam todas as outras paixões: o medo, a coragem, a esperança, o desespero, etc. Entretanto, são os conatus ― desejos e medos ― que cumprem a função de determinar as escolhas e o comportamento dos homens. Dada a força dessas paixões, cabe ao Estado exercer o tremendo poder que Hobbes atribui ao soberano. Esta dissertação tenta tornar claras essas relações.

A força oculta: um estudo sobre a causalidade em Hume Ian Nascimento Ferreira O objetivo desta dissertação é acompanhar a discussão sobre o conceito Inquietude, Goiânia, vol. 1, n° 1, jan/jul - 2010.

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Immanuel Kant e a construção contemporânea da paz perpétua Patrick de Almeida Vieira No presente trabalho, tentaremos examinar a teorização de um sistema federativo mundial idealizado pelo filósofo alemão Immanuel Kant. Dentro do diapasão kantiano, investigar-se-á a solução encontrada para o problema da convivência entre uma miríade de Estados com diversos interesses conflitantes. Kant desenvolvera uma filosofia da história que previa uma constante evolução da convivência baseada no uso da razão o que, por sua vez, afiançava a expectativa de que a resolução pacífica dos conflitos era filosoficamente factível através da criação de um organismo federativo que mediasse os conflitos existentes. O trabalho se concentra no entendimento das ideias kantianas contidas no opúsculo À paz perpétua – um projeto filosófico. Para o pensador alemão, a pretensa paz perpétua é uma situação limite ou ainda um objetivo a ser perseguido pelos diversos Estados devido a uma disposição para o progresso que conduz a uma realização de um pretenso sumo bem político. Pretende-se avaliar o peso das ideias kantianas para a democracia liberal contemporânea e o atual debate acerca dos direitos humanos dentro desses mesmos Estados liberais. Aduz-se que Kant ainda tem o que falar para as atuais democracias liberais no intuito de encaminhar soluções para as tensões políticas que avolumam no horizonte do século.

Heidegger e o problema das noções de ‘sujeito’ e ‘mundo’ em confronto com o problema da realidade em Ser e tempo Paula Roberta de Castro Primeiramente, nosso objetivo é abordar porque Heidegger se preocupa com a questão do sentido do ser e o que significa seu projeto da ontologia fundamental em Ser e tempo. Para isso, tomamos como referência o problema da metafísica sobre a questão “o que é o ente?” e como esse Inquietude, Goiânia, vol. 1, n° 1, jan/jul - 2010.

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assunto foi, para Heidegger, mal resolvido e até mesmo esquecido. Os problemas que Heidegger encontra na tradição se devem tanto pela falta de questionamento do ser e pela falta da diferença ontológica como pela adaptação e deturpação de conceitos dados como certos. Neste sentido, as ideias de Descartes foram exploradas sob a perspectiva de Heidegger, no que diz respeito à herança irrefletida do conceito de substância para fundamentar aquilo que ele indica como res cogitans e res extensa. Nosso propósito principal é mostrar como Heidegger compreende ser equivocada a posição de Descartes e o que ele oferece como alternativa ao modo de compreensão dos conceitos de sujeito e mundo na modernidade. Para isso, buscamos explicar alguns conceitos de Heidegger, como ser-no-mundo e mundanidade, para esclarecer em que sentido Heidegger defende que está equivocada a concepção de sujeito e mundo como seres simplesmente dados. Selecionamos, nas discussões para objeção, o tema da natureza e da história, segundo a perspectiva de Dostal, como uma relação que possibilita questionar o ser da natureza. Busca-se neste tópico analisar até que ponto o Dasein poderia ou não “mundanizar” a natureza. Isso levanta uma discussão sobre a dependência ou não da realidade da natureza em relação ao Dasein. Expomos também uma questão sobre a possibilidade do Dasein, na hermenêutica do questionamento sob um suposto círculo vicioso, estar no mesmo modo de ser próprio de um ego. Essa abordagem é feita a partir do ponto de vista de Ricoeur, que afirma haver uma aproximação de Heidegger a esta postura tipicamente moderna quando a questão faz uma “referência retrospectiva e antecipante” do ser ao homem. Retomamos, nas considerações finais, a visão de Heidegger sobre a questão da realidade como algo independente ou não do Dasein. Mesmo levando em conta a dependência da compreensão e do sentido do ser com a existência do Dasein, Heidegger não está de acordo com um idealismo ou relativismo. Nesse sentido, veremos como é importante o resultado da interpretação do ser do Dasein e da mundanidade, para compreender a posição de Heidegger acerca do problema da realidade. Assim como, de que forma o pensamento idealista ou relativista seria fruto dos princípios que se toma para estabelecer o que o sujeito e mundo são para o ponto de vista da modernidade.

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O que estamos fazendo? Da atualidade de A condição humana, de Hannah Arendt Paulo Ricardo Gontijo Loyola A presente dissertação tem como objetivo refletir sobre a atualidade à luz dos conceitos apresentados por Hannah Arendt em A condição humana, obra que define o homem como ser condicionado e examina as categorias da vida ativa – trabalho, fabricação e ação – e sua localização no mundo. Meio século após o lançamento do livro, a reflexão empreendida por Arendt continua atual e inspiradora. No nosso tempo, consumo, tecnologia e ecologia transformaram o mundo e tornou mais complexa a sociedade. Esta, descrita por Arendt como esfera subjetiva da existência, que invade tanto a esfera pública quanto a privada, absorveu todos os grupos sociais e sufoca hoje a espontaneidade do agir humano, deixando como única liberdade possível a liberdade de escolher o que consumir. A ecologia, que só entrou na pauta de discussões mundiais nos últimos quarenta anos, tem o potencial de alterar os parâmetros da economia de desperdício denunciada por Arendt, mas tende a restringir suas preocupações ao âmbito da necessidade e a ampliar a rede de exigências sociais. O homem, cada vez mais afastado do senso comum, aprofundou a fuga para dentro de si mesmo, auxiliado pelo progresso técnico-científico da humanidade. Esse processo não representa apenas o afastamento do mundo, mas também o esquecimento do corpo, pois para fugir do mundo o homem precisou depreciar a percepção direta dos objetos pelos sentidos, percepção por meio da qual o corpo interage com o ambiente. Paradoxalmente, ao interiorizar-se o homem passou a metabolizar o mundo. A cultura, como parte deste, passou a ser consumida na forma de entretenimento, o que só se tornou possível em razão dos avanços tecnológicos que fizeram deslanchar os meios de comunicação de massa após o advento do cinema. A culminância disso é a realidade virtual, que exprime bem o sonho da fuga para um mundo criado pelo próprio homem. O indivíduo, acuado pela onipresença da sociedade, parece dispor apenas de duas opções: adequar-se ao código de valores sociais, tornandoInquietude, Goiânia, vol. 1, n° 1, jan/jul - 2010.

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se visível apenas na qualidade de consumidor, ou esquivar-se do olhar alheio, buscando a invisibilidade da vida privada. Em ambos os casos, deixa de aparecer ao mundo em sua singularidade propriamente humana. A substituição da objetividade do mundo pela subjetividade desestimula a compreensão, ocultando assim o sentido daquilo que se faz. Ciência e tecnologia vêm apagando as longevas fronteiras entre natureza, mundo e mente, as quais propiciavam parâmetros duráveis à existência humana. Mais que construir o mundo, o homem reconstrói-se. A obra de Arendt, particularmente o arcabouço conceitual de A condição humana, convida à reflexão sobre o sentido das atividades humanas, algo de inestimável importância neste início de século.

Estado e economia em Marx Renan Gonçalves Rocha A relação entre economia e Estado foi analisada pelo filósofo francês Louis Althusser. Na perspectiva de Althusser, o Estado capitalista nada mais é do que uma superestrutura determinada unidirecionalmente pela economia, uma vez que, na relação entre Estado e economia no capitalismo, ocorre a “determinação em última instância pela base econômica” (Althusser). Althusser considera que, a concepção de que a economia determina o Estado, torna mais evidente e explana melhor a análise de Karl Marx. Essa posição de Louis Althusser suscita, no mínimo, duas questões importantes: há de fato uma determinação unidirecional da economia moderna sobre o Estado capitalista no pensamento do filósofo alemão Karl Marx? É, de fato, para Marx, a economia a única categoria que compõe a base do sistema capitalista, como supõe a leitura de Louis Althusser sobre Marx? No esforço de resolver essas questões, é necessário investigar a base teórica da qual partiu Althusser, ou seja, os escritos do próprio Marx. Só assim será possível identificar em que sentido Althusser contribuiu ou não ao propor sua formulação acerca da relação – que ele pensa ser a determinação unidirecional – entre economia e Estado em Marx. www.inquietude.org

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A arqueologia e a clínica em Michel Foucault: uma história Sandro Henrique Ribeiro

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relação à natureza da lógica e da matemática, teses essas que continuarão baseadas na noção, um tanto enfraquecida, de “objeto abstrato”.

Este trabalho parte da Archéologie du savoir e mostra a base construtiva da análise arqueológica de Michel Foucault, que privilegia o registro dos acontecimentos em sua abertura e apresenta uma história das ideias. Tal como um arqueólogo, Foucault escava o solo de um conhecimento e coloca em evidência as camadas que nele se sedimentaram. Assim, evitando o relato de uma epistemologia convencional que busca fundamentação nos moldes racionais, o filósofo elege e determina os objetos importantes na composição de uma área do saber.

A noção fregiana de objeto abstrato e a crítica ao psicologismo Vinicius Rodrigues Maione O propósito desta dissertação é expor a crítica de Gottlob Frege ao psicologismo. Nossa hipótese de trabalho é a de que essa crítica está fundamentada na noção fregiana de “objeto abstrato”. Para investigar essa hipótese, contrastaremos a fase pré-paradoxo da filosofia fregiana com a fase pós-paradoxo. Nosso objetivo será mostrar a continuidade entre essas duas fases, através da manutenção, ainda que enfraquecida, da noção de “objeto abstrato”. Nossa exposição consistirá em três capítulos. No primeiro capítulo, faremos uma caracterização breve do psicologismo, com a finalidade de se estabelecer acerca do quê as críticas fregianas incidiram. No segundo capítulo, caracterizaremos a noção de “objeto abstrato” na fase pré-paradoxo da filosofia fregiana e sua relação com o que foi o principal projeto filosófico de Frege: a definição de número baseada em fundamentos lógicos. Finalmente, no terceiro capítulo, mostraremos como, mesmo sem possuir um método logicamente inatacável para introdução dos objetos abstratos em virtude do paradoxo de Russell, o filósofo não abandona, na fase pós-paradoxo, suas teses principais em Inquietude, Goiânia, vol. 1, n° 1, jan/jul - 2010.

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