Resveratrol na qualidade pós-colheita de morangos “camarosa”

June 1, 2017 | Autor: Valdecir Ferri | Categoria: Weight Loss, Polyethylene, Relative Humidity, Ascorbic Acid, Total Soluble Solids, Titratable acidity
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RESVERATROL NA QUALIDADE PÓS-COLHEITA DE MORANGOS “CAMAROSA” RESVERATROL IN THE QUALITY OF STRAWBERRIES ‘CAMAROSA ' POSTHARVEST Cristiane Brauer Zaicovski1; Casiane Salete Tibola2; Marcelo Barbosa Malgarim 2; Valdecir Carlos Ferri 3; Camila Pegoraro 4; Joceani Dal Cero 4; Paulo Roberto da Silva4 RESUMO

quality of the strawberries “Camarosa” during eight days, and more three days of simulated sale.

O objetivo do trabalho foi verificar a qualidade pós-colheita de morangos “Camarosa” submetidos à diferentes tratamentos com resveratrol, substância sintetizada pelas plantas e apontada como potente fungicida natural. As frutas acondicionadas em embalagens de polietileno expandido, contendo 15 unidades, foram submetidas a -1 quatro tratamentos com resveratrol: 0, 2.000, 4.000 e 6.000 mg L por aspersão com quatro repetições. Posteriormente, as frutas foram embaladas com filme de polietileno de 7 µm de espessura. O armazenamento foi realizado à temperatura de 0±1°C e 90 a 95% de umidade relativa (UR) durante oito dias, mais três dias de comercialização simulada (CS) à temperatura de 8±1°C e 80 a 85% de UR. Na colheita e após o armazenamento seguido de comercialização avaliaram-se as variáveis: perda de peso (PP), sólidos solúveis totais (SST), acidez total titulável (ATT), relação SST/ATT, cor, ácido ascórbico e ocorrência de podridões. A coloração e o teor de SST não diferiram significativamente entre os tratamentos. O teor de ácido ascórbico diferiu significativamente entre os tratamentos, sendo o maior teor verificado nas frutas sem utilização de resveratrol, seguido das frutas submetidas a maior concentração do produto. A incidência de podridões reduziu progressivamente, 22,21%, 19,99%, 6,66% e 4,44%, com o aumento da concentração de resveratrol, respectivamente, para as concentrações de resveratrol: 0, 2.000, -1 4.000 e 6.000 mg L . O resveratrol foi eficiente na prevenção de podridões pós-colheita, mantendo a qualidade dos morangos “Camarosa” durante oito dias de armazenamento, mais três dias de CS. Palavras-chave: qualidade pós-colheita, sólidos solúveis, acidez total titulável, ácido ascórbico. ABSTRACT This work studied the post harvesting quality of strawberries “Camarosa” treated with resveratrol, a substance synthesized from plants and considered a powerful natural fungicide. The fruits were stored in expanded polyethylene bags. Each bag had 15 units and the fruits were sprayed out with four levels of resveratrol: 0, 2.000, 4.000 -1 and 6.000 mg L . The fruits were then wrapped up in 7 mm polyethylene film (4 replications per treatment). The bags were stored during 8 days at temperature and relative humidity (RH) of 0±1°C and 90 to 95%, respectively. Additionally, three more days of simulated sale at temperature of 8±1°C and 80 to 85% RH were used. The following variables were measured at harvest and after storage: weight loss (WL), total soluble solids (TSS), titratable acidity (TA), TSS/TA ratio, color, ascorbic acid and incidence of rottenness. Color and TSS were not different among treatments. A significant difference among treatments was found for ascorbic acid concentration. The greater difference was observed for the fruits not sprayed with resveratrol, followed by the ones sprayed with the highest concentration of the product. The rottenness incidence decreased gradually 22.21%, 19.99%, 6.66% and 4.44% as the concentration of resveratrol -1 increased: 0, 2.000, 4.000 and 6.000 mg L , respectively. Resveratrol was efficient for preventing post harvesting rottenness, keeping the

Key words: post harvest quality, soluble solids, total titratable acidity, ascorbic acid.

INTRODUÇÃO O morango é, mundialmente, uma das frutas mais apreciadas, não só pelo sabor agradável, mas também pelo seu valor nutritivo (CALEGARO et al., 2002). A produção brasileira é de aproximadamente 88,1 toneladas, sendo o Estado de Minas Gerais o maior produtor, com 33,16%, seguido pelo Estado de São Paulo e Rio Grande do Sul, com 32,33% e 16,89%, respectivamente (CASALI, 2004). O morango é uma fruta altamente perecível, com alta taxa respiratória e curta vida-de-prateleira. Em altas temperaturas a respiração aumenta significativamente, levando a um consumo das substâncias de reserva e, conseqüentemente, a senescência da fruta é acelerada. Para cada 10°C de elevação na temperatura, a atividade respiratória é incrementada por vários fatores (NUNES et al., 1995b). Os danos mecânicos, feridas e batidas durante a colheita, transporte e comercialização deixam as frutas susceptíveis ao ataque de microorganismos, causando perdas nutricionais e econômicas (NUNES & MORAIS, 1995). Nos últimos anos, em conseqüência da necessidade de abastecer o mercado de frutas frescas, a área plantada bem como a produção foi aumentada, determinando assim, a importância do conhecimento da fisiologia pós-colheita das frutas no que se refere à preservação da qualidade, prolongamento no período de comercialização, maior resistência e do ataque de doenças (MALGARIM et al., 2004a). O manejo da temperatura é uma ferramenta importante para prolongar a vida de prateleira das frutas e hortaliças frescas (LEE & KADER, 2000). O efeito de armazenamento sob baixas temperaturas é benéfico por manter a qualidade das frutas por mais tempo, proporcionando o prolongamento do armazenamento (NUNES et al., 1995a). Além disso, na comercialização de morangos, o uso de embalagens plásticas ou de polietileno expandido cobertas com filme de PVC, tem por objetivo manter as frutas firmes e reduzir seu deslocamento interno (GORRIS & PEPPELENBOS, 1992). A qualidade visual é o atributo mais importante observado pelos consumidores na hora da compra (DELIZA, 2000; SOUZA, 2000). Portanto, manter as frutas com aparência de frescas e sem sinais de contaminação fúngica é indispensável para o sucesso da comercialização.

1

Bach. em Química de Alimentos, Doutoranda PPGCTA/UFPel – Cx. Postal 354 – CEP 96010-900 – Pelotas/RS. [email protected] Doutorando (a) em Fruticultura de Clima Temperado – FAEM/UFPel. Pelotas-RS. 3 Eng Agr°., Dr., Professor Prodoc – Departamento de Ciência e Tecnologia Agroindustrial – FAEM/UFPel – Pelotas/RS. [email protected] 4 Acadêmico (a) em Agronomia FAEM/UFPel – Pelotas/RS. 2

(Recebido para Publicação em 28/04/2005, Aprovado em 20/10/2006) R. Bras. Agrociência, Pelotas, v. 12, n. 4, p. 443-446, out-dez, 2006

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ZAICOVSKI et al. Resveratrol na qualidade pós-colheita de morangos “camarosa”

A atual demanda mundial por alimentos certificados e isentos de resíduos de pesticidas tem pressionado o modelo convencional agrícola a constantes reavaliações de seus métodos de produção (FADINI et al., 2004). Além disso, os consumidores estão mais interessados em conhecer como os alimentos são produzidos, valor nutricional, regularidade de oferta, sistema de produção, região e local de produção, propriedades funcionais, nutracêuticas ou medicinais (ROMBALDI, 2004). A indução, através de substâncias naturais, de resistência a fitopatógenos em pós-colheita é um estudo, em expansão, que vem alcançado resultados promissores nos últimos anos (BENATO, 2003). O resveratrol tem sido estudado como alternativa póscolheita para o controle de podridões em frutas. Este produto pode ser encontrado naturalmente em mais de 70 espécies de vegetais, é um fitoalexina pertencente à classe dos compostos polifenólicos com aplicação em fitoterápicos, fármacos ou alimentos, em função de suas propriedades nutracêuticas (LATRUFFE et al., 2002). Segundo SOUTO (2003) e UREÑA et al. (2003), a aplicação exógena de trans-resveratrol apresentou-se, potencialmente, benéfica na conservação de pêras, uvas e maçãs. Ao aplicar várias concentrações de resveratrol em morangos “Camarosa”, MALGARIM et al. (2004a) verificou que a incidência de podridão diminui. Além disso, a -1 proporcionou melhores concentração de 1000 mg L resultados nas variáveis físico-químicas (MALGARIM et al., 2004b). Baseado nessas considerações, o presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de verificar a manutenção da qualidade pós-colheita de morangos “Camarosa” tratados com resveratrol durante o armazenamento. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado utilizando-se morangos (Fragaria ananasa) cv Camarosa, cultivados em lavoura comercial no Município de Pelotas/RS, safra de 2004. As frutas foram colhidas no estádio de maturação maduro (mais de 70% de coloração da epiderme vermelha), no mês de novembro. Após a colheita, as frutas foram, devidamente, acondicionadas e imediatamente transportadas ao Laboratório de Fisiologia Pós-Colheita de Frutas e Hortaliças do Departamento de Ciência e Tecnologia Agroindustrial da FAEM/UFPel. A Tabela 1 contém a caracterização dos morangos “Camarosa” na colheita. Tabela 1 SST 8,88° Brix

Caracterização físico-química dos morangos “Camarosa” no dia da colheita. ATT SST/ATT Vit C -1 0,66% ác. 41,72 mg 100 mL 13,45 suco cítrico

Os morangos foram pré-resfriados em câmaras frigoríficas a temperatura de –3°C, até atingir temperatura de polpa de 4°C. Em seguida, em bandejas de polietileno expandido com capacidade para 500 g, foram acondicionados 15 morangos por embalagem, nas quais foram aplicados resveratrol com aspersor manual e, imediatamente, embalados com filme de polietileno de 7 µm de espessura. Ao todo foram realizados quatro tratamentos: T1) resveratrol à 0 -1 -1 mg L ; T2) resveratrol à 2000 mg L ; T3) resveratrol à 4000 -1 mg L e T4) resveratrol à 6000 mg L-1. As frutas foram

então, armazenadas durante oito dias a 0±1°C com umidade relativa de 90 a 95% e, posteriormente, submetidas à comercialização simulada (armazenamento durante três dias a 8±1°C com umidade relativa de 80 a 85%). O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado com quatro repetições. A variável relativa à perda de peso (PP) foi calculada através da diferença entre o peso inicial da amostra e aquele obtido em cada avaliação, e expressa em percentual. Após extração e homogeneização do suco de cada uma das repetições, as análises foram efetuadas segundo metodologia descrita pelo INSTITUTO ADOLFO LUTZ (1985): acidez total titulável (ATT), determinada por titulometria de neutralização até pH 8,2 com hidróxido de sódio 0,1N, sendo os resultados expressos em porcentagem de ácido cítrico; sólidos solúveis totais (SST), determinados em refratômetro manual com compensação de temperatura automática, sendo os resultados expressos em °Brix; relação sólidos solúveis totais/acidez total titulável (SST/ATT) e ácido ascórbico, determinados pelo método titulométrico com 2,6-diclorofenolindofenol, com os -1 resultados expressos em mg 100 mL de suco . A análise de cor foi procedida através de colorímetro * Minolta (CR-300) em sistema tridimensional L , “a” e “b”, onde * L indica a luminosidade que varia entre valor 0 (para uma amostra preta; mínima reflectância) e 100 (amostra branca; máxima reflectância), “a”, consiste no eixo que vai do vermelho (valores positivos) ao verde (valores negativos) e o “b” que vai do amarelo (valores positivos) ao azul (valores -1 negativos). O ângulo Hue foi obtido através do cálculo tan “b”.”a”, o qual mede a tonalidade. A ocorrência de podridões foi analisada através de caracterização visual da presença ou ausência. Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e quando houve diferenças significativas entre as médias, estas foram comparadas pelo teste Tukey a 5%. RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise de variância mostrou diferenças significativas entre os tratamentos para a variável perda de peso (PP). -1 Verificou-se uma maior perda no tratamento com 6000 mg L , apresentando 4,54% de redução após oito dias de armazenamento a 0±1°C e 90 a 95% de UR e três dias a 8±1°C e 80 a 85% de UR (Tabela 2). Segundo Robinson et al. (1975) apud GARCÍA et al. (1998), esta perda está dentro de padrões estabelecidos como aceitáveis para a perda de peso durante a comercialização, que pode chegar a 6%, não havendo prejuízo quanto ao aspecto visual das frutas. Por outro lado, CALEGARO et al. (2002) mencionam que o morango, por não possuir uma camada protetora que dificulte a perda de água, sofre naturalmente desidratação, o que exerce um efeito negativo sobre sua aparência. A perda de água acarreta murchamento e enrugamento dos tecidos, tornando-os inaceitáveis para a comercialização. Por este motivo, o controle da perda de água das frutas torna-se tão importante. Os índices de SST não diferiram significativamente, entre os tratamentos, apresentando valor mínimo de 8,66°Brix para os morangos sem tratamento com resveratrol e máximo -1 de 9,23°Brix para os morangos tratados com 4000 mg L de resveratrol (T3), após armazenamento e comercialização simulada (Tabela 1).

R. Bras. Agrociência, Pelotas, v. 12, n. 4, p. 443-446, out-dez, 2006 444

ZAICOVSKI et al. Resveratrol na qualidade pós-colheita de morangos “camarosa”

Tabela 2 - Qualidade físico-química de morangos “Camarosa” tratadas com diferentes concentrações de resveratrol e armazenadas por oito dias a 0±1°C e 90 a 95% de UR mais três dias a 8±1°C e 80 a 85% de UR. Tratamentos com resveratrol Variáveis T1 (0 mg L-1) T2 (2000 mg L-1) T3 (4000 mg L-1) T4 (6000 mg L-1) 1 PP (%) 1,65c 3,62b 3,29b 4,54a ATT (% ác. cítrico) 0,98a 0,65b 0,68b 0,72ab -1 31,08a 17,64d 20,44c 25,20b Ácido Ascórbico (mg 100 mL suco) Incidência de Podridões (%) 22,21a 19,99a 6,66b 4,44b 1 Médias seguidas da mesma letra minúscula na linha não diferem entre si, pelo teste de Tukey (p
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