Retratos dos Duques de Bragança (1908-1910) do Paço Ducal de Vila Viçosa, Portugal: Estudo Histórico-Artístico

May 26, 2017 | Autor: C. Bottaini | Categoria: Portraits, Art History, Digital Photography, Conservation, Art Conservation, History of Art, Documentary Photography, Fine Art Photography, Photography (Visual Studies), Portugal (History), Digital Photography and Painting, Technical Art History, Conservation, Patrimonio Cultural, Materiality in art, conservation of contemporary art, memory and memorial objects, Pintura, History of Art and Architecture, History of Arts, Technical Art History, Conservação e restauro, Art Conservation, Technical Art History, Medieval Polychromy, Palace, Paços Medievais, Art, Science, Technology, Infrared, IR reflectography, CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO DE OBRAS DE ARTES, History of Painting, UVIR Photography, Reflectography and radiography, Palaces, Bragança, Condeixa, Underdrawing, José Malhoa, Columbano Bordalo Pinheiro, Conservation of Antiquities and Works of Art, Portraiture and the Problematic of Representation, Portuguese Medieval Kings, Infrared Reflectography, UV-fluorescence photography, Duque de Braganza, Vila Viçosa, José Veloso Salgado, Dinastia de Bragança, History of Art, Documentary Photography, Fine Art Photography, Photography (Visual Studies), Portugal (History), Digital Photography and Painting, Technical Art History, Conservation, Patrimonio Cultural, Materiality in art, conservation of contemporary art, memory and memorial objects, Pintura, History of Art and Architecture, History of Arts, Technical Art History, Conservação e restauro, Art Conservation, Technical Art History, Medieval Polychromy, Palace, Paços Medievais, Art, Science, Technology, Infrared, IR reflectography, CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO DE OBRAS DE ARTES, History of Painting, UVIR Photography, Reflectography and radiography, Palaces, Bragança, Condeixa, Underdrawing, José Malhoa, Columbano Bordalo Pinheiro, Conservation of Antiquities and Works of Art, Portraiture and the Problematic of Representation, Portuguese Medieval Kings, Infrared Reflectography, UV-fluorescence photography, Duque de Braganza, Vila Viçosa, José Veloso Salgado, Dinastia de Bragança
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Retratos dos Duques de Bragança (1908-1910) do Paço Ducal de Vila Viçosa, Portugal: Estudo Histórico-Artístico Portraits of the Dukes of Braganza (1908-1910) from the Ducal Palace of Vila Viçosa, Portugal: Historical and Artistic Study

Rui Bordalo Universidade de Évora / Laboratório HERCULES / Laboratório José de Figueiredo. Portugal [email protected]

Sónia Costa Universidade de Évora / Laboratório HERCULES. Portugal

Carlo Bottaini Universidade de Évora / Laboratório HERCULES / CIDEHUS. Portugal

António Candeias Universidade de Évora / Laboratório HERCULES / Laboratório José de Figueiredo. Portugal

José Mirão Universidade de Évora / Escola de Ciências e Tecnologia / Laboratório HERCULES. Portugal [email protected]

A Cidade de Évora. III série. N.º1. 2016. (pp. 516-526)

Sinopse

O Paço Ducal de Vila Viçosa alberga uma colecção de retratos dos Duques de Bragança executados em duas fases, a primeira no século XVIII e a segunda no início do século XX. Os sete retratos da segunda fase, encomendados a alguns dos mais importantes pintores da transição do século XIX ao XX, entre os quais José Malhoa, Veloso Salgado e Columbano Bordalo Pinheiro, são aqui analisados pela primeira vez. Este trabalho tem como objectivo estudar estas pinturas através de técnicas de imagem como reflectografia e fotografia de infravermelhos para estudo de desenho subjacente. O estudo destes retratos contribui para a caracterização da técnica artística destes pintores e o conhecimento desta importante época artística ainda pouco estudada cientificamente. Palavras-chave: reflectografia de infravermelhos, pintura, desenho subjacente, transição séculos XIX-XX.

Abstract

The Ducal Palace of Vila Viçosa houses a collection of portraits of the Dukes of Braganza executed in two phases, the first in the 18th century and the second in the early 20 th century. The second phase seven portraits, commissioned to some of the most important painters of the late 19th century such as José Malhoa, Veloso Salgado and Columbano Bordalo Pinheiro, are studied for the first time. This work aims to study the paintings by imaging techniques such as reflectography and infrared photography to study the underdrawing. The study of these portraits contributes to the characterisation of the artistic technique of these painters and to the knowledge of this important artistic period, yet still insufficiently scientifically studied. Keywords: Infrared reflectography, easel paintings, underdrawing, transition 19th-20 th century.

1. Introdução

Depois do Duque D. João II de Bragança (1604 -1656) ter sido aclamado Rei de Portugal, como D. João IV, em 1640, o título de Duque de Bragança passou a ser atribuído ao herdeiro da Coroa Portuguesa. O Paço Ducal de Vila Viçosa, construído a partir de 1501 por ordem do 4º Duque de Bragança, D. Jaime (1479-1532), tem uma sala de aparato com uma galeria de retratos dos proprietários, tal como qualquer palácio com as suas características, a denominada Sala dos Duques ou Sala dos Tudescos. Este conjunto de dezoito retratos colocados no tecto da sala foi encomendado pelo Rei D. João V (1689-1750), o décimo primeiro duque, por volta de 1729 a Domenico Duprà (1689-1770), pintor italiano que trabalhou em Portugal entre 1718 e 1732 ao serviço da Coroa. Pintou os retratos dos duques até D. José I (1714-1777), então herdeiro ao trono, constituindo o maior conjunto de retratos assinados por Duprá que se conhece.

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Em 1907, o rei D. Carlos I (1863-1908) encomendou sete retratos dos Duques de Bragança em falta, a fim de completar a galeria de retratos já existente. Esta encomenda incluiu os retratos de seis duques que depois foram monarcas, nomeadamente de D. Maria I (1734-1816), D. João VI (1767-1826), D. Pedro IV (1798-1834), D. Maria II (1819-1853), D. Pedro V (1837-1861) e D. Carlos I (1863-1908), e o então Duque de Bragança, o Príncipe Real D. Luís Filipe (1887-1908). Por qualquer razão que desconhecemos, o retrato do Príncipe Real D. José (1761-1788), filho primogénito de D. Maria I e herdeiro do trono, o décimo quarto duque, não foi encomendado. Os retratos encomendados por D. Carlos destinavam-se a ser expostos no Paço Ducal antes da tomada de posse do Paço Ducal pelo Príncipe Real D. Luís Filipe aquando da sua maioridade, que ocorreria a 21 de Março de 1908 (SALDANHA, 2010, p. 68). A encomenda de D. Carlos data de 1907, apesar da ideia ter surgido alguns anos antes. Em 1904, o arquitecto, pintor e decorador Francisco Vilaça (c. 1850 – dp. 1915) fez um estudo para a ornamentação da Sala dos Duques, o qual incluiria os retratos dos Duques em falta (TEIXEIRA, 1983), e em 1905, uma moldura foi feita como modelo. Todos os retratos desta encomenda têm efectivamente molduras iguais, tanto na decoração como nas dimensões. Por indicação do General Charters de Azevedo (1854-1928), Ajudante de Campo do Rei e administrador da Casa de Bragança, D. Carlos convidou o pintor Carlos Reis (1863-1940) para participar na encomenda, tendo este feito depois os contactos necessários com outros pintores. Carlos Reis, pintor naturalista e discípulo de Silva Porto (1850-1893), foi professor de Pintura de Paisagem na Academia Real de Belas Artes de Lisboa a partir de 1896 e já tinha obra exposta no Paço Ducal, como uma grande composição sobejamente conhecida, “D. Carlos I e o seu Estado-Maior” (400 x 300 cm), datada de 1904, tendo chegado a ser exposta no “Salon” de Paris do ano seguinte (PAMPLONA, 2000b, p. 30). D. Carlos tinha pessoalmente escolhido ser retratado por Carlos Reis e tinha indicado José Malhoa (1855-1933) para retratar seu filho. Carlos Reis, por sua vez, contactou Malhoa em meados do mês de Novembro de 1907, informando-o da encomenda (SALDANHA, 2010, p. 68). Malhoa já havia retratado D. Carlos em outras duas ocasiões, uma em 1890 para o Palácio Nacional da Ajuda (Inv. nr. 322) e outra em 1905 para a Sala dos Actos da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, e uma ocasião D. Luís Filipe, em 1892. Os restantes retratos foram distribuídos por outros pintores. O retrato da Rainha D. Maria I foi então pintado por António Monteiro Ramalho (1858-1916), o do Rei D. João VI por Columbano Bordalo Pinheiro (1857-1929), o do Rei D. Pedro IV por Ernesto Ferreira Condeixa (1858-1933), o da Rainha D. Maria II por José Veloso Salgado (1864-1945), e o do Rei D. Pedro V por Constantino Sobral Fernandes (1878-1920). O preço dos retratos tinha sido estabelecido por António Ramalho em 500$000 réis, tendo sido mais tarde acordado o valor de 600$000 réis (SALDANHA, 2010, p. 68). Não é, no entanto, claro como se procedeu à escolha dos pintores. É sabido que já tinha havido colaborações anteriores, como a de Columbano Bordalo Pinheiro com Veloso Salgado, Malhoa e António Ramalho na decoração dos interiores da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa em 1905, e que Constantino Sobral Fernandes, chegado em 1906 de completar a sua formação, tinha sido discípulo de Veloso Salgado (PAMPLONA, 2000a, p. 259). 518

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Figura 1: Aspecto geral da Sala da Medusa, onde se encontram expostas as sete pinturas dos Duques de Bragança em estudo.

Os retratos foram inicialmente expostos na Sala dos Duques em 1910, data da entrega do último retrato, tendo sido depois transferidos para a Sala da Medusa, nas décadas de 1940-50 e onde se encontram ainda hoje (figura 1). 1.2. As pinturas gémeas de Malhoa

Nos últimos meses de 1907, Malhoa estava a preparar trabalho para uma exposição para a qual tinha sido convidado, a decorrer em Abril do ano seguinte no Rio de Janeiro por ocasião do centenário da abertura dos portos brasileiros ao comércio internacional (SALDANHA, 2010, p. 69). Dado que a exposição iria ocorrer em Abril, Malhoa teria que enviar as pinturas em Fevereiro. Estava também prevista uma visita de D. Carlos ao Brasil, que Malhoa acompanharia (SALDANHA, 2010, p. 69). No entanto, a 1 de Fevereiro de 1908, D. Carlos e D. Luís Filipe foram assassinados e Malhoa não chegou a viajar para o Rio de Janeiro. Nesta exposição, Malhoa expôs dez obras, uma das quais o retrato de D. Luís Filipe. Existem duas versões desta pintura, a do Paço Ducal (191 x 116 cm) (figura 2) e uma outra de menores dimensões (170 x 128 cm) (SALDANHA, 2010, p. 392), actualmente exposta no Museu Malhoa, nas Caldas da Rainha (MNAC, Inv. nr. 688). Foi com esta última que Malhoa participou na exposição no Rio de Janeiro. Ainda no mesmo ano, mas fora desta encomenda, Malhoa fez dois retratos do já Rei D. Manuel II (185 x 105 cm, 112 x 87 cm e 137 x 102,9 cm), estando o último no Palácio Nacional de Mafra (Inv. nr. 7482). Columbano participou na mesma exposição no Rio de Janeiro com um retrato do Infante D. Manuel executado no mesmo ano. Retratos dos Duques de Bragança (1908-1910) do Paço Ducal de Vila Viçosa, Portugal: Estudo Histórico-Artístico

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2. Descrição e Estado de Preservação

Todos os retratos desta segunda fase são pintados a óleo sobre tela, de tamanho natural e aproximadamente com as mesmas dimensões (191 x 116 cm). Todos estão assinados e datados de 1908, excepto o de Veloso Salgado que não está datado e o de António Ramalho que data de 1910. Todas as molduras são iguais e de perfil regular, pintadas com tons ocres e verdes e parcialmente douradas. D. Maria I é retratada de pé, virada a três quartos para a sua esquerda. Veste um vestido branco comprido e um manto vermelho forrado de arminho, posto sobre os ombros. Tem um alfinete a decorar o decote e um toucado. Na sua mão direita, segura o Ceptro Real. Ostenta a banda da Ordem de Cristo (GODINHO, 1992, pp.  141-142), segurada por um passador de Grã-Cruz. Ao seu lado esquerdo, sobre um coFigura 2: Retrato de D. Carlos (Carlos Reis, 1908), actualmente exposto no Paço Ducal. xim vermelho pousado sobre uma mesa coberta por um pano também vermelho, apresenta-se a Coroa Real. A pintura, assinada e datada, encontra-se em relativo bom estado de preservação. No entanto, apresenta uma rede de microfissuras provocada por uma secagem deficiente em zonas vermelhas específicas, como no manto vermelho. Dado que a secagem terá deixado a preparação branca por debaixo visível, as microfissuras foram retocadas com uma tinta de formulação diferente. D. João VI é retratado de pé, de lado, encostado a uma mesa e com a mão esquerda apoiada à cintura, face virada a três quartos e olhando de frente. Veste à civil, com um casaco verde, colete e calção branco e enverga um manto vermelho forrado de branco, posto sobre os ombros. Ostenta a insígnia da Ordem do Tosão de Ouro – Áustria, provavelmente, a banda da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, instituída pelo próprio em 1818, aquando da sua aclamação, a placa das Três Ordens Militares Portuguesas (Cristo, São Bento de Avis e Sant’Iago de Espada) em cima e a placa da Ordem de D. Carlos III (Espanha) em baixo (GODINHO, 1992, pp. 142, 147-157 e 165). Apesar das cores da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa serem o branco e o azul, as então cores nacionais, e na pintura a banda ter listas brancas e esverdeadas, esta deve referir-se a esta ordem. Sobre a mesa, apresentam-se a Coroa e Ceptro Reais, eventualmente os man520

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dados executar no Brasil em 1817, aquando da subida ao trono de D. João VI (PNA Inv. nr. 4863 e 4868). A pintura apresenta um bom estado geral de preservação. D. Pedro IV é retratado de pé e numa posição frontal, segurando o chapéu armado do seu uniforme de general com a sua mão direita, enquanto segura a espada com a esquerda. Ostenta a insígnia da Ordem do Tosão de Ouro, a banda e a placa das Três Ordens Militares Portuguesas (Cristo, São Bento de Avis e Sant’Iago da Espada), e placa da Ordem Militar da Torre e da Espada, por baixo da primeira (GODINHO, 1992, pp. 147-152). A pintura apresenta um bom estado geral de preservação. D. Maria II é retratada de pé, numa posição frontal e com o rosto virado a três quartos para a sua esquerda. A mão esquerda segura o par de luvas brancas e apoia-se no braço do trono, com o seu monograma coroado. Veste um vestido branco comprido e uma capa azulada, caída pelos braços. Ostenta a banda das Três Ordens Militares Portuguesas (Cristo, São Bento de Avis e Sant’Iago de Espada) (GODINHO, 1992, pp. 147-152), segurada por um passador de Grã-Cruz. Tem um alfinete a decorar o decote, uma fivela à cintura e aplicações a decorar o penteado. A pintura apresenta um bom estado geral de preservação, excepto pela existência de uma rede de microfissuras concentrada em algumas áreas, em algumas zonas provocada pelo envelhecimento natural da pintura, mas outras, nomeadamente no fundo escuro, derivada por uma alteração selectiva dos materiais pictóricos. D. Pedro V é retratado de pé, virado a três quartos para a sua esquerda e olhando de frente. Enverga uniforme de Marechal-General do Exército (BRANCO, 2003, p. 11) e segura a sua espada com ambas as mãos. Ostenta a insígnia da Ordem do Tosão de Ouro-Espanha, a banda, o colar e a placa da Ordem Militar da Torre e Espada (GODINHO, 1992, pp. 147-152), de cor azul, outra placa e duas medalhas militares de difícil identificação. Sobre uma mesa ao gosto Império, ao seu lado esquerdo, está posto o chapéu armado do seu uniforme e a Carta Constitucional. A pintura apresenta um bom estado geral de preservação. D. Carlos é retratado de pé, em posição frontal e olhando ligeiramente para a sua direita. Enverga o uniforme de Marechal-General do Exército (BRANCO, 2003, p. 19). Enquanto a mão esquerda, enluvada, segura a espada, a mão direita segura cavalheirescamente a luva branca da mão esquerda. Ostenta a banda e a placa das Três Ordens Militares Portuguesas (Cristo, São Bento de Avis e Sant’Iago da Espada), a placa da Ordem Militar da Torre e Espada (GODINHO, 1992, pp. 147--152) e oito medalhas militares do seu lado esquerdo e duas civis no seu lado direito. Entre as primeiras, estão as da Ordem Militar da Torre e Espada, da Ordem Militar de São Bento de Avis, a Medalha Militar de Bons serviços, grau ouro, a Medalha Militar de Comportamento Exemplar, grau Prata. Entre as segundas, está a de Mérito, Filantropia e Generosidade. À cintura, tem uma faixa de ouro e vermelho. A seu lado encontra-se uma mesa coberta com um pano vermelho e sobre a qual se encontra o capacete emplumado. O uniforme e adereços utilizados neste retrato são muito semelhantes a um outro retrato pintado por Malhoa em 1890 e hoje exposto no Palácio Nacional da Ajuda (PNA Inv. nr. 322). O retrato pintado por Carlos Reis, conforme a assinatura, foi pintado já postumamente, em Abril de 1908. A pintura apresenta um bom estado geral de preservação. No entanto, existem indícios de uma intervenção posterior, tal como desgaste em zonas específicas, nomeadamente em zonas escuras do uniforme e ao redor da figura, que resultarão de uma limpeza agressiva, assim como diversos pelos de pincel presos no verniz, reminiscentes da aplicação descuidada posterior do verniz de protecção. Retratos dos Duques de Bragança (1908-1910) do Paço Ducal de Vila Viçosa, Portugal: Estudo Histórico-Artístico

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D. Luís Filipe é retratado de pé, ligeiramente virado a três quartos para a sua direita e olhando de frente. Enverga o uniforme de alferes honorário do Regimento de Cavalaria n.º 2, Lanceiros de El-Rei, com distintivos de oficial às ordens do Rei D. Carlos I (BRANCO, 2003, p.23). Segura uma espada com a mão esquerda e o capacete com penacho com a direita. Ostenta a banda e a placa das Três Ordens Militares Portuguesas (Cristo, São Bento de Avis e Sant’Iago da Espada) (GODINHO, 1992, pp. 147-152), o colar da Ordem Militar da Torre e Espada e três medalhas militares. D. Luís Filipe encontra-se numa escadaria, em frente de uma coluna. A pintura apresenta um estado geral de preservação muito bom. 3. Metodologia Experimental

Como métodos de imagem não invasivos, a reflectografia e a fotografia de infravermelho permitem obter informações várias em relação à composição material e da técnica artística do pintor tal como desenho preparatório (SCHOUTE e GARRIDO, 2010), pinceladas e alterações de composição, pigmentos usados ou detectar intervenções posteriores (GÓMEZ, 1998, p. 79). 3.1. Fotografia de Infravermelho

A fotografia de infravermelho (IV) foi realizada com uma Nikon D3100 modificada, para registar imagens na faixa da radiação IV do espectro eletromagnético, e equipada com uma objetiva Nikon AF-S 18-55 mm. Utilizaram-se ainda 3 filtros com diferentes sensibilidades à radiação IV: X-Nite 780 (780-1300 nm), X-Nite 850 (850-1300 nm) e X-Nite 1000B (1000-1300 nm). Como fonte de luz, utilizaram-se dois pontos de luz, colocados em cada um dos lados da pintura a uma distância equidistante, de forma a garantir intensidade de radiação homogénea, equipados com lâmpadas de tungsténio, que emitem radiação na região visível e IV. A câmara esteve fixa em tripé e optou-se, devido à grande dimensão das pinturas, por realizar tomas parciais, sendo posteriormente ensambladas através de software de edição de imagem, Photoshop CS6. 3.2. Reflectografia de Infravermelho

Na documentação por reflectografia de infravermelho foi usada a câmara OSIRIS, equipada com sensor InGaAs, sensível no intervalo de comprimento de onda dos 900 aos 1700 nm. Manteve-se a utilização dos candeeiros com lâmpadas de tungsténio e a câmara esteve fixa em tripé. Nesta situação, devido às dimensões das pinturas, ao tempo de aquisição de cada imagem e ao conhecimento anteriormente adquirido optou-se por efectuar registos parciais das pinturas, tendo-se privilegiado as zonas que registassem a figura humana, face e colo. As imagens registadas foram posteriormente editadas em Photoshop CS6 para ajuste de níveis e aplicação de máscara de nitidez. 4. Resultados

Nem todas as pinturas revelaram, infelizmente, a presença de desenho subjacente, independentemente da técnica ou dos filtros utilizados, o que não pode ser entendido como confirmação da ausência de desenho subjacente. As obras de Co522

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lumbano, Carlos Reis e de Sobral Fernandes não revelam qualquer indicação da presença de desenho subjacente. Já a pintura de Condeixa não apresenta indícios de desenho subjacente na figura de D. Pedro IV mas apresenta sim linhas da esquadria da moldura do fundo e do perfil de madeira da parede. 4.1. D. Maria I (A. Ramalho, 1910)

Na fotografia de infravermelhos, o único vestígio de desenho preparatório consiste em alguns traços horizontais visíveis na base da coluna que sugerem um pos­sível primeiro esboço da mesma. Na mesma imagem, contudo, é revelador a rede de microfissuras, localizado principalmente no manto do braço direito, que se encontra repintado como indica a diferença de absorção dos infravermelhos (figura 3). 4.2. D. Maria II (J. V. Salgado, s.d.)

Em ambas as imagens obtidas por fotografia de infravermelhos e reflectografia, é possível detectar desenho subjacente da figura, nomeadamente na face (figura 4), corpo e vestido mas não no fundo, sendo que o desenho é mais evidente e completo na reflectografia. Na fotografia de infravermelho é possível ver um pentimenti, uma alteração feita pelo próprio artista na manga direita, encurtando a curva da mesma.

Figura 3: Pormenor da fotografia de infravermelho (filtro X-Nite 780) do retrato de D. Maria I (A. Ramalho, 1910) onde se pode observar a rede de microfissuras e os repintes.

Figura 4: Pormenor do retrato de D. Maria II (J. V. Salgado, s.d.): fotografia a cores (direita); fotografia de infravermelho (filtro X-Nite 780), onde se pode ver o desenho subjacente na face e ombros (esquerda). É também evidente a alteração selectiva dos materiais pictóricos no cabelo.

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Figura 5: Pormenor da comparação dos dois retratos de D. Luís (José Malhoa, 1908) por sobreposição de imagem: à esquerda pode observar-se uma ligeira deslocação do braço direito e do capacete com penacho enquanto que o resto do uniforme se alinha perfeitamente; à direita, repare-se no ligeiro desvio da manga mas cujo perfil se mantém simétrico.

4.3. D. Luís Filipe (José Malhoa, 1908) e a as Pinturas Gémeas

A fotografia de infravermelho permitiu detectar desenho subjacente no retrato de D. Luís Filipe, nomeadamente no desenho das colunas e degraus e na silhueta da cabeça mas não das feições da cara ou no resto da figura. É também evidente uma correcção do antebraço esquerdo. A reflectografia não revelou qualquer outro detalhe do desenho subjacente mas permite observar as pinceladas do fundo em grande pormenor. Em relação à pintura exposta no Museu Malhoa, foi possível obter uma imagem de grande resolução livremente disponível (GASPAR, 2015) e com a qual foi possível fazer uma análise comparativa da composição através da sobreposição com transparência das duas imagens (figura 5). Assim, é possível observar que tanto o fundo arquitectónico como a figura são em tudo correspondentes, com excepção da cabeça e ambos os braços assim como do contorno do capacete por este se encontrar apoiado no braço. A assinatura, por ser um elemento efectuado à mão livre, é diferente e também se encontra ligeiramente desviada. A proporção exacta e coincidente da figura e dos elementos arquitectónicos sugere que Malhoa tenha utilizado desenho, ou outro método semelhante, na pintura.

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5. Conclusões

Sete retratos dos Duques de Bragança pertencentes à colecção do Paço Ducal de Vila Viçosa e da autoria de alguns dos mais importantes pintores Portugueses da transição do século XIX e XX foram estudados pela primeira vez através de fotografia de infravermelhos e reflectografia. Nem todas as pinturas revelaram indícios da presença de desenho subjacente, tais como as pinturas de Columbano, Carlos Reis e de Sobral Fernandes. A pintura de Condeixa revelou apenas algumas linhas de esboço de desenho subjacente no fundo mas não na figura. Apenas três das sete pinturas apresentam desenho subjacente, nomeadamente as pinturas de Ramalho, Veloso Salgado e de Malhoa. Agradecimentos

Os autores agradecem a disponibilidade e amabilidade da Dra. Maria de Jesus Monge, Directora do Museu-Biblioteca da Casa de Bragança e de Tiago Salgueiro, Técnico Superior na mesma instituição. RB agradece a André Remígio pelo auxílio com a Militária e Falerística e à Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) pela bolsa de pós-doutoramento SFRH/BPD/85259/2012. SC agradece à FCT pela bolsa PD/BI/113738/2015 do Programa Doutoral HERITAS – Estudos de Património. CB agradece à FCT pela bolsa de pós-doutoramento financiada através do projecto UID/HIS/00057/2013 (POCI-01-0145-FEDER-007702), COMPETE, FEDER, Portugal2020. •

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Bibliografia BRANCO, Pedro Soares – Portugal Militar 1850-1918. Lisboa: Inapa, 2003 GASPAR, Joaquim Alves – Retrato do Príncipe Dom Luís Filipe, por José Malhoa (1908). Wikimedia Commons, 2015 [Em linha]. [Consult. 15 Março 2016]. Disponível na internet em
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