Review of Carmen Soares, Maria do Céu Fialho, María Consuelo Álvarez Morán, Rosa María Iglesias Montiel (edd.), Norma & Transgressão II, Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2011: EVPHROSYNE – Revista de Filologia Clássica XLII (2014), pp. 295-298

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NOVA SÉRIE VOL. XLII http://www.letras.ulisboa.pt/cec

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REVISTA DE FILOLOGIA CLÁSSICA NOVA SÉRIE VOLUME XLII

CENTRO DE ESTUDOS CLÁSSICOS FA C U L D A D E D E L E T R A S D E L I S B O A ESTE VOLUME DE EVPHROSYNE TEM O APOIO DE:

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Directora Maria Cristina de Castro-Maia de Sousa Pimentel Comissão de Redacção Abel do Nascimento Pena, Ana María Sanchez Tarrío, Arnaldo Monteiro do Espírito Santo, José Pedro Silva Santos Serra, Manuel José de Sousa Barbosa, Paulo Farmhouse Alberto, Vanda Maria Coutinho Garrido Anastácio Conselho Científico Aires Augusto do Nascimento (U. Lisboa), Carlos Santini (U. Perugia), Carmen Codoñer (U. Salamanca), Emilio Suárez de la Torre (U. Pompeu Fabra), Joël Thomas (U. Perpignan), José Manuel Díaz de Bustamante (U. de Santiago de Compostela), Manuel Alexandre Júnior (U. Lisboa), Marc Mayer y Olivé (U. Barcelona), Paolo Fedeli (U. Bari), Thomas Earle (U. Oxford) Conselho de Arbitragem Científica Ángel Úrban (U. Córdoba), Anna Bellettini (CSIC), Barry Taylor (The British Library), Carmen Morenilla (U. Valencia), Cesar Motta Rios (U. Belo Horizonte), Cláudia Teixeira (U. Évora), David Guetter (U. Windsor), David Paniagua (U. Salamanca), Emanuele Dettori (U. Roma II – Tor Vergata), Fabio Stok (U. Roma II – Tor Vergata), Fernanda Brasete (U. Aveiro), Fiona Macintosh (U. Oxford), Giancarlo Abbamonte (U. Napoli Federico II), Gianluigi Baldo (U. Padova), Giuseppe Flammini (U. Macerata), Graziana Brescia (U. Foggia), Ida Gilda Mastrorosa (U. Firenze), Jacques Elfassi (U. Metz), Jean Meyers (U. Montpellier), João Torrão (U. Aveiro), Joaquim Pinheiro (U. Madeira), José María Maestre Maestre (U. Cádiz), Juan Gil (Real Academia Española), Matteo Pellegrino (U. Foggia), Mireille Armisen-Marchetti (U. Toulouse II – Le Mirail), Onofrio Vox (U. Del Salento, Lecce), Roberto Cristofoli (U. Perugia), Rosalba Dimundo (U. Bari), Sandra Ramos Maldonado (U. Cádiz), Sarah Pearce (U. Southampton), Stefano Grazzini (U. Salerno), Victoria Emma Pagán (U. Florida), Vittorio Ferraro (U. Roma 3), William J. Dominik (U. Otago)

Tiragem 500 exemplares Depósito legal 178089/02 ISSN 0870-0133 PUBLICAÇÃO ANUAL SUJEITA A ARBITRAGEM CIENTÍFICA Referenciada em L’ Année Philologique | Medioevo Latino | CSA Linguistics And Language Behavior Abstracts | Bibliographie Internationale de L’ Humanisme et de la Remanissance | Dialnet ERIH | Latindex | SCOPUS | EBSCO

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ORIENTAÇÕES PARA PREPARAÇÃO DE ORIGINAIS 1. Euphrosyne — Revista de Filologia Clássica, órgão do Centro de Estudos Clássicos da Universidade de Lisboa, está aberta à colaboração da comunidade científica na área da filologia clássica, entendendo esta em sentido largo da diacronia da tradição, das áreas científicas específicas e respectivas disciplinas. 2. Os artigos poderão ser enviados por correio electrónico para [email protected] ou para a morada do Centro de Estudos Clássicos. 3. Os originais enviados para publicação devem ser inéditos e não estar submetidos a outra entidade editorial; serão remetidos à Direcção de Euphrosyne em forma definitiva e apresentados segundo as normas da revista. Os originais não serão devolvidos, assumindo-se que os autores conservam cópia dos mesmos. Os trabalhos considerados a publicação são sujeitos a arbitragem científica. 4. Serão aceites até 31 de Dezembro trabalhos para publicação no volume do ano seguinte; será dada informação sobre a aceitação da publicação até 30 de Abril do ano da publicação do volume. 5. O original será sempre apresentado electronicamente e em forma dupla: em documento de texto (Word/.doc(x) -pref.) e em PDF. 6. O artigo será encabeçado por: a) título (breve e explícito); b) nome e apelidos do autor; c) instituição académica ou científica a que está adstrito; d) endereço electrónico; e) resumo (não superior a 10 linhas) em língua inglesa; f) indicação de três palavras-chave em língua inglesa. 7. A extensão recomendada para os artigos é de 10 páginas, não devendo ultrapassar 20 páginas de A4, a corpo 12 e duplo espaço. 8. Sistema de notas: fim de artigo (endnotes); numeração automática seguida. Na publicação, as notas de artigo sairão em fundo de página (footnotes). 9. Sistema de referências: a) Não é permitida remissão para páginas do interior do artigo. b) Referências (em nota): Monografias: J. de Romilly, La crainte et l’angoisse dans le théâtre d’Eschyle, Paris, 1959, pp. 120-130 (casa editora mencionada apenas para edições antigas). Ou em 2.ª ref.: J. de Romilly, op. cit., p. 78. Revistas: R. S. Caldwell, “The Misogyny of Eteocles”, Arethusa, 6, 1973, 193-231 (vol., ano, pp.). Ou em 2.ª ref.: R. S. Caldwell, loc. cit. Obras colectivas: G. Cavallo, “La circolazione dei testi greci nell’Europa dell’Alto Medioevo” in J. Hamesse (ed.), Rencontres de cultures dans la Philosophie Médiévale - Traductions et traducteurs de l'Antiquité tardive au XIVe siècle, Louvain-la-Neuve, 1990, pp. 47-64. c) Abreviaturas: Seguir-se-ão as abreviaturas convencionadas por ThLL, para autores latinos; LiddelScott-Jones, para autores gregos; Année Philologique, para títulos de revistas; para as abreviaturas mais comuns: p. / pp.; ed. / edd.; cf.; s.u.; supra; op. cit.; loc. cit.; uid.; a.C./d.C. (em redondo). d) Citações: Devem ser colocadas entre comas “...” (não as de textos gregos); os itálicos serão utilizados apenas para sublinhar palavras ou pequenas frases; as citações em latim ou em grego serão breves. 10. Eventuais figuras ou imagens serão de qualidade gráfica (de preferência no formato TIF, com a resolução mínima de 200 p.p.), fornecidas em suporte electrónico (como os originais) e com a indicação precisa da referência no texto e na ordem assim como do título (devem ser acautelados os direitos de reprodução por parte do autor do artigo). 11. Aos autores não será fornecido mais do que um jogo de provas; estas deverão ser devolvidas num prazo máximo de 7 dias. Em princípio, não serão permitidas alterações ao original. 12. Aos autores será fornecido um exemplar do volume e a versão electrónica do respectivo artigo.

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Laurent Coulon (“Osiris chez Hérodote”, pp. 167-190) encerra a colectânea com um estudo sobre a importância da figura de Osíris na religião egípcia no I milénio a.C. Cultuado por todos os Egípcios, que alimentavam a esperança na vida eterna, o tema revela-se pertinente, apesar de o autor grego se mostrar reticente em mencionar os mistérios a ele associados e a identificação de Osíris com Dioniso lhe surgir de forma natural quando compara a religião grega e egípcia. Os elementos aqui desenvolvidos são sobretudo a importância do casal divino – Osíris e Ísis – na religião do Vale do Nilo, o papel federativo e o carácter universal do culto – afirmados por Heródoto e confirmados pelo mito político-teológico sobretudo atestado na época saíta e que via o rio e o deus como o próprio território egípcio. Na segunda parte deste estudo, o autor aborda as razões para as reticências de Heródoto em evocar os mistérios associados a Osíris, sugerindo explicações: a recusa em revelar os mistérios divinos, o respeito piedoso perante os rituais a eles associados e, por fim, o tabu que impelia à não revelação do nome do deus, a sua morte ou o seu túmulo. A terceira parte do artigo concentra-se na identificação de Osíris com Dioniso, relacionada por Heródoto com a origem egípcia dos deuses gregos e dos seus cultos. Em conclusão, a obra aqui apresentada destaca-se pelo novo olhar que lança sobre a obra de Heródoto, reconhecendo-lhe os méritos e também as dificuldades inerentes à investigação que o autor grego levou a bom termo em terras egípcias. Como vários autores sublinharam nos seus textos, as próprias fontes egípcias não são propriamente os documentos mais fiáveis e apresentam diferentes versões dos acontecimentos. Perante este cenário, Heródoto pouco ou nada podia fazer, a não ser lançar as bases do fascínio ocidental pelo Egipto e da Egiptologia, para a qual é ainda hoje um dos principais textos. Salientamos, ainda, que a bibliografia do volume se apresenta no final de cada texto e o cuidado com que os índices foram realizados. Estes últimos encontram-se organizados em cinco categorias: geral (p. 191), nomes próprios (p. 192), toponímico (p. 194), fontes gregas e latinas (p. 194) e, finalmente, fontes egípcias (p. 196), o que torna este livro uma excelente ferramenta de estudo e de pesquisa rápida por palavra-chave. Nídia Catorze Santos

Carmen Soares, Maria do Céu Fialho, María Consuelo Álvarez Morán, Rosa María Iglesias Montiel (coord.), Norma  Transgressão II, Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2011. 342 pp. ISBN 978-989-26-0105-2 Na sequência da publicação, em 2008, dos trabalhos resultantes do primeiro colóquio sobre Norma  Transgressão, que teve lugar na Universidade de Coimbra em 2006, acrescenta-se à série Documentos, da Imprensa da Universidade de Coimbra, este segundo volume, reunindo dezasseis estudos de áreas tão diversas como as literaturas clássicas e modernas (anglísticas e germanísticas), literatura bíblica, filosofia, história e geografia, correspondentes às comunicações apresentadas ao colóquio sobre o mesmo tema decorrido a 29 e 30 de Setembro de 2008 e resultado da colaboração entre a Universidade de Coimbra, através do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos e do Instituto de Estudos Clássicos, e a Universidade de Múrcia. O princípio orientador da colectânea é o da construção da identidade social através da transgressão de normas impostas de forma escrita ou consuetudinária por um impulso individual com que a consciência colectiva depara e a que não pode deixar de responder, EVPHROSYNE, 42, 2014

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seja rejeitando-o para reafirmar limites anteriormente estabelecidos pela actividade regulamentadora, seja aceitando-o e integrando-o através da actualização permanente dos códigos sociais, processo de expansão da identidade. Desta experiência polarizada e multívoca, vivida de modos diversos (“Prefácio”, p. 9), resulta a conceptualização colectiva do estranho, noção com que os processos correlativos de normatização e transgressão, de natureza tendencialmente progressiva, estão estreitamente relacionados; e é, assim, evidente e decisiva a extensão central da interrogação colocada pelas editoras no texto de abertura do volume: “até que ponto a conexão tensa entre o normativo e o transgressivo constitui um processo determinante no comportamento colectivo e individual pelo qual o ser humano aprende, avança, se compreende a si mesmo e compreende os outros”. Os capítulos foram organizados segundo as cinco áreas fundamentais abordadas pelos autores: I. História da Antiguidade Clássica (Política, Arte, Alimentação), II. Os Clássicos e a sua Recepção: contributos para a (des)construção de identidades culturais (Literatura Latina, Recepção de Clássicos da Literatura, Arquitectura), III. Religião: da Grécia aos nossos dias, IV. Filosofia, V. Geografia. Entre estes, são particularmente significativos os estudos sobre História da Antiguidade e Recepção dos Clássicos, em que a inspiração de autores portugueses como Fiama Hasse Pais Brandão e Mário Cláudio no mito de Medeia é privilegiada pela atenção de Maria do Céu Fialho (“Reinvenção de mundo e correspondência de símbolos em Sob o Olhar de Medeia, de Fiama Hasse Pais Brandão”, pp. 155-173), que identifica na Argonáutica de Apolónio de Rodes e na figura ovidiana de Medeia, do canto VII das Metamorfoses, os modelos míticos para o primeiro romance de Fiama – em que convergem influências de universos culturais distintos, como, para além do passado mítico grego (que não parece ter deixado ecos textuais directos da Medeia euripidiana), a Bíblia judaico-helenística, a cabala, a Menina e Moça de Bernardim Ribeiro, através da leitura clássica do seu significado oculto proposta por Hélder Macedo, ou a elegia camoniana –, e por Maria António Hörster e Maria de Fátima Sousa e Silva (“Espaço para Medeia? Notas acerca da Medeia de Mário Cláudio”, pp. 175-191), que apresentam relações intertextuais entre a peça de Mário Cláudio e passos da Medeia de Eurípides, modelo assumido pelo dramaturgo, num estudo extremamente descritivo e de que a reflexão sobre a tensão progressiva entre os impulsos de normatização e transgressão está a tal ponto ausente que as Autoras se vêem obrigadas a esboçar num parágrafo final uma tentativa de aproximação ao tema do colóquio (de resto, a apresentação inicial não parece ter sido objecto de revisão para a publicação e é ainda ao “colóquio” que as Autoras se dirigem no final do texto). A recepção da Cultura Clássica suscita ainda a Susana Marques Pereira uma reflexão sobre casos importantes de adaptação do teatro antigo à realidade contemporânea, que nos levam a ponderar a questão da transgressão artística ou da adulteração do texto dramático (“Adaptação dramática e transgressão”, pp. 194-200) e a Isabel Donas-Botto um estudo notável sobre a noção de clássico na Arquitectura britânica dos sécs. XVII-XIX e as transgressões aos modelos que representavam the rule of taste (“Um passado mais-que-perfeito: o impacto do clássico na arquitectura britânica”, pp. 229-248). O primeiro ensaio da colectânea, da responsabilidade de Mark Beck, especialista em Plutarco e Professor da University of South Carolina, Columbia (“Constitutions, contingency and the individual: Solon, Lycurgus, and the early development of Greek Political Biography”, pp. 15-38), analisa um conjunto de aspectos da acção normativa de Sólon e Licurgo em Atenas e Esparta, exemplos fundamentais para o desenvolvimento da biografia política, a partir da interacção antitética entre hábitos sociais tradicionalmente aceites e as prescrições de um legislador individual, características das antigas constituições gregas EVPHROSYNE, 42, 2014

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e aprovadas sem o consentimento explícito de todos os membros da sociedade. O Autor reflecte sobre uma questão evidente – que a discórdia social e os conflitos de facções constituem, no mundo grego arcaico, um móbile de transformação social – primordialmente com um propósito de revisão de bibliografia crítica, que a falta de clareza das normas de citação que adopta acaba por comprometer. A cultura da Grécia clássica é abordada por Josep Monserrat Molas (“A transgressão da norma como forma de manter a ordem: uma nota sobre o sentido de O Político de Platão”, pp. 39-56), propondo uma leitura de um dos mais complexos diálogos platónicos à luz do ímpeto simultaneamente transgressivo e normativo de um modelo feminino homérico (Penélope) presente na célebre analogia entre a tecelagem e a actividade governativa apresentada no Político (279b), Luísa de Nazaré Ferreira (“A representação de crianças na arte grega”, pp. 59-95), que explora a representação iconográfica de dois aspectos importantes da mentalidade grega concernentes à infância – a extrema valorização da descendência masculina e, de forma aparentemente paradoxal, o estatuto marginal concedido à criança, desprovida de personalidade autónoma e socialmente secundarizada enquanto “um ser incompleto e inferior, uma versão em miniatura do adulto, sem capacidades físicas, intelectuais e muito menos morais” (p. 61), partilhando com o escravo a designação de παῖς – desde a Idade do Bronze ao período helenístico, e por Carmen Soares (“Transgressões gastronómicas: sobre o consumo de carne em Plutarco”, pp. 99-110), num estudo sobre os princípios médicos e filosóficos dos dois tratados De Esu Carnium compostos por Plutarco. Uma vez mais, a discrepância dos critérios de redacção compromete o propósito, expresso no texto introdutório, de difusão do volume junto de um público não exclusivamente académico, atendendo à apresentação das citações gregas sem tradução neste último estudo, em que não é claro o motivo da transliteração de alguns vocábulos, prática sempre seguida nos dois textos precedentes, enquanto outros, além de expressões completas e citações mais extensas, surgem na forma grega original. No único ensaio sobre Literatura Latina da colecção (“La tragedia de las mujeres troyanas en Las Metamorfosis de Ovidio”, pp. 115-152), María Consuelo Álvarez Morán e Rosa María Iglesias Montiel estudam a complexa construção poética em torno da história das mulheres troianas, e de Hécuba em particular, elaborada por Ovídio no livro XIII das Metamorfoses (vv. 399-575) a partir de modelos procedentes de diferentes géneros, quer trágicos (Hécuba e As Troianas de Eurípides), quer épicos (Homero, os poemas do ciclo troiano e Vergílio, nos livros II e III da Eneida), num texto que, embora tornado extenso pelo recurso consistente a citações do poema ovidiano e dos textos antigos aduzidos como modelos, não teoriza senão superficialmente as questões literárias levantadas pela confluência de fontes diferentes neste episódio das Metamorfoses nem oferece outros pontos de reflexão sobre a intencionalidade literária da antologia de géneros e da inserção de uma tragédia troiana, exclusivamente centrada nas figuras femininas, no carmen perpetuum de Ovídio. Não obstante, não cremos que, pela importância dos excertos coligidos pelas autoras para a compreensão da exposição, que transcende o amplo trabalho de Quellenforschung, pela complexidade literária da questão em análise e, ainda, pelo rigor das traduções apresentadas para os textos gregos e latinos, as citações devessem ter sido omitidas; teria, contudo, permitido clarificar a leitura a opção de as remeter para as notas, obstando aos problemas de pontuação recorrentes após as citações, que criam incorrecções na disposição do texto (e.g., pp. 118, 119, 129, 135, 137, 143, 147). Lamentamos que apenas uma breve nota (p. 151, n. 15) chame a atenção do leitor para os ecos possíveis no poema ovidiano de tragédias latinas da época arcaica de argumento troiano, de Énio, Pacúvio e Ácio, e ainda que o estudo careça de fundamentação EVPHROSYNE, 42, 2014

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numa bibliografia crítica mais ampla (a título de exemplo, parece-nos dificilmente justificável que, a propósito de uma questão como a dívida poética de Ovídio para com Vergílio, tratada em estudos tão numerosos quanto relevantes ao longo do séc. XX, as Autoras refiram unicamente trabalhos da sua própria autoria: p. 117, n. 5). O último grupo temático reúne três estudos sobre religião, que tratam os conceitos de norma e transgressão partindo de pressupostos metodológicos distintos: Adriana Freire Nogueira (“Quando a transgressão é norma – a religião grega em progresso”, pp. 252264) explora a proximidade entre manifestações rituais colectivas de carácter iniciático celebradas na Antiguidade grega e práticas tradicionais de religiosidade ainda observáveis em Portugal na actualidade, enquanto José Augusto Ramos (“Norma e transgressão, à luz do paradigma bíblico”, pp. 265-288) procura identificar um padrão bíblico consistente de normatividade, espaço em que o conceito de Deus se constitui como referente intrínseco, com os seus domínios complementares de ortopráxis e ortodoxia, movidos pela correlação dos conceitos de lei e de pecado, analisando-o à luz de uma tradição de leitura pública, comunitária e oficial, que “constitui para nós um fenómeno cultural de longuíssima duração” (p. 267). Carlota Miranda Urbano, num ensaio de âmbito mais literário (“Ortodoxia e heterodoxia no início da modernidade. Poesia hagiográfica neolatina ao serviço da apologética jesuítica”, pp. 289-304), apresenta uma epopeia neolatina jesuítica, de modelo clássico e carácter apologético: o Paciecidus, em doze cantos, composto por Bartolomeu Pereira, mestre de Retórica do Colégio da Companhia de Jesus em Coimbra, e publicado em 1640, sobre o martírio de um grupo de missionários jesuítas em Nagasáqui, em 1626, que se contam entre os 205 cristãos que hoje conhecemos como Beatos Mártires do Japão. Entre estes, o Pe. Francisco Pacheco é celebrado como herói épico, tendo o poema o propósito fundamental de promover a devoção à sua figura e exaltar o seu exemplo de fé perante a perspectiva do martírio, numa época de refutação da heterodoxia protestante e após a reafirmação, no Concílio de Trento, em 1563, da intercessio sanctorum e da exemplaridade da vida dos santos para todos os fiéis. A obra termina com estudos sobre Filosofia Contemporânea e Geografia, da autoria de Maria Luísa Portocarrero (“Norma, transgressão e tradução na filosofia prática de P. Ricœur”, pp. 307-320) e Norberto Santos (“Desvios e regras nos territórios do quotidiano”, pp. 323-342). Toda a colectânea poderia beneficiar de um trabalho de revisão mais criterioso, que não deveria ser transcurado no caso de uma reedição, eliminando discrepâncias estilísticas e pequenos lapsos editoriais (como o nome da editora María Consuelo Álvarez Morán, impresso com a acentuação errada na capa e no frontispício do livro), uniformizando critérios de citação e revendo mesmo os contributos dos diferentes autores à luz de uma referência metodológica comum, procurando conferir maior uniformidade temática a esta colectânea, cujo objecto oferece possibilidades de reflexão assinaláveis. Do mesmo modo, não podemos deixar de considerar que, sob uma perspectiva mais estritamente académica, a ausência de quaisquer índices (onomástico, temático, ou de um index locorum para os autores antigos) compromete largamente a utilidade do volume. José Carlos Araújo

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I COMMENTATIONES Un souvenir d’Antiphon dans la peinture de la Démocratie au livre VIII de la République de Platon (557a – 562a)? – Marcel Meulder ................................

9

Etiology in Parthenius of Nicaea – Marc Vandersmissen .........................................

35

La φιλοστοργία negli animali: l’exemplum plutarcheo dell’ἄρκτος – Gabriella Guarino ....................................................................................................................

49

Historia y ficción poética en la deductio moderna: el largo viaje de la novia en tres epitalamios latinos del siglo XV en honor de la Casa de Aragón – Antonio Serrano Cueto .......................................................................................................

67

Dall’autopsia del codice Perugia, Biblioteca Comunale Augusta, H 56, sondaggi sulla triade bizantina di Eschilo (Prometheus-Septem-Persae) – Isabella Proietti....

87

En los márgenes de un tópico poético: El passerulus alicaído de Filippo Buonaccorsi (Callimachus Experiens) – Manuel A. Díaz Gito ............................................

105

Una aproximación a los studia epigraphica de Conrad Peutinger: el testimonio de las inscripciones hispanas – Gerard González Germain ..............................

119

Emblemas-florilegios sobre la amistad en el Emblematum Liber (1593) de Jean Jacques Boissard – Beatriz Antón ......................................................................

135

Unamuno, La Esfinge y el Mito de Edipo – Cristóbal Macías Villalobos ..........

155

II STVDIA BREVIORA A propósito de φύσις y τέχνα en la cuarta oda ístmica de Píndaro – Aida Míguez Barciela ...................................................................................................................

177

The hellebore in Persius’ Satires – Spyridon Tzounakas ...........................................

189

Traducciones ibéricas de la obra retórica de Apuleyo – Juan Martos ......................

197

En torno a las composiciones litúrgicas latinas de la Hispania medieval en honor de Leandro de Sevilla († 602) – Jose Carlos Martín-Iglesias ......................

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RERVM INDEX

O professor de Grego Mário de Carvalho, Era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto – Maria de Fátima Silva............................................................

217

III VARIA NOSCENDA Oltre i confini di Babele: riflessioni per una didattica della grammatica latina con il metodo neocomparativo – Marco Ricucci........................................................

227

IV RES COMMEMORANDAE In memoriam: Maria de Lourdes Flor de Oliveira, com afecto e saudade – Mafalda Viana & Aires A. Nascimento ............................................................................

249

José Guillermo Montes Cala. In memoriam – Rafael J. Gallé Cejudo, Manuel Sánchez Ortiz de Landaluce & Tomás Silva Sánchez ...............................

255

V DISPUTATIONES Documenti latini e greci del conte Ruggero I di Calabria e Sicilia. Edizione critica a cura di Julia Becker – Marcello Moscone .......................................................

259

Elisabetta Patrizi, «Del congiungere le gemme de’ gentili con la sapientia de’ christiani», La biblioteca del card. Silvio Antoniano tra studia humanitatis e cultura ecclesiastica – Marcello Moscone......................................................................

265

VI LIBRI RECENSITI a) Edições de texto. Comentários. Traduções. Estudos Linguísticos Anne de Cremoux, La Cité Parodique. Études sur les Acharnenses d’Aristophane – Rui Carlos Fonseca...........................................................................................

273

François Ripoll et Jean Soubiran, Stace. Achilléide – Ana Lóio ..........................

275

Darete Frígio, La storia della distruzione di Troia. Introduzione, testo, traduzione e note a cura di Giovanni Garbugino – Manuel José de Sousa Barbosa ....

276

Aires Barbosa, Obra poética. I – Epigramas; II – Antimória [1495-1536]. Fixação do texto latino, introdução, tradução, notas e comentários por Sebastião Tavares de Pinho e Walter de Medeiros – Manuel José de Sousa Barbosa...............

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RERVM INDEX

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Georges Buchanan, Poetic Paraphrase of the Psalms of David (Psalmorum Dauidis paraphrasis poetica), edited, translated, and provided with introduction and commentary by Roger P. H. Green – Manuel José de Sousa Barbosa ........

280

Claude Moussy (dir.), Espace et temps en latin – Manuel José de Sousa Barbosa ....................................................................................................................

283

b) Literatura. Cultura. História Benjamin Acosta-Hughes, Arion’s Lyre. Archaic Lyric into Hellenistic Poetry – Rui Carlos Fonseca..........................................................................................

285

Emmanuelle Raymond (ed.), ‘Vox poetae’: manifestations auctoriales dans l’épopée gréco-latine. Actes du colloque organisé les 13 et 14 novembre 2008 par l’Université Lyon 3 – Maria João Toscano Rico ..............................................

287

Claude Calame, Mythe et Histoire dans l’Antiquité Grecque. La création symbolique d’une colonie – Nuno Simões Rodrigues ............................................................

291

Laurent Coulon, Pascale Giovannelli-Jouanna, Flore Kimmel-Clauzet (dir.), Hérodote et l’Égypte: Regards Croisés sur le Livre II de l’Enquête d’Hérodote. Actes de la Journée d’Étude Organisée à la Maison de l’Orient et de la Méditerranée – Nídia Catorze Santos .................................................

293

Carmen Soares, Maria do Céu Fialho, María Consuelo Álvarez Morán, Rosa María Iglesias Montiel (coord.), Norma ! Transgressão II – José Carlos Araújo........................................................................................................

295

Mimma Bresciani Califano (ed.), Paradossi e disarmonie nelle scienze e nelle arti – Giuseppe Ciafardone ........................................................................................

299

Mathilde Simon (ed.), Identités romaines. Conscience de soi et représentations de l’autre dans la Rome antique (IVe siècle av. J.-C. – VIIIe siècle apr. J.-C.) – Nuno Simões Rodrigues ...................................................................................

301

Emilio Suárez de la Torre, Aurelio Pérez Jimenez (coords.), Mito y Magia en Grecia y Roma – Gabriel Silva ........................................................................

302

Hélène Vial, La métamorphose dans les Métamorphoses d’Ovide. Étude sur l’art de la variation – Nuno Simões Rodrigues ..............................................................

305

Sabrina Inowlocki & Baudouin Decharneux (eds.), B. Bertho (colab.), Philon d’Alexandrie – Un Penseur à l’Intersection des Cultures Gréco-Romaine, Orientale, Juive et Chrétienne – Nuno Simões Rodrigues ................................

306

O. Devillers & G. Flamerie de Lachapelle (eds.), Poésie augustéenne et mémoires du passé de Rome. En hommage au Professeur Lucienne Deschamps – Ana Lóio.....

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RERVM INDEX

José Luís Lopes Brandão, Máscaras dos Césares: Teatro e Moralidade nas Vidas Suetonianas – Ricardo Nobre ..............................................................................

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Michael Paschalis, Stelios Panayotakis (eds.), The Construction of the Real and the Ideal in the Ancient Novel – Fotini Hadjittofi....................................

310

Marília Futre Pinheiro, Judith Perkins, Richard Pervo (eds.), The Ancient Novel and Early Christian and Jewish Narrative: Fictional Intersections – Fotini Hadjittofi...............................................................................................

313

Marília P. Futre Pinheiro, Stephen J. Harrison(eds.), Fictional Traces. Receptions of the Ancient Novel – vol. 1 & 2 – José Carlos Araújo ....................................

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Stéphane Ratti, Polémiques entre païens et chrétiens – Ivan Figueiras .................

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EVPHROSYNE, 42, 2014

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ARTICLE SUBMISSION GUIDELINES 1. Euphrosyne — Revista de Filologia Clássica, the peer journal of the Centre for Classical Studies, publishes papers on classical philology and its disciplines (including classical reception and tradition). 2. Papers can be sent to [email protected] or to the Centre for Classical Studies’ post mail. 3. Papers submitted: must be original; cannot be yield to other entity; must be sent in their definite version; have to be presented according to these guidelines; will not be returned to the author. Papers will be submitted to peer reviews. 4. Papers will be accepted until 31st of December in the year previous to publication; an acceptance notification will be sent to the author until 30th of April in the year of publication. 5. Originals must always be submitted in double electronic format (Word/.doc(x) and PDF). 6. Papers must have: a) title (short and clear); b) author’s name and surname; c) author’s academic or scientific insti-tution; d) author’s email; e) abstract (10 lines) in English; f) three key-words in English. 7. Recommended size is 10 pages and never more than 20 A4 pages (font size 12, double spaced). 8. Notes: endnotes, with sequential numeration. When published, these will be converted to footnotes. 9. References: a) Remissions to pages within the paper are not allowed. b) Note references: Books: J. de Romilly, La crainte et l’angoisse dans le theatre d’Eschyle, Paris, Les Belles Letres, 1959, pp. 120-130; 2nd reference: J. de Romilly, op. cit., p. 78. Journals: R. S. Caldwell, “The Misogyny of Eteocles”, Arethusa, 6, 1973, 193-231 (vol., year, pp.). 2nd reference: R. S. Caldwell, loc. cit. Multi-author volumes: G. Cavallo, “La circolazione dei testi greci nell’Europa dell’Alto Medioevo” in J. Hamesse (ed.), Rencontres de cultures dans la Philosophie Medievale — Traductions et traducteurs de l’Antiquite tardive au XIVe siecle, Paris, Les Belles Letres, 1971, pp. 47-64. c) Abbreviations: to Latin authors will be followed ThLL conventions; Liddel-Scott-Jones will be used to Greek authors; Année Philologique to abbreviate journal tides; common abbreviations: p. /pp.; ed. /edd.; cf.; s.u.; supra; op. cit.; loc. cit.; uid.; a.C. / d.C. (roman). d) Quotations: Must be marked by quotes “...” (but not in Greek); italic is used to highlight words or short sentences; quotations in Latin or Greek must be brief. 10. Images must have quality (preferably in TIF format, minimum resolution 200 p.p.), provided in electronic format, with the precise indication of where they must be placed in the text, and who is their author. The author is responsible for obtaining any copyrights needed. 11. The author will not be provided with more than one set for review, which has to be returned within a week period. Originals cannot be modified. 12. Authors will receive a physical copy of the volume and the electronic version of their paper.

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