Review of \"No Quarto da Vanda\" (Pedro Costa)
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14 | a cabra | 15 de outubro de 2013 | Terça-feira
ARTES FILA K
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A destruição das Fontainhas, antigo bairro da Amadora, e o desenrolar de várias figuras dentro deste: seria perfeitamente ridículo reduzir “No Quarto da Vanda” a esta descrição, porque não só seria redutor como se perderia toda a brilhante e lúcida complexidade que se encontra em cada plano. Porque o quarto começa com as irmãs Vanda e Zita (o quarto é delas) mas logo se expande para outros espaços e, com estes, vêm todos os outros (o quarto também é deles). A vida no bairro está presente sob a forma de rituais: a droga consumida no escuro do interior (“foi a vida que fomos obrigados a viver”, diz Pango), os churrascos feitos na rua, a venda de couve e colheres
de pratas parecem passar indiferentes ao barulho e poeira das demolições. O filme representa uma ruptura no método de filmagem de Pedro Costa, uma ligação íntima com cada rosto que permite um olhar bem denso sobre o tempo que resta naquele espaço. Os seus trabalhos anteriores foram como que a preparação para esta intimidade, a construção de uma linguagem para depois a esquecer. O realizador recusa a categorização de documentário, que entidades e público estabelecem, porque sabe perfeitamente que a vida é bem mais ficcionada do que aquilo que aparenta ser, e que a discussão sobre o que é, ou não, “real” é completamente dispensável.
Há pequenos e inesperados deleites cinemáticos que enchem as nossas telas de forma vibrante. O regresso de Ousmane Sembéne em 2001, quase dez anos depois da sua última obra cinematográfica, veio confirmar o seu estatuto de lenda entre os seus pares no cinema da região do Sub-Sahara. Aos 78 anos o escritor e realizador senegalês mantém-se fiel a si mesmo e ao que o celebrizou, apresentando em Faat Kiné mais um fruto pujante de uma árvore já com anéis de experiência. A forte crítica social marca as películas de Ousmane Sembéne e, desta feita, faz uso de uma estigmatizada empresária e mãe solteira como veículo condutor para a criação de uma teia reveladora e crítica da sociedade patriarcal pós-colonial
da África Ocidental e as suas dinâmicas socioeconómicas. É através da sua personagem matriz, Kiné, que nos deleitamos com o desenrolar do cotidiano da classe média de Dakar em todo o seu esplendor cultural, religioso, social, económico e supersticioso. Com um ritmo temperado, apanágio já conhecido do realizador, realçam-se as cores vibrantes e soberba captação do fervor da vida de uma sociedade na capital africana Dakar. Com factores cómicos magistralmente encaixados de forma a quebrarem a toada taciturna de diferentes aspectos da vida de Kiné, Faat Kiné é um espelho daquilo que Ousmane Sembéne tem para oferecer e uma óptima e imperdível adição às Sessões de Carvão.
Para ver como alguém apaixonado, temos de afastar as teias, limpar os óculos, encarar o possível e enveredar numa trama subtil, de natureza débil e idealista, evitando a realidade pela melancolia. As pessoas que amamos são feridas abertas para sempre na carne interior, que ardem ao som de livros e músicas dormentes, no desconforto da luz e dos reDe flexos, entre planos transparentes e Abbas Kiarostami densas paredes. Mesmo quando algo Em Exibição não é o que parece, é tudo o contrário 25 de Novembro disso, é a verdade seca, posta às avesTAGV sas: não se pode amar mais claro. Ei-la, uma sophisticated lady (call girl japonesa) e a sua família improvisada, relações mutáveis em espaços confinados, filmados com desprezo pelo ritmo vulgar do temCRÍTICA DE RITA LEONOR BARQUEIRO po, de sombras sonolentas amar-
radas em cintos de segurança e fios de telefone, concebidas à imagem e semelhança de um inquietante rosto proteico, auto-retrato dela, com um papagaio que lhe serve de ponto. Kiarostami, nesta sua terceira longa afastada das suas raízes iranianas, tem um modo de fazer perverso e enigmático na forma de poesia, onde o que não se vê é tão ou mais importante do que o que se vê. Chama-nos para jogar às escondidas e quebra-nos o raciocínio num constante efeito de reconhecimento. Like Someone In Love inventa-nos, dá-nos o silêncio, um par de asas tortas e voamos sem tédio pela sua gravidade. Tudo acaba num plano quebrado, literalmente, pelo excesso, mas sem ditar um fim – que sera, sera. Apesar de tudo.
No Quarto da Vanda” De Pedro Costa Em Exibição 30 de Outubro Casa das Caldeiras
No quarto como no bairro CRÍTICA DE PEDRO TRENO
SESSÕES DO CARVÃO
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Faat Kiné” De Sembène Ousmane Em Exibição 30 de Outubro Casa das Caldeiras
Um ribombar no deserto CRÍTICA DE SAMUEL FERREIRA
CINEMA À SEGUNDA
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Like Someone in Love ”
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E já não és senão como te sinto SESSÕES DO CARVÃO
CINEMA À SEGUNDA - TAGV
FILA K
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Emitaï (1971)
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Viagem a Tóquio
The Most Beautiful Women
No Quarto da Vanda (2000)
Sembène Ousmane
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Roger e Eu (1989)
10 on Ten (2004)
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Andy Warrol
Pedro Costa
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