Revisando a Revisão: Genocídio americano: a guerra do Paraguai de J. J. Chiavenato

July 15, 2017 | Autor: F. Barcellos Teix... | Categoria: History, Paraguay, Historia, História do Brasil, Guerra do Paraguai, Ditadura Militar
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Revisando a Revisão: Genocídio americano: a guerra do Paraguai de J. J. Chiavenato Fabiano Barcellos Teixeira⃰



Exaltada e execrada, a obra do jornalista Júlio José Chiavenato, Genocídio americano: a guerra do Paraguai, publicada pela editora brasiliense no período inicial de abertura da ditadura militar brasileira, em 1979, teve enorme sucesso comercial, 32 edições, mesmo sem divulgação da grande mídia. Despreocupado com os rigores acadêmicos e com sérias limitações do ponto de vista da epistemologia histórica, J. J. Chiavenato cravou teses que feria o orgulho patriótico brasileiro sobre o grande conflito, imagem que sobretudo boa parte dos veteranos do exército nacional configuraram em suas publicações sobre a chamada guerra do Paraguai (1864-70). O despreparo e os constantes crimes de guerra cometidos pelo exército brasileiro; as ações imperialistas do Brasil diante do Uruguai (1863-64) e do Paraguai (1864-70); os índices positivos sobre o desenvolvimento, a industrialização, a alfabetização e o caráter guerreiro do soldado paraguaio; a forte ingerência inglesa no conflito; a altíssima mortalidade da população masculina paraguaia no conflito (...) foram ideias sugeridas e desenvolvidas no livro “escrito com paixão” do escritor paulista. Genocídio americano sacudiu a historiografia brasileira sobre a guerra do Paraguai, praticamente inerte desde os anos 1930. Consciente da importância da obra de Júlio Chiavenato, a historiadora Silvânia de Queiróz realizou admirável dissertação acadêmica defendida em 2010 na Universidade de Passo Fundo, publicada em 2014 pela editora FCM de Porto Alegre. As trezentas e trinta páginas, divididas em oito capítulos, de Revisando a revisão: Genocídio americano: a guerra do Paraguai de J. J. Chiavenato, abordaram com argúcia desde a historiografia geral sobre a Guerra Grande à repercussão e influência de Genocídio americano na historiografia brasileira. O livro de Silvânia teve gratificantes inovações como entrevistas com renomados historiadores e com o próprio Chiavenato, atualmente aposentado e vivendo no interior paulista. Os por quês do sucesso dessa obra e da sua impugnação a partir dos anos 1990 por boa parte da historiografia de viés restauracionista são perguntas que Revisando a revisão vai respondendo e costurando ao decorrer das páginas. No primeiro capítulo “História e historiografia no Prata” analisa-se centralmente o contexto argentino oitocentista. Buenos Aires foi capital do Vice-Reinado espanhol do Prata (1776-1810), conglomerado colonial que reunia além de quase toda a atual Argentina – exceto o sul –, o Paraguai, o Uruguai e parte da Bolívia. Dirigentes da cidade portuária, em maioria latifundiários com estreitas relações com o capital inglês, por inúmeras vezes ameaçaram a independência paraguaia, declarada em 1811. Comandados pelo presidente da Argentina unificada, Bartolomé Mitre, os unitários portenhos se aliaram ao Império do Brasil e o partido colorado uruguaio na formação da Tríplice Aliança (1865) na Guerra Grande contra o Paraguai. Silvânia inicia sua obra apoiada especialmente em autores argentinos como Enrique Rivera, autor de José Hernandez y la guerra del Paraguay, cuja primeira edição foi publicada em 1954; Milciades Peña, La Era Mitre: de caseros a la guerra de la Triple Infamia, de 1955; José María Rosa, La guerra del Paraguay y las montoneras argentinas, de 1964 e León Pomer, Nossa guerra contra esse soldado, de 1984. A historiadora destacou os conflitos internos entre unitários/portenhos e federalistas, representantes das províncias do interior, na Argentina, assinalando o tímido apoio a guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai naquele país, assim como no Uruguai. De modo geral, o Paraguai era aliado dos federalistas e dos blancos uruguaios contra a exploração portenha. A autora indicou a influência das teses de León Pomer sobre Chiavenato, como a participação inglesa no conflito e o desenvolvimento autônomo paraguaio, ideias que Pomer já publicara em fins da década de 1960. No segundo capítulo “História e historiografia no Paraguai” Silvânia faz um panorama da formação social paraguaia. Destaca-se o processo de independência do Paraguai em relação à Doutorando pelo programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Passo Fundo. Bolsista Capes. E-mail: [email protected]

Espanha e a Buenos Aires, movimento forjado no governo de José Gaspar de Francia (1814-40). O doutor Francia representava os interesses dos pequenos e médios chacareros paraguaios, constituindo um Estado singular na América Latina, onde a pequena e média propriedade caracterizava a jovem nação ao invés das oligarquias terratenentes, em geral predominantes no mundo colonial. Apoiada na obra de Raul de Andrada e Silva Ensaios dobre a ditadura no Paraguai, 1814-40, de 1978, a autora narra a formação do país, distante das rotas de metais precisos e do litoral do continente. Silvânia define como intensa a miscigenação do colonizador europeu (grupo inicialmente formado por algumas centenas de homens) com os nativos, sobretudo os povos guarani. Os principais cargos de administração eram distribuídos tendo como base o critério racial e econômico, ou seja, quanto mais sangue europeu e posses, mais próximo ao ápice da pirâmide social. Nos primeiros séculos de colonização a mão-de-obra indígena foi explorada através da encomienda, na qual mesmo que intensamente explorado o nativo ainda mantinha relações comunitárias com a terra, algo substancialmente diverso da escravatura brasileira, por exemplo. Em boa parte dos séculos 17 e 18, as missões jesuíticas também estreitaram a vinculação dos nativos com a terra, com destaque a produção da erva-mate, a extração de madeiras e a criação do gado. As missões deram um salto qualitativo à sociedade guarani, com aumento significativo da produção agrícola e desenvolvimento do pastoreio e da tecelagem, com base em um forte sentimento de segurança social as comunidades reduzidas diante dos encomenderos e bandeirantes escravizadores, esclarece a autora. Após analisar o Paraguai colonial e a era de Francia, Silvânia discorre brevemente acerca dos governos de Carlos Antonio López (1844-62) e do início do mandato de Francisco Solano López (1862-70). Com a família López no poder, as classes mercantis de Assunção, a igreja católica e os estancieiros tiveram maior representação política, em um processo de tendencial restauração à época colonial, com forte deslegitimação da era francista. Investiu-se na infraestrutura civil e militar, através de compras realizadas nas famosas viagens diplomáticas dos ministros paraguaios à Europa, nos anos 1850. O Paraguai inseria-se no comércio internacional, com o reconhecimento de sua independência por diversas nações, inclusive Argentina, Brasil e Inglaterra. Em geral, nos governos dos López aumentaram as divergências do Paraguai com a Argentina e o Brasil no relativo a definição das fronteiras, ao sul e ao norte do país respectivamente. As relações diplomáticas do Paraguai com o Brasil, no entanto, também tiveram momentos de aproximação quando, em 1850, ocorrera aliança militar contra as ações expansionistas da Argentina do presidente Juan Manuel Rosas (1829-52). Todavia, após a batalha de Monte Caseros, em 1852, evento que marcou a queda de Rosas, as tensões entre os governos do Brasil e do Paraguai aumentaram sobretudo quanto a questão sobre a navegação pelo rio Paraguai, rota vital para acessar a província do Mato Grosso. A autora assinala que litígios sobre domínio de territórios e a livre navegação por rotas fluviais foram causas significativas para o início da maior guerra da história da América Latina; teses que Genocídio americano pouco aprofundara, preferindo atribuir maior responsabilidade aos interesses do capitalismo e imperialismo inglês do que as causas regionais. No terceiro capítulo, “A historiografia do Brasil sobre a guerra do Paraguai – até 1979”, destacou-se o caráter nacional-patriótico das obras publicadas no Brasil até o livro de Chiavenato. Grande parte dos trabalhos era de autoria da alta oficialidade do Exército, como as cinco obras analisadas detidamente por Silvânia. Estudou-se o livro do coronel Antonio de Sena Madureira, Guerra do Paraguai: resposta ao Sr. Thompson, de 1870 e as obras dos generais Paulo de Queiróz Duarte, Os voluntários da Pátria na Guerra do Paraguai, de 1910; Dionísio Cerqueira, Reminiscências da campanha do Paraguai, de 1910; Joaquim Silvério de Azevedo Pimentel, Episódios militares, de 1920 e Augusto Tasso Fragoso, História da guerra entre a Tríplice Aliança e o Paraguai, de 1934. Em geral, os trabalhos nacionais-patrióticos descreviam relatos sobre as batalhas da guerra, elogiavam a conduta dos briosos comandantes imperiais, acusavam e responsabilizavam o desvairado presidente paraguaio Francisco Solano López pelo início do conflito, além de

caracterizar o soldado paraguaio como um “bando de selvagens fanáticos”. Era a civilização contra a barbárie, a incólume e ufanista defesa das razões do Império do Brasil na grande guerra do Prata. Merece distinção a monumental obra de Augusto Tasso Fragoso, escrita mais de meio século após o conflito. O general era o único dos cinco militares que tiveram suas obras analisadas por Silvânia que não participou das batalhas (o maranhense nasceu em 1869). Nos cinco volumes de História da guerra entre a Tríplice Aliança e o Paraguai, Tasso Fragoso ofereceu ao leitor um panorama mais completo dos antecedentes do grande conflito e da história do Paraguai, embora o generalhistoriador deixasse bem claro de qual lado trincheira ele escrevia. O quarto capítulo, “A ditadura militar e o Genocídio americano”, imerge o leitor no conturbado contexto político que o Brasil atravessava nos anos 1960-1985. Silvânia de Queiróz destaca o pioneirismo do livro de Manlio Cancogni e Ivan Boris, publicado em 1970 na Itália, e lançado no Brasil em 1975 pela editora Civilização Brasileira, Solano López: o Napoleão do Prata. Os italianos modernizaram a abordagem sobre o tema ao estudarem sinteticamente história, economia e sociedade do principal cenário do conflito, embora valorizassem com exagero a plena educação no Paraguai e as virtudes da personagem que deu nome a obra. Em seguida o livro foi proibido pela ditadura militar brasileira. Um ano antes de Genocídio americano, o valioso livro resultado da tese de doutoramento do professor da Universidade de São Paulo, Raul de Andrada e Silva, Ensaio sobre a ditadura no Paraguai: 1814-1840, praticamente não teve repercussão no Brasil, adverte a autora. Sempre preocupada em ambientar o leitor ao contexto da época, Silvânia de Queiróz analisa a política e a sociedade brasileira nos conturbados anos de chumbo. Assim, compreende-se melhor a dimensão de Genocídio americano. Fugindo da censura e da violência, no início dos anos 1970, o jornalista Júlio Chiavenato percorreu de moto boa parte da América do Sul, detendo-se mais tempo no Paraguai, onde a guerra ainda não foi superada pela população e é vivida intensamente, conforme palavras do escritor paulista. Infame aos olhos dos militares de direita, o livro de Chiavenato só pôde ser publicado em 1979 porque o governo do general Figueiredo, recém empossado, comprometeu-se realizar abertura lenta e gradual a democracia. No quinto capítulo “Gênese, publicação e sucesso de Genocídio americano” Júlio José Chiavenato é a estrela fulgurante. Silvânia biografa o jornalista, que conta em detalhes a produção da sua obra máxima. Chiavenato relata que estava visado pela repressão, pois era redator-chefe de um jornal e produtor de um programa de rádio no interior paulista. Com a decretação do AI-5, em dezembro de 1968, a censura recrudesce suas ações, fazendo com que o comunicador, assim como centenas de intelectuais da época, mudasse de ares e saísse do Brasil. Nascia o escritor. Ao chegar ao Paraguai, Chiavenato se impressiona com os traumas deixados pela guerra, cujo último tiro fora dado há mais de um século. Em suas viagens pelo Cone Sul no início dos anos 1970, Chiavenato entrou em contato com diversas obras sobre a guerra do Paraguai, como A guerra da tríplice aliança contra o governo da República do Paraguai, de L. Schneider, de 1945; Guerra do Paraguai, de George Thompson, de 1968; Datos históricos de la Guerra del Paraguay contra la Triple Alianza, de Francisco Isidoro Resquin, de 1971, História da Guerra do Paraguai, de Max Von Versen, de 1976, entre outros. O pesquisador trabalhou também nos arquivos do Museu Mitre, em Buenos Aires, na Biblioteca Nacional de Assunção e encontrou sérias dificuldades para pesquisar na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, espécie de reserva particular do historiador José Honório Rodrigues onde "a mentira corria solta", relata o escritor. Após o lançamento em março de 1979, Genocídio americano permaneceu por vários meses na lista dos mais vendidos do país, em maio já estava em nono lugar! Segundo o autor da obra, apenas após sete edições esgotadas é que saiu a primeira nota na imprensa. Os jornais praticamente ignoraram o livro, por motivos óbvios, ele complementa (a censura ainda estava vigilante). A primeira resenha foi na revista Veja, quatro meses após o lançamento. A imprensa dos Estados Unidos, da Inglaterra, do México e do Paraguai resenhou o livro sempre o relacionando com a ditadura militar vigente. A primeira e única vez que a Folha de São Paulo, jornal de maior

circulação no Brasil, comentou o livro foi em um artigo-resenha bastante elogioso do jornalista Paulo Francis, de 25 de março de 1980, texto que Silvânia analisa com perspicácia na sua obra. Mesmo com reconhecimento e fama repentina, o jornalista escritor só voltou a conseguir emprego fixo em 2007, no jornal “A Cidade”, de Ribeirão Preto. A Academia Brasileira de Letras decidiu por não adotar o livro nas escolas, o Conselho Federal de Cultura desqualificou a obra, ou seja, apesar de não proibida e não recolhida a obra sofria retaliações diversas do Estado brasileiro. Destaque-se que na época as ditaduras militares do Brasil e do Paraguai estavam ajustando acordo para a construção da usina elétrica binacional de Itaipu, lembra com pertinência a autora de Revisando a revisão. No sexto capítulo, “Genocídio americano – avanços e tropeços” analisam-se detidamente as teses defendidas por Chiavenato e seu método de escrita. A obra teve o grande mérito de ser pioneira no Brasil na crítica geral desde a ótica das populações envolvidas, desorganizando as representações hegemônicas, além de trazer a tona tema praticamente esquecido desde os anos 1930. Avanços dados com percalços analíticos e factuais que não ensejaram, no entanto, superação substancial pela historiografia brasileira, sempre muito ligada a concepções do Estado, diferentemente da Argentina e do Paraguai, adverte a mestre Silvânia. Nos 17 capítulos de Genocídio americano, Chiavenato narra a história do Paraguai e dos países do Prata, nos oitocentos. Entre as inúmeras teses de Chiavenato, destacamos a análise de Silvânia sobre a ampla reforma agrária realizada no governo do Doutor Francia (1814-40) que ensejou uma sociedade singular na América do Sul; o programa de educação do mesmo Francia que teria resultado em um "país sem analfabetos"; a modernização do Paraguai sem auxílio do capital inglês, com fundições de ferro inauguradas por Carlos Antonio López; a falta de uma classe dirigente no Paraguai, que teria o ajudado a ser derrotado na guerra; os gigantes anêmicos Argentina e Brasil (escravista e corrupto), subservientes ao imperialismo inglês; a bravura do soldado e a boa organização do exército paraguaio em oposição ao desqualificado quadro imperial, composto por ex-cativos sem motivos essenciais para entrar combater naquela guerra. Todas as ideias de Chiavenato analisadas no livro de Silvânia são minuciosamente destrinchadas revelando as contradições e imperfeições dos constantes exageros do escritor jornalista. A autora assinala que o grande lapso de Genocídio americano foi negligenciar os fortes interesses da Argentina mitrista e do Império no Brasil na guerra; Chiavenato atribuiu demasiado protagonismo aos ingleses. Assim, Silvânia objetivamente vai superando as limitações de Genocídio americano, contribuindo decisivamente para a historiografia sobre a guerra do Paraguai. No sétimo capítulo, “A recepção de Genocídio americano – historiadores” trabalha-se a repercussão da obra por historiadores, em boa parte então estudantes ou jovens professores no governo final da ditadura. Através de entrevistas por e-mail, Silvânia constrói sua narrativa dialogando vivamente com o passado. Ao todo foram entrevistados 15 historiadores, além do escritor Chiavenato, atualmente radicados no Mato Grosso, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo: Adelar Heinsfeld, Adelmir Fabiani, Ana Luiza Setti Reckziegel, Carlos Comassetto, Jorge Euzébio Assumpção, José Ernani da Silva, Júlio Ricardo Quevedo dos Santos, Lincoln de Abreu Penna, Marcos del Roio, Paulo Afonso Zarth, Paulo Marcos Esselin, Romualdo Portela de Oliveira, Theo Lobarinhas Piñeiro, Valério Arcary e Virgínia Fontes. A autora examina o artigo de Jarbas Passarinho, publicado na Folha de São Paulo, de 30 de outubro de 1979, que desaprovava a desconstrução dos mitos nacionais que a obra Napoleão do Prata teria sacramentado. Silvânia de Queiróz identifica uma crítica indireta a obra de Chiavenato, livro bem mais vendido que o dos italianos no Brasil. Em geral, os entrevistados afirmaram que Genocídio americano teve ótima aceitação nos meios universitários e era bastante comentado até mesmo nas escolas secundaristas ou por ativistas sociais, apesar de não ter sido produzido em instituições de ensino e de pesquisa. O clima da época transbordou nas palavras dos entrevistados. Procuravam-se novidades que fossem de encontro a moribunda, mas ainda vigilante, ditadura militar. No entanto, o livro não seria para combater a ditadura, surpreende Chiavenato. A essa altura, Silvânia aborda a influência inglesa no conflito platino e os números de mortalidade da guerra, dois pontos polêmicos de Genocídio americano. O autor nuança suas

posições enfáticas outrora. Também foi examinada a tese formulada nos anos 1990 do autor inglês Leslie Bethell que absolve de qualquer responsabilidade o Império britânico pelo início e seguimento da guerra do Paraguai. Os lapsos e imperfeições da obra são comentados pelos diversos historiadores entrevistados o que abrilhanta ainda mais o compêndio de Revisando a revisão. Por fim, no oitavo capítulo, “A recepção de Genocídio americano – os manuais escolares”, a autora analisa as tendências historiográficas presentes nos manuais escolares entre 1906 a 2008, sempre destacando a repercussão de Genocídio americano. Inicialmente a pesquisadora e professora Silvânia de Queiróz esclarece porque analisou os manuais, visto a crescente importância nos meios escolares dessa ferramenta pedagógica. Entre os diagnósticos do capítulo, Silvânia assinala que as obras produzidas até o livro de Chiavenato tiveram predominância de abordagens mais associadas às tendências nacionais-patrióticas, na medida em que adotavam uma visão ufanista da participação do Império do Brasil no conflito. Das décadas de 1980 ao início dos anos 2000 visualizam-se influências das interpretações alinhadas ao chamado revisionismo de esquerda, na qual se insere a obra Genocídio americano, buscando apontar os interesses do imperialismo inglês como principal motivação para a guerra. Já nos manuais mais recentes analisados pela autora, consta uma interpretação próxima ao neorevisionismo, quando se procura cotejar versões historiográficas e trazer pensamentos divergentes sobre a temática. No entanto, há nítido destaque as propostas nacionais-restauracionistas, como a apresentada em Maldita guerra, de 2002, de Fernando Doratioto, rica bibliografia aplaudida, sobretudo nas mídias e meios associados ao Estado brasileiro. Revisando a revisão resgata Genocídio americano do inferno historiográfico. Remexendo na antiga obra de Chiavenato, Silvânia de Queiróz inova, atualiza e contribui a ainda carente e defasada historiografia brasileira sobre a guerra do Paraguai. Silvânia conduz o leitor ao cenário da publicação da obra, nos estertores da ditadura, com uma habilidade digna dos autores dos mais encantadores livros de literatura e com a estrela de um prodígio historiador.

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