Revisão da literatura sobre o papel da Engenharia da esiliência na Saúde e Segurança do Trabalho

May 30, 2017 | Autor: Ricardo Montero | Categoria: Produção
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Instituto Superior Tupy – IST/SOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 03, n. 01: p. 120-143, ano 2013

Revisão da literatura sobre o papel da Engenharia da Resiliência na Saúde e Segurança do Trabalho Review of literature about Engineering Resilience in Health and Safety Marco Shawn Meireles Machado ([email protected], Instituto Superior Tupy/SOCIESC, Santa •

Catarina, Brasil) Rua das Violetas, 547, Boa Vista, 89205-620, Joinville, SC, Brasil

Marlete Sremin ([email protected], Instituto Superior Tupy/SOCIESC, Santa Catarina, Brasil) Eduardo Concepción Batiz ([email protected], Instituto Superior Tupy/SOCIESC, Santa Catarina, Brasil)

Ricardo de la Caridad Montero Martínez ([email protected], Universidad Autónoma de Occidente, Cali, Colombia)

Resumo: A Engenharia de Resiliência contribui de forma positiva nas organizações ao desenvolvimento da Saúde e Segurança do Trabalho. Este artigo é um estudo de caráter bibliográfico que tem como objetivo realizar uma revisão da literatura sobre o papel da Engenharia da Resiliência na Saúde e Segurança do Trabalho. Consideram-se os pressupostos da Engenharia da Resiliência e sua contribuição para a saúde, tais como: recursos para a busca de respostas e soluções eficazes e adaptáveis visando alcançar favorecimento amplo a saúde e segurança no âmbito do trabalho. Justifica-se o estudo, em vista que, os indivíduos consigam conhecer e buscar recursos adaptáveis para si mesmo e, agir rapidamente frente a uma dificuldade encontrada. Foram pesquisados 133 documentos dos quais 27 se converteram em referências para a elaboração deste artigo. Como resultado espera-se que o tema discutido neste artigo contribua de forma significativa para aumentar o conhecimento de tão importante tema tanto para os indivíduos como para as organizações e possibilite enfrentar os problemas e as suas adversidades através de um comportamento adotado na vida e/ou no ambiente de trabalho, tal qual, se resume em resiliência. Assim consigam promoverem a resiliência em seu benefício próprio e observam as vantagens de como aplicar a engenharia da resiliência nos ambientes de trabalho. Palavras-chave: Engenharia da resiliência; Saúde e segurança do trabalho. Abstract: The Resilience Engineering contributes positively in organizations on the development of Health and Safety. This article is a bibliographical study that aims to conduct a literature review about Engineering Resilience in Health and Safety. Assume the assumptions of Engineering Resilience and its contribution to health, such as resources to the search for answers and solutions aimed at achieving effective and adaptable favoring broad health and safety in the work. Justified the study, given that individuals are able to knowing and seek resources adaptable for yourself and act quickly facing a difficulty. We surveyed 133 papers of which 27 became references for the preparation of this article. As a result it is expected that the issue discussed in this paper will contribute significantly to increasing the

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knowledge of this important issue both for individuals and for organizations and enables face problems and their adversities through a behavior adopted in life and / or in the workplace, as it boils down in resilience. Therefore to be able to promote resilience in their own benefit and observe the advantages of applying engineering resilience in the workplace. Keywords: Engineering resilience, behavioral management, health and safety 1. Introdução Ao implementar um Sistema de Gestão da Saúde e Segurança do Trabalho (SGSST) é importante ter presente que o melhor sistema que exista poderá falhar se não conta-se com o apoio e compromisso total da alta gerência da organização e de todos os trabalhadores, ou seja, de todos os envolvidos no processo. Estes se orientam em função dos requerimentos próprios do sistema de gestão geral da organização, dos objetivos específicos que se perseguem e dos requerimentos extremos que deve satisfazer (BATIZ, E. C., et. al, 1995). Até os dias atuais é comum que empresas que possuem ou não SGSST estruturados e organizados trabalhem mais sobre a base dos fracassos, sobre a base de análises de fatos ocorridos, ou seja, com uma visão reativa analisando, no melhor dos casos, os acidentes do trabalho ocorridos com o propósito de detectar as causas que o motivaram, propondo medidas para sua eliminação ou redução. Sem dúvidas a detecção das causas dos acidentes do trabalho e a proposta de medidas para evitar a ocorrências de fatos semelhantes se constituem em uma análise reativa, mas com uma visão prospectiva. Isto é positivo? Sim, mas não é eficiente. Eficiente seria se os SGSST se adiantassem a ocorrência dos fatos, se em vez de ter uma atuação reativa tivessem uma atuação proativa, se em vez de trabalhar sobre a base de fracassos trabalhassem sobre a base dos êxitos. A Engenharia da Resiliência (ER) na Segurança do Trabalho vêem ao encontro desta visão, trabalhar na base do êxito. Ensinar ao trabalhador a conviver em situações de adversidade, contribuir ao desenvolvimento psicologicamente sadio para alcançar o êxito. A resiliência caracteriza-se pela capacidade do ser humano responder às demandas da vida cotidiana de forma positiva, apesar das adversidades que enfrenta ao longo de seu ciclo vital de desenvolvimento, resultando na combinação entre os atributos do indivíduo e de seu

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ambiente familiar, social e cultural. Trata-se de um conceito que comporta um potencial valioso em termos de prevenção e promoção da saúde das populações, mas ainda permeado de incertezas e controvérsias (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011). Segundo FREITAS (2000): Cada vez mais as empresas assumem importância na vida dos indivíduos e as relações estabelecidas no mundo do trabalho tendem a monopolizar a vida social dos sujeitos, desenvolvendo vínculos progressivamente mais estreitos entre a organização e seus membros, vínculos estes que ultrapassam a relação com o próprio trabalho.

Qualquer sistema resilience (desde um individuo até uma organização) deve possuir em algum grau as três habilidades seguintes (RESILIENCE ENGINEERING NETWORK, 2009 apud MARTÍNEZ, 2011): − responder rápida e eficientemente a perturbações e ameaças frequentes; − monitorar continuamente as perturbações e ameaças, e revisar as bases para este monitoramento quando seja necessário; − antecipar as futuras mudanças no ambiente que possam afetar a habilidade do sistema para funcionar e a vontade de se preparar contra as mudanças ainda sendo os resultados incertos. A Engenharia da Resiliência pode contribuir de forma positiva no desenvolvimento da Saúde e Segurança do Trabalho (SST) das organizações, resgatando os conhecimentos prévios, problematizando o assunto e buscando reflexões para eliminar ou reduzir os fatores de riscos que podem provocar a ocorrência de acidentes e incidentes do trabalho com a participação de todos os componentes do sistema. O presente artigo tem como objetivo discutir através de uma revisão da literatura, o papel da Engenharia da Resiliência na SST. Discute-se sobre os principais conceitos, as origens históricas sobre a evolução da resiliência assim como a apresentação do modelo dos quatro pilares de Resiliência com foco em Saúde e Segurança do Trabalho. Nos últimos tempos nota-se que, o número de artigos relacionados ao tema de resiliência em STT teve um aumento significativo (AKSELSSON, et. al, 2009; COSTELLA,

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et. al, 2009; MARTÍNEZ, 2011). Estas novas tendências significam progresso e inovação e visam obter novas formas de gerenciamento sobre quaisquer riscos à saúde a fim de buscar melhorias da qualidade de vida, saúde e produtividade por meio de uma visão mais participativa. 2. Justificativa A preocupação com a saúde dos trabalhadores vem assumindo importante papel, objetivando mudanças que caracterizem um evento de incapacidade laborativa com um acidente ou uma doença de trabalho. Os custos dos acidentes são similares a um iceberg (Figura 1). Visualiza-se uma parte menor dos custos (custos de atenção médica, perda de produtividade, entre outros), a maior parte está submersa e não se consegue enxergar, está oculta por outros fatores (danos materiais a instalações, materiais, produtos, tempo dedicado a investigação, salários pagos por perda de tempo, sofrimento, entre outros).

Figura 1 - Grandezas de Custos dos Acidentes Fonte: adaptado de Garcia (2008)

No Brasil, entre os anos de 2008 a 2010 foram registrados 2.190.841 casos de acidentes, estimando-se 1922 acidentes/dia (80,0 acidentes/hora), como se observa na tabela 1 (BRASIL, 2012).

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Tabela 1: Quantidade de acidentes do trabalho no Brasil entre 2008 e 2010

Quantidade de Acidentes do Trabalho Ano

Com CAT registrado Total

Doença do

Sem CAT registrado

Total

Típico

Trajeto

2008 755.980

551.023

441.925

88.742

20.356

204.957

2009 733.365

534.248

424.498

90.180

19.570

199.117

2010 701.496

525.206

414.824

94.789

15.593

176.290

Trabalho

Fonte: BRASIL, 2012

Os custos dos acidentes e doenças de trabalho chegam a R$ 50,8 bilhões ou 1,8% do PIB. Esse valor, referente a 2009, é a soma do pagamento de benefícios do INSS em razão de acidentes e doenças do trabalho, das aposentadorias especiais decorrentes das condições ambientais do trabalho, além dos custos indiretos com assistência médica, quebra de produção, entre outros. Em 2009 do total de acidentes do trabalho registrados, 2.496 resultaram em mortes e 13.047 deixaram as vítimas incapacitadas permanentemente para o trabalho (BRASIL, 2011). Refletindo nos dados anteriores, se em vez de utilizar R$ 50,8 bilhões para pagamentos de benefícios, atenção médica, entre outras, se dedicara esse dinheiro para colocar em práticas medidas para garantir a eliminação ou redução dos riscos que provocaram esses acidentes do trabalho, com isso os trabalhadores estariam mais seguros e a SGSST seria cada vez mais efetiva. Continua-se trabalhando de forma reativa detrás da ocorrência dos fatos. Todos esses dados motivam a reflexões constantes, a necessidade de diminuí-los, de eliminá-los, mas para isso é necessário mudar a forma de pensar, é necessário partir para um SGSST participativa, proativa, que se adiante a ocorrência dos fatos. Deve-se trabalhar sobre a base do êxito e não do fracasso, é necessário colocar sistematicamente em prática medidas que eliminem ou minimizem a probabilidade de ocorrência de fatos indesejados. A implementação de processos baseados nos comportamento na prática da Segurança do Trabalho muda exitosamente o comportamento da segurança de indivíduos e grupos de

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pessoas. Quanto mais se trabalhe pelo comportamento seguro dos trabalhadores de uma organização, maiores serão os resultados e menores a ocorrência de fatos indesejados. Para atingir um nível em que a empresa possua uma cultura proativa de Segurança e Saúde no Trabalho, perfeitamente integrada com os demais sistemas e com a gestão do negócio, são necessários mais esforços focados para o projeto dos produtos, processos, ambiente de trabalho e organização do trabalho, para a promoção da aprendizagem coletiva e para que o Sistema de Gestão Saúde e Segurança do Trabalho - SGSST seja visto como uma parte importante à imagem da empresa pelo mercado de trabalho e pelos clientes. Porém, para se atingir esse nível não é suficiente à teoria do SGSST, é preciso agregar outros aspectos, como a ER (COSTELLA, 2008). Devem existir três ingredientes cruciais para um casamento bem-sucedido entre os procedimentos de SST e a Engenharia da Resiliência e as práticas das mesmas: em primeiro lugar, deve haver retorno do mais baixo nível para as camadas superiores da organização, em segundo lugar, o ajuste de procedimentos deve ser baseada nas opiniões dos funcionários diretamente envolvidos, particularmente na linha de frente os trabalhadores, o terceiro, o intervalo de tempo entre o retorno do trabalhador e mudanças de execução deverá ser o mais curto possível (ANTONSEN, 2008). 3. Metodologia Trata-se de uma pesquisa exploratória que visa conhecer os conceitos relacionados com a Engenharia da Resiliência. Neste estudo bibliográfico investiga-se este conceito com foco na SST. O estudo bibliográfico baseou-se fundamentalmente em artigos de revistas científicas, Proceeding de eventos científicos e sites reconhecidos que tratam sobre tão importante tema. Entre eles se destaca a Revista Safety Science, Proceeding of the 17 World Congress of Ergonomics, Hazard Conference – London, Hazards Magazine, Human Factors, Journal of Safety Research. Na tabela 2 se mostra um resumo da quantidade de artigos por ano de publicação das referências pesquisadas.

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Tabela 2. Resumo das referências estudadas para a realização deste artigo

Ano publicação artigo

Quantidade

Ano publicação artigo

Quantidade

1993

1

2003

5

1994

1

2004

1

1995

1

2005

4

1996

3

2006

21

1997

2

2007

12

1998

3

2008

16

1999

4

2009

19

2000

8

2010

12

2001

2

2011

10

2002

7

2012

1

Total geral

133

Fonte: Os Autores (2012)

Do total de 133 documentos pesquisados foram utilizados 27 deles como referências para o presente artigo. 4. Resiliência e pessoa resiliente A Palavra resiliência origina-se do latim, resílio, re + salio, que significa “ser elástico”. Em 1807, surgiu no cenário científico moderno compondo o vocabulário da Física e da Engenharia, sendo um de seus precursores o cientista inglês Thomas Young. A resiliência de um material é a energia de deformação máxima que ele é capaz de armazenar sem sofrer deformações permanentes. Isto é, a resiliência refere-se à capacidade de um material absorver energia sem sofrer deformação plástica ou permanente. Nas ciências humanas, a resiliência representa a capacidade de um indivíduo construir-se positivamente face às adversidades. O dicionário de língua inglesa (YUNES, 2009). A etimologia da palavra vem do latim, resílio ou resilié, tendo como significado “saltar novamente”, voltar ao estado natural/normal, após o indivíduo ter passado por situações de agressões psicossociais. Este conceito passou a ser utilizado no campo da

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administração desde 1974 quando um consultor examinava uma companhia de pesquisa em cenários organizacionais. No entanto, existe um cenário de instabilidade e mudanças, qual tem permitido que algumas empresas consigam maximizar experiências desempenhos de produzir valor como o máximo de competência, inteligência (CARMELLO, 2011). O conhecimento sobre o tema de resiliência é, no entanto um termo novo, sendo que as pessoas têm tido grande dificuldades de aplicá-los na prática. Acredita que não há consenso sobre o conceito, e que o termo está sendo confundido com outros conceitos como fator de proteção, e, portanto, o significado desse conceito é de difícil enquadramento. Resiliência é um termo da psicologia, e refere-se à capacidade que um corpo possui para recuperar seu tamanho e sua forma original após de ser comprimido, dobrado e esticado ou uma capacidade de recuperar (KALAWSKI, 2003). No entanto, o conceito já é bastante antigo conhecido nas vias marítimas, campo de comércio desde o século XX. Já no campo das pesquisas científicas, os primeiros estudos foram para o campo da epidemiologia e da medicina. Sendo que o foco de estudo era pesquisar as doenças na população e quais os fatores que influenciam estes padrões (RUTTER, 1985). Resiliência não é nova na história. Na Bíblia, Jó, supera a perda de todos os seus bens materiais, ou seja, deixaram tudo para trás suas riquezas e esperança a busca da terra prometida. (BURAK, 1995). Originário das Ciências Físicas, a utilização do conceito de resiliência no campo das Ciências da Saúde data da década de 70, com estudos sobre pessoas que a despeito de terem sido submetidas a traumas agudos ou prolongados - fatores estes considerados de risco para o desenvolvimento de doenças psíquicas (GAYTON, 1977). Para Anthony & Cohler (1987) o conceito de resiliência, foi aliado às teorias da psicopatologia, sendo definida com um conjunto de traços e personalidade e capacidade que tornam as pessoas invulneráveis quando passam por experiências traumáticas e não de desenvolver doenças psíquicas, caracterizando assim, a qualidade de serem pessoas resilientes.

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Resiliência ou resilência como um conceito da física, que se refere à propriedade de que são dotados alguns materiais, de acumular energia quando exigidos ou submetidos a estresse sem ocorrer ruptura. Após a tensão cessar poderá ou não haver uma deformação residual causada pela histerese (tendência de um material ou sistema de conservar suas propriedades na ausência de um estímulo que as gerou. A palavra "histerese" deriva do grego antigo que significa 'retardo') do material - como um elástico ou uma vara de salto em altura, que se verga até certo limite sem se quebrar e depois retorna à forma original dissipando a energia acumulada e lançando o atleta para o alto. É medida em percentual da energia devolvida após a deformação. Onde 0% indica que o material sofre deformações exclusivamente plásticas (plasticidade) e 100% exclusivamente elásticas (elasticidade) (SCRIBD, 2012). Lima (2005) define resiliência como: A utilização do conceito de resiliência nos espaços psico-médico-social é novo, pouco mais de vinte anos. Esta transposição, inicialmente, aconteceu de forma mecânica, desconsiderando a complexidade intrínseca ao desenvolvimento humano. Eram considerados indivíduos resilientes aqueles que, como uma bola de borracha ou uma verga de aço, seriam capazes de sobreviver a prolongadas situações de estresse sem apresentar qualquer tipo de dano definitivo em sua saúde emocional ou competência cognitiva.

Yunes & Szymanski (2003 p. 20) relatam que os primeiros pioneiros pesquisadores importantes que estiveram à frente nos estudos sobre resiliência é o psiquiatra britânico Michael Rutter. Foram realizados estudos com apenas um jovem na ilha de Wihht na cidade de Londres com histórico de quatro sintomas psicossociais, e seus resultados apontaram que apenas um desses agentes estressores não é suficiente para o desenvolvimento de doenças. Porém uma combinação de dois ou mais destes agentes estressores pode interferir no desenvolvimento psicossocial do indivíduo. Segundo Noronha, et. al (2007) define resiliência como sendo a capacidade do ser humano responder de forma positiva as adversidades no decorrer de seu ciclo de vida, resultando em um estado comportamental familiar, social e cultural. Indivíduos resilientes são considerados aquele que deram a volta por cima, desconsiderando a complexidade intrínseca do ser humano frente a sua natureza.

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Lima (2005) relata sobre os primeiros estudos sobre resiliência, trazendo referências aos aspectos decorrentes de: Amparo parental ou não, o foco das lentes dos pesquisadores centrava-se nos componentes psicológicos do indivíduo. No clássico estudo longitudinal de Werner (1986, apud Yunes & Szymanski, 2001, p. 18) e Werner & Smith (1982, 1989 e 1992, apud Yunes & Szymanski, 2001, p. 18), foram acompanhadas 698 crianças em Kauai, ilha do Havaí. As crianças foram avaliadas com 1 ano de idade e acompanhadas até as idades de 2, 10, 18 e 32 anos. Entre estas, 72 (42 meninas e 30 meninos) apresentavam-se em situação de risco: pobreza, baixa escolaridade dos pais, estresse perinatal, baixo peso ao nascer ou, ainda, a presença de deficiências físicas. Uma quantidade significativa dessas crianças era proveniente de famílias cujos pais eram alcoólatras ou apresentavam distúrbios mentais. Nenhuma delas desenvolveu problemas de aprendizagem ou de comportamento (YUNES & SZYMANSKI 2001, p. 18 apud LIMA, 2001).

É preciso reconhecer os atos inseguros dos trabalhadores, pois estes processos podem proceder-se a um acidente. Mesmo que isso não são as causas únicas e não implicando que os trabalhadores têm a responsabilidade pelo ocorrido. Um ato inseguro é a causa privada, o que é inegável é verificar se elas estão presentes visando à gestão de gerenciamento. A cadeia de adventos vindos da natureza pode envolver uma grande maioria de trabalhadores (MARTÍNEZ, 2009). Teria que se considerar o ato inseguro como um sintoma de problemas nos sistemas, mais que como uma causa em si própria, como causa, só pode-se considerar como uma causa superficial, já que é pouco provável que os atos inseguros possam ser considerados como causas raízes. Adicionalmente, qualquer causa pode provavelmente ter sua origem em uma ato inseguro. Que é uma condição insegura senão o resultado de um ato inseguro cometido por uma(s) pessoa(s) que não é o acidentado? A separação das causas em atos e condições inseguras é artificial, ao procurar causas raízes; a imensa maioria delas são atos inseguros provenientes de varias pessoas, algumas, como podem ser os designers da tecnologia bem longe da organização, outras como os gerentes máximos, longe do lugar do acidente, mas dentro da organização. É neste entorno conceitual que a gestão baseada em comportamentos converte-se em necessária para aumentar a resiliência da organização. Ainda na concepção de Martínez, o conceito passou a aumentar sua complexidade na medida em que foram passados a serem utilizados no campo da saúde mental. Pois os riscos físicos, sociais ou emocionais podem aumentar para os indivíduos podem aumentar à medida

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que os problemas permaneçam na vida das pessoas. Existem pessoas que possui mecanismos de barreiras e de proteção, dos quais dificilmente adoeçam, e isso só vem fortalecer os mecanismos mediadores para que possam impedir que determinados riscos aumentem e diminuem seus sistemas de proteção, em suas formas de vivências e troca de suas experiências com outras pessoas (MARTÍNEZ, 2011). Segundo Kalawski (2003): O conceito de fatores de proteção assim como o de resiliência freqUentemente encontra-se impregnados de forte conteúdo ideológico normatizador. Falar de redes de proteção social ou de uma família coesa. Quais valores estariam embutidos nestas formulações? Esta linha fronteiriça precisa ser transitada com muita atenção pelos pesquisadores do tema sob pena de formularem discursos distorcidos por uma perspectiva sociocêntrica. Falar sobre fatores de proteção ou de resiliência exige um olhar sensível à pluralidade cultural que caracteriza a existência humana. Esta discussão caminha para um terreno comum às realidades contemporâneas: ética. O homem não aprendeu a conviver com a diversidade e o diferente continua sendo visto como desviante ou anormal. Este corte reducionista gera uma oferta típica nos projetos sociais: recuperação e adaptação.

Morin (2002) data o conceito e a origem da resiliência nos primeiros estudos empíricos em psiquiatria sobre esquizofrenia. É um termo de origem latina (resiliens – lientis, resiliere participo ativo: rejeição), relata que: na década de 1970 descobriu-se que os pacientes esquizofrênicos com traços graves na doença são caracterizados por uma pré-história do trabalho relativo e competência intelectual e relações sociais normais. Morin (2002) relata que a resiliência veio das ciências sociais e da física. Na física está relacionada com a relutância dos corpos e a sua ruptura, sendo que certos procedimentos técnicos podem se mensuráveis. Em engenharia de recuperar a originalidade de certos materiais a sua forma original, após ter sofrido algum processo de pressão emocional. O autor salienta que a resiliência interfere no grupo o qual o indivíduo pertence, ou seja, no mundo social. De acordo com ele, os comportamentos são gerados coletivamente e não individualmente. De acordo com Yunes (2003) resiliência é frequentemente referida aos indivíduos que superam as adversidades e crises, seja ela individual, em grupos, famílias e organizações. É considerado um assunto novo na área da psicologia e está sendo pesquisado há cerca de 30

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anos. No seu ponto de vista teórico e metodológico pela comunidade científica, alguns estudiosos consideram um fenômeno comum e presente no desenvolvimento do ser humano. Martínez (2009) concorda com ambos os autores que o conceito de resiliência não é novo, mas, porém, agora está sendo utilizado em comparação com os últimos anos. Relata que o conceito nasceu de trauma psíquico. A resiliência ela pode ser utilizada a todas as comunidades e famílias de quaisquer faixas etárias, desde que promovam programas para fortalecer as características de resiliência. Carmello (2008) concorda com os alguns autores citados a respeito do conceito de resiliência, porém ele agrega que as proporções são maiores no campo de educação, sociologia, física, psicologia, medicina e agora em administração. E, agrega que o conceito para a empresa é a capacidade que um sistema tem se adaptar e se sobrepor diante das adversidades, embates e trauma com o máximo de inteligência, saúde, competência possível. Outra definição de resiliência ressalta que “é a habilidade intrínseca de um sistema para ajustar ou regular seu funcionamento, antes ou após as alterações e perturbações, de modo que possa manter as operações mesmo depois de um acontecimento grave ou na presença de tensão continua” (RESILIENCE ENGINEERING, 2012). O ser humano não nasce resiliente, a resiliência se desenvolve a partir de funções dos processos sociais e intrapsíquicos, mas precisa haver uma interação com outras pessoas responsáveis pela elaboração do seu sistema psíquico durante seu desenvolvimento. Para que a resiliência ocorra ou não, depende da forma como esse sujeito irá interagir com seu meio. No caso da existência da resiliência, a pessoa terá que desenvolver alguns pilares considerados típicos da resiliência: a criatividade (capacidade de criar condições para lidar com seus desejos e ambições), o senso de humor (tentar encontrar algo cômico na própria tragédia), introspecção (arte de se indagar e tentar dar-se uma reposta sincera), a independência (saber se prender a limites entre si mesmo e os problemas; tentar manter uma distância emocional e física sem se isolar) (COSTELLA, et. al., 2008). Uma pessoa resiliente é alguém que tem uma capacidade maior de se portar positivamente diante momentos de choque ou trauma. É importante saber que ser assim não

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quer dizer que você tem apenas que sorrir para o problema e dizer que tudo vai dar certo no final, significa conseguir uma solução eficaz para algo que não está certo ao invés de simplesmente ficar se lamentando pelo ocorrido. Significa também sempre tirar proveito da situação e aprender com tudo o que você viveu (SILVA, 2009). O conceito de resiliência trouxe reflexões pertinentes sobre o tema, pois, cada indivíduo vive e possui sua própria história de vida desde a fase infantil até a fase adulta. Quantos fatores psicossociais, angústias, medo, pobreza e tristeza aconteceram e nunca foram tratados? Acredita-se que as grandes maiorias dos trabalhadores encontram-se inseguros em desenvolver determinadas atividades desde que suas responsabilidades sejam compreendidas, compartilhadas e ajustadas. Os atos inseguros são comuns acontecer, porém, podemos evitar que os incidentes levam a acidentes com danos e lesões físicos, por meio de o é preciso executar as atividades com saúde, responsabilidades, segurança e resultado seguro. 5. A Engenharia da Resiliência na Saúde e Segurança no Trabalho O estudo da ER é considerado um conceito novo e principalmente pouco difundido no Brasil, poucos gestores detém este conhecimento e aplicam em suas empresas, com o objetivo de aumento produtivo e na segurança do trabalho. A ER se preocupa em como auxiliar as pessoas a lidarem com a complexidade, sob o estado de pressão e, mesmo assim obter sucesso. Tal definição faz sentido na medida em que resiliência seja entendida como a habilidade do sistema de impedir ou adaptar-se às circunstâncias a fim de manter o controle sobre uma propriedade do sistema, nesse caso, a segurança ou o risco, acrescenta que a resiliência é característica de sistemas que, após alguma perturbação, retornam rapidamente a sua condição de operação normal e com um mínimo de decréscimo em seu desempenho. Assim, a resiliência inclui tanto a propriedade de evitar falhas e perdas, quanto à propriedade de responder eficazmente após essas ocorrerem (COSTELLA, et. al., 2008). A Engenharia de Resiliência vem sendo apontada como um novo modelo de gestão de SST, e se encontra em como ajudar as pessoas a lidar sobre pressão com a complexidade do sistema com o intuito de alcançar o sucesso (CHANIN, 2011).

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Uma organização resiliente trata a segurança com um valor fundamental não algo que possa se contado. Ao invés de ver o sucesso do passado com uma razão para a desaceleração dos investimentos, essas organizações continuam a investir sem antecipar os modos de falhas. Uma medida de resiliência é, portanto, a necessidade de antecipar a mudança antes que a falha ou dano ocorre (CHANIN, 2011). A ER vem gradativamente se consolidando como uma alternativa às abordagens tradicionais de gestão de SST, na medida em que adotam princípios como os seguintes: o comprometimento da alta direção com a segurança e saúde, a aproximação entre o trabalho prescrito, o monitoramento proativo, o gerenciamento do trade-off entre produção e segurança, a visibilidade dos limites dos trabalhos seguros e a capacidade de adaptação à variabilidade do ambiente (WREATHALL, 2006). Para sistemas complexos, a ER é uma disciplina fundamental na gestão da segurança, onde melhorias são propostas a partir da análise das variabilidades do ambiente e das relações entre elementos heterogêneos humanos que impõem um alto grau de complexidade no desempenho de tarefas cognitivas. A resiliência é um paradigma que se concentra um entender como as pessoas lidam sob a pressão com a complexidade do sistema de forma bem sucedida (HOLLNAGEL, 2006). A Engenharia de Resiliência é um termo que representa uma nova maneira de pensar sobre segurança. As abordagens convencionais de gestão de risco são baseados em ações retrospectivas, com ênfases na tabulação dos erros e no cálculo de probabilidades de falha, já a ER procura formas de melhorar a capacidade das organizações de criar processos que sejam robustos, mais flexíveis, para monitorar e revisar os modelos de risco, usando recursos proativos. Em ER as falhas não representam um mau funcionamento do sistema, mas sim representa o inverso das adaptações necessárias para lidar com a complexidade do mundo real. Indivíduos e organizações devem sempre ajustar seu desempenho para as condições atuais. O sucesso tem sido atribuído à capacidade de grupos, indivíduos e organizações para antecipar a forma de mudar de risco antes que ocorram danos e fracasso (RESILIENCE ENGINEERING, 2012).

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5.1 O Modelo dos quatro pilares de Resiliência Resiliência é subdividida em quatro habilidades que são considerados como os quatro pilares da resiliência e são propostas como as funcionalidades do núcleo de resiliência operacional (DEKKER, et al, 2008; HOLLNAGEL, et. al, 2011). Para programar essas habilidades devem ser baseadas em um sistema viável de organização. Dekker e Hollnagel argumentam que, a fim de desenvolver a resiliência, são necessários recursos adequados, por exemplo, em termos de apoio à tomada de decisão. Estes aspectos da resiliência levaram à concepção de um modelo conceitual cujos elementos básicos são a presença das quatro habilidades de resiliência (ou quatro pilares da resiliência), a necessidade de estrutura de apoio e cultura, e a identificação e disponibilidade de recursos para promover e sustentar a resiliência (Figura 2). Para um sistema ser capaz de chamar-se resiliente há quatro capacidades essenciais: aprender, monitorar, antecipar, e responder (HOLLNAGEL, 2011).

Figura 2. Resiliência, definida por quatro habilidades precisa de uma estrutura de suporte e cultura. Fonte: adaptado VORM et al. (2011)

A seguir são apresentados os quatro pilares da resiliência e como esses ajudam os sistemas de gestão de segurança e saúde do trabalho a incorporarem a resiliência em seus processos. 5.1.1 Aprender É indiscutível que o desempenho futuro só pode ser melhorado se algo é aprendido com o desempenho passado. Na verdade, o aprendizado é geralmente definido como "uma

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mudança de comportamento como resultado da experiência". A eficácia da aprendizagem depende de quais eventos ou experiências são tidos em conta, bem como sobre a forma como os eventos são analisados e compreendidos (HOLLNAGEL, 2011). Segundo Dekker, et. al. (2008) um viés comum é se concentrar em fracassos e sucessos, e se tem descaso na suposição (errônea) de que os dois resultados representam diferentes processos subjacentes. Aprendizagem requer uma consideração cuidadosa dos dados a aprender, quando aprender, e como a aprendizagem deve mostrar-se na organização. Como mudanças nos procedimentos, as alterações papéis e funções ou alterações à própria organização (HOLLNAGEL, et. al, 2008). Para que a aprendizagem efetiva ocorra, deve haver oportunidade suficiente para aprender, os eventos devem ter algum grau de semelhança, e deve ser possível confirmar que algo foi aprendido (é por isso que é difícil de aprender com eventos raros). Em aprender com a experiência é importante separar o que é fácil de aprender do que é significativo para aprender. Saber quantos acidentes tem ocorrido não diz nada sobre por que eles ocorreram, nem nada sobre as muitas situações em que os acidentes não ocorreram (DEKKER et al., 2008). Além disso, como Weinberg e Weinberg (1979) argumentam, o melhor trabalho do funcionário regulador faz a menor informação melhorar o processo. Algo que distingue a ER da prática normal é o fato de que a aprendizagem também se amplia aos bons resultados e não só consideram-se os maus. Por exemplo, é usual que as empresas utilizem a técnica de “lições aprendidas” para disseminar as análises dos acidentes ocorridos e as práticas que são capazes de prever fatos similares. Mas, por que não buscar os melhores métodos e práticas e disseminá-los a todos os interessados? Por que não estudar ativamente os bons resultados? No final eles são muitos mais que os maus. Por cada acidente que ocorre e é investigado, provavelmente se haviam realizado com êxito a mesma atividade milhares vezes. Parece ser boa ideia estudá-los antes, extraído suas melhores práticas e ensinadas, isto é aprendizagem organizacional. Fazer isto talvez é a melhor forma de prever quando comparado com só estudar algo quando ocorre um evento negativo.

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Aprender com os fracassos e com os sucessos tem muito que a agregar aos SGSST, pois se realmente o que foi aprendido forem incorporados no dia-a-dia (procedimentos) as chances de um fato negativo (acidente ou incidente) acontecer tende a se reduzir. 5.1.2 Monitorar Monitorar significa saber o que procurar, isto é, como monitorar o que é ou pode tornar-se uma ameaça em curto prazo que exigirá uma resposta. O monitoramento deve abranger tanto o que acontece no ambiente e o que acontece no próprio sistema, isto é, seu próprio desempenho. Esta é a capacidade de enfrentar os eventos críticos (DEKKER, et. al., 2008). Hollnagel (2011) argumenta que um sistema resiliente flexível deve ser capaz de monitorar seu próprio desempenho, bem como mudanças no ambiente. Monitoramento permite que o sistema identifique possíveis ameaças e oportunidades de evitá-las antes que se torne realidade. Para que o monitoramento seja flexível, sua base deve ser avaliada e revisto de constantemente. Hollnagel (2009) afirma que, a fim de abordar os eventos críticos, a fim de saber o que procurar, o mais importante é um conjunto de indicadores válidos e confiáveis. A melhor solução é à base de indicadores sobre um modelo articulado dos processos críticos do sistema. O monitoramento pode ser baseado em líderes que são indicadores de boa-fé precursores para mudanças e eventos que estão prestes a acontecer. A principal dificuldade com o indicador líder é que a interpretação exige uma descrição articulada, ou modelo, de como funciona o sistema. Na ausência disso, indicadores líderes são definidos por associação ou correlações espúrias. Devido a isso, a maioria dos sistemas depende de indicadores atuais e atrasados, como medições on-line de processos e estatísticas de acidentes. Sem o monitoramento não seria possível o SGSST terem os indicadores para que se identifiquem os possíveis acontecimentos negativos, e com isso o sistema não conseguiria se auto realimentar com as informações necessárias para o bom funcionamento do sistema de SST.

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5.1.3 Antecipar Antecipar significa saber o que esperar, ou seja, como antecipar acontecimentos, ameaças e novas oportunidades de melhorias para o futuro, tais como possíveis mudanças, rupturas, as pressões, e suas consequências. Esta é a habilidade para lidar com o potencial (HOLLNAGEL, 2011). Durante a monitorização faz sentido de imediato ser menos óbvio e olhar para o futuro também. O propósito de olhar para o potencial é para identificar possíveis eventos futuros, condições ou mudanças de estado que podem afetar a capacidade do sistema para funcionar positiva ou negativamente (HOLLNAGEL, 2011). Em um relatório sobre a resiliência “em tempo real”, Pariès (2011) afirma que a antecipação não é uniformemente distribuída ao longo de um grande sistema. O sistema global pode antecipar ocorrências que são muito raras de ser sequer pensadas em escala local, enquanto os operadores locais irão antecipar situações que são muito detalhados para serem abordados em uma escala maior. Isto levanta a questão do acoplamento entre os diferentes níveis de organização dentro de um sistema, o que Woods (2006) chama de "escalas cruzadas de interações." Adamski & Westrum (2003) afirmam que a arte de antecipar o que pode dar errado significa ter tempo suficiente para refletir sobre o projeto para identificar e reconhecer problemas potenciais. Este problema de design é chamado de "imaginação necessária” e tem de ser optimizada com expertise de domínio disponível para ser capaz de antecipar o que pode dar errado quando o projeto é colocado em seu ambiente operacional e programado em todas as condições prováveis. Monitorar os comportamentos é um dos elementos básicos da gestão baseada em comportamento.

Está

amplamente

demonstrado

que

uma

alta

porcentagem

de

comportamentos seguros prognostica uma baixa acidentalidade e vice-versa, uma baixa porcentagem de comportamentos seguros como indicador prognostica a aparição de acidentes. O uso da porcentagem de comportamentos seguros como indicador, permite monitorar prospectivamente o estado da segurança, permite prognosticar a mesma, todo o contrário dos

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indicadores clássicos da gestão da segurança, por exemplo, o índice de incidência ou frequência, os quais são retrospectivos e geralmente (exceto que o tamanho da amostra seja muito grande) não mostram variações com significação estatística entre períodos similares, e mais importantes, são praticamente inúteis para a gestão de pequenas amostras. Antecipar-se a ocorrência de acidentes do trabalho quando das análises dos incidentes é sem dúvida uma visão proativa sendo ambas as análises reativas e mais ainda, se as organizações se antecipam a ocorrência desses fatos detectando os riscos que podem provocar esses incidentes-acidentes do trabalho tomando as medidas adequadas, então se está sendo totalmente proativos. 5.1.4 Responder Responder significa saber o que fazer, ou seja, como responder às variabilidades regulares e irregulares, interrupções, perturbações e as oportunidades, quer através da programação de um conjunto de respostas preparadas ou ajustando o funcionamento normal. Esta é a capacidade de abordar o real (HOLLNAGEL, 2011). Respondendo à situação inclui a avaliação da situação, saber o que responder encontrar ou decidir o que fazer e quando fazê-lo. A prontidão para responder principalmente se baseia em duas estratégias. O primeiro é proativa - é antecipar as situações de potenciais destrutivas e predefinir o uso de soluções (por exemplo, procedimentos ou emergência anormal, habilidades de reação específica, os planos de resposta a crises, e assim por diante). A segunda é reativa - é gerar, criar, inventar, ou derivar soluções ad hoc (PARIÈS, 2011). Hollnagel (2011) argumenta que, para responder, o sistema deve primeiro detectar que algo aconteceu então reconhecer o evento e classificá-la como sendo tão séria que uma resposta seja necessária e, finalmente, saber como e quando responder e for capaz de responder. Hollnagel (2009) faz a pergunta como um engenheiro de resiliência. A fim de abordar o real, a fim de saber o que fazer, um sistema deve ter um conjunto claramente definido de eventos aos quais ele está pronto para responder. Então, um passo para a resiliência é desenvolver ou produzir este conjunto de uma forma sistemática.

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Dekker, et al. (2008) apresenta que é preciso ficar claro por que os eventos estão incluídos no conjunto, tanto para ser capaz de desenvolver respostas eficazes e, a fim de julgar se os eventos ainda são relevantes. Isso é importante para evitar que o sistema desperdice esforços em estar preparado para os eventos que não mereçam nenhuma preocupação, assim como ser incapaz de responder aos eventos que mereçam uma grande preocupação. Uma segunda questão é como a prontidão é estabelecida, ou seja, como respostas eficazes são formuladas, verificadas ou asseguradas. Uma terceira questão é a forma como a prontidão é mantida. Para os procedimentos que devem ser realmente realizadas no trabalho, devem existir alguns pré-requisitos que devem ser satisfeitos. Primeiro, os funcionários devem entender a linguagem utilizada (compreensão). Se alguém não entender a linguagem usada, não se pode compreender o conteúdo do processo. Segundo, a informação deve ser acessível para os funcionários (acessibilidade). Não há nenhum ponto em ter bons procedimentos se ninguém sabe onde encontrá-los. Terceiro, os procedimentos devem conter uma boa descrição das tarefas relevantes (precisão). Um procedimento para o qual a informação é falha ou imprecisa não pode (e com razão) ser esperado que vá ser respeitado em situações reais de trabalho (ANTONSEN, et. al, 2008). Com o responder se fecha o ciclo do SGSST, pois com o que é apreendido, monitorado por indicadores proativos, sempre que possível antecipar situações que talvez se tornem um acidente ou incidente, o sistema tem que saber como responder antes (proativo) ou depois (reativo) do que aconteceu ou exista a chance de acontecer. 6. Considerações finais Conclui-se que vários autores definem a resiliência dentro de uma expectativa e/ou metodologias semelhantes. Cada dia os conhecimentos aumentam com relação à ER como forma de obtenção de maiores resultados na Gestão da SST. A questão de o indivíduo e da organização se adaptarem as adversidades, conseguindo estabelecer e manter a sua base estrutural focada nas oportunidades é o objetivo fundamental da resiliência. Infelizmente aqueles que não tenham uma atitude resiliente tendem a

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desenvolver doenças e/ou transtornos mentais ficando afastados do ambiente de trabalho por longos períodos. A Resiliência é um sistema complexo e muito amplo, enfocado em vários contextos e abordagens. Nesse sentido, compreende-se a resiliência como o conjunto de processos sociais e intrapsíquicos que possibilitam o desenvolvimento de uma vida sadia, mesmo vivendo em um ambiente não sadio. Esta resulta da combinação entre falar sobre resiliência e fatores de proteção para sua promoção exigem um olhar sensível à pluralidade cultural que caracteriza a existência humana. Ao invés de focar apenas nos erros e falhas, a empresa deve atentar para o sucesso das suas equipes, principalmente quando tudo leva em direção ao insucesso. O que faz com que estas equipes sejam resilientes a ponto de recuperar facilmente de erros e, até mesmo, não deixar que eles ocorram? Aprendendo com o sucesso daqueles grupos que lidam com a complexidade e a variabilidade, mesmo sobre pressão, a empresa pode melhorar o desempenho das equipes menos resilientes e, assim, aumentar a segurança e o desempenho da empresa como um todo. Melhorar a resiliência nas organizações significa desenvolver os comportamentos relacionados com as competências que a caracterizam: capacidade de detecção, capacidade de antecipação e capacidade de ação preventiva (MARTÍNEZ, R. M., 2011). O artigo mostra que a resiliência é de fato uma característica do sistema que pode ser determinado a partir do mais alto nível hierárquico ao nível operacional. Resiliência pode ser atribuído a organizações, equipes e indivíduos, bem como suas interações. As quatro habilidades (os quatro pilares) de resiliência podem ser usadas como base para um conjunto coerente de marcadores de resiliência, para os quais a avaliação pode ser feita. Essas habilidades devem estar relacionadas com estruturas de apoio e da cultura para se tornar eficaz. Habilidades, estrutura e cultura todos fornecem uma base para a aprendizagem organizacional e adaptabilidade.

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