Revisão de Literatura, Referencial Teórico, Fundamentação Teórica e Framework Conceitual em Pesquisa – diferenças e propósitos

May 30, 2017 | Autor: Debora Azevedo | Categoria: Administração
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Revisão de Literatura, Referencial Teórico, Fundamentação Teórica e Framework Conceitual em Pesquisa – diferenças e propósitos Debora Azevedo

Como citar esse artigo: AZEVEDO, D. Revisão de Literatura, Referencial Teórico, Fundamentação Teórica e Framework Conceitual em Pesquisa – diferenças e propósitos. Working paper, 2016. Disponível em: < https://unisinos.academia.edu/DeboraAzevedo/Papers> Acesso em XXXXX.

Resumo O objetivo deste artigo é esclarecer as diferenças entre alguns tipos de inclusão de literatura que ocorrem em artigos e monografias na área de Ciências Sociais Aplicadas. Com isso, busca-se auxiliar alunos de graduação e pós-graduação na consecução de seus projetos de pesquisa e na escrita destes. Ao longo das seções apontam-se os principais usos de cada um dos termos apresentados.

1. Introdução Um dos desafios que alunos de graduação e pós-graduação enfrentam durante a realização e escrita de seus projetos pesquisas é selecionar adequadamente a literatura existente sobre o tema estudado e incorporá-la ao projeto. Essa dificuldade se dá, muitas vezes, em virtude de confusões tanto sobre o que ler quanto sobre o que incluir na escrita e como fazê-lo. Em decorrência dessa dificuldade, encontram-se muitas vezes confusões de: -

nomenclatura – por exemplo, chamar de Revisão de Literatura o Referencial Teórico de um trabalho; metodologia – considerar como uma etapa da metodologia (Pesquisa Bibliográfica) a construção do Referencial Teórico; construção – por desconhecer a estrutura de um Referencial Teórico e de uma Revisão de Literatura, o aluno constrói um texto que não atende a qualquer dos dois propósitos, o que acaba por prejudicar o próprio aluno, pois não fornece subsídios suficientes para uma análise dos dados coletados.

Ao longo deste artigo, apresentam-se as principais características de cada uma dessas formas de trabalhar com a literatura existente, busca-se esclarecer o porquê das confusões e como evitá-las e, adicionalmente, comenta-se sobre pesquisa bibliográfica e suas especificidades.

2. Revisão de Literatura A Revisão de Literatura tem como objetivo fornecer uma visão geral das fontes sobre um determinado tópico e tem características de investigação científica, ou seja, ela deve ser sistemática e abrangente. Seu propósito é reunir e sistematizar estudos anteriores. Os métodos utilizados para sua construção devem ser explícitos – deve-se indicar detalhadamente os passos para recuperar, selecionar e avaliar os estudos relevantes já publicados sobre um determinado tema ou tópico. Dadas essas características, observa-se que Revisões de Literatura são encontradas mais frequentemente como artigos publicados ou em teses de doutorado (mais raramente dissertações de mestrado também incluem revisões de literatura). Como sua construção é muitas vezes trabalhosa e demanda tempo considerável, dificilmente será realizada por um aluno de graduação que muitas vezes escreve seu projeto em um período de 3 ou 4 meses. A seleção dos materiais que farão parte da Revisão de Literatura deve obedecer critérios claros (os quais são apresentados explicitamente antes dos resultados da Revisão). Usualmente os critérios para uma Revisão de Literatura vão incluir: -

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Fontes (bases a serem pesquisadas); Relevância (número de citações, JCR); Tempo (entre determinados anos, a partir de YY, até YY); Temas (palavras-chave1 individuais ou combinadas, busca booleana, palavraschave excluídas). Perceba que ao definir as palavras-chave você também está definindo a língua em que será feita a busca; Local de busca (título, resumo, palavras-chave, todo o texto); Acessibilidade (muitos materiais não estão disponíveis on line e muitas vezes não há como ter acesso a eles).

Na definição de fontes, é primordial que as fontes escolhidas sejam de caráter acadêmico. Ou seja, fontes como: Wikipedia, sites de consultorias, blogs etc nào farão parte da construção de uma Revisão de Literatura. Partindo-se de fontes acadêmicas, é importante observar que nem todas têm a mesma relevância. Para distingui-la, é usual a consideração do fator de impacto de um periódico, o número de citações ou critérios como o Qualis da CAPES. Também é importante observar que artigos publicados em periódicos geralmente tem mais relevância do que artigos publicados em anais de eventos.

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É preciso usar variações de uma mesma palavra: gênero, número, classes gramaticais, variações de grafia etc.

Quanto aos temas a serem pesquisados, observe que buscas muito gerais podem levar a uma miríade (ou várias, literalmente) de resultados. Por exemplo, as palavras Marketing e Consumidor em uma determinada base de conteúdo acadêmico resultam em 106.000 resultados, já Marketing e Comportamento do Consumidor geram 20.500 resultados, enquanto que Marketing + Comportamento do Consumidor + Hedonismo leva a 1.070 resultados. A mesma busca considerando acessibilidade (apenas resultados com pdf disponível foram considerados) resulta em 520 publicações e, se considerados apenas os últimos três anos, obtém-se um total de 256 resultados. Assim, a escolha de critérios para a Revisão de Literatura (em especial a escolha de palavraschave) tem um efeito muito grande nos resultados que serão apurados. Cabe destacar que a Revisão de Literatura pode receber outros nomes, como: Revisão Bibliográfica (nome adequado quando se utilizam apenas livros como fontes de consulta), ou Revisão Sistemática. Há três tipos básicos de Revisão de Literatura: teórica, empírica e metodológica. Cada uma delas é apresentada na sequência. A Revisão de Literatura Teórica examina o corpus de teoria acumulado em relação a uma temática, uma questão, um conceito, ou um fenômeno. A revisão da literatura teórica ajuda a: estabelecer quais as teorias já existentes sobre algo, elencar diferentes abordagens de uma teoria e a relação entre elas, discutir até que ponto as teorias existentes foram investigadas, evidenciar lacunas teóricas a serem exploradas e, por isso, pode ajudar a desenvolver hipóteses a serem testadas. Muitas vezes, esta forma é usada para ajudar a estabelecer a falta de teorias apropriadas ou revelar que as teorias atuais são insuficientes para explicar problemas de investigação novos ou emergentes. Em uma Revisão de Literatura Teórica muitas vezes são utilizadas como fontes revisões anteriores para evitar o número excessivo de materiais a analisar. Assim, ao invés de pesquisar todas as publicações existentes desde o início do campo, utilizamse sistematizações anteriores e acrescentam-se as publicações recentes (desde a última sistematização). Estudos empíricos devem ser usados com parcimônia como fontes na construção de uma Revisão de Literatura Teórica, pois muitas vezes esses estudos não apresentam um avanço em termos teóricos. Especialmente, deve-se evitar usar a seção de Referencial Teórico de um artigo na construção de uma Revisão de Literatura Teórica. É possível, entretanto usar algum resultado apresentado nas análises ou considerações finais de um estudo empírico, desde que esse resultado se constitua como avanço no campo teórico – por exemplo, os autores propõem um novo conceito, ou um novo construto, ou ainda realizam avanços em relação a uma abordagem específica.

A Revisão de Literatura Empírica examina os estudos empíricos realizados em um determinado campo ou temática. Ela é uma visão geral das evidências existentes, a partir de critérios pré-especificados e padronizadas para a identificação e avaliação crítica de pesquisas relevantes. Os critérios para seleção de publicações podem incluir aspectos como: área de aplicação, data da publicação, método de pesquisa etc. Por meio dela podem-se coletar, descrever e analisar dados dos estudos selecionados para revisão. Ela pode servir para evidenciar questões específicas, como “relações estabelecidas entre X e Y”, “resultados obtidos ao aplicar X a Y”, “níveis de X identificados em situações do tipo Y”, “principais ferramentas de X usadas em estudos no campo Y”, mas também pode servir para evidenciar as teorias que suportam mais frequentemente os estudos empíricos em uma área ou os resultados mais recentes em um campo (veja o item Estado-da-Arte mais adiante). A Revisão de Literatura Metodológica descreve e analisa os principais métodos utilizados na investigação de determinado tipo de fenômeno. Não necessariamente o método mais frequente é o mais adequado, e uma revisão deste tipo pode ajudar a apontar tendências, novas abordagens, estudos de outras áreas que enfocam fenômenos semelhantes etc. Ela é útil como sustentação para escolhas metodológicas e, por isso, encontra-se com mais frequência em teses, geralmente no capítulo que aborda os métodos da pesquisa. Além desses três tipos de Revisão de Literatura, tem-se tornado cada vez mais popular a Revisão do Estado-da-Arte (ou simplesmente Estado-da-Arte). Em geral, esse tipo de revisão tem o tempo como principal critério – escolhem-se as publicações dos últimos 3 ou 5 anos. Um cuidado a ser tomado é que, inadvertidamente, o pesquisador pode mesclar a Revisão Teórica com a Empírica, o que não é adequado. Assim, ao realizar uma Revisão do Estado-da-Arte, recomenda-se separar as publicações encontradas em dois grupos: avanços teóricos e avanços empíricos. Um dos usos mais frequentes de uma Revisão do Estado-da-Arte é para a justificativa de uma pesquisa, especialmente de teses, pois esta é uma boa forma de identificar lacunas na teoria existente. Ao revisar o Estado-da-Arte podem-se encontrar indícios da originalidade daquilo que o doutorando se propõe a fazer (pois não se encontraram indícios de que alguém já o tenha feito anteriormente) e isso ajuda a justificar a pesquisa. Em trabalhos de conclusão de graduação ou especialização, pode ser interessante o estudante fazer uma Revisão do Estado-da-Arte em publicações nacionais, limitandose, por exemplo, aos últimos três anos. Isso enriquece o trabalho e dá ao pesquisador uma compreensão mais abrangente da temática que está sendo pesquisada. Como em qualquer Revisão de Literatura, a Revisão do Estado-da-Arte requer que o pesquisador apresente os critérios de busca e seleção utilizados.

Finalmente, cabe destacar o Levantamento Bibliográfico (ou Levantamento de Literatura), que se caracteriza por enfocar aspectos descritivos e quantitativos (quantas publicações, suas fontes, quantos autores, quais métodos utilizados etc.), sem buscar uma análise do conteúdo (conceitos, abordagens) ou dos avanços dessas publicações. Para a realização do Levantamento estabelecem-se as fontes de busca (portais, bases de dados etc.) e os critérios de busca (período, palavras-chave etc); com base nestes critérios, todos os materiais encontrados são considerados. Não existe no Levantamento um critério para o filtro das fontes após o estabelecimento do critério de seleção inicial (por exemplo, não se usa critério de relevância). Além disso, em levantamentos algumas vezes são utilizadas fontes não acadêmicas, por exemplo para evidenciar o crescimento de uma área ou a popularização de uma temática. As referências utilizadas podem ser: livros, artigos, sites, revistas, vídeos. É fundamental que o pesquisador explicite os critérios utilizados para a realização do levantamento antes de apresentar seus resultados. Levantamentos podem ser utilizados para evidenciar: a emergência de um campo de estudo, a concentração (geográfica, temporal) dos estudos sobre determinada temática, lacunas existentes em estudos atuais etc. Levantamentos também podem servir de subsídios para o mapeamento de redes. 3. Referencial Teórico ou Fundamentação Teórica O Referencial Teórico2 geralmente constitui um ou mais capítulos de uma monografia e uma ou mais seções de um artigo teórico-empírico. Com ele o(s) autor(es) busca(m) demonstrar aos leitores como aquela pesquisa se encaixa no campo de estudo e quais escolhas teóricas foram feitas para subsidiá-la. O Referencial Teórico representa a base teórica a partir da qual será feita a análise de dados da pesquisa e sua construção evidencia o domínio que o pesquisador tem sobre o tema. Geralmente, cada teoria ou construto geral a ser utilizado ao longo do trabalho será abordado em uma seção ou capítulo específico do Referencial Teórico. O Referencial Teórico tem um propósito diferente da Revisão de Literatura. A questão aqui não é a busca sistemática de publicações sobre o tema, mas as escolhas que são feitas3 . O Referencial Teórico é construído tendo em mente os objetivos da pesquisa, ou seja, aspectos a serem analisados mais tarde serão privilegiados no referencial teórico.

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Os termos Referencial Teórico e Fundamentação Teórica são considerados aqui como sinônimos. 3 Alguns autores chamam o Referencial Teórico de Revisão Narrativa para destacar que não é algo sistemático e sim uma construção com propósito narrativo.

Considerando-se uma monografia de conclusão de graduação, uma dissertação ou tese, o Referencial Teórico é mais abrangente do que aquele presente em um artigo científico. E ele vai variar muito em quantidade de tópicos, extensão e profundidade, dependendo do tema abordado e dos objetivos definidos. De modo geral, ele é uma síntese escrita da literatura sobre o(s) tema(s), organizada de acordo com a perspectiva crítica do autor. Assim, o texto de um Referencial Teórico não se limita a apresentar ideias de diferentes autores, mas dialoga com elas: analisa, compara autores, evidencia semelhanças e diferenças, critica e, acima de tudo, reflete o posicionamento do pesquisador sobre o tema. Assim, o Referencial Teórico [...] é onde são feitas conexões entre os textos originais nos quais você se baseia, e onde você posiciona a sua pesquisa em relação a outras fontes. É a oportunidade de estabelecer um diálogo escrito com pesquisadores na sua área e, ao mesmo tempo, mostrar que você se envolveu com o corpo de conhecimento subjacente à sua pesquisa, o compreendeu e respondeu a ele. [...] é onde você identifica as teorias e pesquisas anteriores que influenciaram sua escolha de tema de pesquisa e a metodologia você está escolhendo a adotar. Você pode usar a literatura para apoiar a identificação do problema de pesquisa ou para ilustrar que existe uma lacuna nas pesquisas anteriores que precisa ser preenchida. (RIDLEY, 2008, p.2)

Pode-se considerar que, para cada teoria ou construto abordado no Referencial Teórico, os itens mais frequentes são: -

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Origens, breve histórico e conceitos/aspectos fundantes; Principais abordagens (diferentes conceitos adotados por diferentes autores, diferentes enfoques, diferentes fases pelas quais os estudos desta teoria/construto passaram); Principais componentes ou aspectos que evidenciam os fenômenos estudados e que você quer, oportunamente, identificar ou analisar; Diferentes modelos que explicam o fenômeno (caso existam), dificultadores e facilitadores (caso existam), vantagens e desvantagens (caso existam); Principais aplicações ou usos; Resultados de estudos recentes ou avanços na área.

Ao final de um Referencial Teórico é recomendado que se apresente o Quadro Conceitual ou Framework Conceitual (Conceptual Framework) a ser adotado – nele o autor da pesquisa escolhe objetivamente quais abordagens, conceitos, modelos etc. adotará como referência para a sua pesquisa. Aqui é importante que o pesquisador se posicione levando em consideração os objetivos da pesquisa4. Você pode usar um 4

Assegure-se de que todos os aspectos teóricos presentes nos objetivos tenham sido abordados no referencial e estejam contemplados no Quadro Conceitual.

Quadro ou Figura para auxiliá-lo, mas isso não o exime de apresentar no formato de texto as suas escolhas conceituais. Considerando que toda a análise de dados se dará com base no Referencial Teórico, este deverá ser construído de modo a dar condições a ela. É de pouca valia o levantamento de 20 ou 30 conceitos diferentes para um mesmo construto se você não apresentar formas de investigar e analisar esse construto. Um Referencial Teórico frágil dá pouco espaço para compreender ou explicar um fenômeno que se investiga. Finalmente, perceba que ainda que muitas vezes você encontre em monografias (ou dissertações) um capítulo ou seção com o título de Revisão Literária ou Revisão de Literatura, ele na maioria das vezes se trata de um Referencial Teórico. 3.1 Preparação para a Construção do Referencial Teórico - Leitura Flutuante ou Exploratória Como o Referencial Teórico pressupõe escolhas, há muito trabalho de leitura e reflexão a ser feito antes da escrita do Referencial Teórico. Caso o pesquisador não esteja familiarizado com o tema, ele deve começar um processo de leitura buscando: principais autores, obras seminais5, obras mais citadas, diferentes abordagens. Nesta etapa de “leitura flutuante” o importante é adquirir familiaridade com o tema, tomando contato com muitos materiais e percebendo semelhanças e diferenças. Não é a leitura aprofundada de um livro sobre o tema que vai permitir o seu avanço, mas uma leitura (ainda que superficial) de vários materiais. De modo geral, na escrita de uma dissertação ou tese essa etapa de familiarizar-se com o tema já ocorreu antes da definição dos objetivos da pesquisa. Entretanto, entre alunos de graduação é frequente a situação de começar o trabalho de conclusão sem ter leituras prévias sobre a temática. Neste caso, o aluno pode recorrer ao seu orientador (para sugestões de leituras imprescindíveis), às bases de dados (para a busca de artigos, mas também de teses e dissertações sobre o tema), às listas de referências de artigos já lidos (para explorar outras obras no mesmo tema), e às bibliotecas da Universidade. O importante nesta etapa é familiarizar-se o suficiente com o tema para ser capaz de fazer as escolhas necessárias para a construção de um Referencial Teórico. Somente ao ampliar e aprofundar seu conhecimento sobre um determinado tema você será capaz de apresentá-lo de modo organizado, coerente e objetivo. Neste processo, você pode descobrir métodos e procedimentos empregados por outros pesquisadores, dificuldades encontradas por eles (TRIVIÑOS, 1987), lacunas a serem investigadas, discussões atuais dentro da temática, se há muitas pesquisas semelhantes ao que você

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Inaugurais, iniciais, primeiras

quer fazer6, diferentes formas de abordar a problemática em questão. Além disso, você vai se familiarizar com a nomenclatura e os conceitos fundamentais da teoria em questão. Ao fazer a leitura flutuante, você compreenderá melhor seu problema de pesquisa, pois poderá enquadrá-lo na teoria escolhida. Caso você não tenha feito a leitura flutuante antes de escrever sua questão de pesquisa e seus objetivos é bem provável que você precise retornar a eles e reescrevê-los, considerando agora o enquadramento teórico adequado. Também é nesta etapa que você começa a identificar pressupostos da sua pesquisa e a formular hipóteses ou suposições (VERGARA, 2007). A leitura flutuante é um processo de aprendizado, mas não gera diretamente um produto. Durante a leitura flutuante você pode destacar trechos ou autores que você considera importantes e que possam ser úteis na construção do seu Referencial Teórico. Mas não se engane: você lerá bem mais do que aquilo que finalmente aparecerá no seu referencial – lembre-se: ele representa as suas escolhas depois de se apropriar do tema. Assim, apenas 15 ou 20% daquilo que você leu aparecerá de fato no seu Referencial Teórico. Apenas após ter realizado a leitura flutuante de modo adequado você terá condições de começar a escrever seu Referencial Teórico. 4. Framework Conceitual ou Quadro Conceitual7 Algumas vezes em artigos científicos você vai encontrar uma seção de Framework Conceitual, ao invés de uma seção de Referencial Teórico. Isso se deve muitas vezes a questões de espaço – como os artigos tem limitações (em termos de número de palavras ou número de páginas), os autores limitam sua apresentação da teoria ao Framework Conceitual (o qual, usualmente, é uma parte do Referencial Teórico). O Framework Conceitual deve evidenciar os principais conceitos e construtos adotados na pesquisa e as relações entre eles. Essa construção deve se dar em formato de texto, mas pode ser auxiliada por um desenho ou por quadro esquemático. O importante a notar aqui é que o Framework Conceitual indica ao leitor em que conceitos a pesquisa se baseia, de que modo ela deve ser lida, com quais pesquisas anteriores ela dialoga e quais aspectos do fenômeno estão sendo analisados. Por exemplo, se você está pesquisando na temática Gestão do Conhecimento você pode ou não considerar aspectos da Cultura Organizacional como de interesse na pesquisa. Essa escolha é sua e deve estar evidenciada no Framework Conceitual. 5. Contexto Teórico 6

Assim, evitam-se duplicações e esforços desnecessários (LAKATOS; MARCONI, 2010). 7 Os termos Framework Conceitual e Quadro Conceitual são tratados aqui como sinônimos.

O contexto teórico 8 do trabalho é uma apresentação inicial da(s) teoria(s) que embasam a pesquisa, ele é o quadro geral de referência para a pesquisa. Ele faz parte do Capítulo Introdutório de uma monografia, dissertação ou tese e pode estar no tópico Introdução, ou na Definição do Problema, ou em ambos (perceba que ele não é um título ou subtítulo). Em um artigo científico, o contexto teórico é apresentado na introdução. O contexto teórico deve apresentar o que for relevante e necessário para enquadrar o problema de pesquisa teoricamente e dar sentido à questão de pesquisa e aos objetivos do trabalho. Assim, ele também delimita o que está sendo realizado na pesquisa, podendo apresentar de forma breve as principais variáveis ou construtos sendo estudados. É fundamental que você utilize variados autores na apresentação do contexto teórico, indicando ao leitor com quais vertentes daquela teoria você se alinha. De modo geral, o contexto teórico vai do mais geral ao mais particular, iniciando por uma breve apresentação da macroteoria e avançando para a teoria específica que embasará o trabalho. Quanto mais recente ou desconhecida a teoria que você estiver utilizando na pesquisa, mais trabalho deverá ser feito no Contexto Teórico: é preciso aproximar o leitor da teoria que ele talvez ainda não conheça a partir de algum ponto que seja de maior domínio. Por exemplo, para tratar de Open Innovation, o contexto teórico poderia começar na temática Inovação. Além disso, o contexto teórico também situa a teoria utilizada no tempo. O que está sendo utilizado é uma nova abordagem ou já está bem estabelecida? Quando ela surgiu? Por que ela é interessante ou relevante para tratar o fenômeno em questão? Quando a abordagem escolhida começou a ser utilizada? Esses são exemplos de questões que podem ajudar na construção do contexto teórico. De modo geral, é mais fácil escrever o contexto teórico após ter escrito o(s) capítulo(s) de Referencial Teórico, pois você terá maior domínio sobre o tema e saberá como apresentá-lo. 6. Pesquisa Bibliográfica A Pesquisa Bibliográfica é uma técnica de coleta de dados que pode ser usada tanto em pesquisas quantitativas quanto nas qualitativas e que utiliza como fonte de dados livros e artigos científicos. Para realizar uma pesquisa bibliográficas, é importante que o pesquisador tenha definido sua questão de pesquisa, seus objetivos etc, ou seja, tenha delineado sua pesquisa e escolhido o método e as técnicas de coleta e análise de dados. Por exemplo, para um objetivo como “identificar como o papel do gestor é apresentado em livros de administração publicados no Brasil na década de 80”, a técnica de coleta pesquisa bibliográfica é adequada. As especificidades do método de 8

Alguns autores se referem a ele como Theoretical Framework.

trabalho devem ser definidas (como os dados serão coletados, critérios de busca e escolha, como serão interpretados etc.). Os dados coletados em uma Pesquisa Bibliográfica serão não apenas apresentados, mas analisados à luz de alguma teoria. Relacionada e semelhante à Pesquisa bibliográfica é a Pesquisa Documental, que pode incluir outras fontes de dados como documentos, fotocópias, mapas, imagens, páginas da internet, publicações em redes sociais, filmes, partituras, manuscritos, correspondências, documentos produzidos por empresas (normas, instruções de trabalho, políticas, manuais etc.). 7. Considerações Finais Este artigo (ainda em construção) visa auxiliar alunos de graduação e pós-graduação na elaboração e denominação de suas pesquisas. A expectativa da autora é aprimorálo a partir dos comentários e dúvidas que receber. Apropriar-se adequadamente de uma teoria e embasar-se nela para realizar sua pesquisa é parte não apenas do processo de construção do conhecimento científico, mas também de formação de bacharéis, licenciados, mestres e doutores. Este é um caminho longo e trabalhoso – espera-se aqui contribuir minimamente para iluminar este caminho e, desse modo, ajudar na caminhada.

REFERÊNCIAS RIDLEY, D. The Literature Review: A Step-by-step Guide for Students. London: Sage, 2008. TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

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