REVISITANDO A ÁREA DA LINGÜÍSTICA APLICADA NO BRASIL

June 16, 2017 | Autor: T. Biazi | Categoria: Applied Linguistics
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REVISITANDO A ÁREA DA LINGÜÍSTICA APLICADA NO BRASIL

Elaine Lino Figueiredo e Evandro Wilk (Curso Letras/Inglês/UNICENTRO),
Terezinha Marcondes Diniz Biazi (Orientador-Dep. de Letras/UNICENTRO), e-
mail: [email protected]

Palavras-chave: Lingüística Aplicada, evolução, linguagem e prática social.

Resumo: Este trabalho apresenta a evolução da LA no Brasil de1970 até 1990,
destacando sua importância na atualidade como ciência que investiga sobre a
relação da linguagem e os contextos de prática social.


Introdução

A Lingüística Aplicada (LA), no novo milênio, é uma ciência que
estuda como a linguagem acontece nos mais variados contextos de situação do
mundo real, em como a linguagem nos constitui como pessoas em nosso contato
com o outro e que sentidos ela adquire nas diversas instâncias de interação
social (MOITA LOPES, 2006). Nesse sentido, a LA busca atuar na
conscientização das pessoas sobre o poder e o impacto da linguagem nas
práticas cotidianas. A LA é, portanto, uma área de estudos que busca ser
responsiva à sociedade no que diz respeito às questões de uso de linguagem,
com o objetivo de falar às necessidades sócio-discursivas das pessoas, para
que as mesmas desfrutem de uma melhor qualidade de interação. Considerando
o exposto, temos, por objetivo, apresentar a trajetória histórica da LA no
Brasil dos anos 1970 até 1990, suas concepções, áreas de concentração e
subáreas, para evidenciar sua evolução no seu modo de pensar a linguagem,
que partiu, inicialmente, de uma visão de linguagem como sistema para o
tratamento da linguagem como discurso e sua maturidade atual, como uma
ciência preocupada com questões de uso da linguagem nas práticas
cotidianas.




Materiais e Métodos





Realizamos uma pesquisa bibliográfica, utilizando-se de textos que
traçam um panorama da LA no Brasil, desde a década de 70, época em que foi
institucionalizada no país, até a década de 90, época em que se estabelece
como uma ciência que se investiga a linguagem como prática social,
constitutiva dos indivíduos.





Resultados e Discussão




Para apresentar o percurso da LA no Brasil, devemos citar dois
pesquisadores brasileiros que fizeram parte dessa história, Francisco Gomes
de Matos (UFPE) e Maria Antonieta Alba Celani (PUC-SP), que, em função de
suas experiências acadêmicas no exterior, trouxeram a LA para o Brasil.
Gomes de Matos, em 1966, institucionalizou a LA no país, com a implantação
do Centro de Lingüística Aplicada Yázigi, em São Paulo, enquanto Celani, em
1970, estabeleceu o primeiro programa de pós-graduação em Lingüística
Aplicada na PUC-SP. Além de ser o primeiro, esse também foi o único
programa no país por 15 anos. Nessa época, os estudos lingüísticos
focalizavam-se na sistemicidade da língua, privilegiando a análise de suas
estruturas internas e o seu aspecto sincrônico, enfatizando a visão de
língua como sistema de regras, que deveria ser estudada na sua imanência,
desconsiderando totalmente os usuários da língua. Esse período de estudos
da língua em nível descritivo, que iniciou nos anos 1910, e estendeu-se até
os meados de 1970, afetou embrionariamente as pesquisas de LA, pois muitos
lingüistas aplicavam suas teorias, predominantemente, em situações de
ensino. Essa prática por parte dos lingüistas causou para os lingüistas
aplicados um desconforto acadêmico, pois passaram a ser vistos como
consumidores de teorias advindas da lingüística, e não como produtores de
conhecimento sobre sua área de concentração que era o ensino e aquisição de
línguas.
A década de 80, segundo Cavalcanti (2004), foi considerada o "boom"
da LA no Brasil. Essa expansão da área ocorreu em função do crescimento de
lingüistas aplicados nas universidades brasileiras, que retornaram de
doutoramentos no exterior. Foi nessa década, que surgiu, o segundo programa
de Pós-Graduação em Lingüística Aplicada do país, na Universidade Estadual
de Campinas (UNICAMP). Na efervescência de pesquisas em nível de pós-
graduação, surgiram duas revistas na área da LA, a saber, Trabalhos em
Lingüística Aplicada, em 1983, e Documentação de Estudos em Lingüística
Teórica e Aplicada (D.E.L.T.A.), em 1985. Como espaços acadêmicos para
discussão de questões relacionadas à LA, foram criados a Associação de
Lingüística Aplicada (ALAB) e o congresso denominado Intercâmbio de
Pesquisas em Lingüística Aplicada (InPLA). Ainda, em 1986, realizou-se o
primeiro Congresso Brasileiro de Lingüística Aplicada (CBLA), que
atualmente é a principal conferência de Lingüística Aplicada no Brasil. A
LA, nos anos 1980, ampliou sua área de concentração, do foco de ensino e
aprendizagem de línguas para questões de política e planejamento
educacional; uso da linguagem em contextos profissionais tradução;
lexicografia; multilingüalismo; linguagem e tecnologia. A LA, nesse
contexto de pesquisas, ampliou seu contato com outras áreas de conhecimento
para além das fronteiras da Lingüística e passou a englobar conhecimentos
da Psicologia (em geral Cognitiva) e a Psicolingüística (do Processamento;
da Aquisição). Deste modo, as teses e artigos brasileiros passaram a
investigar o processo de produção da linguagem (p.ex., o processo de
construção de significado no texto) e não mais o exame do produto (p.ex., o
texto), o que influenciou diretamente o ensino de línguas, acrescentando-
lhe um componente processual e cognitivo. Conforme Celani (1998) expõe, a
LA assume, assim, uma postura interdisciplinar como ciência da linguagem,
pois dialoga com outros campos de conhecimento que têm como foco, estudos
sobre a linguagem como um processo que é construído internamente.

Cavalcanti (2004) constata que a década de 90 serviu para
aprofundar a discussão da natureza da LA, pois lingüistas aplicados passam
a vê-la, não apenas, interdisciplinar, mas transdisciplinar, ou seja, uma
LA, que deve produzir conhecimento que ultrapasse as fronteiras da escola,
para auxiliar na resolução de problemas de uso da linguagem pelos
participantes do discurso nos variados contextos sociais. Nessa
perspectiva, a LA compreende a linguagem como prática fabricada pela
sociedade, imbricada nas práticas cotidianas, que produz discursos que
normatizam, controlam e normalizam comportamentos sociais (MOITA LOPES,
2006). Essa mudança nos paradigmas da LA ocorre em função de estudos que
são desenvolvidos em várias áreas de conhecimento, tais como a
Sociolingüística, a Análise do Discurso, a Pragmática, entre outras, que
exploram a relação da tríade, inserção social da língua, atividades
cotidianas e interações verbais. Nesta década, foi fundada a Associação de
Lingüística Aplicada do Brasil (ALAB), a Revista de Lingüística Aplicada
foi lançada como uma publicação da ALAB e, também, houve a inserção da
disciplina da Lingüística Aplicada em cursos universitários de formação de
professores. Portanto, essa década consolidou-se, com novos programas de
pós-graduação em LA e, notadamente, com o crescimento de pesquisas e uma
diversificação de subáreas da LA, incluindo linguagem de trabalho,
linguagem e mídia, linguagem e gênero, linguagem e tecnologia; e também uma
diversificação de subáreas na LA em sua interface com a educação, incluindo
educação a distância, formação do professor, e educação bi/multilingüal.

Conclusões

Neste artigo buscamos discutir a evolução da LA como ciência que
passa a construir entendimentos sobre a linguagem imbricada nas relações
sociais e que tem a preocupação de investigar as transformações sócio-
discursivas contemporâneas.




Referências

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MOITA LOPES, L. P. Afinal, o que é Lingüística Aplicada? In, L. P. MOITA
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MOITA LOPES, L. P. (org.) Por uma lingüística aplicada indisciplinar. São
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