REVISTA ECHOS DO COLLÉGIO ARCHIDIOCESANO DE SÃO PAULO (1908-1963): possibilidades para estudos em História da Educação

June 20, 2017 | Autor: R. Pedro | Categoria: História Da Educação, Fontes históricas
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REVISTA ECHOS DO COLLÉGIO ARCHIDIOCESANO DE SÃO PAULO (1908-1963): possibilidades para estudos em História da Educação1 Raquel Quirino Piñas* Mestranda no PEPG Educação: História, Política, Sociedade (PUC/SP) Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo [email protected]

Ricardo Tomasiello Pedro ** Mestrando no PEPG Educação: História, Política, Sociedade (PUC/SP) Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo [email protected]

Palavras-chave: periódico educacional, documentos escolares, fontes

INTRODUÇÃO

A intenção desse trabalho é apresentar a revista Echos do Collegio Archidiocesano de São Paulo (Echos), que foi o mais relevante informativo do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo entre os anos 1908 e 1963. Nessa comunicação apresentaremos o periódico, algumas das temáticas abordadas em suas páginas e, a partir disso, desenvolver uma reflexão em torno das possibilidades de investigação oferecidas por essa documentação histórica. Impressos fazem parte de um rol dos documentos consagrados pela historiografia. Os periódicos possuem posição de destaque em relação à sua legitimidade enquanto fonte para a investigação acadêmica. Sobre esse assunto nos diz MARTINS (2003): Nesse conjunto, o “impresso revista” não se apresenta de forma inédita como fonte histórica, uma vez que desde o século XIX os periódicos já eram considerados documentos pertinentes para o rastreamento do passado, ainda que com restrições (MARTINS, 2003, p. 60).

Para LUCA (2005, p. 114-115), as revistas tiveram sua importância ampliada em decorrência da Nova História, que expandiu as concepções sobre documentos e temáticas historiográficas, a partir de movimentos da história cultural, micro história e a renovação na história política. A utilização da fonte impressa passou a exigir uma leitura profunda e *

Historiadora Documentalista do Memorial do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo. Bolsista CAPES. ** Bibliotecário Coordenador do Memorial do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo. Bolsista CAPES. 1

acurada de todo seu conteúdo, que ultrapassa a interpretação do texto. Essa pesquisadora também indica que:

(...) a forma como os impressos chegaram às mãos dos leitores, sua aparência física (formato, tipo de papel, qualidade de impressão, capa, presença/ausência de ilustrações), a estruturação e divisão do conteúdo, as relações que manteve (ou não) com o mercado, a publicidade, o público a que visava atingir, os objetivos propostos. Condições materiais e técnicas em si dotadas de historicidade, mas que se engatam a contextos socioculturais específicos, que devem permitir localizar a fonte escolhida numa série, uma vez que esta não se constitui em um objetivo único e isolado. Noutros termos, o conteúdo em si não pode ser dissociado do lugar ocupado pela publicação na história da imprensa, tarefa primeira a passo essencial das pesquisas com fontes periódicas (LUCA, 2005, p. 138-139).

O uso de revistas e jornais na pesquisa histórica é comentado também por CAMARGO e VIDAL (1992), que conferem a essas fontes a possibilidade de uma leitura abrangente do contexto investigado:

O interesse em se estudar periódicos para a realização de análises históricas reside na possibilidade da leitura de manifestações contemporâneas aos acontecimentos. Desta maneira, realizamos uma aproximação do momento de estudo não pela fala de historiadores da educação, mas pelos discursos emitidos na época (CAMARGO e VIDAL, 1992, p. 408).

Apesar de usufruir de credibilidade na esfera acadêmico-científica, jornais e revistas exigem leitura crítica feita à luz do seu contexto de produção. Considera-se que somente a análise pormenorizada dos conteúdos textuais e gráficos não seja suficientemente abrangente sem o entendimento dos elementos subjetivos que também os compõe, por essa razão MARTINS (2003) afirma:

A pertinência desse gênero de impresso como testemunho do período só é válida se levarmos em consideração as condições de sua produção, de sua negociação, de seu mecenato propiciador, das revoluções técnicas a que se assistia e, em especial, da natureza dos capitais nele envolvidos (MARTINS, 2003, p. 60-61).

Segundo a mesma pesquisadora, o tratamento cauteloso exigido do pesquisador por essas fontes é retribuído pelo panorama de potencialidades que se abre: “Assiste-se, pois, através do periodismo, à veiculação exaustiva de símbolos, configuradores de grupo, classes sociais, partidos, governos, projetos, valendo-se da pluralidade de imagens e tratamentos gráficos” (MARTINS, 2003, p. 74). 2

A dispersão das fontes documentais apontada por CAMARGO e VIDAL (1992, p. 407-408), assim como em CATANI e SOUSA (1994, p. 177), é considerada uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos pesquisadores. De modo geral o trabalho no levantamento das fontes restringe-se ao seu uso individual, o que significa que os dados descritivos e de localização raramente são reutilizados ou partilhados. A elaboração de índices e catálogos sobre periódicos especializados em Educação contribuem expressivamente para o desenvolvimento do trabalho de campo. Nas últimas duas décadas a imprensa educacional foi alvo das atenções de estudiosos, como por exemplo, os projetos de António Nóvoa e Pierre Caspard. Estes têm se dedicado a extensos projetos visando à elaboração de catálogos e repertórios analíticos, sobre as revistas pedagógicas portuguesas (editadas desde 1818) e as revistas de ensino francesas (que datam desde o século XVIII), respectivamente. No Brasil, pesquisas, projetos e artigos colaboraram para reafirmar a pertinência das revistas como documentação histórica. Um exemplo disso foi a proposta de sistematização das publicações da imprensa educacional paulista, entre 1893 e 1961, de CATANI e SOUSA (1994). A pesquisadora realizou também o mapeamento de fontes que colaboraram para o alargamento das interpretações sobre o campo educativo. Os estudos de CATANI (1989), entre os quais figura a tese Educadores à meia-luz: um estudo sobre a Revista de Ensino da Associação Beneficente do Professorado Público de São Paulo, 1902/1918, são exemplos das potencialidades e possibilidades de uso dessa fonte para a investigação, pois auxiliam a, por exemplo: aprofundar o entendimento sobre o professorado e sua atuação profissional; compreender a formação intelectual e moral; obter elementos sobre mobilização em associações e também analisar as representações que lhe foram conferidas. Conforme nos afirma CATANI (1996):

O fato das revistas de ensino fazerem circular informações sobre o trabalho docente, a organização dos sistemas de ensino, as lutas da categoria profissional do magistério, bem como os debates e polêmicas que incidem sobre aspectos dos saberes ou das praticas pedagógicas, tornam as mesmas uma instancia privilegiada para a investigação dos modos de funcionamento do campo educacional (CATANI, 1996, p. 116).

CATANI e SOUSA (1994, p. 178) apontam duas perspectivas para a utilização dos periódicos: uma que ao empreender o tratamento desses materiais por meio de sua organização e elaboração de índices temáticos, que operam como ponto de partida para a pesquisa sobre a história da educação, práticas escolares, e do ensino, entre outros. Outra, 3

diretriz

que considera os aspectos internos do documento, assim como sua produção,

situando discursos, resgatando atuações, e percebendo o desenvolvimento do campo educacional. Entre os trabalhos que demostram as possibilidades de uso das revistas como fonte para a história da educação podemos citar a tese de BRAGHINI (2010), na qual, por meio da análise de um periódico, nota-se, por exemplo, a difusão de uma representação de juventude conivente ao regime militar durante o período da Ditadura. Há também a dissertação de ROZANTE (2008), na qual a publicação é utilizada para o entendimento dos discursos da formação dos professores de ensino secundário pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo2. Percebe-se, por meio dos estudos apresentados, a relevância de estudos sobre e com o uso de periódicos para os estudos históricos. Portanto, vale a divulgação do periódico Echos do Collégio Archidiocesano de São Paulo, como fonte documental para o estudo em história da educação. Na sequencia o texto será subdividido de forma a contemplar os seguintes objetivos: a) apresentação geral da revista Echos, bem como suas características e principais objetivos; b) descrição dos conteúdos e temáticas veiculadas pelo periódico; c) algumas possibilidades de pesquisa, pensando-a como fonte para investigações em História da Educação e Ensino de História; d) a utilização desse periódico nos trabalhos de tratamento dos acervos históricos do Colégio Arquidiocesano.

1 A REVISTA ECHOS DO COLLÉGIO ARCHIDIOCESANO DE SÃO PAULO

Com periodicidade anual a revista Echos do Collégio Archidiocesano de São Paulo foi publicada entre os anos de 1908 e 1963, exceto nos anos 1942 a 1945 devido à Segunda Guerra Mundial. Graças à sua longa existência e por trazer uma rica descrição do cotidiano do Colégio essa publicação destaca-se dentre os demais impressos institucionais que compõem o acervo do Memorial do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo3. O Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo, fundado em 1858, em anexo ao primeiro Seminário Episcopal da cidade, configura-se como uma das mais tradicionais instituições educativas da cidade. Em seus primeiros 50 anos de funcionamento foi administrado pelos freis capuchinhos de Savóia e padres diocesanos. No ano de 1908, a pedido do cardeal arcebispo Dom Duarte Leopoldo e Silva, passa a ser dirigida pelos Irmãos Maristas (congregação católica de origem francesa fundada pelo Padre Marcelino Champagnat e com fortes vínculos com a Educação). 4

O Arqui, como é normalmente chamado o colégio, funcionou até o ano de 1958 nos regimes de internato e semi-internato, e até 1969 atendeu exclusivamente alunos do sexo masculino, muitos destes advindos de famílias tradicionais de diversos estados brasileiros. Considera uma das instituições escolares mais antigas em funcionamento na cidade4. A chegada dos Irmãos Maristas ao Colégio marcou o momento no qual a revista Echos passa a ser publicada, prática essa posteriormente estendida a outras escolas mantidas pela mesma congregação5. O periódico constituiu-se como o principal informativo institucional entre a escola e as famílias dos internos. Ainda que, circulando entre alunos, ex-alunos, professores leigos e religiosos, autoridades eclesiásticas e civis, percebe-se que a revista foi especialmente dedicada às famílias dos alunos. Pode-se aferir isso a partir das palavras do Ir. Isidoro Dummont, primeiro diretor Marista do Colégio, na edição nº 1 da revista:

Antes de tudo, agradecemos do fundo da alma a confiança com que os Snrs. Nos distinguiram, confiando-nos a educação de seus filhos e o valioso auxilio moral que nos prestaram em toda a circumstancia. (....) Nestas toscas linhas, os Snrs. verão como fazemos para conseguir a bôa educação, a educação completa dos seres amados que enchem o lar de alegrias e são a felicidade da família; os Snrs. poderão julgar o nosso modo de os tratar, instruir, e como, numa afeição baseada na religião, nos esforçamos para lhes formar ao mesmo tempo a inteligência, o coração e todas as faculdades (Echos, nº 1, 1908-1909, p. 04).

Para os familiares, muitas vezes afastados geograficamente da trajetória escolar de seus filhos em regime de internato, a Echos funcionava como um tipo de “prestação de contas” sobre como transcorrera o ano letivo. O relato do cotidiano escolar, em meio aos seus saberes e práticas, atestava o padrão de excelência intelectual do ensino. O periódico também colaborou para a propagação dos valores associados à formação do “caráter”, “solidez moral”, realizada por meio de uma educação confessional Católica, e elegendo padrões de conduta a serem endossados pela família:

No Collegio Archidiocesano, o systema educativo applicado aos alunos é o velho e fructuosos systema christão que se coaduna harmonicamente com a natureza humana. Este systema tem para si o prestigio da antiguidade, a força da adaptação ao ser moral, intellectual e physico do homem, e a sancção gloriosa dos resultados, porque formou gerações inteiras de homens que honraram a patria e a humanidade, creou os heroes e os sabios, os justos e os santos; tem por base o amor do proximo, por alvo ó bem do homem e da sociedade, por methodo a verdadeira psychologia aplicada racionalmente, por auxilio o desinteresse proprio, por termo particular a felicidade da família. (Echos, nº 19, 1927, p. 09).

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Em relação aos alunos a revista ia além da descrição do cotidiano escolar. Eram noticiados resultados de exames, notas alcançadas, prêmios, equipes e resultados de competições esportivas, distinção dos antigos alunos, orientações sobre os valores cristãos, e os comportamentos adequados para a juventude católica. A publicação colaborava para a propaganda do modelo de estudante que se desejava pela instituição mariana: “bons cristãos e virtuosos cidadãos”. Exemplares da revista eram enviados, conforme citado anteriormente, para autoridades políticas e eclesiásticas, muitas vezes reverenciadas em suas páginas. As cartas de agradecimento destas personalidades eram amplamente divulgadas e reafirmavam o status da instituição, bem como a distinção de seus alunos e docentes. Desde o primeiro número a revista demonstra especial cuidado em sua elaboração uma vez que possuía um refinado projeto gráfico. Ricamente ilustrada com grande número de fotografias, não tão comuns para revistas educacionais do período. Pode-se ver em suas páginas: turmas de alunos, religiosos, professores, formaturas, equipes e festas esportivas, premiações escolares, apresentações musicais, celebrações religiosas, recordações oferecidas pelos antigos alunos, entre outros. As páginas apresentam também delicados trabalhos de ornamentação, constituídos por molduras e cabeçalhos em arabescos, e impressões com douração nas seções destinadas às homenagens e premiações. A revista passou por diversas reestruturações gráficas (1932, 1937, 1946, 1954 e 1959), em sintonia com a evolução das técnicas de impressão e a modificação dos interesses pedagógicos da instituição, o que acabaram alterando o seu formato físico.

1.1 Temas noticiados e possibilidades investigativas da revista Echos

As edições destacavam os acontecimentos tidos como os mais relevantes do ano letivo, por isso mesmo contemplavam amplos aspectos do universo escolar. Analisando o conjunto formado ao longo de seis décadas é possível identificar muitas das mudanças experimentadas pelo Colégio, o direcionamento estatal dado à educação, a relação entre o pensamento dos membros religiosos do colégio e as determinações laicas, governamentais. Nas páginas aparentemente restritas à descrição do cotidiano escolar estão marcadas: as inovações do pensamento educacional, o intenso processo de urbanização sofrido pela cidade de São Paulo, a modernização dos costumes, a discussão em torno da Ciência e da Fé, a revolução dos papéis sociais etc.

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A acelerada transformação dos espaços, das relações e dos saberes, deixou seu reflexo no âmbito escolar, algumas das práticas e rituais do universo escolar permaneceram quase que imutáveis, enquanto outras passaram por mudanças significativas. Todo esse movimento torna-se perceptível na leitura atenta das páginas da revista. Alguns temas foram apresentados na Echos de forma recorrente, colaborando para a formação das representações sobre a cultura escolar. Este artigo não pretende descrevê-los de forma pormenorizada, mas sim, realizar uma breve apresentação dos conteúdos e assuntos de interesse dos responsáveis pela publicação. Para isso o quadro 1 relaciona os temas noticiados, e no quadro 2 são apresentadas algumas possibilidades de investigação.

Quadro 1 Temáticas noticiadas Homenagem às autoridades eclesiásticas; Cartas dos leitores; Palavras do Reitor; Resumo do ano letivo; Divulgação dos antigos alunos; Relatos de formatura; Discursos de paraninfos; Homenagem aos alunos premiados; Galeria Ilustre; Visita de personalidades eclesiásticas; Celebrações religiosas; Campanhas para as missões católicas; Visitas de personalidades políticas e intelectuais; Eventos cívicos; Apresentação da estrutura física e suas transformações; Registro dos alunos, docentes e religioso; Relatos sobre o regime de internato; Excursões científicas e passeios; Equipes e campeonatos esportivos; Apresentações artísticas (teatro); Apresentações e aulas de música; Festas e confraternizações; Ações das associações estudantis; Ações dos grupos de formação religiosa; Notas e resultados dos exames; Orientações ao período de férias; Orientações para a formação moral e religiosa dos alunos; Propagandas de casas comerciais de São Paulo. Fonte: Revista Echos do Collegio Archidiocesano de São Paulo (1908-1963) 7

Quadro 2 Possibilidades investigativas Mudanças e permanências na instituição ao longo de seis décadas; Sujeitos e seus posicionamentos sociais e institucionais; Práticas e rituais escolares; A circulação das ideias pedagógicas; Discursos sobre a civilidade e a moral; Valorização da excelência acadêmica; Educação dos corpos e dos sentidos; Divulgação da filosofia educacional Marista; Práticas esportivas nas escolas e difusão de esportes no país; Evangelização pelo ensino; Construção das representações sobre a escola; Panorama educacional brasileiro (disciplinas, exames, certificações, categorias de formação, carreiras e cursos); Estudo de gênero (educação para o sexo masculino); Formação educacional das elites brasileiras; Escola e Cultura; Estruturas físicas e recursos pedagógicos do estabelecimento de ensino; Vocacionado religioso; Vida em internato e a estrutura de funcionamento; Educação e formação católica, e catolicismo ao longo do século XX; Trajetórias dos egressos (antigos alunos); Escolaridade e distinção social; Personalidades da esfera política e religiosa; Sucesso e fracasso escolar. Fonte: Revista Echos do Collegio Archidiocesano de São Paulo (1908-1963)

A revista Echos, editada durante 55 anos, se constitui como fonte relevante para o estudo das permanências e mudanças da escolarização, colaborando para o entendimento das construções simbólicas e materiais no âmbito das instituições educacionais. Descrevendo o cotidiano escolar a publicação oferece um panorama amplo para a análise do que é a escola. De que forma os discursos pedagógicos, e as prerrogativas legais, presente em leis e reformas, foram entendidas e concretizaram nos estabelecimentos de ensino. Como revista institucional seus objetivos estavam além da necessidade de comunicação com as famílias e alunos, sendo uma forma de publicidade. Pelas páginas 8

aparentemente despretensiosas, voltadas ao relato minucioso do ano letivo, o Colégio era afirmado como local de formação integral: dedicado a produção de excelência intelectual, oferecendo sólida formação cívica e moral, aprimorando o gosto artístico, promovendo o amadurecimento físico e desenvolvendo relações de socialização entre a juventude oriunda das camadas dirigentes.

1.2 A revista Echos como fonte para a pesquisa em História da Educação e Ensino de História

As possibilidades investigativas apontadas sobre a Echos foram formuladas a partir dos temas publicados, trabalhos acadêmicos (ou não) realizados com revistas, e pela utilização desse informativo observada pela equipe do Memorial. Em 2008, as comemorações dos 150 anos do Colégio e centenário da gestão Marista, contribuíram para a exposição dos acervos sob a guarda do centro de documentação e memória. Fato este que incentivou a consultas às revistas principalmente para o atendimento de pessoas que fizeram parte da comunidade escolar, ou seus familiares, interessadas em recuperar fragmentos de suas trajetórias escolares em listas de quadro de honra, os relatos sobre excursões e festas, os resultados de campeonatos, as imagens de solenidades, as fotografias de alunos, professores e irmãos, etc. Com a divulgação dos acervos em eventos na área de Educação, História e Patrimônio, ocorreram mudanças no perfil dos consulentes, uma vez que a revista passa a ser procurada por pesquisadores acadêmicos. No acompanhamento dos estudiosos verificou-se a análise da Echos para a elaboração de trabalhos nas seguintes temáticas: história do ensino de ciências; circulação e utilização de materiais didáticos; museus escolares; difusão do futebol nas escolas; movimento católico nas primeiras décadas do século XX; vanguarda pedagógica nas escolas confessionais católicas; bandas marciais e fanfarras nas escolas; formação católica nas escolas; difusão da língua portuguesa culta pelas elites; transformações urbanas na Vila Mariana e em São Paulo. O periódico também foi utilizado por arquitetos, escritores, jornalistas dentre outros, como embasamento para a realização de pareceres técnicos em projetos de restauro, elaboração de biografias de personalidades políticas, escrita sobre as trajetórias acadêmicas de intelectuais e religiosos, matérias jornalísticas sobre São Paulo antigo, resgate da memória de obras sociais católicas, levantamentos sobre os edifícios históricos da cidade de São Paulo,

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descrição das alterações ocorridas nos bairros da Luz e Vila Mariana e região envoltória do colégio e assim por diante. No ensino de história, muitas vezes, persiste a ideia de que uma revista escolar limitase à reconstrução da memória institucional, ou, o reitera-se o conteúdo dos livros didáticos com o uso “ilustrativo”, e diga-se, equivocado, dessa documentação conforme apontado por BRAGHINI, PEDRO e PIÑAS (2011, p. 623). Nas páginas da Echos encontramos ricas descrições a respeito da Gripe Espanhola em 19186, e a Revolução de 19247, eventos que foram vivenciados com intensidade pela comunidade escolar daquele período, e tornam possíveis outras abordagens desses acontecimentos. Em outras edições, como por exemplo, a de 1941, encontramos as homenagens ao aniversário do então presidente Getúlio Vargas8, que contribuem para uma análise sobre a atuação do Departamento de Imprensa e Propaganda durante o Estado Novo. Além disso, é sempre bom lembrar que o universo escolar não está desvinculado da cultura e que a vivência de membros da comunidade escolar é a vivência mesma dos sujeitos históricos. Afastando-se dos marcos exaustivamente promovidos pelos livros didáticos a revista Echos carrega informações sobre seu contexto de produção oferecendo referencias a respeito dos comportamentos da juventude, hábitos de consumo, posicionamentos políticos, a mentalidade do período, entre outros.

1.3 A utilização da revista Echos nos trabalhos de tratamento dos acervos históricos do Memorial do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo.

Ao longo dos trabalhos de tratamento e contextualização dos acervos sob a responsabilidade do Memorial a revista desempenhou uma função essencial, pois os textos e imagens publicados possibilitaram o cruzamento de informações ampliando os conhecimentos sobre outros documentos históricos, até então, não contextualizados por isso pode-se afirmar seguramente que a publicação mostrou-se valiosa para a preservação da memória e do patrimônio material escolar. Conforme apresentado por PEDRO e PIÑAS (2012), a partir da revista foi realizada a identificação de aproximadamente 90% das fotografias, entre 1908 e 1950, pela comparação das revelações com as imagens e legendas publicadas (datação, eventos, pessoas retratadas). Esse trabalho colaborou significativamente para a ampliação de informações a respeito da comunidade escolar, e possibilitou o acesso ao acervo fotográfico pelos antigos alunos, ex-professores e familiares por meio do site do Memorial.

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As edições também auxiliaram, graças às descrições a respeito do edifício escolar (como construção, reformas, e alterações dos usos e espaços), na análise de projetos de conservação e restauro. Levando em conta as discussões sobre a pertinência das revistas para a constituição de novos temas em história da educação, a revista Echos do Collegio Archidiocesano de São Paulo, é uma possibilidade privilegiada, disponível para consulta no acervo do Memorial do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo, centro de documentação e memória responsável pela preservação, organização e acesso aos documentos acumulados pela instituição desde 1858.

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REFERÊNCIAS

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BRAGHINI, Katya Mitsuko Zuquim ; PEDRO, Ricardo Tomasiello; PIÑAS, Raquel Quirino. O Memorial do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo. In: VI Congresso Brasileiro de História da Educação, 2011, Vitória (ES). Anais: livro de resumos. Vitória: UFES, 2011.

CAMARGO, Marilena Jorge Guedes de; VIDAL, Diana Gonçalves. A imprensa periódica especializada e a pesquisa histórica: estudos sobre o Boletim de Educação Pública e a Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 73, n.175, p. 407-430, set./dez. 1992.

CATANI, Denice Bárbara, SOUSA, Cynthia Pereira de. A imprensa periódica Educacional e as fontes para a história da cultura escolar brasileira. Revista do Instituto de Estudos Brasileiro, São Paulo, n.37, p. 177-183. 1994

CATANI, Denice Bárbara. A imprensa periódica Educacional: as revistas de ensino e o estudo do campo educacional. Educação e Filosofia, Uberlândia (MG), v. 10, n. 20, p. 115130. jul./dez. 1996.

LUCA, Tania Regina de. História dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2005.

MARTINS, Ana Luiza. Da fantasia à História: folheando páginas revisteiras. Franca (SP), História, v.22, n.1, p. 59-79, 2003.

PIÑAS, Raquel Quirino; PEDRO, Ricardo Tomasiello. O acervo fotográfico do Memorial do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo. In: IX Congresso Luso-Brasileiro de História 12

da Educação, 2012, Lisboa. Livro do congresso. Lisboa: Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, 2012. p. 184.

ROZANTE, Ellen Lucas. A Revista de pedagogia da Cadeira de Didática geral e Especial da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (1955-1967): a formação do professor de ensino secundário. São Paulo, 2008. Dissertação (Mestrado em Educação) – EHPS, PUC/SP.

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Este texto está inserido nos trabalhos do projeto de pesquisa História do Ensino de Ciências no Brasil: materiais, metodologias e práticas de ensino (séculos XIX e XX) sob coordenação do Prof.º Dr.º Kazumi Munakata e orientação da Prof.ª Dr.ª Katya Braghini. 2 O trabalho de Braghini (2010) analisou a Revista da Editora do Brasil S/A (EBSA), no período de 1961 a 1980; enquanto o Rozante (2008) a Revista de Pedagogia editada pela Cadeira de Didática Geral e Especial de 1955 a 1967. 3 O Memorial do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo, criado em 2008 é responsável pela preservação, guarda e disponibilização dos documentos históricos da instituição à comunidade escolar e ao público geral. Os acervos existentes nesse Centro de Documentação e Memória foram tema dos seguintes trabalhos: BRAGHINI, Katya Mitsuko Zuquim ; PEDRO, Ricardo Tomasiello; PIÑAS, Raquel Quirino. O Memorial do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo. In: VI Congresso Brasileiro de História da Educação, 2011, Vitória (ES). Anais: livro de resumos. Vitória: UFES, 2011. p. 623-623. PIÑAS, Raquel Quirino; PEDRO, Ricardo Tomasiello. O acervo fotográfico do Memorial do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo. In: IX Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação, 2012, Lisboa. Livro do congresso. Lisboa: Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, 2012. p. 184. 4 Atualmente conta com 3.407 alunos, de Educação Infantil ao Ensino Médio, oferecendo a modalidade integral e atividades extracurriculares. 5 Como o periódico Echos do Colégio São José (Rio de Janeiro). 6 Echos de 1918, Hospital Provisório do Collegio Archidiocesano de São Paulo. p. 45 7 Echos de 1924, A Insurreição Julhana. p. 16 8 Echos de 1941, Natalicio Dr. Getulio Vargas. p. 81

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