Revolução e decadência na literatura portuguesa do século XIX

June 6, 2017 | Autor: Jair Zandoná | Categoria: Literatura Portuguesa
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1Artigo recebido em 22 de abril de 2015 e aceito em 9 de julho de 2015. Texto orientado pelo Prof. Dr. Jair Zandoná (UFSC). 2 Graduanda do Curso de Letras da UFSC. E-mail: [email protected] 3 Doutor em Literatura pela UFSC. Professor de Literatura da UFSC e editor da revista Anuário de Literatura (PPGL/UFSC). E-mail: [email protected] _____________________________________________________________________________________________________

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4 As Conferências do Casino foram realizadas no Casino Lisbonense, em Lisboa, no ano de 1871. Ao total foram Quental. Augusto Seromenho. Augusto Fuschini. Eça de Queiroz. Germano Vieira Meireles. Guilherme de Azevedo. Jaime Batalha Reis. Joaquim Pedro de Oliveira Martins. Manuel de Arriaga. Salomão Sáraga. Teófilo , a 22 de maio de 1871, intitulada O espírito das conferências. Seguiram-se outras quatro sendo, então, interrompidas, por proibição do rei. 5 É importante referir que neste ano comemorou-se o centenário da revista Orpheu, com a realização de dois importantes eventos 100Orpheu em Portugal e no Brasil, nos meses de março e maio de 2015, respectiv financiamento, mas as marcas de ruptura já haviam sido instauradas pelos seus idealizadores. Depois dela, várias outras revistas surgiram no rastro de Orpheu: Centauro, Exílio, Portugal Futurista, Contemporânea, _____________________________________________________________________________________________________

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(...) uma tradição voltada contra si mesma, e esse paradoxo anuncia o destino da modernidade estética, contraditória em si mesma: ela

afirma e nega ao mesmo tempo a arte, decreta simultaneamente sua Presença, entre outras, que contaram com a participação de alguns dos poetas participantes da primeira. Mas foi a Revista Orpheu o marco do Modernismo em Portugal, já que foi ela a grande causadora de escândalos junto ao público. As revistas que a sucederam não obtiveram sucesso no propósito de inovar, como . _____________________________________________________________________________________________________

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vida e sua morte, sua grandeza e sua decadência. A aliança dos

contrários revela o moderno como negação da tradição, isto é, necessariamente tradição da negação; ela denuncia sua aporia ou seu impasse lógico. (COMPAGNON, 2010, p. 10)

6 Nesse sentido, Pires, trajec PIRES, 1992, p. 17), torna ainda mais possível encontrá-la no âmbito da definição de modernidade, entendida esta como ruptura da tradição uma tradição que existiu até aquele exato momento em que decaiu; rompeu-se a tradição. _____________________________________________________________________________________________________

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A que se destinavam? A dizer aos portugueses que uma inequívoca

renovação social se fazia sentir por toda parte, a que só Portugal permanecia alheio. Era urgente a sua participação em movimento tão

sério em todos os setores da vida, e as conferências destinavam-se ao esclarecimento das inteligências. (BERARDINELLI, 2004, p. 55)

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(QUENTAL, 1871, p. 48). Nesse decomposição, criando uma nova civilização a civilização cristã; a Revolução (...) seria para os tempos modernos como o Cristianismo para os tempos da decadência do império romano. Antero é não só um apóstolo do socialismo phoudhoniano é um profeta de um mundo novo e a sua conferência um documento de me (PIRES, 1992, p. 66).

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Rasga-se porem o seculo 16º, tão prodigioso de revelações, e com elle apparece no mundo a Reforma, seguida por quasi todos os povos de raça germanica. Esta situação cria para os povos latinos, que se

conservavam ligados a Roma, uma necessidade instante, que era ao

mesmo tempo um grande problema. Tornava-se necessario responder aos ataques dos protestantes, mostrar ao mundo que o espirito religioso não morrera no seio das raças latinas, que debaixo da

corrupção romana havia alma e vontade. Um grito unanime de reforma

saiu do meio dos representantes da orthodoxia, opondo-se ao desafio, que, com a mesma palavra, haviam lançado ao mundo catholico

Lutero, Zwingle, Ecolampado, Melanchthon e Calvino. Reis, povos,

sacerdotes, clamavam todos reforma! Mas aqui apparecia o problema: que espécie de reforma? (QUENTAL, 1871, p. 22-23)

8 Lutando contra o passado, como solução para a crise, Quenta em todos nós, por mais modernos que queiramos ser, ha lá occulto, dissimulado, mas não inteiramente morto, um beato, um fanatico ou um jesuita! Esse moribundo que se ergue dentro em nós é o inimigo, é o passado. É preciso enterral-o por uma vez, e como elle o espirito sinistro do catholicismo de Trento (QUENTAL, 1871, p. 34). _____________________________________________________________________________________________________

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(...) fez de sua arte um instrumento de justiça social, sem todavia apoucar-lhe o valor estético. O conhecimento e a defesa dos homens

não os levaram a perder de vista o homem. O aprofundamento no

próprio poço não os fez esquecer o mundo exterior. O bom senso e o bom gosto coexistiram. (BERARDINELLI, 2004, p. 61)

Não é susceptível de discussão o amor (e o fervor) com que a Geração de

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tentou

desentranhar do

Portugal quotidiano,

mesquinho e decepcionante, um outro, sob ele soterrado, à espera de oportunidade de irromper à luz do sol. Mas esse amor foi no mais alto

grau da espécie dos amores infelizes, como são todos os que se não

adequam ao objeto amado e como será infeliz, no sentido de Hegel, a forma geral de consciência de toda a geração, particularmente a de

Antero. A cisão verificada entre o Portugal real e o Portugal sonhado e exigido, torna-se mental e é elevada a uma espécie de dignidade ontológica. (LOURENÇO, 1988, p. 93, ênfase no original)

9 (...) somos agora os porthuguezes indifferentes do século 19º. (...) se o poder absoluto da monarchia acabou, persiste a inercia politica das populações, a necessidade (e o gosto talvez) de que as governem, persiste a centralisação e o militarismo, que annullam, que reduzem ao absurdo as liberdades constitucionaes. Entre o senhor rei senhores influentes de hoje, não ha tão grande differença: para o povo é sempre a , ênfase no original). _____________________________________________________________________________________________________

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(...) é um Portugal realmente presente que ele interroga e que o interpela. É a sua província, a sua capital, os seus pasmosos habitantes, os costumes, os sonhos

medíocres hipertrofiados, a inenarrável pretensão de tudo quanto é ou parece ser paranoia de grandezas engendradas a meias pelo tédio e pela falta de imaginação, que Eça pinta, caricaturalmente sem dúvida, mas para melhor reduzir a massa

confusa do detalhe proliferante à sua verdade palpável. (LOURENÇO, 1988, p. 95, ênfase no original)

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fechada e nela afixada uma portaria assinada

-lhe a porta

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Nesse radicalismo estava já o germe da tragédia cultural e humana (ou a tragédia inteira), pois os instauradores dele ficavam abrangidos

pela mesma superlativa exigência crítica, pelo mesmo ideal de

redenção utópica, menos talvez pelos objetivos que pelos meios e tempo de os poder minimamente alcançar. (LOURENÇO, 1988, p. 91, ênfase no original)

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