Ribeiro, P. C. (2016). O campo académico da comunicação nas organizações. In P. C. Ribeiro (Ed.), A Comunicação Interorganizacional em Rede na Transferência de Conhecimento: A abertura das universidades às empresas (pp. 63-139). Tese de Doutoramento,Braga: Universidade do Minho.

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A Comunicação Interorganizacional em Rede na Transferência de Conhecimento: A abertura das universidades às empresas Ribeiro, P. C. (2016). O campo académico da comunicação nas organizações (pp. 63-139). Braga: Universidade do Minho.

CAPÍTULO II: O ORGANIZAÇÕES

CAMPO

ACADÉMICO

DA

COMUNICAÇÃO

NAS

Sumário

O Capítulo II é lançado na procura da legitimação do estudo da Comunicação Interorganizacional no contexto das Ciências da Comunicação e, mais concretamente, no campo académico da Comunicação Organizacional, subárea científica onde se inscreve esta investigação. No ponto (1) discutir-se-ão as metateorias, as metáforas e os paradigmas organizacionais; e a relação entre modelos organizacionais e de comunicação, através do percurso evolutivo das organizações (clássico/humanista, sistémico e em rede) ao qual corresponde um processo evolucionário da comunicação nas organizações (hierárquico, interno, externo e de massas, e interorganizacional e em rede). O ponto (2) é dedicado à legitimação do tema desta tese no contexto do campo académico da Comunicação Organizacional. Assim, reflete-se sobre a complementaridade das diferentes abordagens à comunicação nas organizações (Organizacional, Corporativa, de Gestão ou de Relações Públicas), com o propósito de promover um entendimento concetual de campos académicos e profissionais, muitas vezes, coincidentes, outras vezes, divergentes. Em seguida, procede-se à análise das correntes e dos temas de investigação da Comunicação Organizacional, com o intuito de legitimação do tópico escolhido. E, logo, trataremos de estudar, no ponto (3), as tendências da pesquisa em Comunicação Organizacional em Portugal, cujas conclusões remetem para a originalidade desta proposta. Esta investigação meta-teórica permitiu traçar a evolução das tendências, dos temas, dos investigadores, das universidades e dos centros de investigação em Portugal. E em virtude de ter-se revelado um tema original, confirmamos a pertinência e o interesse científico do desenvolvimento de teoria no campo da Comunicação Organizacional aplicada à Comunicação Interorganizacional das Universidades, no momento atual. Explicada a legitimidade e a originalidade do tema, refletimos no ponto (4) sobre o posicionamento a explorar na tese, a partir dos escritos da ontologia da comunicação, que entende a comunicação enquanto elemento que faz emergir as organizações - corrente de pensamento em linha com a comunicação como constituinte da organização (CCO) - e das ideias subjacentes ao conceito de

comunicação dialógica e relacional, no pressuposto de que estas dimensões podem ajudar à compreensão holística dos fenómenos de Comunicação Interorganizacional em rede.

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1. Paradigmas e correlação entre modelos organizacionais e de comunicação

As organizações são as unidades sociais dominantes das sociedades complexas, quer sejam industriais ou da informação. Hoje, nascemos em hospitais, alimentamo-nos em restaurantes, trabalhamos em empresas, departamentos públicos, instituições sem fins lucrativos e, quando morremos, recorremos à igreja e à empresa funerária: tudo organizações, que penetram em todos os aspectos da vida contemporânea. (Bilhim, 2006)

A noção de paradigma, (termo generalizado por Thomas Kuhn (1996/1962), em La structure des

révolutions scientifiques), que tem sido muito utilizada pelos historiadores das ciências, pode assumir na visão de Kuhn diversos significados, sendo que o primeiro, de cariz sociológico, o entende enquanto conjunto de convicções, de valores reconhecidos e de técnicas que são comuns aos membros de um dado grupo, enquanto, pelo prisma da ciência, o paradigma surge como solução concreta para enigmas. Usada como modelo ou exemplo pode substituir as regras explícitas. De uma forma simples, a noção de paradigma remete também para a organização dos saberes, designação que nos satisfaz inteiramente. Entendido assim, supõe-se que a mudança entre paradigmas seja muito complexa, já que um paradigma científico é algo estruturante e que, tendencialmente perdura por períodos longos. Associada à mudança de paradigma estão relacionadas, geralmente, ruturas epistemológicas, isto é, cortes com as conceções dominantes do conhecimento ou da ciência. Contudo, nem todos os processos de mudança implicam um corte com as conceções passadas, algo que, também ocorre por via da evolução e da transformação. Nesta reflexão inicial, vamos ao encontro dos paradigmas organizacionais. A análise do trabalho de alguns autores permitiu a estruturação da evolução das perspetivas e de alguns entendimentos estruturantes da nossa investigação. Contudo, não tivemos a pretensão de nos alongarmos no seu aprofundamento, tendo optado por uma breve explicação e análise crítica, e a pertinência destes perante a Comunicação Interorganizacional. Assim, esta secção é dedicada à compreensão da relação entre os modelos organizacionais e os modelos de comunicação, demonstrando a literatura que existe uma correlação entre os modelos de comunicação das organizações e as estruturas organizacionais (Nassar, 2009; Ruão, 2008), o que significa que a evolução dos modelos de comunicação organizacional acompanhou a evolução das estruturas organizacionais, num movimento, ao qual chamaríamos, do hierárquico ao interorganizacional. Esta trajetória acompanha, igualmente, a evolução dos estudos de Comunicação Organizacional que serão analisados em pormenor no ponto 2.3 deste capítulo. No seguimento deste raciocínio, seguindo uma abordagem longitudinal e evolutiva, vamos percorrer os períodos históricos - clássico/neoclássico, moderno e pós-moderno - e construir um entendimento, conjugando três dimensões: transversal/histórica, organizacional e comunicacional. Neste sentido, transitamos a evolução das perspetivas organizacionais (clássica e de relações humanas, de integração de sistemas e de rede), a evolução dos paradigmas das organizações (mecanicista, orgânico e

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evolucionário) e os modelos de comunicação (interno, relacional, interacional e transacional), de Harris e Nelson (2008), acrescentando à discussão a Comunicação Interorganizacional em Rede, o que permitiu uma síntese diferente da revisão da literatura. Iniciando, uma parte dos estudos organizacionais foi explorada por Gibson Burrell e Gareth Morgan (1979), Mary Jo Hatch (1997) e Michael Reed (1998), de cujos estudos resultaram importantes referenciais teóricos, aos quais se atribui a designação de metateorias (Neto & Truzzi, 2002). E, entendemos ser uma metateoria uma abstração transversal, na qual se podem incluir diversas teorias em particular e que têm em comum a idêntica visão do mundo ou a mesma perspetiva; dito de uma outra forma, trata-se de visões amplas das ciências e/ou dos paradigmas científicos (Tsoukas & Knudsen, 2011). Durante várias décadas, a síntese dos paradigmas da análise organizacional apresentada por Burrell e Morgan (1979) tornou-se um marco epistemológico na interpretação dos fenómenos sociais e organizacionais, tendo a sua teoria sido uma mais-valia para a compreensão de uma ampla visão do mundo. Esta metateoria teve grande aceitação, sobretudo durante as décadas de 80 e 90, momento em que veio a perder notoriedade entre os investigadores e académicos das Ciências Sociais. Estes autores apresentaram um modelo bidimensional de análise das teorias sociais, tendo por base o cruzamento das dimensões objetiva-subjetiva, que deu origem a uma matriz 2x2 e a quatro clusters paradigmáticos: o paradigma do funcionalismo, o paradigma do interpretativismo, o paradigma do humanismo radical e o paradigma do estruturalismo radical. Dentro destas visões do mundo, os investigadores e académicos partem para a compreensão dos fenómenos, ora mais objetivos, com estudos funcionalistas e estruturalistas, ora mais subjetivos, com análises do género interpretativo ou humanista. Outra especialista organizacional, Mary Jo Hatch (1997), propôs que a metateoria decorre da correspondência entre os paradigmas organizacionais e os períodos históricos. E, embora cada perspetiva seja dominante num determinado período, todas as abordagens organizacionais ainda hoje se encontram presentes, ainda que, efetivamente, as perspetivas mais antigas estejam desadequadas perante as exigências da contemporaneidade. Assim, a autora sugere uma construção paradigmática segundo as perspetivas: clássica, moderna, simbólico/interpretativa e pós-moderna; recorrendo, simultaneamente, ao uso de metáforas para explicação das organizações, conforme veremos mais à frente. Contudo, conceções diferentes são apresentadas no modelo de Reed (1998) – aqui a metateoria é construída através de temas, tais como: a racionalidade, a integração, o mercado, o poder, o conhecimento e a justiça. Enquanto outros, por exemplo Lee G. Bolman e Terrence E. Deal (1996/1991), propuseram as seguintes abordagens à análise das organizações: estrutural (formas e funções das estruturas, diversas configurações estruturais, a coordenação vertical das atividades, a coordenação lateral das atividades, a comunicação informal e as reuniões informais, as equipas de projeto e os coordenadores

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e as estruturas matriciais); de recursos humanos (a teoria de recursos humanos, a “Teoria X” e a “Teoria Y”, o desenvolvimento da personalidade no seio das organizações, a dinâmica interpessoal e a dinâmica de grupos); político (poder, conflito, negociação e coligações); e, o enquadramento simbólico (a organização enquanto um teatro, um palco, uma arena). Fomos, ainda, um pouco mais longe, à escola da Sociologia das Organizações (protagonizada por Craig Scott (1992), na busca de um mapeamento para a evolução dos paradigmas e das teorias organizacionais. Scott identifica três escolas de pensamento sobre as organizações: a teoria clássica, a teoria neoclássica e a teoria dos sistemas. A primeira teoria centra-se nos estudos das relações estruturais das organizações, a segunda, nas questões psicológicas e comportamentais, e, a terceira, na relação interdependente com o ambiente. Uma visão que nos parecia ficar aquém das necessidades para o enquadramento teórico deste estudo, por deixar de parte, por exemplo, as mais recentes teorias das redes e das alianças. E para adensar esta diversidade, descobrimos ainda a síntese de Tsoukas e Knudsen, em The

oxford handbook of organization theory (2011), que propõe a abordagem às organizações segundo quatro paradigmas: positivista, interpretativo, crítico e pós-moderno. E a proposta de Ott, Shafritz e Jang (2011), que, quanto aos grandes marcos teóricos, é bastante completa e detalhada, sugerindo a divisão das teorias em clássica, neoclássica, recursos humanos e comportamento, moderna, económica, poder e política, cultura, organizações e sociedade e organizações e meio-ambiente. Há ainda a salientar que o facto de terem sido convocados, para esta análise introdutória de enquadramento do tema, autores de campos académicos diferentes, mas complementares, tal justifica-se, por um lado, porque, quer a ciência social, quer a ciência organizacional, podem ajudar à compreensão da emergência do fenómeno da Comunicação Interorganizacional, e, por outro lado, a diversidade de perspetivas é, precisamente, uma das características do pensamento pós-moderno e que julgamos enriquecedora deste debate. Por consequência, esta diversidade de metateorias ou paradigmas, por vezes divergentes, outras vezes convergentes e complementares, pode ser, aliás, aspetos críticos. Contudo, esta pluralidade de vozes é também uma das características da sociedade contemporânea, das quais o investigador não se consegue dissociar. Em suma, de facto, não pode inferir-se a existência de consenso em torno da identificação de metateorias, paradigmas e perspetivas históricas na teoria organizacional. E destes referenciais teóricos, construímos o nosso próprio entendimento. Este resultou numa síntese e numa proposta de identificação de períodos e modelos que correspondem a momentos evolutivos das organizações. E neste processo evolucionário, poderemos perceber as características marcantes de cada modelo, assim como, as razões, os antecedentes e a emergência da Comunicação Interorganizacional. Neste contexto, propomos uma visão em três momentos históricos: clássico (inclui o período clássico e neoclássico), moderno e pós-

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moderno, correspondendo aos modelos de organização fechado, aberto e em rede. E, para ajudar à compreensão da realidade, os académicos dos diferentes campos do saber recorrem com frequência ao uso da figura linguística da metáfora para explicar a realidade organizacional, e isto é algo muito comum entre os académicos da teoria organizacional e da comunicação. Assim, percorremos aqueles que considerámos serem os contributos mais aprofundados e relevantes. E, na conceção de Gareth Morgan (2006 [1996], p. 16) “usar uma metáfora implica um modo de pensar e uma forma de ver que permeia a maneira pela qual entendemos o nosso mundo em geral”. Ou seja, a necessidade de perceber os fenómenos conduz-nos ao uso de comparações com a realidade já conhecida noutras áreas e a sua extrapolação para outros estudos. Assim, Morgan (2006/1996), em Imagens da organização, identificou oito metáforas para compreensão das organizações. Desta forma, as máquinas são “mecanismos feitos que se interligam, cada um desempenhando um papel claramente definido no funcionamento do todo” (2006/1996, p. 17); os organismos são “sistemas vivos que existem em um ambiente mais amplo do qual dependem em termos da satisfação das suas várias necessidades. (…) Na realidade, são sistemas abertos que necessitam de cuidadosa administração para satisfazer e equilibrar necessidades internas” (p. 44 e 53); os cérebros são “sistemas de processamento de informação, capazes de aprender a aprender” (p. 84); as

culturas são “lugares onde residem ideias, valores, normas, rituais e crenças que as sustentam enquanto realidades socialmente construídas” (p. 118); os sistemas políticos são “sistemas de governo onde as atividades organizacionais são moldadas pelo conjunto de interesses. (…) Os objetivos organizacionais, a estrutura, a tecnologia, a estruturação de cargos, o estilo de liderança e outros aspetos formais do funcionamento têm uma dimensão política, da mesma forma que o mais óbvio jogo de poder e conflito” (p. 152); as prisões psíquicas são “construídas socialmente podem transformar-se em mundos sociais limitadores e constrangedores da criação e da inovação, tornando-se, portanto, prisões psíquicas” (2006/1996: 205); o fluxo, movimento e transformação remete-nos para “a única característica permanente das organizações é a mudança: podemos percebê-las como um fluxo de mudanças e transformações”; e, a última metáfora organizacional, é a dos instrumentos de domínio em que as organizações são “instrumentos de dominação de alguns grupos sobre outros. As pessoas são usadas e exploradas para atingir os fins organizacionais”. Percorrendo as metáforas de Morgan, parece que estas levam a uma viagem no tempo, percorrendo os períodos organizacionais clássico, de sistemas, cibernético, cultural e crítico. E, embora a proposta do autor se refira a uma visão sobre as organizações e não tanto a teorias argumentativas sobre a melhor forma de olhar as organizações, algumas teorias de outros autores remetem para algumas destas metáforas, conforme constataremos mais à frente. E daí, também, termos considerado cientificamente interessante revisitá-las, dada a riqueza histórica de significados que abrangem. Nesta

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proposta, chamamos particular atenção para a metáfora do fluxo, movimento e transformação, por remeter para os fenómenos de mudança e de evolução da comunicação nas organizações, muito patente ao longo de todo este trabalho. Ainda que sejam um conjunto de metáforas muito completo, não parecem, ainda, servir à interpretação direta da realidade que estamos a investigar, pois não encontramos em nenhuma delas um entendimento inteiramente satisfatório para o fenómeno da Comunicação Interorganizacional em rede. Aliás, estes entendimentos atrás referidos foram citados e chamados para o texto, a título de demonstração do carácter evolucionário das organizações e da necessidade de encontrar, então, em modelos contemporâneos das organizações perspetivas de abordagem ao fenómeno da Comunicação Interorganizacional. Um ano mais tarde, Hatch (1997) apresenta uma síntese que une as perspetivas históricas às metáforas organizacionais. Assim, a máquina surgiu enquanto metáfora organizacional característica da perspetiva clássica. Desta forma, nesta abordagem de gestão científica pretende-se que os engenheiros desenhem uma organização como uma máquina operacional capaz de atingir objetivos pré-definidos. Por sua vez, a metáfora orgânica surge enquanto caracterizadora da visão moderna, sendo que esta a metáfora remete para a organização como um organismo, um sistema vivo, que executa as funções necessárias para a sobrevivência, incluindo a adaptação a um mundo hostil. Na perspetiva simbólicointerpretativa, as organizações são vistas segundo a metáfora da cultura. Sendo que a cultura pressupõe um padrão de significados criados e mantidos pelos homens através de valores, tradições e costumes. E, na perspetiva pós-moderna, a organização é vista segundo a metáfora da colagem, em que, na opinião de Hatch (1997), uma teoria da organização é uma colagem feita a partir de pedaços de conhecimento reunidos para formar uma nova perspetiva com referência ao passado. Neste sentido, o teórico organizacional é visto como um artista. Ligando, agora, as metáforas com os paradigmas aplicados às organizações, obtém-se um entendimento sobre os paradigmas organizacionais, que correspondem a convicções e visões acerca das organizações. Neste contexto, a síntese de Gerrit Broekstra (1996) pareceu-nos trazer o entendimento 33

abrangente, e contribuiu para a sistematização do trabalho em três paradigmas: mecanicista, orgânico e evolucionário, conforme se pode verificar pela análise do Quadro 1. Estes paradigmas correspondem a modelos fechados, abertos e complexos das organizações, respetivamente.

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Gerrit Broekstra (Cientista alemão e professor no campo do Comportamento Organizacional e das Ciências dos Sistemas).

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Paradigma Mecanicista Orgânico (Equilíbrio) Evolucionário (Auto-organização)

Pensamento sistémico Fechado

Metáfora

Orientação

Máquina

Aberto

Organismo

Complexo

Cérebro (rede neuronal)

Força (Eficiência) Aptidão (Eficácia) Navegação (Flutuação)

Forma organizacional Funcional Divisional e Unidades de Negócio Rede Hierarquia, unidades autónomas e rede de relacionamentos

Quadro 1: Paradigmas de mudança organizacional Fonte: Adaptado de Broekstra, 1996

Quanto às metáforas organizacionais, o autor propõe, precisamente, a evolução em três fases: máquina, organismo e cérebro, correspondendo às formas organizacionais: funcional, divisional e em rede de relacionamentos, conforme o exposto no Quadro 1. Deste modelo se infere que o paradigma orgânico trouxe uma visão diferente do paradigma mecanicista, pondo em evidência a abertura das organizações ao meio-ambiente e o reconhecimento da interdependência das várias partes numa organização. De uma perspetiva "egocêntrica" passou-se para algo socialmente dependente. Contudo, esta visão tornou-se limitada perante a complexidade da realidade e, enquanto no paradigma orgânico (a teoria dos sistemas é uma das teorias de interpretação das organizações enquanto organismos abertos) existe um equilíbrio entre as partes ou subsistemas, no paradigma evolucionário a organização é vista com algo complexo, em que as partes que compõem a rede se organizam num ambiente de alta incerteza e volatilidade, colaborando as organizações entre si e auto organizando-se. Edgar Morin (1999) percebe esta evolução enquanto mudança do paradigma determinista para o paradigma da complexidade, o que terá acontecido já na década de 1960 (Costa, 2001). Daqui inferimos que o paradigma orgânico e a teoria dos sistemas abertos estão imbuídos de princípios deterministas, lineares, de ordem e regularidade (elementos distintivos da sociedade moderna). Uma ideia corroborada pelo pensamento de Lyotard, quando afirma que os teóricos dos sistemas operam numa epistemologia moderna (Boje, et al., 1996), enquanto o paradigma evolucionário congrega princípios de complexidade, não determinismo, contingência, desordem, indeterminação, caos, criatividade, imprevisibilidade, características da sociedade pós-moderna, a que alguns autores, como Montuori e Purser (1996), designam de sistemas complexos de pensamento. Por um lado, identificamonos com a proposta de Lyotard, e, por outro lado, propomo-nos distanciar das expressões que contêm o termo sistema (por ainda reconhecermos nelas traços de modernismo sistémico), preferindo, então, o uso das expressões, tais como, modelo complexo de rede ou modelo colaborativo. Ora, ao paradigma evolucionário da complexidade, expressão resultante da apropriação das designações de Broeska (1996) e Morin (1999), estão associadas as metáforas da rede (no paradigma do primeiro autor) e a metáfora do efeito borboleta (no segundo), uma alusão “muito próxima da teoria do

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«caos», [e que] salienta a complexidade dos processos naturais e sociais, isto é, a enorme disparidade entre os dados iniciais, o bater das asas da borboleta, e os resultados obtidos, o ciclone ou o furação” (Costa, 2001, p. 16). Para além da complexidade, há a acrescentar a análise de um ambiente de forte incerteza ou de caos da sociedade contemporânea, conforme alguns autores preferem designar. Por outro lado, de uma perspetiva dependente passamos, então, a uma perspetiva colaborativa, auto-organizada e 34

participativa. E, a esse propósito Bilhim (2006) refere: Atualmente, a tendência é para esbater e reduzir o impacto das fronteiras, fomentando a colaboração e a cooperação entre as diversas organizações (concorrentes, fornecedores, grupos de clientes, etc.), como forma de sobreviver nessa envolvente incerta e muitas vezes caótica. (Bilhim, 2006, p. 256)

Estão, assim, lançadas as bases estruturantes de pensamento desta tese e explicada a intenção de análise do fenómeno da Comunicação Interorganizacional aplicada à transferência de conhecimento das universidades para as empresas, partindo dos princípios: (1) da compreensão da mudança e da transformação da comunicação pela via da evolução histórica, e (2) da impossibilidade de dissociar a análise da comunicação das estruturas das organizações e dos contextos sociais. A evolução da comunicação nas organizações será, então, revista através dos modelos organizacionais dominantes nos períodos clássico/neoclássico, moderno e pós-moderno. E a análise deste percurso leva à compreensão da dinâmica de mudança das próprias organizações, das transformações em termos de Comunicação Organizacional e das razões pelas quais emerge o fenómeno da Comunicação Interorganizacional. Este é um capítulo de mapeamento evolucionário da comunicação até ao surgimento do modelo interorganizacional que percorre as seguintes metáforas organizacionais: máquina, orgânica, sistema e rede.

1.1 A organização clássica/neoclássica e a comunicação interna e relacional A metáfora da máquina corresponde à visão das teorias clássicas sobre as organizações, que assentam num modelo mecanicista de entendimento organizacional (dominante desde a Revolução Industrial, séc. XVIII até ao séc. XX). Mas o que é que esta metáfora sugere acerca das organizações? Os teóricos da administração e da gestão das organizações, tais como Frederick W. Taylor, Henri Fayol e Max Weber, desenvolveram as principais teorias da gestão baseadas na visão da organização enquanto máquina. A Teoria da Gestão Cientifica, do americano Frederick Taylor (1856-1917), considerava a gestão enquanto algo capaz de seguir regras, leis e princípios. O sucesso desta teoria, desenvolvida no livro The

"A auto-organização é um conceito especificável matematicamente, com raízes no não-equilíbrio termodinâmico (por exemplo, Prigogine e Stengers 1979/1984), e na neurofisiologia (por exemplo, Maturana, 1978). Este conceito foi introduzido também metaforicamente na teorização sobre a sociedade por Niklas Luhmann (por exemplo, 1984, e desde então tem sido utilizado de forma mais ampla (ver, por exemplo, Geyer e Van der Zouwen 1991). Na teoria da auto-organização, os fenómenos de nível macro produzidos por unidades de nível inferior podem assumir o controle. Se os sistemas sociais, no entanto, devem ser consideradas como causas da mudança, essa perspetiva contradiz a suposição central da sociologia moderna, ou seja, que a mudança social tem de ser explicada em termos de, ou pelo menos com referência à agência humana" (Leydesdorff, 1993, p. 331)

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principles of scientific management (1913), deu origem à Escola da Gestão Científica, com pressupostos que assentavam nos princípios da divisão do trabalho, da seleção e do treino do trabalhador para cada tarefa. Quase em simultâneo, Fayol (1841-1925), industrial francês, desenvolveu a Teoria da Ciência Administrativa, também designada por Teoria Clássica da Administração, introduzindo os conceitos de especialização, estandardização, previsão, planeamento, organização, comando, coordenação, controlo, hierarquia vertical, divisão do trabalho, centralização do poder, autoridade e responsabilidade, ordem, disciplina, unidade de direção, fluxos de comunicação verticais (superior/subordinado), entre outras características (Eisenberg, Goodall Jr, & Trethewey, 2010). Também a Teoria da Burocracia, desenvolvida pelo sociólogo alemão Max Weber (1864-1920), se insere no modelo clássico da teoria organizacional. Weber acreditava que a burocracia podia ser, claramente, definida pela hierarquia, pela divisão do trabalho e pela centralização. Sendo o modelo organizacional proposto um sistema fechado, assente nos pressupostos da importância das regras para o funcionamento organizacional e da autoridade (tradicional, carismática, legal, racional, formal, controladora, funcional). Era ainda um modelo de organização baseado na racionalidade instrumental e na dominação, que caracterizou as organizações da época (Clegg, 1998). Atualmente, esta visão clássica de organização ainda prevalece, quer nas instituições governamentais, quer em algumas empresas privadas (Conrad & Poole, 2011). Assim, a organização burocrática surge, sobretudo, em sectores fortemente marcados por hierarquias verticais onde a mudança é mais lenta. No contexto das organizações clássicas, ganha relevância a comunicação interna, entendida enquanto "actos de comunicação (formais e informais) que se produzem no interior de uma organização, com propósitos de coordenação de tarefas e de promoção de um clima apropriado ao cumprimento dos objetivos organizacionais" (Ruão, 2008, p. 240), privilegiando-se os fluxos de comunicação do topo para as bases, seguindo a estrutura de hierarquia vertical, estritamente formal. “A primeira função da comunicação era transferir a informação através dos canais próprios", afirmaram Eisenberg, et al. (2010, p. 70). Trata-se de uma comunicação assimétrica, no sentido descendente, unidirecional (conforme a categorização de Grunig e Hunt (1984), prevalecendo a comunicação em suportes físicos, como é o caso dos memorandos, cartas, comunicados ou outras formas de comunicação escrita das organizações. Os conteúdos da comunicação versam sobre especificações de tarefas, regras ou normas, servindo a comunicação enquanto instrumento para dar ordens, coordenar o trabalho e obter a adesão dos trabalhadores. Nos dois quadros seguintes chega-se a uma síntese da comunicação nas organizações de estilo clássico - Quadro 2 - e ao modelo de comunicação dominante na abordagem clássica das organizações – Quadro 3. Este modelo é estruturado segundo as quatro variáveis da comunicação: conteúdo, direção, canal e estilo, identificadas por Farace, Monge e Russell (1979), no célebre livro

Communicating and organizing.

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Taylor Ordens estruturadas segundo a tarefa Descendente Escrita

Fayol Orientada para Descendente quando Escrita

a tarefa (horizontal aprovado)

Weber Orientada para ordens e regras Descendente (queixas permitidas) Escrita

Quadro 2: Características da comunicação nas organizações clássicas Fonte: Elaboração própria. Adaptado de Modaff, Butler, & DeWine, 2012, p. 42

Variáveis da Comunicação Conteúdo da comunicação Direção do fluxo da comunicação O modo ou canal de comunicação O estilo de comunicação

Descrição Tarefa Vertical (Descendente) Geralmente escrito Formal

Quadro 3: Modelo clássico de comunicação organizacional Fonte: Miller, 2012

Estamos, pois, perante um modelo de comunicação linear (utilizando a conceção de Harris & Nelson, 2008), envolvendo fluxos de uma-via de codificação de mensagens por um emissor, enviadas por um canal ou canais, para serem descodificadas pelo(s) recetor(es), em estilo formal, maioritariamente, escrito, descendente e orientado para as tarefas. Neste modelo, e segundo a Paulo Nassar (2009, p. 67), a administração é o emissor das mensagens e "não se comunica com o ambiente" e, basicamente, as mensagens se resumem a "ordens" e "regras de trabalho". Em síntese, poderíamos descrever o período clássico como um momento em que a organização se encontrava fechada em si mesma, voltada para a produção, e onde a comunicação é essencialmente top/down, feita através de meios formais e escritos. Continuando o percurso histórico das abordagens organizacionais, as organizações evoluíram de um modelo mecanicista, visto acima, para aquilo a que chamamos o reconhecimento de uma dimensão humana das organizações, que deu origem lugar ao período neoclássico e que explicaríamos utilizando a "metáfora da humanização". Trata-se de uma metáfora que não surgiu na literatura, mas que entendemos que expressa bem o modelo em que as pessoas são o elemento essencial e mais valioso das organizações, e o recurso que suporta toda a comunicação. Referimo-nos, pois, à comunicação entre pessoas, na organização e entre organizações. A teoria neoclássica das organizações, de inícios de 1920, veio reconhecer a dimensão psicológica dos indivíduos. Contudo, mantém ainda características de um modelo de organização fechada em si própria, mas mais humana e menos "máquina industrial pesada", dando-se reconhecimento às condições do trabalhador, à importância dos relacionamentos sociais e ao impacto do comportamento organizacional, conduzindo à promoção do bem-estar social dos trabalhadores. O conjunto de trabalhos de investigação deste período histórico deram lugar a uma diversidade de teorias que ajudam a encontrar uma via para melhorar os relacionamentos humanos. Nos anos 1920 e 1930, Mary Parker Follett, Elton

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Mayo e Chester Barnard “examinaram o relacionamento empregador-gestor num modo inteiramente único. O seu trabalho iria dar lugar à fundação da perspetiva das Relações Humanas, que enfatiza as necessidades interpessoais sociais dos indivíduos” (Eisenberg, et al., 2010, p. 71).

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Neste contexto, a literatura salienta que Barnard (1886-1961) fez a ponte entre as teorias clássicas e as teorias humanas, dando ênfase ao lado informal da organização, à cooperação e à centralidade da comunicação para o funcionamento da organização e da gestão (Modaff, et al., 2012 ). Por isso, Eisenberg, et al. se afirmam o seguinte: O papel da gestão é amplamente comunicativo e persuasivo. Em vez da enfase económica, dada por Taylor, Barnard acredita que o esforço da comunicação efetiva está no modo para encorajar os trabalhadores a identificarem-se com a organização. Pela primeira vez, o propósito da gestão foi visto mais na perspetiva interpessoal do que económica. (Eisenberg, et al., 2010, p. 72)

No cômputo geral, “a teoria das Relações Humanas caracteriza-se por uma mudança de ênfase, da tarefa para o trabalhador (…), reconhecendo que a atenção nos trabalhadores aumenta a satisfação e a produtividade” (Modaff, et al., 2012 p. 44). Já as Teorias dos Recursos Humanos que se lhe seguiram, orientavam-se para saber “como a organização consegue encorajar os empregados para a participação e para o diálogo” (Eisenberg, et al., 2010, p. 75). Embora ainda neste período predomine o modelo fechado de organizações, a comunicação nas organizações de Relações Humanas e de Recursos Humanos assumiu novas formas, comparativamente com a perspetiva clássica. Ainda dentro das teorias humanistas, e com o desenvolvimento das Teorias das Relações Humanas, surgem um conjunto de autores que propõem a Teoria dos Recursos Humanos, sendo os mais notáveis Robert Blake, Jane Mouton e Rensis Likert. Verificámos que não existe um consenso quanto à classificação dos autores nas diversas correntes. Por exemplo, Modaff e os seus colegas (2012) consideram que os Estudos Hawthorne (1939), conduzidos por Mayo, a Teoria das Necessidades de Abraham Maslow (1943), a Teoria X e a Teoria Y de Douglas McGregor (1960) fazem parte da Teoria das Relações Humanas, enquanto Eisenberg, et al. (2010) consideram estas duas últimas teorias imbuídas do verdadeiro espírito dos Recursos Humanos. Não havendo, portanto, um consenso, optámos por integrá-las nas Teorias/Escola do Comportamento Humano (utilizando a designação preferida de Pamela ShockleyZalabak, 2012), mais do que os seus autores individualmente.(Shockley-Zalabak, 2012) Ainda assim, nesta ambiguidade interpretativa, Katherine Miller (2012) propõe uma distinção das características da comunicação nas organizações marcadas pelas Relações Humanas e pelos Recursos Humanos, conforme o exposto no Quadro 4.

Outros conteúdos e desenvolvimentos complementares acerca das teorias organizacionais podem ser consultados nas obras nucleares da Comunicação Organizacional, concretamente: (Cheney, et al., 2011; Conrad & Poole, 2011; Daniels, Spiker, & Papa, 1997; Eisenberg, et al., 2010; Kunsch, 2009; K. Miller, 2012; Modaff, Butler, & Dewine, 2012 ; Nassar, 2009; Shockley-Zalabak, 2012). 35

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Variáveis da Comunicação

Perspetiva Clássica

Perspetiva da Relações Humanas

Conteúdo

Tarefa

Tarefa e Social

Tarefa, social e inovação

Direção

Vertical (descendente)

Vertical e horizontal

Todas as direções, baseada-naequipa

Canal

Geralmente escrito

Frequentemente cara

Estilo

Formal

Informal

cara-a-

Perspetiva dos Recursos Humanos

Todos os canais Ambos, mas especialmente informal

Quadro 4: Resumo da comunicação nas organizações clássicas e neoclássicas Fonte: Miller, 2012, p. 51.

Nas organizações da Escola das Relações Humanas, a comunicação relacionada com a tarefa ainda existe, “mas é acompanhada por uma comunicação que tenta manter a qualidade das relações humanas dentro da organização - comunicação de manutenção” (Miller, 2012, p. 50). E embora a direção da comunicação no sentido vertical, descendente, continue a existir, dá-se, simultaneamente, a grande viragem para a comunicação horizontal. Trata-se da “interação que flui horizontalmente entre empregados e entre empregados e os seus supervisores (…), influenciando a comunicação ascendente e informal" (Modaff, et al., 2012, p. 48), de forma a atingir os objetivos de satisfação e bem-estar. Incentiva-se a

comunicação relacional orientada para satisfazer as necessidades (Eisenberg, et al., 2010). Há ainda a salientar, no modelo de comunicação nas organizações neoclássicas, a introdução da inovação nos conteúdos de comunicação das organizações, a bidirecionalidade da comunicação, a comunicação em equipa, a ampliação dos canais de comunicação e o reforço do estilo de comunicação informal, embora ainda em contexto de comunicação interna.

1.2 A organização moderna e a comunicação interacional Os modelos teoréticos das organizações sofreram uma grande alteração depois da década de 60, quando a perspetiva das organizações enquanto sistemas abertos ganhou suporte e depôs o modelo de sistema fechado. Na verdade, como refere Shockley-Zalabak (2012, p. 82), “quer as perspetivas da Gestão Cientifica quer do Comportamento Humano foram criticadas pela sua falha em integrar a estrutura organizacional, a tecnologia e o ambiente global onde a organização existe”. O foco primário da pesquisa e da construção da teoria mudou, então, das características internas das organizações para as dinâmicas externas de concorrência, interação e interdependência. O panorama das organizações enquanto sistemas abertos perspetiva as atividades interdependentes e dependentes do meio. O que significa que os subsistemas afetam e são afetados mutuamente, afetando, portanto, o sistema como um todo. Assim, “a metáfora mecânica deu lugar à metáfora orgânica” (Modaff, et al., 2012, p. 69) e o paradigma mecanicista deu lugar ao paradigma sistémico. A rutura do pensamento analítico dominante desde o século XVIII, pensamento mecanicista, deu origem a uma nova epistemologia, com a introdução de

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conceitos, tais como, interdependência, meio, holística, sinergia, entre outros, que marcam o pensamento orgânico das organizações. Donde resulta a necessidade de estudar as diferentes partes que compõem um sistema, a inter-relação e o funcionamento, numa perspetiva funcionalista das organizações (Eisenberg, et al., 2010). Ou seja, as perspetivas da comunicação enquanto processo e as organizações como sistemas partem da mesma base filosófica de sistemas vivos (T. E. Harris & Nelson, 2008). Recordando, a teoria dos sistemas não é originária dos estudos das organizações, mas dos estudos da Biologia e da Engenharia. O principal fundador do movimento dos sistemas foi Ludwig von Bertalanffy, um teórico alemão da Biologia que estava interessado no estudo dos sistemas vivos. Este autor constatou que os campos académicos não existem isoladamente, sugerindo que este conceito também podia ser aplicado às Ciências Sociais, numa espécie de “biologia organizacional”. Foi o que expôs em inúmeros trabalhos da década de 1940 e 50 que culminaram na Teoria geral dos sistemas, sua obra emblemática. Refira-se que um sistema é uma coleção organizada de partes, unidas por interações, prescritas e desenhadas para atingir objetivos específicos ou propósitos gerais (Boulding, 1956); ou, na aceção de Von Bertalanffy (1973) um conjunto de elementos suportados em inter-relações; ou ainda, um conjunto complexo de relacionamentos entre componentes ou partes interdependentes. A primeira ideia acerca de sistema é a de que pode ser fechado ou aberto. A diferença entre sistemas abertos ou fechados reside no facto de que os segundos limitam a mudança ao seu ambiente interno (Fisher, 2007). No estudo da Comunicação Organizacional estamos preocupados com ambos, com a natureza destes componentes e os relacionamentos entre eles (Eisenberg, et al., 2010). E, associado aos conceitos de sistema e subsistemas, encontra-se, frequentemente, o termo ecossistema. Trata-se, tal conforme foi visto no primeiro capítulo, de um sistema de organismos vivos que interagem com o meio para formar uma estrutura com uma determinada função. Ora, frequentemente, a metáfora do ecossistema surge aplicada, também, às organizações, como por exemplo o conceito de ecossistema de inovação. Em suma, houve uma mudança de perspetiva, ou seja, as organizações deixaram de ser fechadas, e as fronteiras mantinham-nas em contacto com o exterior, dando lugar à conceção das organizações enquanto sistemas abertos (Katz & Kahn, 1966). Desta abertura, resulta a troca com o ambiente, em fluxos de informação de entrada e de saída, donde que o pensamento sistémico introduz qualidades, tais como: inter-relações, interações, inter-relacionamentos, interação e interdependência. Assim, reconhecendo a dinâmica com o meio ambiente, correspondente à teoria dos sistemas, as organizações passaram a ser entendidas por sistemas abertos ao exterior, onde se reconhece a interdependência, os inputs e outputs e o feedback com o meio. “Os sistemas devem ser considerados abertos por natureza porque têm fronteiras permeáveis. A fronteira é aquela parte do sistema que o separa do meio-envolvente. A fronteira é permeável no sentido em que é capaz de ter material passando através dela, de e para o meio-envolvente”, refere Miller (2012, p. 61).

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A teoria sociológica dos sistemas sociais dos anos 80 do séc. XX, do sociólogo e filósofo alemão Niklas Luhman, coloca a comunicação como o elo central dos sistemas sociais e estes são sistemas de comunicação, donde que o modelo de sociedade inovador e emergente desta teoria se centra na sociedade enquanto sistema social de comunicação. Estamos em crer que estes inputs para a história das ideias terá tido uma importância decisiva na determinação da comunicação enquanto essência da sociedade. Uns anos mais tarde Stockinger (2001) propõe uma teoria de sistemas e ambientes comunicativos, inspirada na obra de Luhmann, porque este pensamento possibilita um entendimento da “comunicação como construtora da sociedade” que segundo o autor conduziu a uma mudança de paradigma nas Ciências da Comunicação e Sociais. "A teoria de sistemas sociais pode, assim, ser compreendida como parte de uma teoria sistémica com caraterísticas universais ao mesmo tempo que contribui com a descoberta de singularidades que só o social sabe produzir: comunicações" (Stockinger, 2001, p. 16). A comunicação assume, assim, o papel de fornecedor do fluxo e das trocas de informação entre os subsistemas, também conhecido por função de manutenção (T. E. Harris & Nelson, 2008) que cria vínculos entre as partes do sistema interno e o vincula ao ambiente. Em termos da comunicação nas organizações, este modelo de sistemas leva à inclusão da comunicação externa com consumidores, comunidades, governos, fornecedores de bens e informação, e outros públicos com os quais a organização se relaciona, e com os quais deve orientar a sua informação e influência (Fisher, 2007). Desta forma, áreas como, as vendas, marketing, serviço ao cliente, publicidade e relações públicas são consideradas zonas de fronteira e com um importante papel de comunicação e ligação com o ambiente (Miller, 2012, p. 76). E, desde os anos 1960 e 1970, os académicos da Comunicação Organizacional ganharam muito interesse em estudar a comunicação nos sistemas organizacionais. A Teoria dos Sistemas ganhou uma grande popularidade entre os investigadores da Comunicação Organizacional. O que não surpreende pois a Teoria dos Sistemas enfatiza as noções de mudança, feedback e interdependência – conceitos críticos para as Teorias da Comunicação. (…) Algumas técnicas de pesquisa emergiram - ou ganharam proeminência – nas últimas décadas, e são particularmente apropriadas para a investigação da explicação do funcionamento organizacional. (Miller, 2012, p. 70)

Neste período, a pesquisa entre variáveis complexas recorre, sobretudo, ao modelo "positivista", que utiliza métodos lógicos, analíticos e quantitativos, procurando obter respostas para a causa-efeito dos relacionamentos, na demanda de soluções otimizadas. Para o efeito utilizam computadores, modelos computacionais e equipas interdisciplinares de analistas. Ou seja, predominavam os métodos científicos e técnicas de pesquisa quasi-experimentais ou modelos computacionais que dão origem a modelos matemáticos e de probabilidades aplicados às organizações, tornando-se a base nos processos de tomada de decisão (Ott, et al., 2011). Para melhor compreender esta perspetiva, e à semelhança do que foi visto nas perspetivas

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clássica e neoclássica, procuraremos caracterizar a comunicação nas organizações sistémicas, recorrendo às mesmas variáveis utilizadas por Miller (2012) e as quatro variáveis de estudo identificadas por Farace, Monge e Russell (1977). Assim, com base na revisão da literatura, propomos a seguinte síntese para o modelo de comunicação na perspetiva dos sistemas, conforme apresentado no Quadro 5. Variáveis da Comunicação Conteúdo Direção Canal Estilo

Descrição Tarefa, social e inovação; análise dos fluxos Informação proveniente do ambiente e dos públicos externos Todas as direções, baseada-na-equipa, comunicação de grupos e de redes Interdependência dos processos, fluxos de informação, feedback, ambientes e contingências Todos os canais Reuniões, memorandos, intraorganizacional para estabelecer a ponte entre subsistemas Formal e informal, predominando o estilo informal Quadro 5: A comunicação nas organizações sistémicas modernas

Fonte: Elaboração própria, com base em: Eisenberg, et al., 2010 e Modaff, et al., 2012.

E, a noção chave a retirar da teoria dos sistemas abertos, em termos de teorias da comunicação nas organizações, resume-se ao que Eisenberg e os seus colegas (2010, p. 82) afirmaram: “os relacionamentos interdependentes entre pessoas são estabelecidos e mantidos através da comunicação”, perspetiva que põe em evidência a fundamentação da comunicação entre indivíduos, empresas e interorganizacional, e o facto de as interconexões tenderem a ser dinâmicas e frequentemente desconhecidas. Assim, os teóricos dos sistemas estudam estas interconexões, usando o processo de decisão organizacional e sistemas de informação e controle, como os seus pontos focais de análise (Miller, 2012). Harris e Nelson (2008) classificam-no enquanto modelo de comunicação interacional que tem em conta a importância do feedback e as trocas recíprocas de mensagens entre emissores e recetores. "A relação de sistema/ambiente é considerada, consequentemente, enquanto relação entre sistemas de comunicação. (…) O sistema de comunicação usa as ações comunicativas dos participantes para criar o seu próprio sistema" (Stockinger, 2001, pp. 79-80). Teresa Ruão (2008, p. 239) entende o "sistema de

comunicação como o conjunto das políticas, estruturas e práticas comunicativas que dão vida a uma organização e a colocam em relação com os ambientes interno e externo". O que os anos 1970 e 1980 viriam já perspetivar era uma nova visão das organizações, algo que fazia também notar a mudança da objetividade para a subjetividade e que correspondia também à transformação da metáfora da máquina e do organismo para a metáfora do cérebro e da cultura (Fisher, 2007; G. Morgan, 2006/1996), desencadeando-se correntes de pensamento associadas ao simbolismo ou ao interpretativismo, e que deram origem a uma vastíssima literatura sobre a cultura, a imagem ou a identidade organizacional, entre outros temas. Contudo, conforme referem Harris e Nelson (2008, p. 32) "uma das abordagens mais úteis para entender um sistema de organização particular é examinar a sua

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cultura. (…) O tipo de cultura operante está dependente do meio da organização e da interação dos subsistemas na organização. Tal perspetiva respondia já às críticas ao modelo de interação das organizações e ambiente, a de que “a teoria dos sistemas não ajuda a explicar os significados construídos através das interações, pois, podem-se identificar os participantes potenciais num diálogo organizacional, mas nada pode dizer-se acerca do conteúdo desse diálogo. E é nesta área que Weick argumenta que a 'tomada de sentido é o processo central para organizar'" (Weik, 1976 citado em Eisenberg, et al., 2010, p. 94). E, neste contexto, encontramos modelos de abordagem sistémica ao comportamento organizacional que emergem da procura de entendimentos sobre a integração entre os sistemas, como por exemplo, os trabalhos de Karl Weick (1976) sobre as organizações de educação enquanto loosely coupled systems 36

(Weick, 1976) ou sobre as organizações enquanto sistemas de interpretação (R. L Daft & Weick, 1984), ou os trabalhos sobre a equivocidade, isto é, a imprevisibilidade inerente ao ambiente de informação de uma organização e a teoria da criação ou do acontecimento da comunicação (enactment). Esta refere que "o processo ocorre em duas etapas. Em primeiro lugar, parte do campo da experiência e está suportado e individualizado na atenção próxima baseada em preconceitos. Em segundo lugar, as pessoas agem dentro do contexto desses elementos suportados, sob a orientação de preconceitos, e muitas vezes moldam esses elementos na direção de preconceitos (Powers, 1973)" (Weick, 1988, p. 307). A aprendizagem da organização, de Peter Senge (Senge, 1990) e o modelo de construção de

sentido, de Karl Weick (1990) são apontados como os principais modelos comunicacionais na perspetiva dos sistemas, e Harris & Nelson (2008) acrescentam os modelos de auto-organização dos sistemas. Segundo Harris e Nelson (2008), o modelo de construção de sentido, de Karl Weick (1990), a

aprendizagem da organização, de Peter Senge (1990) e também a auto-organização dos sistemas (uma parte da teoria dos sistemas) foram os principais desenvolvimentos deste período. Auto-organização é, portanto, uma qualidade de sistemas em estados de desequilíbrio, qualidade essa que se mostra como faculdade de construir ordem provindo de flutuações. Em sistemas auto-organizados incerteza e indeterminação permeiam, portanto, as relações causais. Lá onde sistemas auto-organizados estão envolvidos, não há uma só ordem para sempre. Porque são os próprios sistemas que selecionam N (e mais uma) maneiras de reagir. E mesmo controlados e expostos à "repressão", sistemas inteligentes encontram um "jeito" de se mover e agir. (Stockinger, 2001, p. 39)

Todas estas transformações nas configurações pós-modernas das organizações são explicadas pelas teorias organizacionais. Katherine Miller (2012), por exemplo, que vai mais longe do que Modaff, 2012, sugere que a nova ciência da teoria dos sistemas explica a origem e as transformações operadas nas organizações. Trata-se de uma nova visão da realidade e das organizações que advém da observação de que os sistemas não são lineares mas complexos, dando origem à teoria dos sistemas dinâmicos, dos sistemas complexos e dos sistemas adaptativos complexos. Assim, “nas décadas mais recentes, uma

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Karl Weick foi um reconhecido psicólogo organizacional, cujos trabalhos iniciais foram desenvolvidas na década de 1970.

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nova área da teoria dos sistemas começou a ganhar proeminência na pesquisa organizacional (…), como a teoria do caos (ex. Coveney & Highfiel, 1995), a teoria da complexidade (ex. Lewin, 1992), e a teoria dos

sistemas organizados (ex. Contractor, 1994)” (Miller, 2012, p. 69). Por seu turno, Monge e Contractor (2003) identificaram as características de um novo sistema emergente, a "complexidade (Axelrod, 1997), o caos e catástrofe (Simon, 1996) e a coevolução (Kaufman, 1993; McKelvey, 1997) ". Acrescentaríamos, ainda, dentro da teoria da complexidade, a teoria da inteligência da complexidade, de Edgar Morin (1990) e O fim das certezas, de Waldrop (1992), um conjunto de entendimentos teóricos da última década do séc. XX que prefiguram a transformação do mundo e das organizações. Para Morin (2005, p. 20) "a complexidade compreende, efetivamente, o tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações, acasos que constituem o nosso mundo fenomenal". A diferença destas novas teorias para as teorias dos sistemas reside na constatação de que os sistemas não são necessariamente lineares e nem estão em equilíbrio (Miller, 2012), provêm muitas vezes da desordem e não são necessariamente lógicos, nem previsíveis. Por isso, estas “novas teorias dos sistemas” enfatizam a importância da complexidade, da flutuação de informação, da inovação e da evolução conjunta. Da mesma forma, outros autores preferem designá-los de "sistemas complexos" (T. E. Harris & Nelson, 2008) ou sistemas adaptativos complexos, no sentido em que têm capacidade de aprendizagem através da experiência. Tal complexidade vem alterar o modo como as organizações comunicam, o que, no entendimento de Stacey (1996) e Wheatly (1992) citado em Miller (2012), se caracteriza pela (1) importância dos relacionamentos nas organizações e este fator deriva das ideias da nova ciência acerca da interconetividade e interdependência em termos de física quântica; 2) pela importância da participação nos processos da organização; 3) pela apreciação da mudança organizacional e da instabilidade; e 4) pela importância de estar aberto ao ambiente da informação. Para compreender melhor as questões de comunicação nas organizações colocadas nesta fase pós-moderna, a perspetiva transacional do processo de comunicação de Harris e Nelson (2008, p. 17), decorrente do modelo de interação que "traça a sequência dos eventos", coloca o processo de comunicação num modelo transacional, caracterizado por ser, e recorrendo às próprias palavras dos autores: Complexas e dinâmicas, [onde] as transações são contextuais e, por isso, únicas, irreversíveis e irrepetíveis. Interpretamos a comunicação baseada nas circunstâncias, e uma vez que ocorram, este conjunto particular de eventos não pode ser repetido no mesmo formato. Segundo, como processo, a comunicação não tem necessariamente princípio e fim (…) quase toda a comunicação organizacional ocorre em contexto de atividades, relacionamentos e objetivos em curso. Terceiro, qualquer pessoa pode ser simultaneamente afetado e pode afetar outros membros da transação. Noutras palavras. Somos emissores e recetores ao mesmo tempo. (…) Perspetiva que vê a comunicação como complexa, dinâmica, irreversível, ongoing, contextual, e as dificuldades nascem no processo de comunicação quando há incongruências nos significados numa transação (…) a comunicação é baseada no significado ligado ao comportamento dos participantes. (Harris & Nelsom, 2008, p. 18)

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Deste modelo transacional da comunicação organizacional ressaltam a consonância com os paradigmas da complexidade e evolução, e, por outro lado, as questões ligadas aos significados, construção de sentidos, algo que advém já dos entendimentos sobre sensemaking e das questões da equivocidade, de Weick (1993; Weick & Quinn, 1999). À luz deste raciocínio, dentro da nova abordagem à teoria dos sistemas, surgiram inovadoras abordagens de investigação em Comunicação Organizacional para dar resposta aos processos complexos, incapazes de serem entendidos pelas abordagens positivistas. Neste sentido, Miller (2012) identificou as três metodologias que considerou serem as principais para estudar os fenómenos da Comunicação Organizacional: 1) a análise de rede (network analysis); 2) as técnicas de modelação; 3) os estudos de caso . 37

A análise de rede surgiu, então, em plena abordagem sistémica às organizações e, como tal, a literatura remete-nos para o mapeamento das interconexões entre sistemas (a organização), supersistemas (o setor) e os subsistemas (componentes da organização) (Farace, et al., 1977). Segundo Stockinger (2011, p. 20), a "teoria de sistemas, essa passa a se ampliar para uma teoria de redes de sistemas (também chamados de hipersistemas ou supersistemas), acrescentando mais um nível de observação a ser referenciado na construção teórica". Para além de ser um método para estudar as redes e as organizações, a análise de rede é também uma disciplina académica. "O estruturalismo e a análise de redes têm uma longa e distinta história na comunicação e nas Ciências Sociais", consideram Flanagin, Monge, & Fulk (2001, p. 69). Em termos históricos, a análise de rede surgiu em meados da década de 70 por um núcleo de sociólogos (a destacar o grupo liderado por Harrison White), que desenvolveu um complexo sistema formal, teórico e metodológico para estudar a estrutura social das redes e publicaram inúmeros livros e artigos em revistas científicas de Sociologia (Nohria & Eccles, 1992). De uma análise micro, das redes diádicas (com dois nós), triádicas (com três nós), foi evoluindo para formas complexas de redes de relacionamentos interorganizacionais que envolvem um número ilimitado de nós e de relações entre eles, dando origem a redes complexas, em que cada nó representa uma organização. Simultaneamente foram sendo desenvolvidas aplicações para computador, software de modelação de redes que através da introdução dos dados e dos relacionamentos obtém-se a visualização desta trama 38

em gráficos ou diagramas de rede. Os designados modelos de gráficos random são modelos de redes probabilísticas que são parametrizadas. O gráfico de rede é a representação de um conjunto de

O método de estudo de caso permite construir teoria a partir dos casos (Eisenhardt & Graebner, 2007), e foi a metodologia escolhida para este trabalho, desenvolvida na segunda parte da tese. 38 Uma completa listagem de software de análise de redes, quer comercial, quer disponível gratuitamente para fins académicos pode ser consultada no site: http://www.gmw.rug.nl/~huisman/sna/software.html. 37

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organizações e a relação entre eles. Cada organização é representada no gráfico por um nó (ou vértice), se existe uma relação os nós são conectados através de uma aresta e os nós que não estão conectados são considerados buracos estruturais (Burt, 1992). E ainda, na opinião de Tichy, Tushman e Fombrun (1979, p. 516), na década de 70, "a análise das redes sociais representa um enquadramento subutilizado para analisar e concetualizar as organizações", mas os trabalhos destes autores vieram a tornar-se num referencial e precioso entendimento sobre os estudos sociométricos. Nos chamados questionários sociométricos (técnica utilizada na análise de redes) as perguntas são orientadas para que cada interveniente indique a frequência de contacto com outros membros de uma organização (Noel Tichy & Fombrun, 1979; Noel Tichy, et al., 1979; Zwijze-Koning & De Jong, 2005). Com os sistemas de modelação por computador, os resultados da análise podem dar origem a representações gráficas, as quais refletem um mapa de relacionamentos, onde é possível visualizar as inter-relações entre pessoas ou organizações num dado sistema, rede, ambiente, comunidade, ecossistema, universo, ou outra designação que se atribua. Esta metodologia tem sido utilizada enquanto técnica de auditoria de comunicação, e a obtenção da informação pode dar-se pela observação direta, através de inquéritos ou entrevistas. Contudo, o interesse da análise de redes foi-se estendendo a outros campos e entrecruzou as áreas da gestão e da ciência organizacional, do “comportamento organizacional, da teoria organizacional, da gestão dos recursos humanos e da gestão estratégica” (Scott, 2001, p. ix) e, apraz-nos saber que “quanto mais aprendemos acerca da comunicação, tanto mais compreendemos que todo o comportamento é potencialmente comunicativo” (T. E. Harris & Nelson, 2008, p. 15), estendendo os estudo das redes à análise da comunicação em rede, a que nos dedicaremos em seguida.

1.3 A organização pós-moderna e a comunicação em rede Como consequência do que foi visto anteriormente, os modelos modernos das organizações burocráticas, contudo, foram incapazes de dar resposta à dinâmica do meio-ambiente de finais do séc. XX. Por isso, nessa altura, vários autores propuseram novos modos de desenvolvimento, mais até do que novas formas de organização, que encontrámos ao rever as obras de AcAuley, et al. (2007) ou McPhee e Poole (2001). Estas configurações organizacionais tomaram as seguintes designações: redes dinâmicas (R. Miles & Snow, 1986); a organização autoconcebida (Weick & Berlinger, 1989); a organização federal (Handy, 1989); a organização pós-moderna (Clegg, 1990); a organização virtual (Davidow & Malone, 1992; Nohria & Berkley, 1994; Mowshowitz, 1994; Lucas, 1996); a empresa inteligente (Quinn, 1992); a

organização pós-burocrática (Hecksher & Donnellon, 1994); ou ainda, a organização sem limites (Fulk & Desanctis, 1995) e a organização em rede, entre outras expressões, como por exemplo, a organização

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pós-industrial. Tais expressões linguísticas remetem-nos já para um ambiente organizacional diferente dos períodos anteriores, pela introdução de expressões que até à data não faziam parte do entendimento e da literatura. Referimo-nos aos termos: rede, pós-moderna, virtual, pós-burocrática, sem limites ou fronteiras. Estes novos formatos de organização distanciaram-se dos modelos tradicionais de estruturas organizacionais (instituídos nas organizações de cariz tradicional, mais rígidos, formais, baseados na hierarquia vertical) e ganharam expressão desde as últimas décadas do séc. XX (Clegg, et al., 2006). São os formatos mais atuais de "organização" das organizações, para dar resposta às necessidades das sociedades tecnologicamente evoluídas, fundadas na informação e no conhecimento, operando numa escala global em sociedades do conhecimento (Drucker, 1994) e que foram o resultado de estratégias para redução da incerteza (Thompson, 1967) e ligação da organização ao ambiente (Fulk & Desanctis, 1995; Thompson, 1967). E há medida que a globalização se torna um fenómeno à escala mundial, tais formatos ganham ainda mais notoriedade. De resto, segundo Fulk e DeSanctis (1995), também os avanços nas tecnologias de comunicação e informação têm sido reconhecidos enquanto fatores potenciadores para estes modelos contemporâneos de organização. E, segundo a argumentação de Manuel da Silva e Costa (2001, pp. 8-9), pode tratar-se até de uma "mudança de paradigma científico", optando pelo conceito de "organização participativa" para designar esta conceção contemporânea das organizações. O sociólogo espanhol Manuel Castells (2000, 2013/2009), utilizando uma metodologia indutiva, sugere na verdade que a sociedade em rede é uma estrutura social específica da idade da informação39, inferindo daqui a sua hipótese geral de que “as redes constituem a nova morfologia social” (Lehmann, Qvortrup, & Walther, 2007, p. 23), ou, utilizando as palavras de Jan van Dijk (2006, p. 241) “a estrutura em rede impregna todas as esferas da sociedade (...) e conecta todos os níveis da sociedade”. Esta alteração na estrutura social parece ter acontecido nos últimos vinte anos do século XX, à escala mundial, dando lugar a um novo paradigma tecnológico, baseado no conhecimento e nas redes (Castells, 2007/1996), em que as tecnologias de informação estão ao serviço do aumento e da aceleração do conhecimento e da informação, e em que "a Internet [se tornou] no meio universal da comunicação interativa, mudando das tecnologias baseadas no computador para as tecnologias difundidas na rede (…), onde o processamento da informação está na origem da vida e da ação social" (Castells, 2000, p. 10). Neste contexto, também os académicos das Ciências da Comunicação, como Jan van Dijk , 40

centraram inúmeros trabalhos no estudo da sociedade em rede, dando destaque ao papel da

39 "Por Idade da Informação refiro-me a um período histórico no qual as sociedades humanas realizam as suas atividades num paradigma tecnológico baseado na micro-eletrónica, tecnologias de informação/comunicação e engenharia genética"(Castells, 2000: 05-06). 40 Jan A.G.M. van Dijk é professor de Ciências da Comunicação da Universidade de Twente, na Holanda. É um reconhecido académico e especialista em estudos de novos meios, que desde 1985 investiga os aspetos sociais da comunicação e da tecnologia, e a emergência de uma estrutura de sociedade baseada nas redes e na informação. The network society (1996, 2006, 2012) é a obra de referência de Jan van Dijk neste tema. Originalmente, este trabalho foi publicado em holandês, em 1991, com sucessivas reedições (Van Dijk, 1991).

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comunicação na sua própria definição. Veja-se o caso de van Dijk (2006, p. 240, sublinhados nossos), que afirma que a sociedade em rede “é uma forma de sociedade crescentemente organizada em relacionamentos em redes de meios que estão, gradualmente, a dar lugar ou a complementar as redes sociais de comunicação face-a-face”. Com algum exagero, podemos chamar ao século XXI a idade das redes. As redes tornaram-se no sistema nervoso da nossa sociedade, e podemos esperar que esta infraestrutura tenha mais influência em toda a nossa vida pessoal e social do que a construção de estradas teve para o transporte de bens no passado. (van Dijk, 2006, p. 240)

Uma evolução indiciava já outros entendimentos que propunham a comunicação enquanto

construtora da realidade, como por exemplo, a teoria dos sistemas e ambientes comunicativos, inspirada na obra do sociólogo e filósofo alemão Niklas Luhmann, cuja leitura dos modos de vida contemporâneos se pautou por um modelo de sociedade da comunicação (Stockinger, 2001), e que conduziu a uma mudança de paradigma nas Ciências Sociais e da Comunicação. Na verdade, desde os últimos 20 anos do séc. XX, também os académicos da Comunicação Organizacional identificaram a metáfora de rede enquanto estrutura organizacional mais importante e emergente (Eisenberg, et al., 2010; Eisenberg, Monge, & Miller, 1983; Fulk, 2001). Castells (2007/1996) apresenta os fundamentos para uma teoria da sociedade em rede, partindo da análise dos relacionamentos e das interações na morfologia da rede. Assim, tomar contacto com esta realidade revela-se pertinente porque, na análise da Comunicação Interorganizacional aplicada à transferência de conhecimento entre as universidades e as empresas o conhecimento da estrutura da rede é um fenómeno verificável e o conceito de ambiente, proposto pelos sociólogos DiMaggio e Powell (1983, p. 148), resume bem o campo desta investigação, já que “na perspetiva de rede, o ambiente consiste num campo de relacionamentos que juntam e misturam as organizações, também chamado de «campo interorganizacional» ". Na verdade, o campo interorganizacional tem sido estudado por diversas Ciências Sociais, com especial ênfase nos estudos provenientes da Sociologia e da Gestão. No campo da Sociologia, Lammers, Hickson, Scott e Schoenherr - na obra Organizations Alike and Unlike – International and inter-institucional

studies in the socioly of organizations - compilaram um conjunto de estudos de referência (Lammers & Hickson, 1981) e caracterizam o ambiente na rede na qualidade de relacionamentos interorganizacionais estabelecidos pela comunicação. Desta morfologia resultaria, por conseguinte, redes, relacionamentos interorganizacionais e a Comunicação Interorganizacional (Dunkerley, Spybey, & Thrasher, 1981; Hatch, 1997). O mesmo argumento foi também usado por analistas organizacionais, quando, a propósito da visão pós-moderna das organizações, referem os seguintes elementos mais comuns no ambiente organizacional: a rede interorganizacional, o ambiente geral e o ambiente internacional/global (Hatch, 1997, pp. 66 - 75). Assim, e tomando as palavras de Mary Jo Hatch (1997), a sua proposta sugere o

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seguinte: A rede interorganizacional consiste em fornecedores, clientes, concorrentes, uniões, agências reguladoras, e interesses especiais. (…) A análise da rede apresenta a rede interorganizacional como uma complexa teia de relacionamentos na qual um grupo de organizações está inserido. Nesta rede, umas organizações têm posições mais centrais do que outras. A centralidade é mostrada pelo número de ligações que uma organização tem com os outros elementos da rede de trabalho. As ligações representam canais através dos quais se estabelecem os fluxos de recursos, informação e oportunidades. A perspetiva de rede promove sensibilidade para uma variedade e complexidade de interações que sustêm atividades organizadas com o ambiente. (Hatch, 1997, p. 65)

A tónica coloca-se, portanto, nas “interações” com os clientes, com as associações, com o estado, o governo, etc., conceitualizando-se a organização sem fronteiras, sem limites e sem divisão, e questionando-se a distinção e a separação entre os dois “mundos” - organização e ambiente. Neste sentido, poderíamos afirmar que toda interação é por si um ato comunicativo. O processo comunicativo é sempre relacional e, por conseguinte, todas as interações e relacionamentos são suportados pela comunicação, quer seja diretamente, quer seja através das tecnologias de informação e comunicação. Ou seja, os relacionamentos interorganizacionais são estabelecidos quer pelos meios diretos e tradicionais de contacto, tais como o face-a-face, quer através das tecnologias de comunicação em rede em ambiente de intranets e internets. Da inferência deste princípio avançamos para a dedução de que todos os relacionamentos interorganizacionais são comunicativos, logo, a Comunicação Interorganizacional estuda-os na morfologia da sociedade em rede. As redes são formas muito antigas de organização social, mas tomaram novas formas na “idade da informação”, tornando-se redes de informação potenciadas pelas novas tecnologias, em contraste com as antigas organizações de centralização hierárquica. "A rede é um conjunto de nós interconectados. O nó é o ponto onde a curva se interseta” afirma Castells (2007/1996, p. 606). Por definição, uma rede não tem um centro, opera num binário lógico: inclusão/exclusão, sendo que alguns dos nós são mais importantes do que outros, mas todos precisam uns dos outros durante tanto tempo quanto aquele que permanecerem na rede (Castells, 2000, 2013/2009). Convém referir que a própria noção de rede foi evoluindo ao longo do tempo. De uma noção de rede estática evoluiu-se para o conceito de rede dinâmica. Ou seja, as próprias redes sofrem mudanças, desenvolvimento e evolução. E, para além de serem dinâmicas são complexas, podendo evoluir para formatos de redes globais (Gameiro, 2008). Nas redes, quer sejam tradicionais ou tecnológicas, existem múltiplos centros, a autoridade é difusa e as fronteiras vagas ou flutuantes (Taylor, 2001). O espaço dos fluxos refere-se à possibilidade tecnológica e organizacional sem contiguidade territorial. As funções mais dominantes da nossa sociedade são organizadas em torno do espaço dos fluxos (…) dando origem a redes de interação pessoal. Este espaço requer uma infraestrutura tecnológica que opera a partir de uma determinada localização e é ela que conecta as pessoas localizadas em locais específicos (Castells, 2000, p. 14).

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Quanto aos níveis de análise das redes, consideram-se dois níveis: as redes intraorganizacionais e as redes interorganizacionais. O interesse pelo estudo científico destas redes tem sido objeto de diferentes campos académicos, cujo olhar tem sido enriquecido por diferentes enfoques (como seja a abordagem da Gestão, da Administração, da Sociologia ou das Ciências da Comunicação). Dentro destes dois níveis de análise, encontramos estudos sobre as redes formais e outros sobre às redes informais. Inicialmente, os estudos privilegiavam o lado formal das redes, tendo progressivamente vindo a considerar os contactos informais enquanto processos de comunicação com elevada importância organizacional, dando lugar a estudos das redes informais e de comunicação informal (como é o caso do estudo de Marinho (2002). A reconfiguração da sociedade deu, assim, lugar a novas formas organizacionais - o modelo de organização em rede e o modelo de organização virtual. Para as Ciências da Comunicação, as novas configurações organizacionais revelam-se particularmente interessantes, porque, continuando a depender da comunicação, trazem alterações aos relacionamentos entre a comunicação e a estrutura organizacional (Mcphee & Poole, 2001), já que "todas as organizações, quer lucrativas, quer não lucrativas, operam em redes" (M. Taylor & Doerfel, 2005, p. 123). Para vermos este assunto com mais detalhe, convocámos alguns autores, quer da Sociologia, quer da Ciência Organizacional, quer ainda da Comunicação Organizacional (Castells, 2007/1996; Castells, 2013/2009; Cheney, et al., 2011; Conrad & Poole, 2011; Ekbia & Kling, 2005; Fulk, 2001; R. Miles & Snow, 1986; Munro, 2010; Nohria & Eccles, 1992) que abordaram o conceito de organização em rede (network organization) e que colocam em evidência as características deste modelo de organização. Ora, todas estas referências dizem que no centro da conetividade da economia global e da flexibilidade da produção da informação está uma nova forma de organização económica - a empresa em rede (Castells & Himanen, 2002). E, continuam, referindo que tal não significa uma rede de empresas. É antes uma rede feita entre empresas ou segmentos de empresas, e/ou da segmentação interna das empresas, ou empresas parciais (Ahrne & Brunsson, 2011). Grandes empresas são descentralizadas internamente enquanto redes. Pequenos e médios negócios estão conectados em redes. Estas redes conectam projetos empresariais específicos e mudam para outra rede quando os projetos terminam. Conforme refere Castells (2000, p. 12), "o processo do trabalho está interconectado entre empresas, regiões e países, numa divisão espacial do trabalho onde as localizações das redes são mais importantes do que as hierarquias dos locais". Como refere Fisher (2007, pp. 101-103), propósito da organização em rede reside na criação de sinergias, ou seja, está na sua capacidade de ligar organizações que possuem diferentes estratégias e competências, produzindo um agregado organizacional que nenhuma organização possuiria sozinha. Além disso, a necessidade de uma maior flexibilidade, está a exigir às organizações que desagreguem as suas atividades e procurem no exterior parceiros colaboradores, nacionais ou estrangeiros, para executarem determinadas funções, e, também, a necessidade de coordenar e integrar

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operações diversas tem requerido a gestão dos relacionamentos através de contratos desenhados para estabilizar as operações (Cheney, et al., 2011). Isto tem implicação na flexibilidade das pessoas e na

acessibilidade dos indivíduos, ou seja, no grau de facilidade de contacto (Wigand, 1974). Neste ambiente, algumas organizações evoluíram para estrutura em rede, diferente das formas anteriores de organização (estruturas funcional, divisional e matricial) próprias de um modelo hierárquico clássico (Benkler, 2006; R. Miles & Snow, 1986). Ora, esta estrutura tem surgido na literatura organizacional e social enquanto alternativa aos mercados e às hierarquias (Ahrne & Brunsson, 2011; Castells, 2007/1996; Castells, 2013/2009; Fulk, 2001; R. Miles & Snow, 1986; Nohria & Eccles, 1992; Powell, et al., 1996; Stohl, 1995), e faz parte das formas organizacionais pós-modernas (Hatch, 1997, pp. 191-192), o que revela ser uma estrutura organizacional emergente e a metáfora preeminente que faz sentido para académicos e profissionais. Estes modelos evidenciam a necessidade de fluidez e flexibilidade das organizações, a maximização da participação e a descentralização, o que, por sua vez, aconteceu devido, entre outras razões, às "fortes pressões externas, tais como a globalização do comércio, a proliferação de trabalhadores do conhecimento, a pressão para a colaboração interorganizacional e o crescimento da importância da inovação" (Eisenberg, et al., 2004, p. 180). Desta forma, encontramos nos modelos organizacionais contemporâneos formas de compreensão desta realidade. Dos modelos alternativos à hierarquia, aquele que traz contributos para o entendimento da Comunicação Interorganizacional é o modelo de rede, também proposto por Eisenberg, Goodall e Trethewey (2004, pp. 180-189), donde retirámos três conceitos-chave para este estudo: organizações independentes, colaboração interorganizacional e além-fronteiras. As organizações em rede são "teias de aranha fiadas a partir pequenas equipas ad hoc de entidades organizacionais independentes, globalmente dispersas, realizando atividades de conhecimento ou de serviços" (Eisenberg, et al., 2004, p. 182), donde se infere que a comunicação (independentemente do meio utilizado) sustenta a ligação entre as diversas entidades independentes envolvidas. Por seu turno, nesta estética pós-moderna (terminologia utilizada pelos autores) encontram-se outros traços essenciais, mais concretamente, a colaboração baseada-na-

equipa e a dinâmica sem fronteiras. Em suma, então, o modelo interorganizacional comporta organizações diferentes, formadas por equipas de indivíduos oriundos e representantes da pluralidade de entidades que cooperam entre si em prol de desígnios comuns. Cada uma das organizações sai da esfera individual (egocêntrica e hierárquica) para uma experiência conjunta, cooperante, horizontal e transfronteiriça (sendo que este termo pode adquirir duplo sentido, correspondendo à transposição dos limites e das fronteiras organizacionais e territoriais) numa aprendizagem coletiva e bem diferente dos modelos tradicionais. Nesse sentido, Ahrne e Brunsson (2011, p. 84) argumentam acerca do conceito de

organizacional parcial, uma conceção adstrita à organização fora das organizações, encontrando "a organização não só dentro, mas também fora e entre organizações formais".

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Atualmente constata-se que as organizações procuram este modelo organizacional, poder-se-á mesmo afirmar, a sua dominância. Segundo Conrad e Poole (2011, p. 188) "a estratégia de organizar em rede tem quatro características: estrutura modular flexível, equipas baseadas em unidades, desenho organizacional horizontal e o uso das tecnologias de informação para integrar a organização". Quanto à estrutura flexível significa que ou são compostas por unidades simples de uma grande organização, ou podem ser organizações distintas que se juntam em alianças interorganizacionais. Quanto às equipas, os autores referem a capacidade de autonomia, de iniciativa e de gestão independente dos trabalhos. Quanto às estruturas horizontais, dão aso às atividades de coordenação e de negociação, em vez da forma hierárquica de gestão das equipas. E, por fim, a importância das tecnologias de comunicação para suportar as organizações em rede, tais como: "o email, conferências por computador, audioconferência, videoconferência, blogging e mensagens instantâneas [que] podem ser usadas para ligar partes separadas" (Conrad & Poole, 2011, p. 196). Tal vem significando que a rede é a estrutura organizacional emergente mais importante e a metáfora preeminente que faz sentido para académicos e profissionais. Mais importante, no sentido em que, devido à sua atualidade, os estudos em torno das organizações em rede são de todo pertinentes. Neste contexto, surgem os estudos da comunicação na organização em rede, o mesmo será dizer, dada a natureza desta organização, conforme vimos atrás, englobando um conjunto de organizações de natureza diferente onde interagem de forma a obterem sinergias, o estudo da comunicação em organizações em rede corresponde a um tipo de estudos de Comunicação Interorganizacional. Por seu turno, outros autores auguram mesmo a organização como redes (Stohl, 1995), tal como referem, mais tarde, van Riel e Fombrun (2010, p. 13): As organizações são redes de pessoas que comunicam uns com os outros. Em todas as organizações, a comunicação flui verticalmente e horizontalmente, interna e externamente, formal e informalmente, ligando os funcionários internamente uns aos outros a várias camadas de gestão, e aos muitos detentores de recursos (resource-holders) externos da organização. (van Riel & Fombrun, 2010, p. 13)

Ainda percorrendo as estruturas organizacionais contemporâneas, um outro modelo de organizar o trabalho suportado na totalidade pelas tecnologias de comunicação permite obter uma entidade organizativa com existência apenas no ciberespaço, a qual é comumente designada por organização

virtual. Este fenómeno (derivado da globalização) possibilita o trabalho à distância ao mesmo tempo e como se estivesse no mesmo lugar (Desanctis & Monge, 1998). É neste contexto que se afirma que a característica do paradigma pós-moderno, o virtual, criou novos mundos em rede que trabalham com o conhecimento, esta paradigma abre possibilidades para novas arquiteturas organizacionais suportadas pelas novas tecnologias (Clegg, 2011). Poderíamos, até, dizer que as organizações virtuais são inteiramente suportadas pela comunicação digital. Estas formas de comunicação virtuais têm ganho um forte papel na criação de conhecimento, quer para pessoas, quer para organizações públicas, privadas,

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centros de investigação (Gravier & Farris, 2012; Tamoschus, 2012). Neste sentido, recentemente tem havido uma propagação extraordinária de equipas virtuais para partilha de conhecimento (Bansemir, et al., 2012; Hassandoust, Kazerouni, & Perumal, 2012) e, segundo Conrad e Poole (2011, p. 196), "atualmente muitas equipas integradas são 'equipas virtuais' que mantêm contacto e encontros, maioritariamente, via email ou conferência porque os seus membros estão espalhados por unidades e dispersos geograficamente ou pertencentes a organizações diferentes". Estas novas configurações organizacionais trazem necessidades extra de gestão de informação e tem-se assistido, nas organizações em rede, à criação de lugares de gestores para estas funções que criam informação, competências e recursos e os tornam acessíveis a todas as partes (Cheney, et al., 2011). Donde, surgem todo um conjunto de questões relacionadas com a coordenação das partes da rede, da cooperação entre os participantes da rede e a monitorização da rede. O que coloca dificuldades à

integração do trabalho, ora separado geograficamente, ora distribuído por organizações diferentes, levantando questões de coordenação, integração e da gestão do conhecimento (Conrad & Poole, 2011). Um tema que retomaremos mais à frente e com maior profundidade. Do ponto de vista da Teoria Organizacional, as organizações criam parcerias para realizar tarefas de forma mais eficaz e para reforçar as relações interorganizacionais e interpessoais. Estas parcerias capacitam-nas para ganhar aliados, melhorar a sua reputação e legitimidade, tornarem-se conectados com os outros organismos mais distantes e acederem a um número maior e mais diversificado de fontes. Atualmente, a formação de uma empresa contemporânea pressupõe co-alianças internas e externas (R. Morgan & Hunt, 1994), modificando a forma tradicional de organização. Segundo observação de Teresa Ruão, trata-se de “formas mais amplas da estrutura social, os ditos macro-fenómenos, que pareciam ter vida própria para lá do controlo direto dos membros da organização” (Ruão, 2008, p. 21). As parcerias estratégicas, as alianças estratégicas, acordos de subcontratação e a cooperação estratégica são alguns exemplos de modelos de uma organização em rede. Assim, as organizações organizam-se em redes de organizações para através das parcerias alcançarem flexibilidade e sobreviverem em ambientes altamente instáveis e inovadores. Centramo-nos, então, num dos paradigmas organizacionais propostos por Eisenberg e Goodall (2004): o modelo da metáfora de rede. Este modelo de organização em rede apresenta uma nova estrutura que se estende para além dos limites de uma organização singular. Segundo Fisher (2007), a metáfora de rede é o termo utilizado para referir a complexa teia de relacionamentos entre pessoas, departamentos e divisões, tanto no âmbito externo como numa única organização. Parcerias estratégicas, alianças estratégicas, cooperação são alguns exemplos de processos que promovem as organizações em rede. E conforme refere Fisher "o propósito da organização em rede é criar sinergias, ligando organizações que possuem diferentes estratégias e competências, produzindo um agregado organizacional que

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nenhuma organização possuiria sozinha" (2007, pp. 101-103). A organização em rede é um dos múltiplos modelos de funcionamento da sociedade em rede, cuja análise parte dos relacionamentos e das interações existentes entre as pessoas que a integram (Castells, 2000; Castells, 2007/1996). A organização em rede mais não é do que uma configuração social resultante da sociedade em rede. “A rede é a estrutura organizacional emergente mais importante e a metáfora que faz sentido quer para académicos quer para profissionais”, refere Janet Fulk (2001, p. 91). Revendo o modelo da metáfora de rede proposto por estes dois académicos da Comunicação Organizacional, Eisenberg, et al. (2004), verifica-se que a organização em rede apresenta uma nova forma de estrutura que se estende para lá dos limites de uma organização singular. As estruturas em redes são uma inovação à organização e representam um grupo de organizações diferenciadas, cujas ações são coordenadas por contratos e acordos, em vez de uma hierarquia formal de autoridades (Jones, 2010). Frequentemente, uma organização assume a liderança para criar uma rede, enquanto procura uma maneira de aumentar a eficácia. As organizações em rede costumam tornar-se muito complexas, quando integram um grande leque de intervenientes para subcontratar. Nesses casos, as informações são enviadas eletronicamente para qualquer ponto do globo onde estão os parceiros e estas são coordenadas centralmente e controladas ao nível de cada equipa. Geralmente, as vantagens que se apontam a uma estrutura em rede tem a ver com benefícios económicos (rentabilidade e lucros), com a flexibilidade das estruturas mais flexíveis (em contraste com a grande organização hierárquica), horizontalidade das relações entre empresas (Nohria & Eccles, 1992), e, ainda, a facilidade de ajuste às mudanças (com a contratação de novos elementos para a rede ou com a rescisão de contratos (Jones, 2010). Uma das desvantagens apontadas, e que constitui também um desafio para as Ciências da Comunicação, é a dificuldade de coordenação e de confiança nas redes, isto é, por um lado, a atividade de coordenação envolve a interligação e a sincronização entre as partes, manifestamente uma dimensão comunicativa (relacional e dialógica), organizativa e estratégica e, por outro lado, a confiança, vai remetendo para questões de posicionamento, representação e imagem. Tal como se pode perceber, existe um amplo trabalho de comunicação neste campo. Por isso, questionamos, se será a perspetiva de rede uma forma útil para estudar a Comunicação Interorganizacional na transferência de conhecimento das universidades na idade do conhecimento? E deste articulado de ideias expostas, tomávamos mais uma vez o conhecimento de Castells , para rematar, dizendo que no limiar do 41

século XXI dominava uma nova economia assente em três pilares: o informacional, o global e a networked (trabalhada em rede).

41 Para um aprofundamento do tema da sociedade em rede e dos estudos de Castells, ver também os desenvolvimentos dos sociólogos alemães Niels Lehmann, Lars Qvortrup e Bo Walter (2007), The concept of the network Ssciety: Post-ontological reflections.

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Comunicação em rede e as redes de comunicação O estudo das redes de comunicação adquiriu interesse por volta dos anos 80, principalmente, nos EUA, mas foi a partir da viragem do milénio que ganhou particular relevância para os académicos da comunicação e das organizações. Monge e Contractor (2003) constataram que as pesquisas vinham a ser desenvolvidas em torno das redes, das alianças estratégicas na sociedade e da organização em rede e que a pesquisa publicada sobre redes de comunicação era motivada e fundamentada nas teorias de rede. Por seu turno, os mesmos autores investigaram uma área que até aí ainda não tinha sido abordada, a das teorias das Ciências Sociais que explicariam a emergência das redes de comunicação. Nesta pesquisa, desenvolveram uma perspetiva multiteorética de abordagem às redes de comunicação. Uma crítica destes autores e também uma constatação era a de que as pesquisas, na generalidade, debruçavam-se sobre apenas um nível de análise – indivíduo ou grupo – e raramente os estudos contemplavam uma multiplicidade de níveis de análise.

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(Eisenberg, et al., 1983; Monge & Contractor, 1988)

Sob a perspetiva da comunicação, Richard Farace e os seus colegas (1977) terão sido dos primeiros autores a teorizar sob as redes de comunicação e a estrutura das relações comunicativas entre grupos de pessoas (rede de pessoas), cujos princípios são idênticos às relações entre organizações (redes de comunicação interorganizacionais). E na década de 1980, o discurso dos académicos da Comunicação Organizacional envolvia já os conceitos de redes de comunicação, nos trabalhos de Eisenberg, et al. (1983) e Monge e Contractor (1988); na década de 1990, com a teorização de van Dijk (1993). Monge e Contractor (1988) e Fulk, Flanagin, Kalman, Monge e Ryan (1996) debruçaram-se sobre os mecanismos teóricos que explicam a evolução das redes de comunicação. Estes investigadores de estruturas de comunicação lideraram aquilo que veio a designar-se por comunicação em rede (Eisenberg, et al., 2010). A Comunicação em rede difere das redes de comunicação, conforme veremos a seguir e ambos os conceitos se aplicam no plano individual e organizacional. Para as teorias das redes de

comunicação muito contribuíram os trabalhos pioneiros de Peter Monge, Noshir Contrator e outros colegas (N. Contractor, Carley, Monge, & Levitt, 1999; Monge & Contractor, 1988; Monge & Contractor, 2001; 2003) e que culminaram com a obra Theories of communication networks (Monge & Contractor, 2003) que, por sua vez, já tinha sido aflorado em trabalhos anteriores, com um capítulo em The new handbook of organizational communication - Emergence of communication networks (Monge & Contractor, 2001). Peter Monge, Eisenberg e Noshir Contractor, académicos da área da Comunicação Organizacional, podem

Individual – foco nas propriedades ou ações individuais (é estudada apenas se estiver relacionada com questões interorganizacionais). Grupos de indivíduos (entre organizações) – foco nas propriedades ou ações de grupos de indivíduos focus on properties or actions (é estudada apenas se estiver relacionada com questões interorganizacionais). Organização – foco nas propriedades ou ações de organizações individuais. Grupos de organizações – foco nas propriedades ou ações de agrupamento de organizações. Região/indústria – foco em como as propriedades de uma indústria ou região afeta as relações interorganizacionais e vice-versa. Sociedade – foco em como as propriedades de uma ou mais sociedades afetam os relacionamentos interorganizacionais (Oliver e Ebers, 1998, p. 576). 42

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ser considerados, portanto, na qualidade de referências nucleares sobre as teorias das redes de

comunicação. Aliás, Manuel Castells (2013/2009), num dos seus livros mais recentes, referia-se a este trabalho como o contributo mais importante para a teoria das redes aplicado à comunicação. Monge e Eisenberg (1987) traçam a história da análise das redes de comunicação em três tradições estruturais separadas. A tradição posicional, fundada no trabalho de Weber (1947), Parsons (1951) e Homans (1958), vistas das estruturas como conjuntos de relações padronizadas entre um conjunto de posições. A tradição relacional, alinhada na teoria dos sistemas modernos (Buckley, 1967), focada nas redes como estruturas que emergem de padrões regulares de interação ao longo do tempo (Barnett & Rice, 1985; Richards, 1985; Rogers & Kincaid, 1981). A tradição cultural, baseada no trabalho de LeviStrauss (1963) e Giddens (1979), explora como os símbolos e os significados são transmitidos através das estruturas sociais, cada qual produzindo e constrangendo o outro. (Flanagin, et al., 2001, p. 70)

O conceito de rede de comunicação na perspetiva relacional pode ser ilustrado, desenhando uma analogia com o sistema nervoso humano. O sistema nervoso percebe aspetos do ambiente através do sistema de sensores e traduz estas perceções em mensagens, e encaminha estas mensagens a diferentes partes do corpo" (Farace, et al., 1977, p. 178). À visão orgânica das redes de comunicação dá lugar à perspetiva sistémica, relativa aos "padrões repetitivos de interação entre os membros" (Farace, et al., 1977, p. 180) e aos "padrões de contacto entre parceiros de comunicação que são criados transmitindo e trocando mensagens através do tempo e do espaço" (Monge & Contractor, 2001, p. 440). Destacamos os "padrões de contacto" que nas organizações contemporâneas tomam diversas formas, incluindo redes de contacto pessoais, fluxos de informação com e entre grupos, alianças estratégicas entre empresas e organizações em redes globais (Monge & Contractor, 2003). Estes autores explicam, as redes de comunicação podem ser vistas como sistemas complexos de auto-organização, nos quais as populações das organizações interconectadas comunicam para aumentar a sua performance. A expressão redes de comunicação entre organizações significa, precisamente, uma rede de Comunicação Interorganizacional. O estudo de Sandra Marinho (2002) centra-se no lado informal das redes de comunicação em organizações de I&D e referiu tratar-se de um "campo de estudos [que] procura estudar e representar (através de matrizes e de grafos) os fluxos de toca de informação, bens materiais, poder, amizade" (p. 6). Monge e Contractor (2003) defendem a dimensão estratégia das redes de comunicação, pelo que dizem tratar-se de sistemas complexos de auto-organização nos quais populações de organizações interconectadas comunicam com outras para aumentar a sua performance ou a performance da rede no seu todo. Cheney, et al. (2011), por seu turno, salientam o estudo da dimensão estrutural e processual das redes de comunicação, definindo-o enquanto "análise das características estruturais ou do processo de uma rede ou redes, como avaliar o fluxo de comunicação num grupo ou organização, os pontos fortes e os tipos de relacionamentos" (p. 175). As redes de comunicações também estão intrinsecamente ligadas com os complexos sistemas computacionais que ligam pessoas e organizações. Aliás, uma parte da literatura acerca de comunicação

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nas redes provem da ciência computacional e da programação, do desenho e da arquitetura de redes, área que não investigamos, mas que consideramos que o trabalho conjunto de engenheiros e comunicadores no desenho das arquiteturas computacionais teria vantagens para ambas as partes. Por um lado, os comunicadores podem beneficiar do conhecimento das funcionalidades das plataformas e do seu potencial e, por outro, os engenheiros podem beneficiar da sensibilidade e do conhecimento dos comunicadores na identificação de elementos da rede, conteúdos, informação, recetores, modos de comunicação tecnológicos, etc. Advogamos que o entrosamento entre equipas pluridisciplinares poderá ser uma tendência a promover, mas também constitui uma possível crítica à não inclusão de comunicadores organizacionais na produção de redes de comunicação. Posto isto, a pesquisa acerca do papel da tecnologia nas redes de comunicação das organizações foi uma realidade que ao longo da nossa investigação veio a ganhar terreno e relevância, o quer dizer que, não se pode pesquisar o terreno da Comunicação Interorganizacional sem pesquisar os padrões de contacto estabelecidos através das tecnologias de informação e comunicação. Esta é uma das conclusões e inferências que retiramos da revisão da literatura e que nos conduzem para outros campos. Neste sentido, Fulk e DeSantis (1995) sugerem a interação entre tecnologias de comunicação e as novas formas organizacionais. Logo, as tecnologias de informação e comunicação revelam-se indispensáveis em organizações virtuais. Segundo DeSanctis e Monge (1998). estas organizações são caracterizadas por (a) processos altamente dinâmicos; (b) relações contratuais entre as entidades; (c) margens e fronteiras permeáveis; e (d) estruturas reconfiguráveis. E a pesquisa em comunicação eletrónica fornece implicações para os principais aspetos do projeto de organização virtual: (1) o volume de comunicação e eficiência; (2) a compreensão da mensagem; (3) as tarefas virtuais; (4) a comunicação lateral; (5) as normas de uso da tecnologia; e (6) os efeitos evolutivos. DeSanctis e Monge (1998) consideram ainda, um dos principais fatores de mudança dramática, dentro e entre as organizações de hoje, corresponde em descrever as dimensões-chave de formas inter e intraorganizacionais que estão ligados às tecnologias de comunicação eletrónicas seguintes: controle vertical, coordenação horizontal, tamanho da organização e unidades constituintes, novos tipos de ligação, como as ligações interorganizacionais e as alianças estratégicas. A comunicação nas contemporâneas formas organizacionais só é possível graças à ligação virtual suportada pelas tecnologias de informação e comunicação, sendo o correio eletrónico ainda o suporte mais utilizado pelo conjunto heterógeno de empresas. É muito comum, atualmente, ao nível da gestão, considerar a informação e as redes de comunicação enquanto ferramenta para atingir níveis de produtividade e inovação, pese embora, as mesmas armas possam ser utilizadas quer no sentido construtivo, quer também para seguir propósitos destrutivos e defensivos, conforme sugere Munro (2010). As redes de comunicação envolvem os níveis individual, díades, de grupos pequenos, organizações e entre organizações, e podem ser redes de

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comunicação de pessoas (por exemplo, uma rede de pessoas que se junta num fórum online de debate de um determinado modelo de automóvel) ou redes de comunicação. Contudo, em ambas as situações, as ligação são feitas por pessoas e, tal como adverte Cheney (2012, p. 161), numa rede de comunicação organizacional "as ligações de rede são criadas através das pessoas comunicando umas com as outras e estabelecendo relacionamentos. Um indivíduo pode pertencer a muitas redes de comunicação". Outros estudos optam pela análise das perceções nas e entre organizações . Ou seja, ainda 43

dentro da análise das redes de comunicação, outros académicos têm explorado a vertente do conteúdo da comunicação nas redes sob a perspetiva da construção de redes semânticas. Segundo Marya Doerfel e George Barnett (1999, p. 589), "a estratégia da rede centrada no significado decorre de Monge e Eisenberg (1987), chamada para melhorar a análise de rede tradicional, centrando-se no conteúdo da comunicação". Desta forma, a análise de rede semântica corresponde a um tipo de análise de rede e é, simultaneamente, um método de pesquisa e um quadro teórico (Doerfel, 1998). A análise de rede semântica difere dos tradicionais métodos de redes, porque se foca na análise da estrutura de partilha de significados em vez de olhar as ligações entre parceiros de comunicação. Estas possibilitam outros entendimentos, mais especificamente uma visualização dos grupos de pessoas que partilham os mesmos entendimentos (Monge & Contractor, 2001), significando que as ligações destas redes assentam na partilha de interpretações. Ou seja, "a articulação da rede proporciona uma figura dos grupos de pessoas que partilham entendimentos comuns, aqueles que têm compreensões idiossincráticas, tais como, os isolados, e aqueles que servem de ligações e boundary spanners entre os vários grupos" (Monge & Contractor, 2001, p. 471). Uma abordagem das redes semânticas é aquela que se obtém da análise textual da ocorrência das palavras, tradicionalmente realizada através da contagem manual e que foi substituída por software específico (Doerfel, 1998; Doerfel & Barnett, 1999; Doerfel & Fitzgerald, 2004; Fitzgerald & Doerfel, 2004). Um nó passa a ser uma palavra (Doerfel, 1998), e as redes semânticas surgem dos relacionamentos das palavras, pelo que através da análise destas redes é possível aferir acerca dos significados partilhados, perceções, posicionamentos, entre outros. Apesar de ter sido uma abordagem inovadora nos estudos da comunicação entre empresas, esta metodologia suscita algumas críticas e abre o campo da investigação a outras abordagens possíveis aos estudos de Comunicação Interorganizacional. Concordamos que a análise de redes de comunicação é importante para verificar e identificar a rede de relacionamentos comunicativos interorganizacionais, mas através desta metodologia não é possível conhecer os diálogos, as conversações (escritas e orais) e aos problemas de comunicação que possam existir nestes relacionamentos comunicativos, para além dos buracos estruturais, da centralidade, intensidade, significação, padrões de relacionamento ou outros

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Para um aprofundamento da história e entendimentos das redes semânticas, consultar, Doerfel (1998).

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tópicos de análise de redes e de redes de comunicação. Donde que se propõe um método dialógico de Comunicação Interorganizacional. E, para finalizar esta parte sobre a organização pós-moderna, a metáfora em rede e a comunicação interorganizacional em rede, propomos uma interpretação (Quadro 6) da comunicação nas organizações pós-modernas, segundo as varáveis de comunicação que têm sido verificadas: conteúdo, direção, canal e estilo, de Farace, et al. (1977). Variáveis da Comunicação

Descrição

Conteúdo

Partilha de informação entre parceiros; baseada nos objetos; inovação

Direção

Todas as direções. Baseada na comunicação interpessoal, na comunicação em equipas, em grupos de organizações e em rede Interdependência dos processos, fluxos de informação, feedback, ambientes e contingências, global, parcerias internacionais. interacional, processos complexos de interação e interdependência, interconetividade

Canal

Todos os canais. Predomínio da comunicação em rede e das novas tecnologias (web sites, intranets, internet, email, mensagens instantâneas, videochamadas e videoconferências; contacto direto; reuniões; cerimónias públicas de proclamação da constituição dos formatos organizacionais colaborativos

Estilo

Participativo; colaborativo; formal e informal, mas especialmente informal; interpessoal. Intergrupal; interorganizacional Quadro 6: A comunicação nas organizações pós-modernas Fonte: Elaboração do autor.

Este estudo permitiu teorizar acerca da evolução da comunicação nas organizações na direta ligação com o estudo das estruturas organizacionais. Isto permitiu-nos chegar à síntese da evolução organizacional e da comunicação nas organizações expressa na Figura 2. Esta tem por base a trajetória histórica - o classicismo, passando pela modernidade e indo para lá da modernidade. A perspetiva clássica corresponde ao período compreendido entre o séc. XVIII (posterior à revolução industrial) e os primeiros anos do séc. XX; a perspetiva moderna inicia no século XX e vai até à mudança de perspetiva que se observa já na década de 70 e que marca a perspetiva pós-moderna. Convém notar que a flutuação entre períodos é dinâmica, pelo que a demarcação histórica depende de inúmeros fatores, como é o caso da localização das organizações ou do setor de atividade. Contudo, na generalidade, conseguem identificar-se três grandes paradigmas.

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Figura 2: Evolução dos paradigmas organizacionais e dos modelos de comunicação Fonte: Elaboração do autor

Em suma, os modelos de comunicação evoluíram desde a comunicação interna, hierárquica e vertical, justamente, até à Comunicação Interorganizacional em rede, horizontal, colaborativa e participante. E, neste contexto, a Comunicação Interorganizacional ultrapassa os limites e a fronteira da própria organização, mudando a perspetiva da organização face ao ambiente. a) Enquanto as teorias clássicas das organizações tenderam a ser lineares e a privilegiar o ambiente interno, as teorias dos sistemas abertos abriram-se à multidimensionalidade, com assunções sobre as causas e efeitos dos relacionamentos na organização; (b) a teoria clássica concetualiza as organizações como estruturas estáticas, enquanto os teóricos dos sistemas percebem as organizações como um processo de intercâmbio entre a organização e os elementos do meio envolvente, mantendo um equilíbrio dinâmico; (c) enquanto nas organizações fechadas, a comunicação é linear, interna e hierárquica, nas organizações abertas a comunicação é inter-relacional e externa. Estes entendimentos traduzem a dinâmica evolutiva das organizações e da Comunicação Organizacional. Esta alteração da perspetiva moderna "geocêntrica", em que a organização gravita sob si mesmo, para a perspetiva pós-moderna, contemporânea, holística, na qual as fronteiras organizacionais se diluem numa teia de relacionamentos interorganizacionais alcançando novos formatos organizacionais (como por exemplo, as alianças, consórcios, participações, interfaces, jointventures, etc.), coloca a gestão das organizações numa dinâmica também ela inovadora, participativa, em que estas estruturas se unem

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com parceiros, criando modelos organizacionais baseados em contratos dos quais se esperam benefícios mútuos e sustentabilidade social para as organizações. Vejamos, agora, o sentido da evolução do campo académico da Comunicação Organizacional.

2. O campo da Comunicação Organizacional

Em certo sentido, a organização existe como um padrão ou rede de energias e interações não só os memorandos identificáveis ou reuniões, mas também todo um tecido de relações de um sistema operacional. Na verdade, quando falamos de comunicação organizacional, queremos incluir toda uma série de coisas, tais como símbolos, mensagens, interações, relacionamentos, redes e discursos. A comunicação de uma organização é algo que "entra" como o fluxo de um rio. (Cheney, et al., 2011, p. 556)

2.1 Um debate concetual da comunicação nas organizações Certas disciplinas que estudam a comunicação das organizações são designadas de distintas formas. E, embora estejam relacionadas, comportam entendimentos distintos da realidade organizacional. Referimo-nos às designações de Comunicação Organizacional, de Comunicação de Gestão, de

Comunicação Institucional, de Comunicação Corporativa (corporate communication), de Comunicação Empresarial, de Comunicação Estratégica, de Comunicação de Marketing e, ainda, de Relações Públicas, para complexificar ainda mais o campo. Se bem que esta questão se coloque mais no meio académico do que fora dele (Zorn, 2002), para compreender esta realidade impõe-se, à partida, uma dissecação de significados e de conceitos referentes a realidades distintas (Ruão, 2004). O conceito de Comunicação Organizacional pode assumir interpretações distintas entre os profissionais e os académicos da comunicação das organizações. Tal constatação leva a um debate sobre os sentidos de Comunicação Organizacional, Comunicação Corporativa e Relações Públicas. Então, como distinguimos a Comunicação Organizacional entre outras disciplinas contíguas, como é o caso das já referidas? Será que é apenas uma questão terminológica? Apesar da identificação destas múltiplas definições, apenas exploraremos neste trabalho os conceitos de Comunicação Organizacional, Comunicação Corporativa e de Relações Públicas, por parecerem ser campos capazes de trazer maiores contributos para o estudo da Comunicação Interorganizacional. A convergência ou divergência entre estas disciplinas é uma questão antiga, mas muito atual, e este tema foi o mote para uma reflexão levada a cabo no “I Encontro do GT de Comunicação Organizacional e Institucional da SOPCOM” (Ruão, Salgado, Freitas, & Ribeiro, 2013, julho), tendo dado origem ao ebook designado de Comunicação organizacional e relações públicas: Horizontes e perspetivas.

Relatório de um debate (Ruão, Freitas, Ribeiro, & Salgado, 2014b). Aqui, os autores puderam argumentar

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e posicionar os seus diferentes pontos de vista. E, desta problemática, propomos a identificação de ideias que marcam tendências entre os académicos. E partiríamos para a discussão do tema com uma definição própria e abrangente do campo da Comunicação Organizacional, entendido enquanto estudo da comunicação aplicado às organizações, empresas ou instituições, grupos privados ou públicos, com ou sem fins lucrativos, onde se inserem distintas formas e técnicas de comunicação que envolvem as pessoas das áreas da gestão estratégica, do marketing, da produção e dos serviços, da área institucional/corporativa, das relações públicas e de outras organizações. Na verdade, todas as áreas organizacionais e pessoas que nelas trabalham contribuem para a Comunicação Organizacional, logo, as práticas são transversais à organização. Esta tomada de posição faz corresponder a Comunicação Organizacional à comunicação das organizações, no pressuposto do ser ontológico da comunicação na sustentabilidade organizacional. Kreps (1990) entende a Comunicação Organizacional enquanto processo através do qual os membros da organização obtêm as informações pertinentes sobre ela e sobre as mudanças que nela ocorrem. Na perspetiva deste autor, a Comunicação Organizacional desempenha uma função de fonte de informação (data-gathering) para os membros da organização. A informação constitui-se, assim, como variável intermediária que une a comunicação à organização. E, na mesma linha de entendimento, Goldhaber (1993) parte da conceção da organização enquanto sistema vivo e aberto que é conectado por um fluxo de informações entre as pessoas que ocupam diferentes posições e representam distintos papéis. Por isso, define a Comunicação Organizacional enquanto fluxo de mensagens processadas numa rede de relações interdependentes. Essa definição apresenta quatro conceitos-chave a serem consideradas no âmbito da Comunicação Organizacional: mensagens, rede, relações e interdependência. As mensagens constituem ‘informação significativa’ sobre pessoas, ações e objetos gerados durante as interações humanas. Dizem respeito à informação que é percebida e para qual os recetores atribuem um significado. As mensagens, as informações significativas fluem através de redes de comunicações, as quais, por sua vez, estão conectadas às pessoas, estabelecendo entre elas diferentes graus (intensidade) de relações. São inúmeras as possibilidades mencionadas por Goldhaber (1993) para o estudo dessas relações: através da conduta das pessoas envolvidas nessas relações, dos seus efeitos em relações específicas, bem como através das habilidades, atitudes e moral dos empregados quando afetados ou quando afetam as relações dentro da organização (Scroferneker, s.d.). Por sua vez, Dalmar Fisher (2007) considera a Comunicação Organizacional como um processo evolutivo, culturalmente dependente e de partilha de informação. A noção de partilha parece abrir a ação de Comunicação Organizacional à prática conjunta e deliberada. Contudo, a riqueza de interpretações e visões levam Eisenberg, Goodall e Trethewey (2010) a apontar, então, para quatro áreas que marcam o entendimento da Comunicação Organizacional: (1) a comunicação como transferência de informação; (2)

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a comunicação como processo funcional; (3) a comunicação como controlo estratégico; e (4) a comunicação como o balanço entre a criatividade e o constrangimento. No próximo quadro (Quadro 7) apresentam-se as perspetivas da Comunicação Organizacional.

Comunicação como Transferência de Informação Pipeline (tubagem) ou conduta

Metáfora

Objetivo finalidade

Medir Eficácia

ou

a

Usar a comunicação como ferramenta para realizar

O recetor de comunicação entende (ou não) o que o emissor pretende

Comunicação como Processo Transacional Processo

Adaptar mensagens necessidades expectativas recetores

Partilha significados emissores recetores

as às e dos

de entre e

Comunicação como controlo estratégico

Comunicação como o Balanço entre a Criatividade e o constrangimento

Controlo

Balanço

Desenvolver mensagens ambíguas para tomar vantagem na diversidade de significados que as pessoas frequentemente dão à mesma mensagem para controlar o meio e alcançar múltiplos objetivos

Trabalhar fora da tensão entre a criatividade individual e restrição organizacional em interações momento a momento

A ação coordenada é realizada através de diversas interpretações de significados

O balanço entre indivíduos satisfeitos e a coesão da comunidade

Quadro 7: Perspetivas da Comunicação Organizacional Fonte: Elaboração própria, adaptado de Eisenberg e Goodall, 2010, p. 36.

Destes entendimentos vários pode concluir-se acerca da pluralidade de perspetivas e conceções no campo da Comunicação Organizacional. Trata-se, portanto, de um campo dinâmico, em evolução e estratégico. Por outro lado, os investigadores e profissionais das áreas do Marketing e da Gestão preferem utilizar a expressão Comunicação Corporativa (corporate communication), como é o caso de Joep Cornelissen, Cees van Riel, John Balmer, Edmund Gray, Janis Foreman e Paul Argenti, entre outros. O termo corporate deriva originalmente da conjugação de palavras em latim e, segundo Cornelissen e Cornelissen (2011), significa: "corpo"(corpus) e “formar num corpo" (corporare), que enfatizam uma forma unificada de olhar para as disciplinas de comunicação ‘interna’ e ‘externa'. Ou seja, em vez de olhar para disciplinas especializadas ou grupos de interessados em separado, a função de comunicação corporativa começa a partir do ponto de vista da organização como "corpo", como um todo. (Cornelissen, 2011, p. 5)

E, é neste contexto que Christensen e Cornelissen (2011, p. 386) argumentam que a Comunicação Corporativa é a função de “gerir toda a comunicação que envolve uma organização como uma entidade corporativa”. Uma posição partilhada também por Riel e Fombrum (2010) ao incluírem na

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Comunicação Corporativa as atividades que promovem a integração, a coordenação e a orquestração da comunicação da organização. Por seu turno, Van Riel já aliara a Comunicação Corporativa à Gestão, ao considerar a sua contribuição “para alcançar os objetivos da empresa” (Riel, 1992, p. 2). Uma opinião, de resto, confirmada por Paul Argenti (1998) ao apontar a função estratégica como a tónica da Comunicação Corporativa, desde o início da década de 1990. Já Argenti e Forman (2002) descrevem a Comunicação Corporativa enquanto conjunto de entendimentos sobre quatro aspetos distintos: (1) função, (2) canal, (3) processo, e (4) atitude. Enquanto função, a comunicação de empresa é responsável pela comunicação com os públicos internos e externos e envolve as relações com os diversos públicos; enquanto canal, a comunicação engloba os diversos meios, desde os impressos aos digitais; enquanto processo, significa que a comunicação tem um tom, uma intencionalidade e um timing ajustado aos objetivos, onde se incluem também as formas de comunicação mais formais e burocráticas até outras formas mais informais e facilitadoras do diálogo; por último, na atitude incluem-se o conjunto de crenças acerca do que comunicar e o nível de esforço envolvido na ação comunicativa da organização (Argenti, 2006). Aliás, desde os anos 1970, a questão da centralização da comunicação numa grande área estratégica dentro da empresa vinha sendo uma tendência, uma vez que se argumentava que “uma função mais centralizada fornece uma maneira muito mais fácil para as empresas ganharem consistência e controle de todas as atividades de comunicação” (Argenti, 1998, p. 50). Até então, e contrariamente, a comunicação encontrava-se dispersa por vários departamentos. Assim, por exemplo, a comunicação com os investidores era feita pelo departamento financeiro, a comunicação com os empregados era feita pelo departamento de recursos humanos e os clientes/consumidores estavam afetos ao Marketing. E a isso se refere Paul Argenti (1998) quando diz que “todas estas atividades requerem estratégias de comunicação conectadas à missão central da empresa” (1998, p. 51). Desta forma, associa-se à Comunicação Corporativa um conjunto de práticas, também designadas por subfunções, tais como: a comunicação de crise, as relações com os meios de comunicação, as relações com a comunidade, as relações com os investidores, as relações com os empregados, os assuntos públicos, a reputação, a imagem, a identidade, as relações governamentais, a integração e avaliação da comunicação e outras atividades geralmente associadas ao campo das Relações Públicas (Christensen & Cornelissen, 2011). Aliás, a fusão de todas as áreas dispersas num único departamento, designado também por comunicação integrada ou comunicação global, sempre foi o grande campo de batalha da Comunicação Corporativa, e o caminho tem sido o da integração da comunicação, inclusive do departamento de Marketing. Argenti e Barnes (2009, p. 52), em Digital strategies for powerful corporate communications, afirmam que este “trabalho está em progresso (…). As plataformas digitais, a fragmentação dos meios e o fortalecimento dos

stakeholders - estão a acelerar a integração entre o marketing e a comunicação em muitas organizações“. E, por isso, Cees van Riel e Charles Fombrun (2010) propuseram integrar na Comunicação Corporativa os

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três tipos de fluxos de informação e interação mais comuns: as comunicações de gestão, as comunicações de marketing e as comunicações da organização, argumentando que esta é “uma abordagem coerente para o desenvolvimento da comunicação nas organizações que especialistas em comunicação podem adotar para racionalizar as suas próprias atividades de comunicação, trabalhando a partir de um quadro estratégico coordenado centralmente” (Riel & Fombrun, 2010, p. 22). E, mais sobre a função de gestão da comunicação argumenta-se que a coordenação da comunicação tem implicações estratégicas nos diferentes públicos. Ou seja, trata-se daquilo que Cornelissen (2011, p. 5) refere como “uma função que oferece um enquadramento e um vocabulário para a efetiva coordenação de todas as mensagens, com o propósito geral de estabelecer e manter reputações favoráveis com os grupos de

stakeholders dos quais a organização depende”. Contudo, esta proposta integradora e estratégica - dos ideais e da metáfora holística da comunicação integrada, da unicidade da voz do corpus da organização que se pretendia único - tem sido considerada um pressuposto inalcançável e, em consequência, foi alvo de críticas entre os próprios académicos e profissionais da Comunicação Corporativa. As principais críticas apontadas a este modelo de gestão da comunicação nas organizações aludem para dificuldades de controlo da totalidade da comunicação, de integração e de estratégia de voz única. Então, mais recentemente, alguns académicos reconhecem a necessidade de alargamento da função estratégica da comunicação à natureza ontológica da Comunicação Organizacional, procurando, assim, estabelecer a ponte entre a Comunicação Corporativa e a Comunicação Organizacional, argumentando que existe um interesse nesta área, conforme referem no seguinte texto: De que forma o campo da Comunicação Organizacional pode enriquecer o entendimento da Comunicação Corporativa com um específico discurso de gestão, com consequências para as organizações contemporâneas. Em particular, discutiremos como os ideais da Comunicação Corporativa podem ser recapturados e rearticulados num contexto disciplinar no qual a comunicação não é vista como a conduta através da qual a organização simplesmente relega e amplifica a sua própria perceção, mas como uma força ativa e construtiva na construção das organizações (Christensen & Cornelissen, 2011, p. 397).

Esta abertura do campo da Comunicação Corporativa (que apenas "amplifica a sua perceção") à Comunicação Organizacional (que busca o conhecimento dos padrões de “como a comunicação organiza, e.g. Taylor & Van Every, 2000, em vez do foco tradicional da organização da comunicação” (Christensen & Cornelissen, 2011, p. 384), vem indiciando o reconhecimento de outras dimensões. Outro debate já antigo e que parece não reunir um consenso, prende-se com a relação entre a

Comunicação Organizacional e as Relações Públicas. Aliás, dentro de cada área existem várias correntes, evoluções e perspetivas, com manifesto interesse, mas não tem existido um consenso geral, nem um esclarecimento explícito sobre a questão, conforme nos relatam Pereira, Ruão e Spínola (2014):

A Comunicação Interorganizacional em Rede na Transferência de Conhecimento: A abertura das universidades às empresas Ribeiro, P. C. (2016). O campo académico da comunicação nas organizações (pp. 63-139). Braga: Universidade do Minho.

A polissemia do termo Relações Públicas e a falta de acordo em relação às definições e às conotações a que se presta esta área, também têm ajudado à forma como vêm sendo tratadas e até contribuído para dispersar o uso desta prática profissional no mundo empresarial. Além de que, a persistente confusão de termos e a sobreposição dos conceitos de Relações Públicas e de Comunicação Organizacional têm concorrido para agravar a compreensão dos seus propósitos fundamentais e dos domínios que servem de fronteira a estes campos, quer no mundo da academia quer no mundo empresarial. (Pereira, Ruão & Spínola, (2014, p. 4)

Salientamos que acompanhámos esses debates através da literatura, pela discussão pública, pela preparação e envolvimento no já referido encontro de profissionais e académicos portugueses do Grupo de trabalho (GT) da SOPCOM, pela elaboração de um estudo coletivo (Ruão, Freitas, Ribeiro, & Salgado, 2014a) e pela edição de um livro eletrónico do evento (Ruão, et al., 2014a).44 Neste contexto, a nossa posição associa as Relações Públicas à Comunicação Estratégica com os públicos, segundo os objetivos de governação das organizações, conforme descrito no texto seguinte: Já as Relações Públicas constituem um campo científico e profissional preocupado com um tipo particular de comunicação a acontecer nas organizações: a gestão das relações entre a organização e os seus públicos. Corresponde à comunicação de tipo estratégico que opera através do planeamento, programação, formatação e controlo de mensagens de natureza promocional e persuasiva. E trata-se de um campo orientado para o cumprimento de objetivos de performance e, por isso, fundamental à gestão. Desse modo, constitui a área criadora de uma organização “hiper-imaginada” (Ruão, 2008), ou idealizada pela gestão para atingir os seus propósitos. (Ruão, et al., 2014a, p. 33)

E, para finalizar, deixamos expressas a posição interpretativa de que, concordamos com Christensen e Cornelissen (2011) nas seguintes ideias: "o campo da Comunicação Organizacional oferece ao campo das Relações Públicas a possibilidade de superar a visão metonímica e ilusória da comunicação, em que é assumido que as partes de uma organização podem representar na íntegra o todo organizacional" (Ruão, et al., 2014a, p. 33).

2.2 Breve história Organizacional

e

correntes

de

investigação

da

Comunicação

Depois de exposta a problemática da polifonia dos conceitos da comunicação nas organizações, iniciamos este tópico com um pouco de história, um enquadramento das origens da Comunicação

"Mas estas conclusões foram o ponto de chegada de um dia de trabalho e de frutífera discussão académica que poderemos revisitar nos textos que se seguem. Na primeira parte deste ebook encontramos as ideias dos oradores do painel da manhã, intitulado: «A Comunicação Organizacional e as Relações Públicas, em debate: horizontes e perspetivas». José Viegas Soares da Escola Superior de Comunicação Social, Teresa Ruão, Paulo Salgado, Renata de Freitas e Paula Campos Ribeiro da Universidade do Minho, e Susana Carvalho do Instituto de Novas Profissões apresentam-nos, em três artigos, uma visão rica e panorâmica dos campos em análise e discutem os seus sentidos e fronteiras, ora aproximando argumentos, ora caminhando para posições bem diferenciadas. E na segunda parte desta publicação, podemos aceder aos excelentes apontamentos de três outros participantes no Encontro, através de textos que resumem as posições que apresentaram na Mesa Redonda «CO e RP: Uma questão terminológica ou campos distintos?» e que marcou o programa da tarde. Referimonos a Evandro Oliveira da Universidade do Minho/Universidade de Leipzig, João Figueira da Universidade de Coimbra, e José Gabriel Andrade da Universidade Católica Portuguesa, cujos textos nos fazem percorrer as tendências de pesquisa e aproximação teórica das diferentes academias do país. (…) Ainda que sem presença no ebook (por forte motivos de trabalho), não poderemos deixar de referir os contributos valiosos dos restantes oradores do Encontro, bem como da moderadora. Àlvaro Cairrão representou aqui a tradição de ensino e investigação da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, José Quintela fez a ponte entre as instituições de formação e as profissões de comunicação ao referir a sua dupla condição de professor do Instituto de Novas Profissões e de consultor de Relações Públicas, Mafalda Eiró-Gomes apresentou o contributo do ensino politécnico e a visão científica de integração que defende e Celma Padamo, no papel de moderação (S. Pereira, et al., 2014, p. 5). 44

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Organizacional e da evolução dos paradigmas - revistos (entre outros autores) por Fisher (2007) e Eisenberg e os seus colegas (2004) -, cuja trajetória revelou o movimento da comunicação de dentro das organizações para fora das mesmas, desde as relações superior/subordinado e dos fluxos comunicacionais verticais, para a abertura gradual ao exterior e para fluxos horizontais e informais. Em primeiro lugar, as teorias da Comunicação Organizacional foram sendo construídas no contexto das correntes filosóficas da Retórica e das Ciências Sociais, mais concretamente, a partir das perspetivas das Ciências da Comunicação, ganhando autonomia científica. Pelo que se sabe, até à segunda Guerra Mundial, a Comunicação Organizacional esteve ligada à Retórica e não às Ciências Sociais, tendo a primeira dissertação ocorrido na Universidade de Denver (1943) e a primeira pósgraduação na Universidade Purdue (1948), ambas nos Estados Unidos. Tal leva os investigadores a afirmarem que, “embora o estudo do fenómeno da comunicação nas organizações, em certo sentido, date da antiguidade, os investigadores tendem a localizar a génese da disciplina, enquanto campo académico identificável, entre 1940 e 1950” (Ruão, 2004, p. 737),45 e o seu notório desenvolvimento deu-se entre 1940 e 1980 (Cheney, 2000b). Em termos de escolas de pensamento, segundo Eisenberg e Goodall (2004), as perspetivas mais antigas estão ancoradas na Escola das Relações Humanas (com os trabalhos de Elton Mayo da Universidade de Harvard) e na Escola dos Recursos Humanos. E a procura de um terreno comum tem sido amplamente debatido pelos académicos de várias escolas, com forte protagonismo pela escola Norte-Americana, onde emergiram vários encontros internacionais. Na história institucional do campo da Comunicação Organizacional, a Conferência de Alta, de 1981, em Utha, foi um marco decisivo. Este encontro académico marcou a viragem da perspetiva positivista dos estudos da Comunicação Organizacional, dominante até então, para outras duas perspetivas que foram debatidas e institucionalizadas: (1) a perspetiva interpretativa, defendida por Linda Putnam, Mike Pacanowsksy e Charles Bantz; e (2) a perspetiva crítica, animada por Stanley Deetz, Phil Tompkins e Charles Conrad, e deu origem à institucionalização dos modelos positivista, interpretativo e

crítico (Bullis, 2005). Um outro contributo para a sistematização do campo comum da Comunicação Organizacional, proposto por Steven Corman e Marshall Scott Poole (2000), na obra Perspectives on

organizational communication: Finding common ground apontam para a existência de três correntes dominantes na viragem do milénio, coabitantes e contemporâneas a perspetiva pós-positivista, proposta por Katherine Miller (2000); a perspetiva interpretativa, liderada por George Cheney (2000a); e a perspetiva crítica, protagonizada por Dennis Mumby (2000). Contudo Daniels, Spiker e Papa (1997) preferem adotar as designações de tradicional, interpretativa e crítica. Na verdade, o percurso dos O trabalho da investigadora Teresa Ruão (2004) traçou a evolução do Estado da arte em Comunicação Organizacional. 1900-2000: Um século de investigação, recorrendo, para tal, à análise histórica e à revisão da investigação produzida na área nos últimos 100 anos, donde ressaltaram as tendências 45

teórico-metodológicas e os paradigmas emergentes de investigação.

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paradigmas dos estudos de Comunicação Organizacional não difere da trajetória seguida pelos paradigmas científicos dominantes de cada época. Resumindo, numa lógica positivista, no modelo tradicional a comunicação pode ser medida e padronizada. Nessa abordagem podem ser identificados em dois momentos: primeiro, ao considerar a organização como máquina (visão mecanicista), a Comunicação Organizacional é tida como uma engrenagem, um processo mecânico; e já segundo uma perspetiva mais recente, a organização é tida como sistema, e a Comunicação Organizacional como um processo orgânico e dinâmico (Scroferneker, s.d.). Segundo Fisher (2007, p. 17), nesta última perspetiva "vimos a comunicação como o processo de transmissão através do qual uma mensagem física viaja através do espaço, através de um canal, de uma pessoa para outra. Assume-se que o emissor controla o que o recetor recebe. (…) É quase um modelo de uma-via, mas introduz características do modelo de interação, como o ruído ou os canais". Já Deetz (2001) refere esta abordagem como normativa e cujo objetivo era o de descobrir as relações sistemáticas, as leis e as regras de funcionamento da comunicação. Ao nível do paradigma científico, o ideal positivista foi dando lugar à hermenêutica, à teoria da interpretação (Rorty, 1992) e ao paradigma interpretativo, onde o conhecimento surge da construção de sentidos, como nas teorias de Hans-Georg Gadamer e Paul Ricouer, entre outros filósofos. Por seu turno, o segundo modelo - o interpretativo, entende as organizações como culturas. E, nessa perspetiva, a organização é um fenómeno subjetivo, isto é, a ação social somente é possível quando as pessoas podem compartilhar significados subjetivos. E um dos tópicos estudados é a cultura organizacional que é entendida como uma rede de significados. As pesquisas interpretativas buscam revelar as realidades socialmente construídas nas organizações. Estas pesquisas estudam a comunicação como processo por meio do qual essa construção social ocorre, ou seja, a comunicação integra os símbolos e os significados que envolvem as várias formas de comportamento organizacional. Neste contexto, a organização é vista também como um espaço de negociação, isto é, um produto de transações e discursos coletivos (Scroferneker, s.d.). Uma revisão que pode ser aprofundada através da leitura do trabalho de Taylor (1993, pp. 81-84). Por seu turno, Fisher (2007, p. 18) explica a tendência referindo-se ao processo de criação de sentido e introduzindo o conceito de perceções seletivas que significa o "processo de fabricação de sentido [considera que] a posição na estrutura na organização pode afetar a maneira como se recebe uma orientação. Superiores e subordinados, normalmente, percebem as coisas de formas diferentes". Em suma, enquanto na perspetiva tradicional há o entendimento de que o mundo da ação social, da interação, se constitui em comportamentos observáveis e tangíveis, a perspetiva interpretativa tenta revelar a cultura que está por de trás desses comportamentos manifestos. Há outros olhares dos académicos da Comunicação Organizacional assentes na distinção entre perspetivas da comunicação humana: mecanicista, psicológica, simbólica e de sistemas interativos que

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contribuem para a formulação de teorias da comunicação nas organizações (Fisher, 2007; K. Krone, Jablin, & Putnam, 1987). Assim, na perspetiva mecanicista a comunicação é vista enquanto processo de transmissão, muito semelhante ao modelo de uma-via, assimétrico. Nesta abordagem o foco está nos fluxos de informação, na escolha dos canais, na quantidade de informação, em como é apresentada e para quem é dirigida. Na conceção psicológica evidenciam-se as perceções seletivas dos indivíduos envolvidos, aproximando-se do modelo de interpretação e de duas-vias, simétrico. A perspetiva

interpretativa-simbólica, para além da transmissão e receção, enfatiza os significados partilhados entre pessoas. Pois, “quanto mais aprendemos acerca da comunicação, mais percebemos que todo o comportamento é potencialmente comunicativo. No processo de comunicação, cada indivíduo é tanto ator como reator aos eventos da comunicação. Introduzimos a nossa interpretação dos eventos. Aplicamos a nossa lente percetiva e interpretativa” (T. E. Harris & Nelson, 2008, p. 15). E a perspetiva de sistema-

interativo foca-se na observação de comportamentos, nas ações, nas sequências e nos resultados esperados, envolvida em padrões de ação-resposta. Já a perspetiva crítica tem em conta as dimensões opressoras da organização. Esta linha de investigação volta a sua atenção para as classes organizacionais marginalizadas: trabalhadores, mulheres, minorias e outros grupos. Mesmo admitindo o risco de simplificação, é possível afirmar que os pesquisadores desta perspetiva estão preocupados simultaneamente com a estrutura social e o processo simbólico (Scroferneker, s.d.). Desta forma, a comunicação é tida enquanto instrumento de dominação. A teoria crítica foi um movimento europeu liderado por pensadores, sociólogos e filósofos, tais como Karl Marx, Jungen Habermas (1972, 1984), Michel Foucault, Niklas Luhmann (1976), entre outros, e que alguns dos académicos da Comunicação Organizacional viriam a privilegiar, como é o caso de Alvesson, Deetz e Mumby, entre outros (Shockley-Zalabak, 2012). A visão de Monge e Poole (2008), acerca das perspetivas intelectuais da Comunicação 46

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Organizacional, enquanto interseção com a comunicação humana (Farace, Monge, & Russell, 1977), coloca as perspetivas crítica, interpretativa e de rede, revistas por Monge e Contractor (2003), na perspetiva pós-moderna, pelo que se encontra nestes autores a inserção da perspetiva de rede nas correntes de pensamento atual da Comunicação Organizacional. Ainda assim, e no atual quadro teóricofilosófico, são enunciadas, na generalidade, as seguintes perspetivas (defendidas por um conjunto alargado de académicos): positivista/funcionalista, construtivista social/Interpretativa, crítica, e pós-

moderna (Bullis, 2005; Deetz, 1996, 2001; Kathy Krone, 2005; T. Kuhn, 2005; Ruão, 2004, 2008). Nesse mesmo artigo, Monge e Poole (2008) apontaram duas novas perspetivas na Comunicação Peter Monge é professor de Comunicação na Annenberg School for Communication & Journalism e professor de Management and Organization na Marshall School of Business, University of Southern California. As suas áreas de especialização são: globalização, tecnologias de comunicação e informação, redes e Comunicação Organizacional. 47 Marshall Scott Poole é diretor da-CHASS, professor de comunicação no National Center for Supercomputing Applications University de Illinois. 46

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Organizacional: uma que começou a crescer na primeira década do séc. XXI e foi designada de teoria

evolucionária (Monge, 2012; Monge et al., 2011; Monge & Poole, 2008), constituindo uma extensão da Ecologia Organizacional; e outra, a perspetiva do discurso organizacional que vem já dos anos 90 do séc. XX, na opinião dos autores. Na verdade, a teoria evolucionária, também designada de teoria sociocultural

evolucionária terá tido o seu início em 1965, com Donald Campbell e, de acordo com Peter Monge, terá surgido: Como uma extensão e aplicação modificada da teoria evolucionária de Charles Darwin (1859) e o trabalho de Amos Hawlet (1950, 1984), geralmente considerado o pai da ecologia humana. Campbell era interessado em epistemologia evolucionária, considerava que a teoria sociocultural evolucionária era uma teoria geral de mudança e estabilidade. Isto é, ele acreditava que a teoria evolucionária incorporava um conjunto de princípios e processos que governam as condições sob as quais as mudanças culturais, sociais e biológicas ocorreriam. Aqueles princípios são a variação, seleção e retenção. (Monge, 2012, pp. 28-29)

Esta perspetiva parte da ideia das comunidades de populações48 de organizações. As comunidades são realidades sociais e culturais, cuja filosofia consiste na partilha de recursos e na sustentabilidade das mesmas. Este conceito encontra-se, pois, na linha de pensamento da teoria da Ecologia Organizacional49 e houve, portanto, uma evolução do conceito de comunidade para o de comunidade de populações. Segundo Monge e os seus colegas (2011), as populações organizacionais interagem umas com as outras, quer de uma forma cooperativa, quer competitiva, e de uma forma evolutiva, ou seja, a teoria evolutiva sociocultural pressupõe a variação, a seleção e a retenção das populações. A variação entre as populações significa a própria mudança. A seleção é outra dinâmica que ocorre entre as populações. E a retenção pode significar um elemento de estabilidade. De acordo com Monge, et al. (2011, p. 214), "a mudança é produzida por forças de variação e seleção que superam a inércia e, portanto, levam a uma evolução mais avançada". As populações organizacionais são, ainda, socialmente dependentes, ao interagirem entre si, donde, "os membros das organizações não existem de forma isolada. Ao contrário, eles estão conectados uns aos outros, por meio de uma variedade de relações de comunicação e de outras redes, com membros de sua própria organização e com membros de outras populações em suas comunidades organizacionais" (Monge, 2012, p. 31, sublinhados nossos). Logo, a realidade organizacional é socialmente construída através da comunicação (Putmam, 1992), isto é, os fenómenos das populações organizacionais são mantidos por força da comunicação, das relações e das redes entre os indivíduos e as populações. "Poucas populações organizacionais vivem isoladas; a maioria existe em comunidades sociais ou ecologias e estão interconectadas por várias relações e redes que constituem a infraestrutura de rede",

A propósito de comunidades organizacionais e de populações, cf. Cap. I.2.3. A teoria da Ecologia Organizacional surge na literatura como uma forma de explicação da relação entre a organização e o meio, e encontra-se explanada no Cap. III.1.1.

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referem Monge e Poole (2008, p. 681). Em suma: Esta teoria é aplicável em múltiplos níveis desde a comunicação e outros processos organizacionais entre populações de organizações, designada por microevolução, incluindo a geração de novas formas organizacionais e populações (speciation), para mudar em comunidades inteiras compostas por bastantes populações organizacionais diferentes, designada macroevolução (Amburgey et al., 1994). Monge & Poole, 2008, p. 683)

Outra das mais recentes perspetivas da Comunicação Organizacional, indicada por Monge e Poole (2008), é a do discurso organizacional. Esta começou a ganhar interesse para os estudos Organizacionais e de Gestão nos anos 1990, e graças ao envolvimento dos académicos da Comunicação Organizacional introduziram-se os tópicos da retórica organizacional, da conversação e do diálogo (Monge e Poole, 2008), narrativas, entre outros. Trata-se de um campo bastante vasto, mas que nos suscita especial atenção no que concerne às narrativas, aos diálogos e às conversações (que acontecem pela troca de mensagens entre partes) enquanto processo de organizar. Vários autores têm, portanto, seguido a vertente da análise do discurso organizacional, através do estudo das conversações que acontecem ao longo do tempo e que dão lugar a textos e outros suportes, sendo a base de todo o processo de criar a organização (Cooren, Taylor, & Van Every, 2006; Van Every & Taylor, 1998). Um assunto que retomaremos mais à frente (no ponto II.3.1), num debate mais alargado. Conjugando, agora, as perspetivas evolucionária e do discurso organizacional, segundo Monge e Poole (2008, p. 688), as populações "podem ser vistas como uma comunidade de multicamadas ou o conjunto de comunidades, estendidas desde o simples ato de organizar através da dialética do textoconversação até ao discurso que se espalha nas e entre as populações de organizações". E a Comunicação Interorganizacional pode, precisamente, inserir-se na comunicação dialógica entre organizações pertencentes aos universos organizacionais de transferência de conhecimento, donde a nossa investigação se encontra neste cruzamento das perspetivas evolucionária e do discurso

organizacional, mais concretamente, na ontologia dialógico-relacional da comunicação em populações de organizações. Para além destas perspetivas teóricas de abordagem à Comunicação Organizacional, introduzimos aqui os modelos de comunicação encontrados na pesquisa em Comunicação Organizacional, e, neste sentido, revimos a proposta teórica de Fisher (2007) que sugere cinco modelos: (1) uma-via; (2)

interação; (3) de relacionamento de duas-pessoas; (4) comunicação-em-contexto; e (5) estratégico. No modelo uma-via, o emissor usa intencional e deliberadamente a mensagem para influenciar o recetor; uma forma de comunicação, das mais antigas, assente na retórica, com finalidades persuasivas. É um modelo semelhante ao modelo assimétrico de Grunig e Hunt (Grunig & Hunt, 1984). O modelo de

interação acrescenta ao anterior os conceitos de canal e meio, codificação e descodificação da mensagem, ruído e feedback e introduz-se a questão da distorção das mensagens na receção. O modelo

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de relacionamento de duas-pessoas adiciona as perceções do outro e de cada um ao processo comunicativo, designado também por díades. (4) O modelo de comunicação-em-contexto chama à atenção para a influência do meio envolvente, cultura, características do grupo, estrutura da organização, entre outros, no processo de comunicação. (5) O modelo estratégico: a transação entre a organização e o meio envolvente reage à influência dos fluxos de informação do meio envolvente (exteriores) na formação da estratégia. Em síntese, o modelo de Fisher revela-se útil para o entendimento dos processos comunicativos, e quando aplicado à Comunicação Interorganizacional em rede faz destacar as variáveis das interações, das díades e da estratégia, não encerrando, contudo, um entendimento cabal das dimensões do fenómeno.

2.3 Evolução dos temas de investigação em Comunicação Organizacional Uma vez apresentados os entendimentos e as principais perspetivas da Comunicação Organizacional, partiremos para a análise da evolução dos temas de investigação, com o objetivo de legitimar os estudos de Comunicação Interorganizacional no contexto do campo académico da Comunicação Organizacional. Para tal, a sistematização do estado da arte da Comunicação Organizacional (Ruão, 2004), a tese de doutoramento de Teresa Ruão (2008) e os contributos mais recentes de (Broadfoot, Carlone, Medved, Gabor, & Taylor, 2008; Buzzanell, 2012; May, 2006; Mumby, 2011b; Zorn & Townsley, 2008) permitem construir o estado atual da pesquisa. De salientar que a maior parte dos estudos académicos da Comunicação Organizacional provêm das universidades Norte-Americanas, cujos artigos científicos são publicados, na sua maioria, no Management Communication Quarterly,

Organizations Studies, Communication Research, Communication Studies, Jornal of Communication, em conjunto com os livros especializados. Teresa Ruão (2004) terá sido uma das primeiras investigadoras em Portugal a dedicar-se ao estudo da Comunicação Organizacional, e o seu trabalho: “o estado da arte em Comunicação Organizacional. 1900 – 2000: Um século de investigação” retrata a literatura da academia NorteAmericana. No contexto internacional são de destacar um conjunto de trabalhos de revisão e que constituem importantes contributos para a história da Comunicação Organizacional, a saber: De entre os estudos mais notados são de referir as propostas de Tompkins (1967), Redding (1972), Jablin (1978), Tompkins (1984), Putnam e Cheney (1985), Redding e Tompkins (1988), Jublin, Putnam, Roberts e Portes (1987), Goldhaber e Barnett (1988), Wert-Gray, Center, Brashers e Meyers (1991), Allen, Gotcher e Seibert (1993), e Putnam, Philips e Chapman (1996). (Ruão, 2008, p. 41)

Seguindo a indicação da literatura (Tompkins & Wanca-Thibault, 2001), o primeiro estudo feito acerca da pesquisa organizacional, e no quadro da hegemonia dos investigadores e universidades norteamericanas (que têm ditado todo o debate da institucionalização do campo), foi feito por Tompkins

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(1967). Este autor analisou 100 estudos temáticos assentes em pesquisas empíricas, tendo proposto duas categorias de análise que refletiam as tendências de investigação no campo: 1) canais formais e informais de comunicação e 2) relações superior-subordinado. Em 1972, Redding destaca-se no estudo das organizações a partir dos princípios da comunicação humana, por ter trazido para o campo temas acerca da pertinência do recetor e da receção das mensagens. O autor faz a transição da orientação do discurso na perspetiva do emissor (de quem transmite a mensagem), para as questões de receção da mensagem, ou seja, dos estudos de emissão para os estudos da receção. Regra geral, os académicos assinalam que em cada década existem temas predominantes de pesquisa. Foi a essa conclusão que chegou Jablin, em 1978, quando estudou as questões marcantes da pesquisa nos anos 40 e 70. Segundo Tompkins e Wanca Thibault (2001) algumas dessas questões continuam a ser alvo de pesquisas nas décadas seguintes. Segundo Jablin (1978), em finais dos anos 70, início dos anos 80 do séc. XX, a revisão das pesquisas relacionadas com a Comunicação Organizacional segue uma concentração nos estudos em "psicologia organizacional/industrial, redes de comunicação, comunicação superior-subordinado, comunicação organizacional de grupo, feedback, performance e análise de desempenho, entre outros” (Tompkins & Wanca-Thibault, 2001, p. xxi). Ainda na década de 1980, Tompkins verifica que o modelo positivista prevalece nas pesquisas e que a maior parte das questões provêm da gestão, e desenvolveu, ainda, quatro categorias de análise que espelham os interesses da década: canais de informação formais e informais, os estudos de comunicação holística, como ordem social, e a quarta categoria das pesquisas, a comunicação intraorganizacional, a comunicação com o meio envolvente organizacional e a expansão para as pesquisas interorganizacionais (idem, p. xxii). As redes interorganizacionais iam-se tornando, cada vez, mais complexas, cada vez mais globais e os limites da organização tornam-se menos formais e rígidos, confirmava já Tompkins. Em 1980, dá-se uma importante mudança nas abordagens, no seguimento da primeira conferência de Alta (T. Kuhn, 2005). É nesta conferência que se dá a viragem para os estudos interpretativos que privilegiavam tópicos tais como a cultura e a identidade organizacional. E, em finais dos anos 80, Jablin sistematiza o estudo da comunicação organizacional em múltiplos e inter-relacionados níveis

de

análise:

relações

a

dois,

grupo,

organizacional

e

extra

organizacional,

e

multi/interdisciplinaridade. A maior sistematização dos estudos em Comunicação Organizacional, no entanto, foi feita por Allen, Gotcher e Seibert (1993) que analisaram a frequência de publicação e os tópicos de pesquisa mais importantes, pela sistematização das áreas de pesquisa em comunicação nas organizações, entre 1980 até 1991, chegando à seguinte frequência de publicações: (1) relações interpessoais; (2) competências comunicativas e estratégias; (3) cultura e simbolismo organizacional; (4) fluxos e canais de informação; (5)

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poder e influência; (6) resultados positivos associados à comunicação; (7) redes de comunicação; (8) processo de tomada de decisão e resolução de problemas; (9) estilos de comunicação e gestão; (10) interfaces organização-ambiente; (11) tecnologia; (12) estrutura; (13) linguagem e conteúdos das mensagens; (14) grupos e eficiência organizacional; (15) incerteza e adequação da informação; (16) ética; (17) pesquisa transcultural; (18) clima organizacional. Segundo Allen, et al., (1993), existia na altura pouca teoria nos estudos das redes de comunicação, à exceção da revisão teórica de Fulk e Boyd (1991), tendo sido os únicos a apontar um futuro teórico e um rumo para a investigação empírica. No campo da comunicação em rede, segundo a revisão da literatura de Allen, et al. (1993), são analisados os seguintes tópicos: resultados, antecedentes dos membros da rede, ligação entre tecnologia e redes, medição das redes e redes interorganizacionais. Quanto ao nível de análise, os autores indicam os estudos de redes individuais, de grupo e organizacionais. Desta forma, dentro da dimensão organizacional identificam-se os estudos de redes intraorganizacionais e, para o final da década, foi dada cada vez mais atenção aos aspetos das redes interorganizacionais. Os estudos das redes de comunicação (communication networks) interorganizacionais fazem parte do campo da pesquisa da Comunicação Organizacional e constituem um campo pouco explorado em Portugal. Esta temática adquiriu relevo na viragem do milénio e, relativamente aos estudos de comunicação em redes interorganizacionais, Allen, et al. (1993, pp. 274 - 275) identificaram pesquisas acerca do papel das redes interorganizacionais e da comunicação na transferência de inovação tecnológica (Ebadi & Utterback, 1984), concluindo, é favorável um ambiente propício à troca de informações entre os pesquisadores e as organizações E para facilitar esse fluxo de informações sugerem uma maior utilização de gatekeeprs; ou seja, pessoas que estão na fronteira organizacional e fazem a ligação a outras organizações. A segunda implicação baseia-se no facto de os projetos anteriormente bem-sucedidos poderem predispor alguns investigadores para comunicarem mais durante seus projetos atuais. Por isso, o sucesso de projetos de investigação anteriores pode ser utilizado enquanto indicação para o sucesso de outros projetos e vice-versa e isso pode ser tomado em conta no processo de financiamento de projetos. Outras temáticas foram identificadas por outros autores, por exemplo, o papel que as redes desempenham na perceção da legitimidade necessária para a sobrevivência de uma organização (Baum & Olivier, 1991), a perceção da imagem da empresa neste campo (Fombrun & Shanley, 1990), a utilização de informação das redes interpessoais e interorganizacionais para o processo de tomada de decisões (Galaskiewicz & Wasserman, 1989) e o processo de informação e tomada de decisão entre redes interorganizacionais (Lawless & Moore, 1989; Olivier, 1991). Por outro lado, um outro estudo de Mumby e Stohl (1996) que tentava disciplinar os estudos de Comunicação Organizacional defendeu o papel da comunicação como constituinte de organização, em vez da visão tradicional que lhe atribuía a mera função de processo de transmissão de informação. E no

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mesmo ano expressam um entendimento acerca dos estudos modernos e pós-modernos, assente nos pressupostos discursivos sobre as relações entre comunicação, identidade, conhecimento e aprendizagem. Sendo que Mumby considera estes discursos enquanto (a) representação do discurso (modernismo positivista), (b) discurso de entendimento (modernismo interpretativo), (c) discurso de suspeição (modernismo crítico), e (d) discurso de vulnerabilidade (o pós-modernismo), esboçando um conjunto de "requisitos de comunicação pós-modernos", como forma de ilustrar as conexões entre os estudos de pensamento e de comunicação pós-modernas (Mumby, 1997). Na viragem para o novo milénio, verifica-se um renascimento dos estudos das redes de comunicação, sobretudo fruto da participação nas redes sociais e profissionais. Os estudos centram-se nas redes sociais nas quais as empresas estão imbricadas e na relevância de considerar tais redes como verdadeiras arenas de poder. Os assuntos, neste início de milénio, versam sobre “vizinhanças, redes profissionais, projetos baseados na interação, alianças estratégicas, coordenação virtual” (Cheney, 2000b, p. 136). George Cheney evoca também a diversidade de estudos e a “necessidade de incorporar os estudos feministas, multiculturais, pós-coloniais e de orientação internacional no estudo da comunicação organizacional” (2000b, p. 132). Os resultados desta investigação indicam, ainda, que na década de 80 predominaram as pesquisas interpretativas e crítica, enquanto na década de 90 há uma diversidade de estudos (feminismo, multiculturalismo e internacionalismo) que se enquadram na perspetiva pós-moderna. Numa outra vertente, "os pós-modernistas tomam o discurso como central e essencial em todos os processos organizacionais. Eles percebem todos os entendimentos humanos e relações com sendo constituídos e mediados pela linguagem. Isto levou-os a adotar a metáfora do (inter) texto para estudar a comunicação organizacional" (B. C. Taylor, 2005, p. 121). Steve May (2006) apresentou, ainda, outras tendências de pesquisa, sendo estas as seguintes: Práticas e perspetivas éticas, e os estudos de casos que também cobrem um conjunto de tópicos típicos de muitos cursos de comunicação organizacional, tais como, liderança, trabalho em equipa, cultura organizacional, balanço família/trabalho, género, novas tecnologias, mudança organizacional, comunicação de crise, tomada de decisão, poder/resistência, conflito, assim como, os tópicos emergentes, tais como, teletrabalho e deslocamento (offshoring), entre outros. (May, 2006, pp. x-xi)

Mais recentemente, em 2008, a revista científica Management Communication Quarterly lançou um debate/fórum acerca do significado do trabalho, recolocando as questões das relações trabalho-casa e da vida particular nos estudos da Comunicação Organizacional (Zorn & Townsley, 2008). E, Mumby (2011a) recupera o tema da diferença, dando um novo enquadramento a este tópico de investigação. Em suma, e recorrendo à sistematização proposta por Stanley Deetz citado em Margarida Kunsch (2009, p. 3), podem estabelecer-se quadrantes para a divisão de estudos em Comunicação Organizacional, nos seguintes termos: estudos normativos, interpretativos, críticos, dialógicos ou pósmodernos. Identificamo-nos, particularmente, com a designação dos estudos dialógicos, entendimento

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concetual que adotamos nesta tese e que será mais à frente aprofundado. E não satisfeitos, ainda, complementamos a noção dos estudos pós-modernos com a proposta de Mary Jo Hatch (1997) a propósito dos estudos organizacionais pós-modernos, quando os compara à metáfora da colagem e à conjugação e ligação de pedaços de conhecimento reunidos para formar uma nova perspetiva tendo como referência o passado, pensamento esse que vai ao encontro de um entendimento similar, proposto pelo filósofo Edgar Morin (2001) para o séc. XXI - o de "religar os conhecimentos". Também o académico da Comunicação Bryan Taylor (2005) debateu a modernidade e a pós-modernidade organizacional, e de que forma essa mudança marcou um câmbio nas perspetivas da Comunicação Organizacional. Assim, à semelhança do artista que junta peças e faz uma colagem da realidade, Taylor (2005) remete para a construção de sentidos, sentidos que nem são universais, totais, neutrais nem permanentes. Religar pedaços de conhecimento e construir sentidos parece ser uma das filosofias dos estudos pós-modernos de Comunicação Organizacional. Concluindo sobre os temas de pesquisa em Comunicação Organizacional, em primeiro lugar, há uma tendência para os estudos das redes, das relações sociais e da Comunicação Interorganizacional em rede, nos últimos anos. Todavia, apesar do interesse crescente, o assunto está pouco desenvolvido, pelo que há ainda um amplo caminho a percorrer. Os estudos centraram-se, então, na análise das redes sociais nas quais as empresas estão imbricadas. Numa perspetiva evolucionária, os estudos em Comunicação Organizacional deslocaram-se para fora dos limites das organizações, evoluindo para as relações comunicacionais entre as organizações que fazem parte da esfera/ecossistema, ou seja, para tópicos de comunicação externa, Comunicação Interorganizacional e comunicação em rede. Tais estudos advêm de entendimentos teóricos sobre a criação de redes interorganizacionais, de alianças estratégicas e de organizações que se interligam em estratégias de cooperação com objetivos comuns. Apesar desta tendência e da atualidade do tema, não encontramos estudos de académicos da comunicação com o tópico da Comunicação Interorganizacional aplicada à transferência de conhecimento das universidades para as empresas. E, tendo em conta que esta revisão de literatura foi feita, sobretudo, em investigação proveniente das Escolas Norte-Americanas, interessava também saber qual a tendência dos estudos em Portugal. E uma vez que ainda não tinha sido feito essa investigação de mapeamento do estado da arte

dos estudos de comunicação organizacional em Portugal, realizámos uma pesquisa original que apresentamos em seguida.

3. Tendências da pesquisa em Portugal: Um estudo meta-teórico Esta investigação foi além da revisão da literatura publicada. Efetuámos uma pesquisa original partindo da recolha de informação acerca dos livros publicados em Portugal (de autores de língua

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portuguesa), as dissertações de mestrado e as teses de doutoramento defendidas em universidades portuguesas, no período de 1990 a 2009 (P. C. Ribeiro & Ruão, 2011, dezembro). Este foi um trabalho pioneiro e que teve por objetivo principal a investigação sobre o que tem sido realizado e publicado no campo académico da comunicação nas organizações, de forma a verificar se a investigação em Comunicação Interorganizacional tem sido um tema estudado, em que medida e circunstâncias. Assim, propusemo-nos analisar os conteúdos dos livros e das teses, os temas de investigação, as metodologias, os autores, as universidades e os centros de investigação, partindo das seguintes questões de pesquisa: Que tipo de estudos e temas em Comunicação Organizacional são desenvolvidos? Quais as metodologias seguidas? Que atores sociais estão envolvidos, investigadores, universidades e centros de investigação? E, mais ainda, no seguimento dos dados apurados, pretendemos ir mais longe, fazendo a comparação da investigação em Portugal com as tendências dos estudos da escola norte-americana. Este estudo sistematiza a informação por décadas, tendo resultado numa abordagem longitudinal. Assim, foram consideradas três décadas: a década de 1990 a 1999 (última década do séc. XX); a década de 2000 a 2009 (primeira década do séc. XXI); e o início da segunda década do séc. XXI (de 2009 a 2013). E partimos do método indutivo, a partir do qual surgiu a sistematização da informação, a análise de conteúdo e a quantificação dos dados (Tojal, Fonseca, Oliveira, Rebelo, & Oliveira, 2006). Em suma, o estudo constitui-se de uma primeira parte, onde se explica o recurso aos métodos qualitativos de análise e categorização documental e, uma segunda parte, com o tratamento de alguns dos dados sob a forma quantitativa. A investigação desenvolveu-se em diversas fases, integrando o levantamento das obras, compilação da informação, análise dos conteúdos, quantificação, discussão dos resultados, apresentação das conclusões e elencagem de pistas para as investigações futuras. A recolha de dados aconteceu entre novembro de 2010 e janeiro de 2011, dados que nos permitiram estudar a última década do séc. XX e a primeira década do séc. XXI. Este trabalho culminou com a apresentação de uma comunicação no VII

Congresso da SOPCOM (P. C. Ribeiro & Ruão, 2011, dezembro) e com a publicação do artigo Tendências da pesquisa em Comunicação Organizacional em Portugal – Um estudo de 1990 a 2009, nas atas do congresso (P. C. Ribeiro & Ruão, 2012). Posteriormente , com a publicação de uma parte no e-book 50

Comunicação organizacional e relações públicas, numa travessia conjunta (Ruão, et al., 2014a) podemos atualizar a investigação até 2014. Os termos de pesquisa utilizados foram os conceitos de «Comunicação Organizacional»,

Em maio de 2013, e especificamente para o 1º Encontro do GT de Comunicação Organizacional e Institucional da SOPCOM, realizado a 12 de julho, na Universidade do Minho, em Braga, fizemos uma atualização desta pesquisa até ao ano de 2013 (Ruão, et al., 2013, julho). Este trabalho levou-nos até a propor, em junho de 2013, a criação de um Observatório de Produção Editorial e Científica em Comunicação Organizacional (sediado na Universidade do Minho, no seio do CECS – Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade), sob a orientação de Paula Ribeiro e Teresa Ruão. 50

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«Relações Públicas», «Comunicação Empresarial51», quer no título, quer no assunto, de forma a alcançar algumas das subdisciplinas de cada uma das áreas. Posteriormente tivemos acesso aos conteúdos, através dos ficheiros digitais presentes em cada repositório da instituição que conferiu o grau académico de mestre ou de doutor. Para além da identificação e catalogação na base de dados, fizemos uma análise dos conteúdos através da leitura dos índices, da introdução e de, eventualmente, algumas partes dos livros para um esclarecimento mais detalhado das questões de pesquisa. A investigação seguiu a seguinte ordem de trabalhos: A primeira fase – pesquisa nos catálogos bibliotecários ; A segunda fase – criação de uma base de dados com os títulos, os autores, a data de edição, o local de edição, a editora, a classificação da área do livro segundo as áreas da comunicação nas organizações que vimos logo no início deste capítulo ; A terceira fase – análise documental tendo por base a análise dos conteúdos das obras (análise do tema dos títulos, índices e dos pressupostos enunciados nas introduções e nas conclusões); A quarta fase – categorização dos livros, tendo por base três categorias de sistematização: Manuais - ensaios teóricos generalistas acerca de conceitos, técnicas e problemáticas; Pesquisas - ensaios práticos em que estão definidos claramente o objeto de pesquisa, os objetivos, as questões de partida, os métodos, a apresentação e discussão dos resultados e as conclusões do estudo. Crónicas – conjunto de textos escritos publicado em jornais ou revistas. A quinta fase - análise dos estudos: temas, metodologias utilizadas, autores, organizações de ensino superior. 52

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Quadro 8: Etapas da pesquisa literária sobre Comunicação Organizacional em Portugal Fonte: Elaboração do autor

Sabemos que a primeira pesquisa sobre a literatura de comunicação nas organizações foi elaborada por uma equipa de investigadores do Instituto Superior da Maia, sob a coordenação de Manuel Tojal (2006), e está inserida no livro Relações públicas – O reconhecimento da profissão em Portugal. Disso resultou um capítulo que compila a bibliografia portuguesa em Comunicação Organizacional e Relações Públicas, com uma descrição de todos os livros de comunicação empresarial, institucional, estratégica e Relações Públicas, publicados no país, por autores portugueses, entre 1979 e 2004. A conclusão principal de Tojal e dos seus colegas (2006) foi a de que “só a partir de 1991 terminaram nesta área editorial os longos hiatos ocorridos, nomeadamente entre 1982-1986 e entre 1986-1989. Com efeito a partir desta data até à atualidade, embora de uma maneira geral a produção não tenha aumentado significativamente, quase todos os anos se registaram novas publicações” (Tojal, et al., 2006, p. 32), o que também aconteceu nas duas décadas seguintes. Comparativamente com a pesquisa dos investigadores do Instituto Superior da Maia, a nossa investigação foi mais longe, com a introdução das dissertações de mestrado e das teses doutoramento. Em Portugal o termo mais comum para traduzir a Corporate Communication é Comunicação Empresarial, uma vez que o termo corporativo remete para outro significado, o das corporações e do corporativismo, o que não é de todo o significado origem do termo em Inglês, pelo que os autores tenham sempre preferido a expressão empresarial, apesar de este termo também ser uma tradução para a communication managmnent. O acesso à informação foi feito através da pesquisa no catálogo das bibliotecas nacionais e da consulta das obras em bibliotecas nacionais com depósito legal. O acesso às teses e dissertações foi feito on-line e através dos documentos digitais disponíveis no site RCAAP – Repositório Científico de Acesso Aberto em Portugal. Ver Apêndice A. 51

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Esta pesquisa inicia-se, então, com os resultados da recolha da Bibliografia portuguesa sobre

Comunicação Organizacional / Relações públicas (Tojal, et al., 2006, pp. 30-34) e com os dados obtidos no catálogo da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva (da Universidade do Minho, em Braga), o que levou à análise de cada uma das obras, desde 2004 até 2013. E, para efeitos de enquadramento, em termos históricos, a primeira obra publicada nesta área, por um autor português, surge em 1979. Trata-se do primeiro ensaio de Joaquim Martins Lampreia, intitulado Técnicas de comunicação, publicidade,

propaganda, relações públicas, editado pelas Publicações Europa-América. De 1979 a 2004 toda a edição está detalhadamente descrita no trabalho de Tojal e dos seus colegas (2006, pp. 30-34), pelo que a análise da descrição da bibliografia desta investigação inicia no ano de 2004.

3.1 Produção literária Prosseguindo, então, o estudo de Tojal, et al. (2004), ainda no ano de 2004, foi também publicada, da autoria de Maria Helena Faveiro, o livro Identidade e imagem organizacional, (editado pela Universidade Lusíada de Lisboa, na coleção Manuais). Licenciada e mestre em Gestão, a autora desenvolve um ensaio de natureza teórico-concetual, em torno dos conceitos de identidade visual, identidade corporativa e marcas. É neste momento que aparece na literatura portuguesa o conceito de identidade e de imagem organizacional. Esta obra enquadra-se na categoria «Manuais». Neste ano, também, é publicada, pela Quimera, a primeira edição do livro de Joaquim Caetano e Luís Rasquilha, Gestão da Comunicação, com reedições em 2005, 2007 e 2009. Um livro estruturado segundo a matriz da comunicação comercial integra a análise de um conjunto de técnicas de comunicação, na linha do «Mix de comunicação» de Kotler. Trata-se de instrumentos de comunicação muito conhecidos que englobam as Relações Públicas (centradas na construção dos conceitos de imagem institucional e de identidade corporativa), o patrocínio, a publicidade, o merchandising, as promoções, o

marketing direto, as feiras e os eventos. Este livro foi classificado na categoria «Manuais», na linha da gestão da comunicação ao serviço da promoção de produtos. Os casos práticos integram a última parte do livro e são exemplos ilustrativos de situações práticas associadas a algumas técnicas de comunicação. Neste mesmo ano, Arménio Rego e Miguel Pina e Cunha editam Comunicar: Aprenda as regras

de ouro das apresentações em público, da editora Dom Quixote. Um livro dirigido aos gestores das empresas, cujas competências em comunicação são fundamentais para o exercício da sua atividade, concretamente no desenvolvimento de técnicas de apresentação oral, de forma a melhorar a eficácia da comunicação dos gestores. O conteúdo do livro traduz a experiência dos autores, assim com uma revisão da literatura (Arménio Rego & Cunha, 2005). Esta obra foi classificada na categoria "Manuais". Em 2006, surge um livro classificado na categoria «Pesquisas», da autoria da professora

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universitária Teresa Ruão, da Universidade do Minho, intitulado: Marcas e identidades: Guia da conceção e

gestão das marcas comerciais, editado pelo Campo das Letras, do Porto. Este livro surgiu no âmbito da dissertação de mestrado. Trata-se da apresentação de estudo de caso aplicado à marca Vista Alegre, com o objetivo de “investigar a identidade da marca, reconhecendo os seus traços caracterizadores e percebendo de que forma é usada para representar a promessa da empresa a apelar ao consumo” (Ruão, 2006). Os capítulos iniciais são dedicados ao corpo teórico dos conceitos: marcas, identidade, comunicação de marca e imagem, e os capítulos seguintes tratam da discussão metodológica, da apresentação dos resultados e do diagnóstico de identidade da marca. Ainda em 2006, uma equipa coordenada pelo professor universitário Manuel Tojal, lança o livro

Relações públicas – O reconhecimento da profissão em Portugal, editado pelo ISMAI (instituição de ensino superior privada) na coleção “Cadernos Universitários”. Uma linha editorial que articula o rigor científico e a divulgação, respondendo às responsabilidades do ensino superior (Tojal, et al., 2006). Este estudo visa estudar a regulamentação e a institucionalização das Relações Públicas em Portugal, desde os anos 1960 até 2004. Os autores explicam que foi seguido o “método indutivo, uma vez que partimos da recolha e observação dos factos para, numa segunda fase, passarmos à análise e sistematização dos mesmos” (idem, p. 13). Depois utilizaram o método comparativo para estudarem o mesmo fenómeno em Espanha, França, Itália e Brasil. Na fase inicial foi seguido o método da observação documental, através da leitura de ensaios, periódicos, sites e documentação histórica das associações do sector. Posteriormente utilizaram a observação direta, as entrevistas semidiretivas, questionários e análise de conteúdo. Os resultados dos inquéritos foram tratados qualitativamente, através da análise estatística. O livro foi classificado na categoria «Pesquisas» e está estruturado da seguinte forma: o profissional de Relações Públicas e a Comunicação; as problemáticas acerca da designação e dos significados e conotações dos conceitos; a história do processo de regulamentação/oficialização da profissão; o estudo comparativo das metodologias utilizadas na condução do processo nalguns países em que a profissão já foi objeto de reconhecimento oficial e a problemática do reconhecimento vista pelos profissionais da área. No ano seguinte, em 2007, Joaquim Caetano e Luís Rasquilha lançam o segundo livro, Gestão e

planeamento de comunicação. A publicação do atual volume foi feita na coleção «Gestão», da Quimera Editores. Trata-se de um livro classificado na categoria «Manuais», por ser uma obra de carácter não científico, adequada a níveis de ensino iniciais. Os case studies são baseados em campanhas publicitárias, casos cedidos pelas empresas em análise. Este livro constitui um manual de gestão da comunicação empresarial. Ainda neste ano, Bruno Valverde Cota (doutorado em Gestão de Empresas), professor associado da Universidade Lusíada, coordena o livro Publicidade e mercados: Nova abordagem de comunicação

empresarial, escrito também por Ana Cordas, Maria Tomaz e Pedro Nascimento, e editado na coleção

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“Manuais”, pela Universidade Lusíada de Lisboa. Este livro foi classificado na categoria «Manuais», pois trata-se de uma obra genérica, para um público que procura saber mais sobre a comunicação das empresas, e estruturada entre a comunicação interna, a comunicação externa e a comunicação integrada, indo buscar o conceito de mix de comunicação, na corrente de pensamento da comunicação de gestão. Também em 2007, Arménio Rego (doutorado em Gestão de Empresas), professor da Universidade de Aveiro, através da editora Sílabo, lança o manual Comunicação pessoal e organizacional:

Teoria e prática, com uma segunda edição, revista e atualizada em 2010; ao mesmo tempo é editado online um manual de exercícios de comunicação, extremamente didático, acessível através do site da editora. Pela primeira vez surge a designação de Comunicação Organizacional, ainda que vista na perspetiva dos académicos da área da Gestão de Empresas. Este manual, a primeira obra de profundidade, tem como objetivos: Ajudar os gestores e outros membros organizacionais a comunicarem mais eficazmente. Facultar aos professores e formadores das áreas da comunicação organizacional e afins uma ferramenta de trabalho útil, prática, rigorosa e de leitura agradável. Fornecer aos estudantes do ensino superior (designadamente de gestão, comportamento organizacional, gestão de recursos humanos, psicossociologia das organizações, liderança) os conhecimentos fundamentais sobre a comunicação nas organizações e a comunicação em geral. (A. Rego, 2010, p. 20)

Outra obra na categoria «Manuais», de 2008, de Luís de Matos, Joaquim Caetano e Luís Rasquilha, Manual de comunicação empresarial, foi editado pela Plátano Editora, muito na linha dos manuais de gestão da comunicação. Neste ano, surge também o título Interpreta – Comunicação e visão

estratégica, da autoria de Alexandre Gonçalves, pela editora Ecopy, um conjunto de crónicas escritas no jornal Terras da Beira, classificado na categoria «Crónicas». No ano de 2009, surgem três títulos, sendo um deles uma «Pesquisa» de José Seruya, professor da Universidade Católica de Lisboa, intitulada Gestão da identidade organizacional é PT! A marca interna

da Portugal Telecom, editada pela editora Principia. O livro é adaptado da sua tese de doutoramento em Ciências de Gestão, de 2008, pela Universidade de Lyon. O autor segue a metodologia qualitativa de estudo de caso para estudar a gestão da identidade organizacional de um grupo; um estudo em Comunicação Organizacional, identidade organizacional interna do Grupo Portugal Telecom, visto pelo ponto de vista da gestão das empresas. Há ainda a registar neste mesmo ano mais duas estreias. Sónia Pedro Sebastião edita pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Comunicação estratégica - As relações públicas, designado pela própria autora no prefácio do livro como um manual pedagógico, especialmente dirigido aos estudantes de Ciências da Comunicação do Instituto. Chamar-lhe-íamos uma sebenta, com os conteúdos programáticos lecionados nesta instituição de ensino superior. Um livro muito abrangente, aprofundado, atualizado e com rigor académico suficiente para ser um manual de comunicação

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estratégica, com enfoque nas "Relações Públicas como técnica de comunicação" (Sebastião, 2009, p. 13), dirigido para os docentes e estudantes de instituições de ensino superior ou profissionais da área da comunicação. Outro dos livros que vem à estampa neste ano, As relações públicas sem croquete: Uma visão

moderna das relações públicas, de Renato Póvoas, o autor do primeiro blogue sobre Relações Públicas em Portugal, editado pela GestãoPlus, em outubro de 2009, traz uma visão de quem faz Relações Públicas no seu dia-a-dia. Um «Manual» voltado para o mundo, para a realidade, para os casos práticos, para o saber fazer, ligeiro e em tom de fácil leitura. No ano de 2010, todas as pesquisas saíram da Universidade da Beira Interior - do Laboratório de Comunicação On-Line (LabCom) e de investigadores de Ciências da Comunicação. Livros LabCom é um projeto editorial que disponibiliza em formato digital todos os livros publicados. O Laboratório de

Comunicação On-line, com acesso através do URL: http://www.labcom.ubi.pt, é um espaço físico e virtualmente afeto ao Departamento de Comunicação e Artes da Universidade da Beira Interior, promovendo a "via do on-line como território de publicação e divulgação de obras de carácter científico”. São publicados, por conseguinte, na área da comunicação aplicada às organizações, quatro estudos científicos teóricos: uma monografia, de Gisela Gonçalves, Introdução à teoria das relações públicas. Utilizando as palavras de Jordi Xifra, no prefácio do livro, esta é uma obra que "expõe e analisa, em moldes científicos exemplares, o desenvolvimento dos principais paradigmas das Relações Públicas nos Estados Unidos e na Europa, recorrendo às teorias mais relevantes desenvolvidas até à data", tendo dado um contributo para o entendimento das Relações Públicas à luz da teoria dos sistemas. Com edição de Ivone Ferreira e Gisela Gonçalves, Retórica e mediatização: As indústrias da

persuasão, um livro acerca da retórica dos media, das indústrias persuasivas (utilizando a designação do professor António Fidalgo no prefácio do livro), da Publicidade, das Relações Públicas e até do Jornalismo. Saber de que forma a retórica ajuda os diversos média a atingirem os objetivos de comunicação, persuadindo os diversos públicos, e de que forma o estão a fazer, foi o tema de um debate em Maio de 2009, na Universidade da Beira Interior, nas Jornadas de retórica e mediatização, dedicadas às Indústrias

da Persuasão que contou com a presença de investigadores portugueses, brasileiros e espanhóis. As pesquisas efetuadas por investigadores portugueses versam sobre a publicidade persuasiva na Web 2.0 e a interatividade nas estratégias das campanhas legislativas de 2009 em Portugal, e ainda, a entrada no mundo do lóbi, apresentado por, provavelmente, o maior profissional português, Joaquim Martins Lampreia, autor dos primeiros livros de Comunicação Empresarial em Portugal. Ainda no ano de 2010, Eduardo Camilo publica Ensaios de comunicação estratégica, nos livros LabCom. Por altura da comemoração do 18.º aniversário da sua carreira docente na Universidade da Beira Interior, o autor homenageia alguns amigos e aproveita para coligir uma amostra representativa de

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ensaios que é ilustrativa de diversos rumos e preocupações de investigação: a) a comunicação corporativa aplicada às autarquias locais (municípios); b) a análise do discurso político (cartazes político-partidários, Portugal, 1974-1975); c) as teorias da comunicação publicitária e a análise do discurso publicitário (comercial). A natureza da obra remete para a categoria «Pesquisas». Abílio da Fonseca edita de novo, em 2011, na série Estudos e monografias, do Instituto Superior da Maia, uma investigação teórica das Relações Públicas ao longo dos tempos, em diversos países e em Portugal, dando origem ao livro Para uma história das relações-públicas, classificado na categoria «Pesquisa». O capítulo: As Relações-Públicas em Portugal (Fonseca, 2011, pp. 83-113) é uma narrativa muito importante sobre a história, os eventos, os atores sociais, as associações do setor e os cursos em Portugal. Este estudo relata objetivamente uma grande parte da realidade Portuguesa, com uma ênfase detalhada para o contributo do Instituto Superior da Maia para o campo e institucionalização das Relações Públicas. Em 2011, a Publiçor, editora da Ilha dos Açores, trouxe à luz Mais capital com as relações

públicas, de João Figueiredo, uma compilação de crónicas publicadas em jornais regionais açorianos em prol da defesa da importância das RP para as organizações, ou seja, um conjunto de textos de opinião que foram classificados na categoria «Crónicas». Ainda neste ano, a UBI acolheu nos dias 5 e 6 de maio de 2011 o Workshop da European

Communication Research and Education Association (ECREA), e em 2012, sob a edição de Gisela Gonçalves, são publicadas pelo LabCom as atas do Workshop do Grupo de Comunicação Organizacional e Estratégica da ECREA, subordinado ao tema: Dialogue imperative: Trends and challenges in strategic and

organizational communication (G. Gonçalves, 2012). Nesta publicação estão editadas algumas das comunicações proferidas por investigadores portugueses e europeus que são o resultado de investigações, pelo que se classifica na categoria «Pesquisas». Em 2013, Gisela Gonçalves trás à estampa pela Editora Minerva de Coimbra, A ética das relações

públicas. Doutorada em Ciências da Comunicação, professora da Universidade da Beira Interior UBI) e investigadora do LabCom, a autora traz para a edição mais uma «Pesquisa» para a consolidação teórica e académica das RP. Ainda neste ano, a editora Livros LabCom, da UBI edita um conjunto de pesquisas apresentadas no encontro da ECREA, sob a edição de Gisela Gonçalves, Ian Somerville e Ana Melo. A obra, em língua inglesa, trás à luz artigos de investigadores portugueses de Ciências da Comunicação, dos centros de investigação CECS e LabCom, da UM e da UBI, e também de investigadores europeus. Também neste ano, em julho de 2013, realizou-se o 1º Encontro do GT de Comunicação

Organizacional da SOPCOM, na Universidade do Minho, e contou com a presença de quase todas as instituições de ensino superior do país, ministrantes de cursos de comunicação nas organizações. No seguimento deste debate, em 2014, é editado, pelo CECS (centro de Estudos de Comunicação e

A Comunicação Interorganizacional em Rede na Transferência de Conhecimento: A abertura das universidades às empresas Ribeiro, P. C. (2016). O campo académico da comunicação nas organizações (pp. 63-139). Braga: Universidade do Minho.

Sociedade da UMinho, o livro eletrónico Comunicação organizacional e relações públicas: Horizontes e

perspetivas, de Ruão, Freitas, Ribeiro, & Salgado (2014b). Concluindo esta análise pormenorizada e exaustiva, o Quadro 9 reúne todas as obras e autores, segundo uma divisão histórica em décadas, logo, numa análise longitudinal. As obras foram agrupadas em três décadas, permitindo fazer uma cobertura de 24 anos do campo em Portugal, o que corresponde, praticamente, a todo o período histórico da realidade no contexto português. Utilizamos, visualmente, a cor branca para identificar as obras classificadas na categoria «Manuais» e a cor cinzenta claro para destacar os livros que contêm pesquisas empíricas, classificadas na categoria «Pesquisas». Acerca das categorias do estudo (cf. Ribeiro & Ruão, 2012). Desta forma, fica assim traçado o panorama nacional da produção científica e literária, espelhando as obras e os autores de referência neste campo.

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Última Década do séc. XX De 1990 a 1999

1.ª Década do séc. XXI De 2000 a 2009

2.ª Década do séc. XXI De 2010 a 2014

Identidade da empresa e gestão pela cultura (Reto & Lopes, 1990). As relações com a imprensa (H. T.

Cultura organizacional: Comunicação e identidade (D. Gomes, 2000). Dicionário de relações públicas (Moutinho,

Introdução à teoria das relações públicas (G.

Relações públicas (M. Oliveira, Pais, &

A comunicação estratégica (J. E. Reis, 2002).

Correia, 1991). Cabrito, 1991).

Publicidade e comunicação (A. Gomes,

1991). Marketing, patrocínio e mecenato (Mendes, 1991).

Comunicação empresarial: As relações públicas na gestão (M. Lampreia,

1992).

2001).

Internet e comunicação online - Internet e comunicação promocional (Camilo, 2003). Colapsos e reparações de sentido nas organizações (Andrade, 2003). A comunicação interna na empresa (Almeida, 2003).

Imprensa empresarial: Da informação à comunicação (J. M. Santos, 1995).

Publicidade e comunicação empresarial: Perspetivas e contributo (P. Cardoso & Gaio,

Imagem pessoal - Imagem empresarial

Identidade e imagem organizacional (Faveiro,

(Salema, 1996).

2004). 2004).

Imagem e sucesso: Guia de protocolos para empresas (I. Amaral, 1997).

Comunicar na clínica, na educação, na investigação e no ensino (Gomes-Pedro &

A negociação entre jornalistas e fontes (Santos, 1997).

Gestão da comunicação (J. Caetano & Rasquilha, 2004). Comunicar (Arménio Rego & Cunha, 2005).

Estratégias de comunicação municipal (Camilo, 1998).

Barbosa, 2004).

Comunicação institucional: Contributo das relações públicas (A. Fonseca,

Manual de comunicação empresarial (Matos,

A assessoria de imprensa nas relações públicas (2.ª ed. Rev. e Aumentada) (J.

Marcas e Identidades: Guia da conceção e gestão das marcas comerciais (Ruão, 2006).

Dicionário de relações públicas (A.

Relações Públicas: O reconhecimento da profissão em Portugal (Tojal et al.2006). Gestão e planeamento da comunicação

Gonçalves, 2010).

Retórica e mediatização: As indústrias da persuasão (I. Ferreira & Gonçalves, 2010) Ensaios de comunicação estratégica (Camilo, 2010).

Para uma história das relações-públicas (Abílio Fonseca, 2011).

Mais capital com as relações públicas (Figueiredo, 2011).- Crónicas

The dialogue imperative: Trends and challenges in strategic and organizational communication (G. Gonçalves, 2012).

Ética das relações públicas (G. Gonçalves, 2013).

Organisational and strategic communication research: European perspectives (GonçAlves, Somerville, & Melo, 2013). Comunicação organizacional e relações públicas: Horizontes e perspetivas (Ruão, T., Salgado, P., Freitas, R., & Ribeiro, P. C. (Eds.), 2014).

Caetano, & Rasquilha, 2007).

1998).

M. Lampreia, 1999). Fonseca, 1999).

Cultura empresarial e criação de empresas (J. Carvalho, 1999). Comunicação nas organizações. Teoria e prática (A. Rego, 1999).

(Joaquim Caetano & Rasquilha, 2007).

Publicidade e mercados: Nova abordagem de comunicação (Cota et al.2007). Comunicação pessoal e organizacional: Teoria e prática (A. Rego, 2010). Interpreta - comunicação e visão Estratégica (A. Gonçalves, 2008).

Comunicação estratégica - As relações públicas (Sebastião, 2009).

Relações públicas sem croquete: Uma visão moderna das relações públicas (Póvoas, 2009). Gestão da Identidade Organizacional é PT! A marca interna da Portugal Telecom (Seruya, 2009).

Quadro 9: Literatura Portuguesa em Comunicação Organizacional, empresarial e relações públicas de 1990-2014 Fonte: Elaboração própria, através dos dados recolhidos no catálogo da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, em Braga, equiparada a biblioteca com depósito legal e na bibliografia portuguesa sobre Comunicação Organizacional / Relações Públicas, (Tojal, et al., 2006, pp. 30-34).

A Comunicação Interorganizacional em Rede na Transferência de Conhecimento: A abertura das universidades às empresas Ribeiro, P. C. (2016). O campo académico da comunicação nas organizações (pp. 63-139). Braga: Universidade do Minho.

3.2 Principais temas e tópicos da literatura A categorização nasce da análise dos conteúdos e da identificação com temas revistos na literatura. No estudo de 2011 usámos oito categorias: (1) Relações Públicas e Relações com a Imprensa, (2) Comunicação Empresarial, (3) Cultura e Identidade Organizacional, (4) Comunicação nas Organizações, (5) Comunicação Estratégica, (6) Comunicação Interna, (7) Imagem Empresarial, (8) Comunicação Institucional. Mas, em 2013, na atualização do estudo, sentimos a necessidade de separar a categoria das Relações Públicas, das Relações com a Imprensa. E porquê? Porque embora o serviço de relações com os jornalistas e de assessoria de imprensa faça parte do trabalho de Relações Públicas, a separação em duas categorias permite aferir acerca da dimensão e da evolução de cada uma das áreas temáticas. Assim, na Tabela 3 as categorias aparecem juntas e, na Tabela 4, surgem já separadas e com a extensão à segunda década do séc. XXI.

Temas

1990-1999

2000-2009

Total

7 2 1 1 1 2 1 0

3 5 4 1 1 2 0

10 7 5 2 2 2 2 1 0

Relações Públicas e Relações com a Imprensa Comunicação Empresarial Cultura e Identidade Organizacional Comunicação nas Organizações Comunicação Estratégica Comunicação Interna Imagem Empresarial Comunicação Institucional Comunicação Interorganizacional e em rede

Tabela 3: Temas de comunicação nas organizações publicados em Portugal I (1990-2009) Fonte: Elaboração própria

Temas Relações Públicas Relações com a Imprensa Cultura e Identidade Organizacional Imagem Empresarial Comunicação Empresarial Comunicação nas Organizações Comunicação Estratégica Comunicação Institucional Comunicação Organizacional Comunicação estratégica e organizacional Comunicação Interna Comunicação Interorganizacional e em rede

1990-1999

2000-2009

2010-13

Total

3 4 2 2 2 2 2 0

3 4 7 3 2 1 1 0

4 -

10 4 6 2 10 5 3 2 1 2 2 0

1 1 2 0

Tabela 4: Temas de comunicação nas organizações publicados em Portugal II (1990-2013) Fonte: Elaboração própria (junho de 2013).

Assim, da leitura dos dados concluímos que na última década do séc. XX a produção da literatura versa maioritariamente sobre temas de Relações Públicas, em conjunto com a temática das relações com a imprensa, sendo este um público privilegiado. O tema da imagem empresarial/organizacional é outro

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CAPÍTULO II: O CAMPO ACADÉMICO DA COMUNICAÇÃO NAS ORGANIZAçÔES Ribeiro, P. C. (2016). O campo académico da comunicação nas organizações (pp. 63-139). Braga: Universidade do Minho.

dos temas florescentes, assim como as questões da cultura, da identidade organizacional e da comunicação estratégica. Em 1999 surge o primeiro livro acerca da Comunicação nas Organizações (A. Rego, 1999), uma obra dedicada à comunicação no interior das organizações que constitui uma viragem à hegemonia da literatura sobre a comunicação externa, com enfase nas relações públicas, nas relações com a imprensa, na publicidade e na imagem institucional. Na volta do milénio, o tema da cultura organizacional aparece enquanto tema dominante. E na primeira década do séc. XXI, verifica-se a diminuição da literatura centrada nas Relações Públicas e uma cresceste preocupação com a visão estratégica da comunicação, bem como, com a Comunicação Empresarial (vista, sobretudo, sob o ponto de vista da comunicação integrada de marketing e da necessidade da gestão e do planeamento estratégico da comunicação). Esta constatação vai também ao encontro dos resultados obtidos por Tojal, et al. (2006): É igualmente percetível uma tendência para o estudo da sua aplicação a determinados segmentos da atividade, como é o caso da assessoria de imprensa, jornalismo empresarial, protocolo, patrocínio e mecenato ou gestão de crise. É justo, no entanto, referir-se que, nos últimos anos, os estudos publicados no nosso país sobre comunicação organizacional evoluíram por uma visão de certo modo ampla, compreendendo, por exemplo, o clima e a cultura organizacionais, a problemática da comunicação pública e a comunicação estratégica. (Tojal, et al., 2006, p. 30)

Assiste-se, também, ao florescimento dos temas relacionados com a gestão simbólica de empresa, com os temas da cultura e da identidade organizacional (com o especial contributo dos estudos pós-modernos), com a marca e com a comunicação interna, numa hegemonia da dimensão simbólica, estratégica e interna. Mais recentemente, a segunda década do séc. XXI está marcada pela investigação académica em Relações Públicas, voltada para os estudos teóricos do campo (Gisela, 2010, 2011, 2013). De salientar que, em 2012 e 2013, os investigadores nacionais e europeus apresentam vários estudos compilados na obra The dialogue imperative: Trends and challenges in strategic and organisational communication (Gonçalves, 2012, e Gonçalves, et al., 2013), uma obra dedicada ao campo da Pesquisa em Comunicação Estratégica e Organizacional.

3.3 Tendências das pesquisas científicas Década após década os autores portugueses criam e desenvolvem um novo corpo teórico de conhecimentos sobre a comunicação nas organizações. Na Tabela 5 pode observar-se isso mesmo e verificar duas realidades. Por um lado, um crescimento mais acentuado no início do séc. XXI e, por outro, um crescimento da pesquisa científica em detrimento dos manuais teóricos.

A Comunicação Interorganizacional em Rede na Transferência de Conhecimento: A abertura das universidades às empresas Ribeiro, P. C. (2016). O campo académico da comunicação nas organizações (pp. 63-139). Braga: Universidade do Minho.

Década

Manuais teóricos

Pesquisas científicas

Total

1990-1999

15 (94%)

1 (6%)

16

2000-2009

15 (75%)

5 (25%)

20

2010-2014

(0%)

8 (100%)

8

Total

30 (68%)

14 (32%)

44

Tabela 5: Evolução dos manuais teóricos e das pesquisas científicas em Portugal Fonte: Elaboração própria.

Verifica-se, assim, que até 2009 cerca de três quartos dos livros (75%) ainda refletem uma tendência para a pesquisa documental (suportada por conteúdos teóricos, mas também pela análise de casos reais retirados de situações concretas do quotidiano das empresas e das organizações para uma melhor compreensão dos assuntos), por seu turno, regista-se um aumento de publicações que resultam de pesquisas científicas (de 6%, na década de 90, para 25%, na primeira década do séc. XXI), o que evidencia o crescimento das mesmas e a tendência para a produção de conhecimento científico nesta área. Na segunda década do séc. XXI (até 2014) dá-se a inversão total na natureza dos conteúdos, com a produção científica e os estudos publicados a aumentarem para 100% e os manuais a decrescer para 0%, conforme dados da Tabela 5 e dos Gráficos Gráfico 1, 2, 3 e 4.

20 15

14

15

8

10 5 5

1

0

0 1990-1999

2000-2009

Pesquisas Científicas

2010 - 2014

Manuais Teóricos

Gráfico 1: Pesquisas científicas versus manuais teóricos Fonte: Elaboração do autor

Em termos percentuais e comparando os três momentos históricos, infere-se o evidente crescimento da investigação e o decréscimo dos manuais com menor rigor académico.

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CAPÍTULO II: O CAMPO ACADÉMICO DA COMUNICAÇÃO NAS ORGANIZAçÔES Ribeiro, P. C. (2016). O campo académico da comunicação nas organizações (pp. 63-139). Braga: Universidade do Minho.

1990-1999 6%

94% 1

2

Gráfico 2: Relação entre os manuais e as pesquisas em Comunicação Organizacional (1990-1999) em Portugal Fonte: Elaboração do autor

2000-2009 25% 75%

1

2

Gráfico 3: Relação entre os manuais e as pesquisas em Comunicação Organizacional (2000-2009) em Portugal Fonte: Elaboração do autor

2010 - 2014 0% 100%

1

2

Gráfico 4: Relação entre os manuais e as pesquisas em Comunicação Organizacional (2010-2014) em Portugal Fonte: Elaboração do autor

De acordo com os resultados obtidos, o número de pesquisas científicas publicadas tem vindo a aumentar, ganhando peso em relação aos manuais de comunicação. E a tendência encontra-se no aumento das publicações dos investigadores de Ciências da Comunicação, com especialização organizacional, o que vem expressando a autonomia, a institucionalização e o amadurecimento do campo de pesquisa em Comunicação Organizacional e das Relações Públicas. Sobre o crescimento das investigações académicas, conclui-se que terá tido início já no séc. XXI. Na primeira década do século, as pesquisas correspondiam a 25% das obras, e na segunda década (até 2014) verifica-se que todos os livros contêm investigação científica, quer sejam pesquisas teóricas ou empíricas. Que investigação tem, então, sido feita? Quais os temas de investigação que têm suscitado interesse aos académicos e profissionais? No Quadro 10 são apresentadas as obras editadas e que contêm pesquisas, os seus autores e as instituições de ensino superior afetas a cada trabalho.

A Comunicação Interorganizacional em Rede na Transferência de Conhecimento: A abertura das universidades às empresas Ribeiro, P. C. (2016). O campo académico da comunicação nas organizações (pp. 63-139). Braga: Universidade do Minho.

Ano

Pesquisas Académicas

Autores

Universidade

1998

Comunicação institucional: Contributo das relações públicas Comunicação interna na empresa Publicidade e comunicação empresarial

Abílio da Fonseca

ISMAI

Vítor Almeida Paulo Cardoso e Sofia Gaio (ed.) Teresa Ruão

ISCTE Universidade Fernando Pessoa Universidade do Minho ISMAI

2003 2004 2006 2006

Marcas e identidades - Guia da concepção e gestão de marcas comerciais: O caso da Vista Alegre Relações públicas: o reconhecimento da profissão em Portugal

Manuel Tojal et. al.

2009

Gestão da identidade organizacional é PT!: a marca interna da Portugal Telecom

José Seruya

Universidade Católica Lisboa

2010

Introdução à teoria das relações públicas

Gisela Gonçalves

Universidade Beira Interior

da

2010

Retórica e mediatização: As indústrias da persuasão

Ivone Ferreira & Gisela Gonçalves (Ed.)

Universidade Beira Interior

da

2010

Ensaios de comunicação estratégica

Eduardo Camilo

Universidade Beira Interior

da

2011

Para uma história das relações-públicas

Abílio da Fonseca

Instituto Superior da Maia

2012

The dialogue imperative: Trends and challenges in strategic and organisational communication

Gisela Gonçalves (Ed.)

Universidade Beira Interior

da

2013

Ética das relações públicas

Gisela Gonçalves

Universidade Beira Interior

da

2013

Organisational and strategic communication research: European perspectives

Gisela Gonçalves, Somerville e Ana Melo (Ed.)

Universidade Beira Interior

da

2014

Comunicação organizacional e relações públicas: Horizontes e perspetivas

Ruão, T., Salgado, P., Freitas, R., & Ribeiro, P. C. (Eds.)

Universidade Minho

do

Quadro 10: Pesquisas em Comunicação Organizacional publicadas em livro (1990 a 2014) Fonte: Elaboração própria

A primeira pesquisa científica integra o livro Comunicação institucional: Contributo das relações

públicas (Fonseca, 1998) e data mesmo de finais do séc. XX. O que nos leva a concluir que embora a produção tenha sido iniciada em 1972, só um quarto de século mais tarde é publicado em livro o primeiro estudo científico. As pesquisas que se seguiram surgiram na sequência de trabalhos de mestrado (ex.: Ruão, 2006) e de doutoramento (ex.: Seruya, 2009); e outras pesquisas são feitas por um coletivo de investigadores (ex: P. Cardoso & Gaio, 2004; I. Ferreira & Gonçalves, 2010; G. Gonçalves, 2012; GonçAlves, et al., 2013; Tojal, et al., 2006). Abílio da Fonseca tem dado um forte contributo para a produção de literatura especializada de âmbito científico, na área específica das Relações Públicas, quer com pesquisas teóricas (A. Fonseca, 1998; Abílio Fonseca, 2011), quer com a sistematização de vocabulário através da produção de um

Dicionário de relações públicas (2003). Os contributos para o estudo das Relações Públicas (história, origens em Portugal, campo profissional, teoria, ética, entre outros tópicos) pelos investigadores e

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CAPÍTULO II: O CAMPO ACADÉMICO DA COMUNICAÇÃO NAS ORGANIZAçÔES Ribeiro, P. C. (2016). O campo académico da comunicação nas organizações (pp. 63-139). Braga: Universidade do Minho.

académicos das Ciências da Comunicação têm sido os principais temas e tópicos das pesquisas científicas provenientes do Instituto Superior da Maia (ex: A. Fonseca, 1998, 1999; Abílio Fonseca, 2011; Tojal, et al., 2006), da Universidade da Beira Interior, com os trabalhos de Eduardo Camilo (1998, 2010, 2003), Gisela Gonçalves (2010, 2013, 2012) e Ferreira e Gonçalves (2010), e da Universidade Fernando Pessoa, com Sofia Gaio e Paulo Cardoso (2004). Tais dados permitem concluir que a produção ocorre, quer em ao nível das instituições de ensino superior público, quer privado. Mas, nos últimos anos, destacam-se as instituições de ensino superior público e dos seus centros de investigação em comunicação, também devido ao facto de estas existirem em maior número no país. Relativamente ao tema das pesquisas científicas, até 2009, os tópicos preferidos foram a comunicação institucional e as relações públicas (A. Fonseca, 1998), a comunicação interna (Almeida, 2003), as marcas (Ruão, 2006) e a identidade (Seruya, 2009); e a partir de 2010, as relações públicas e a comunicação organizacional e estratégica.

Teses e dissertações

Ainda a acrescentar, este estudo de teses e dissertações em Portugal, produzidas por instituições de ensino universitário público e privado, foi feito com base na informação disponível no portal digital "RCAAP – Repositório Científico de Acesso Aberto em Portugal", conteúdos de acesso aberto. Uma representação de 100% do universo de teses e dissertações defendidas nas universidades públicas portuguesas e 33% nas Universidades Privadas. Todas as dissertações que se encontram em acesso restrito, ou com períodos de embargo, não são indexadas no portal RCAAP. Constatámos, em primeiro lugar, os temas apresentados nas teses seguem as tendências visíveis na literatura sobre a Comunicação Organizacional. A novidade é que o conceito de Comunicação

Organizacional aparece como objeto principal de estudo. Vejam-se, assim, alguns trabalhos: a tese de doutoramento da Universidade do Minho, de Teresa Ruão, A Comunicação organizacional e os Fenómenos

de Identidade: a aventura comunicativa da formação da Universidade do Minho, 1974-2006 (2008); a tese de mestrado da Universidade Fernando Pessoa, de Joana Costa, Os blogues corporativos como meio de

comunicação organizacional (2008).

A Comunicação Interorganizacional em Rede na Transferência de Conhecimento: A abertura das universidades às empresas Ribeiro, P. C. (2016). O campo académico da comunicação nas organizações (pp. 63-139). Braga: Universidade do Minho.

Autor

Data

Ruão, T.

2008

Costa, J.

2008

Silva, J.

2008

Sousa, S.

2009

Pato, A.

2009

Mendes, E.

2009

Título

A Comunicação Organizacional e os Fenómenos de Identidade: a aventura comunicativa da formação da Universidade do Minho, 1974-2006 Os Blogues Corporativos como Meio de Comunicação Organizacional A Comunicação Interna e a Imagem Organizacional: Estudo de caso na Fnac Braga Comunicação Organizacional e Identidade Colectiva num Agrupamento de Escolas O Papel das Relações Públicas na Sociedade Contemporânea: Nascimento, percurso As Relações Públicas Face ao Desafio da Internet como Novo Meio de Comunicação

Universidade Universidade Minho

Tipo de Pesquisa do

Universidade Fernando Pessoa Universidade Minho

Tese de Mestrado do

Universidade Aveiro Universidade Coimbra UFP

Tese Doutoral

Tese de Mestrado

Tese Doutoral de

Tese de Mestrado

Tese de Mestrado

Quadro 11: Dissertações de mestrado e teses de doutoramento em Comunicação Organizacional Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados do RCAAP – Repositório Científico de Acesso Aberto em Portugal

E a tese de doutoramento da Universidade de Aveiro, de Susana Sousa, Comunicação

Organizacional e Identidade Coletiva num Agrupamento de Escolas (2009). Atualmente, a maior parte dos estudos desenvolvidos fazem parte de um conjunto de trabalhos desenvolvidos no âmbito de trabalhos académicos, teses de mestrado e dissertações de doutoramento desenvolvidos nas universidades portuguesas. Para tal muito contribuiu a expansão dos Cursos de Comunicação, Relações Públicas e Publicidade e o aparecimento dos centros de investigação especializados em Ciências da Comunicação. Quanto ao volume de produção, regista-se uma expansão, tanto nos mestrados como nos doutoramentos, a partir de finais da década de 2000. E as dissertações sobre as Relações Públicas superam as que versam sobre a Comunicação Organizacional, à semelhança também do que acontece no Brasil, embora aqui isso tenha acontecido mais tarde. Convém, no entanto, salientar dois aspetos relativos a este estudo: o facto da atualização da base de dados do RCAAP demorar algum tempo, e a questão de outras organizações não disponibilizarem a informação na rede. Tais aspetos limitam, naturalmente, a leitura dos resultados apresentados que, ainda assim, consideramos úteis e relevadores de tendências. Temos consciência de que este estudo pode ser mais aprofundado, através de outras fontes diretas que permitam o acesso à informação completa. Sugerimos, até, o levantamento dos dados diretamente junto das instituições de ensino superior.

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CAPÍTULO II: O CAMPO ACADÉMICO DA COMUNICAÇÃO NAS ORGANIZAçÔES Ribeiro, P. C. (2016). O campo académico da comunicação nas organizações (pp. 63-139). Braga: Universidade do Minho.

A institucionalização da Comunicação Organizacional em Portugal

Na literatura portuguesa o conceito de Comunicação Organizacional e das Organizações começa a ser aflorado nas obras de Arménio Rego54 que escolhe como tema central e para o título de duas das suas obras a Comunicação nas organizações (1999) e a Comunicação pessoal e organizacional (2010). Assim, os primeiros desenvolvimentos teóricos do campo em Portugal surgiram no contexto da Gestão e da Administração das Empresas. As obras de Rego caracterizam-se por serem manuais de comunicação vocacionados para dar suporte à gestão das empresas, compreendendo a essência da comunicação nas organizações. O estudo da Comunicação Organizacional na perspetiva das Ciências da Comunicação surge em Portugal, em 2008, por Teresa Ruão. Pela primeira vez este campo e conceito foram isolados do conjunto dos outros campos, da Gestão das Empresas, da Psicologia Social, da Sociologia das Organizações, da Comunicação Empresarial e das Relações Públicas, passando a formar um corpo independente, onde a teoria emerge do olhar do investigador em Ciências da Comunicação, dando origem ao desenvolvimento das teorias da Comunicação Organizacional. No corpo teórico da tese (Ruão, 2008), a primeira parte, são abordados aprofundada e cientificamente os conceitos de comunicação organizacional, imagem organizacional e cultura organizacional; e, na segunda parte, através da metodologia qualitativa de estudo de caso, é realizado um estudo longitudinal que abarca um longo período de 32 anos, através do olhar das elites governantes, onde se conclui que existe relação entre as mudanças da identidade organizacional, dos modelos de comunicação das organizações/universidades e as alterações nos modelos organizacionais de gestão adotados pelas Universidades. O estudo pretende conhecer melhor a comunicação organizacional pela sua combinação com os fenómenos da organização expressiva. Esta última designação será usada ao longo do trabalho para classificar a dimensão comunicativa e simbólica das organizações contemporâneas – incluindo as manifestações de identidade, marca, cultura, imagem e reputação, enquanto pilares das atividades de significação organizacional (Ruão, 2008, p. 12). Continuando a discussão, verifica-se que alguns dos livros foram editados com o objetivo de servirem de manuais em Português para alunos de licenciaturas e cursos técnico-profissionais de Comunicação Social, Empresarial, Publicidade e Relações Públicas (ex: A. Gomes, 1991; M. Lampreia, 1992; Matos, et al., 2007; M. Oliveira, et al., 1991; A. Rego, 2010; Sebastião, 2009); outros nasceram da implementação de pós-graduações e mestrados (ex: J. E. Reis, 2002); outros resultam de trabalhos preparados em processos de especialização e progressão académica de professores/investigadores 54 Arménio Rego obteve o seu doutoramento e Provas de Agregação em Organização e Gestão de Empresas e é atualmente professor e investigador da academia nesta área.

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universitários (ex: Ruão, 2006; Seruya, 2009); outros, ainda, são o resultado da necessidade de se conhecer a realidade empresarial ou organizacional, por profissionais de comunicação (ex: Joaquim Caetano & Rasquilha, 2007); enquanto outros surgem a partir da edição dos trabalhos apresentados em eventos científicos (ex: P. Cardoso & Gaio, 2004; G. Gonçalves, 2012; Ruão, et al., 2014b); e, por fim, também resultam da investigação realizada pelos centros de investigação em Ciências da Comunicação

Considerações finais do estudo

Falar de pesquisas científicas em Comunicação Organizacional em Portugal significa reportar a uma realidade que teve início já no séc. XXI, contando, portanto, com pouco mais de uma década de existência. Foi somente na viragem do milénio que este campo começou a ganhar corpo na academia. Conforme foi visto, a utilização do termo surgiu no seio das Ciências da Comunicação, da Gestão e da Psicologia das Organizações. A sua institucionalização deveu-se ao desenvolvimento dos cursos de licenciatura em Comunicação Social, Empresarial e Relações Públicas, e, posteriormente, à criação de mestrados e de doutoramentos em Ciências da Comunicação. Por via da produção científica universitária, surgiram manuais de apoio e publicações várias, verificando-se um forte incremento das teses de mestrado a partir do ano de 2012. E, entre as universidades públicas – a Universidade da Beira Interior, a Universidade do Minho, a Universidade de Aveiro e o Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) -, e as instituições de ensino superior privado - a Universidade Fernando Pessoa, a Universidade Católica e o Instituto Superior da Maia-, são muitos os professores e alunos que se dedicam ao estudo do campo. Ainda que, só no final da primeira década do séc. XXI a Comunicação Organizacional em Portugal surge associada às Ciências da Comunicação, com Teresa Ruão (2008). De acordo com os dados obtidos, salientamos a tentativa de institucionalização do campo científico da Comunicação Organizacional no final da primeira década do séc. XXI, no seio da Universidade do Minho, com a criação de uma área de especialização em Comunicação Estratégica Organizacional, no ano de 2009, no âmbito do curso de doutoramento em Ciências da Comunicação. Dessa forma, a pesquisa no campo é oficialmente reconhecida, através do trabalho de um conjunto de investigadores integrados no CECS – Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, e de doutorandos da instituição. Já na segunda década do séc. XXI, o LabCom, da Universidade da Beira Interior, destaca-se com a edição de estudos individuais e coletâneas apresentadas em congressos científicos internacionais. Comparando os temas estudados em Portugal, com o abrangente campo de pesquisa apresentado no enquadramento concetual, resultante da revisão da literatura especializada, concluímos

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CAPÍTULO II: O CAMPO ACADÉMICO DA COMUNICAÇÃO NAS ORGANIZAçÔES Ribeiro, P. C. (2016). O campo académico da comunicação nas organizações (pp. 63-139). Braga: Universidade do Minho.

que somente uma pequena percentagem de temas tem sido alvo de estudo, abrindo fortemente a perspetiva de crescimento deste ramo nos próximos anos. Para terminar, uma crítica ao estudo efetuado e uma orientação para futuras investigações. Uma crítica tem a ver com o facto de existirem outras fontes de informação para investigar. O repositório digital apresenta apenas trabalhos muito recentes e nem todos estão disponíveis. Além de que se pode alargar a pesquisa a outras fontes de informação, concretamente à Biblioteca Nacional, onde se encontram outros conteúdos que não estão acessíveis online. Tal permitiria completar e aprofundar as tendências da pesquisa em Comunicação Organizacional em Portugal e levantar a sua articulação com áreas contíguas ou relação com cursos e universidades, concretamente, no que concerne às teses e dissertações. Enquanto sugestão para posteriores investigações, lembramos que seria enriquecedor para completar este estado da arte o levantamento dos artigos científicos publicados e os papers apresentados em eventos científicos nacionais e estrangeiros da autoria de investigadores portugueses. Mesmo assim, e apesar das limitações e constrangimentos, o universo estudado permitiu-nos compreender o panorama da Comunicação Organizacional em Portugal e constatar a ausência do tópico da Comunicação Interorganizacional, confirmando a pertinência científica desta tese. Assim, discutiremos, agora, as linhas teóricas orientadoras desta investigação, alinhando-o com as perspetivas da comunicação enquanto constituinte da organização, dialógica e relacional.

4. Enquadramento e posicionamento teórico da investigação

Os relacionamentos interorganizacionais são os blocos de construção das redes de comunicação, através dos quais encontramos padrões de contacto que são criados pela troca de mensagens (Cheney, et al., 2011, p. 160).

Legitimado o contexto dos estudos da Comunicação Interorganizacional no campo da Comunicação Organizacional, tratamos de expor, agora, as linhas teóricas orientadoras de abordagem ao fenómeno que vieram a nortear esta investigação. Na verdade, mais uma vez a análise metafórica foi a fonte de inspiração, e através da identificação das metáforas aplicadas à Comunicação Organizacional estruturámos aquilo que nos pareceram ser as dimensões pertinentes para estudar o fenómeno da Comunicação Interorganizacional, a saber, a dimensão ontológica, dialógica e relacional.

As metáforas e as dimensões da Comunicação Organizacional

Conforme foi referido, o recurso à metáfora tem servido como uma figura de linguagem para

A Comunicação Interorganizacional em Rede na Transferência de Conhecimento: A abertura das universidades às empresas Ribeiro, P. C. (2016). O campo académico da comunicação nas organizações (pp. 63-139). Braga: Universidade do Minho.

explicar a realidade, e é utilizada na generalidade pelas ciências para ajudar na explicação dos fenómenos. Nesta linha de raciocínio, os académicos da comunicação têm utilizado também o método de associação de imagens para compreender a natureza do fenómeno da comunicação. E, neste sentido, as sete metáforas da comunicação de(L. L. Putnam, Phillips, & Chapman, 1996; L. L. Putnam, Phillips, & Chapman, 1999, 2006)apresentadas inicialmente no capítulo Metaphors of communication and

organization, do Handbook of organizational studies, parecem constituir uma das categorizações mais completas até à data. Para estes autores, a comunicação pode ser vista sob as seguintes as metáforas: canal ou conduta, lente, ligação, performance, símbolo, voz e discurso, conforme síntese apresentada no Quadro 12. Tipo de metáfora

Descrição

Canal ou conduta

Recipiente, transmissão, linha, ferramenta

Lente

Olho, filtragem, distorção

Ligação (linkage)

Relacionamentos, conexões, redes, padrões

Performance

Drama, episódio, exibição, ritual, papel, público, ator

Símbolo

Representação, narrativa, significado

Voz

Expressão e supressão, participação

Discurso

Linguagem, conversa, texto ou leitura Quadro 12: Metáforas da comunicação

Fonte: Adaptado de Putnam, et al., 1997, citado em Cheney, Christensen, Zorn e Ganesh, 2011, p. 7.

A metáfora da conduta identifica os estudos em que as organizações são tratadas como contentores ou canais de fluxos de informação e comunicação. A ideia da lente caracteriza os trabalhos em que a comunicação é vista como um sistema percetual que monitoriza o ambiente, filtra a informação, e desenvolve redes ou sistemas de conexão entre a organização e o ambiente. O cluster da ligação representa as investigações centradas na análise dos sistemas e redes de contacto organizacional. A ideia da performance classifica as pesquisas dedicadas ao estudo da forma como a comunicação coordena ações e interações sociais. A metáfora do símbolo é usada para catalogar os trabalhos que representam as organizações, essencialmente, como lugares onde se produzem atividades interpretativas. A voz designa os estudos em que a comunicação é apresentada como a expressão da própria organização. E, por fim, o cluster do discurso integra as pesquisas que privilegiam, na organização, os textos, diálogos, géneros e outras manifestações discursivas. (Ruão, et al., 2014a, p. 26)

Procurámos um sentido associando as metáforas às dimensões da comunicação. Assim, o símbolo aponta para a dimensão simbólica; o canal, lente e performance indicam a dimensão relacional; e a voz e o discurso sugerem a dimensão dialógica. Desta forma, a metáfora do símbolo remete para a dimensão interpretativa, simbólica, cultural; as metáforas da voz e do discurso apontam para dimensão dialógica da comunicação; na verdade, as metáforas de canal ou conduta indicam a passagem e a contenção da mensagem, logo, tratar da "comunicação como transferência de informação, ideias e sentimentos. Os estudos que concetualizam a comunicação como envio e receção de mensagens oferecem a informação, alcançam o fluxo de mensagens, providenciam o feedback e os meios

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necessários" (L. L. Putnam, 2008, p. 340), e a metáfora de ligação (coupling), lente e performance remetem para as interações sociais, redes e de elos de ligação entre parceiros, englobados na dimensão relacional da comunicação. Estão assim, identificadas as dimensões do estudo: ontológica, dialógica e relacional. (Mumby & Stohl, 1996; Putnam & Nicotera, 2010; Cooren, Kuhn, Cornelissen, & Clark, 2011; Schoeneborn, 2011; Blaschke, Schoeneborn, & Seidl, 2012; Schoeneborn et al., 2014).

4.1 A comunicação como o ser da organização: Dimensão ontológica Um dos pressupostos que é transversal às dimensões da comunicação dá conta da comunicação como o "ser" da organização. E é neste sentido que utilizamos a expressão ontologia da comunicação, também considerada de ontogénese (J. R. Taylor, 2006). A conceção da organização como comunicação foi apresentada inicialmente por estudiosos das organizações tais como: Chester Barnard, James Renwich Taylor (1993)55 e, um pouco mais tarde, por Cooren, Kuhn, Cornelissen, e Clark, 2011; Schoeneborn, 2011; Blaschke, Schoeneborn, e Seidl, 2012; Schoeneborn, et al., 2014 entre outros, numa visão que viria a afirmar-se sob o postulado da comunicação como constitutiva das organizações (CCO). Este entendimento sugere que a comunicação na organização acontece de forma tácita, sem a qual é impossível existir qualquer realidade e que é pela comunicação que a organização se constitui, conforme foi proposto por Taylor (1993, p. 112). A comunicação é vista como o elemento que organiza sendo que “o processo organizacional é inevitavelmente mediado pela linguagem, quer sob a forma de conversação quer sob a forma de texto” (Taylor, 1993, p. 112). Esta corrente de investigação tem, aliás, vindo a ganhar terreno e é uma abordagem que emerge da junção entre os estudos organizacionais e os estudos de comunicação (Blaschke, Schoeneborn, & Seidl, 2012). Em 2011 deu lugar a um fórum específico no Managament Communication Quartely e está presente "nas maiores conferências Norte Americanas e Europeias (e.g. AoM e EGOS) e nos tópicos especiais em Organization Studies (Cooren, Kuhn, Cornelissen, & Clark, 2011) (…) e em volumes editados (e.g. Cooren & Robichaud, em edição; Cooren, Taylor, & Van Every, 2006; Putnam & Nicotera, 2009" (Blaschke, et al., 2012, p. 880). E em julho de 2013 foi criado um grupo de pesquisa, o European Group

of Organizational Studies (EGOS) – Organização como Comunicação que se dedica à análise da relação constitutiva entre a organização e a comunicação, na ótica centrada-na-comunicação, conhecida pela abreviatura “CCO” (Communication as Constitutive of Organizations). A coordenação inicial ficou a cargo de Dennis Schoeneborn (Universidade of Zurich e Copenhagen Business School), Consuelo Vasquez (UQAM), François Cooren (Universidade de Montreal) e Tim Kuhn (Universidade de Colorado). Os trabalhos foram apresentados pela primeira vez no Colóquio EGOS 2015, em Talin (Estónia).

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Reconhecido académico da Escola de Montreal, Canadá, que propõe um novo olhar sobre a Comunicação Organizacional.

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Esta perspetiva CCO (L. L. Putnam & Nicotera, 2010) parte da ideia de "que as organizações consistem essencialmente em episódios entreligados de comunicação, e tem dado origem a uma nova abordagem teorética nos estudos organizacionais" (Blaschke, et al., 2012, p. 880). Segundo este grupo de trabalho56, os pilares teóricos da comunicação como constitutiva das organizações (CCO) são: a teoria dos sistemas sociais, na linha de Niklas Luhmann, a Escola de Montreal e a interpretação da teoria da estruturação, de McPhee, et al., correspondendo às três escolas de pensamento CCO em torno do diálogo interativo (Heath et al., 2006). A mudança da teoria dos sistemas vivos para as teorias dos sistemas sociais foi feita por autores, como Luhmann (Leydesdorff, 2002), donde derivaram teorias dos sistemas de comunicação (Taylor, et al, 2006). A corrente de McPhee e dos seus colegas assenta na teoria da estruturação de Giddens e os estudos estão direcionados para a análise do discurso e dos textos organizacionais. A Escola de Montreal defende uma teoria comunicacional das organizações centrada no estudo das organizações através da comunicação. E é uma abordagem interpretativa da Comunicação Organizacional, já que este envolve processos de interação e organização social, onde as conversações detêm o papel de criação e organização da organização. “A conversação é o processo supremo, a nossa preocupação está relacionada com o como descrever este processo”, refere Taylor (1993, p. xi). Neste contexto, a interação entre as pessoas acontece através da comunicação, e, portanto, é na conversação que a ação de organizar acontece. Por isso, Taylor defende que a corrente de investigação da Comunicação Organizacional deve ser o estudo do modo como as pessoas se organizam por meio da comunicação e de que forma dialética a comunicação faz com que as pessoas se organizem naturalmente. Assim, todos os tipos de relacionamento são formas de comunicação e a organização surge a partir de processos comunicativos, verbais e escritos. Ainda, de acordo com Taylor (1993), os eventos de comunicação numa estrutura organizacional podem ser classificados em: (1) Horizontais – baseados em ações de coordenação, de ligação (coupling), donde emergem processos sequenciais e padrões de trabalho; e, (2) Verticais – relacionados com as ações de controlo, através das quais se exercem relações de autoridade e de manifestação de partilha de propósitos. Na comunicação falada e escrita as ligações «horizontais» são realizadas por conjunção (e, ou, mas) e as ligações «verticais» por incorporação. A conjunção é a comunicação equivalente à ligação, conexão, ligamento, união, junção, engate (Taylor 1993). A abordagem à comunicação em Taylor (1993) nasce numa perspetiva de estudos relações de input e

output, uma abordagem sistémica à Comunicação Organizacional e orientada para o processo, como dizia o autor, "se conseguirmos capturar estes links na teoria da Comunicação, alcançamos o nosso objetivo principal de mostrar como abordar a estrutura organizacional sem abandonar a perspetiva orientada-para-

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o-processo" (Taylor, 1993, p. 124). Esta corrente da comunicação como constitutiva da organização é tida como a mais humana e menos funcionalista. E este princípio da organização enquanto comunicação aplica-se igualmente à comunicação entre organizações - interorganizacional. Blasche, et al. (2012) olham "as organizações como episódios de redes de comunicação", donde se infere que a Comunicação Interorganizacional pode também ser entendida como esses episódios. E daqui emerge o postulado da Comunicação como o elemento constituinte e constitutivo das redes e relacionamentos interorganizacionais.

4.2 O diálogo como processo para organizar: Dimensão dialógica E, nesta linha de pensamento da comunicação como conversação que constrói ou destrói as organizações, pareceu-nos pertinente refletir sobre a função dialógica, ou seja, a sua missão de promover o diálogo enquanto forma de conversação. Um significado corrente para o termo dialogia corresponde ao "estudo da dialética, ou seja, à arte de saber dialogar ou conversar".57 Já na Grécia Antiga, os diálogos socráticos, materializados em texto por Platão (s.d.), eram um processo de busca da verdade filosófica, através da colocação de sucessivas perguntas e respostas e através da argumentação dialética procurava questionar as verdades e atingir, assim, a essência do conhecimento supremo, a verdade. A filosofia do conhecimento de Platão visava, precisamente, a busca da verdade suprema. A palavra diálogo decompõese em dia (através ou entre) e logos (palavra, discurso, significado ou razão) donde resulta o fluxo de significados (Escobar, 2011). Da antiguidade à contemporaneidade a presença deste tópico tem sido uma constante, e os académicos das Ciências da Comunicação, e não só, tomam-no como um campo de estudo. Segundo Escobar (2011, p. 17) a maior parte dos académicos do diálogo construíram os seus entendimentos nos trabalhos de filósofos, psicólogos, educadores, conforme pode ser compreendido no Quadro 13:

Bakhtin – A natureza da vida humana é dialógica (relacional). Nós próprios e a parte social somos feitos de vozes múltiplas que constantemente tomam a forma do outro. Buber – O diálogo é um tipo especial de relacionamento humano que requere elevada qualidade de contacto. Gadamer – O conhecimento é cocriado na conversação. No diálogo, a troca de ideias é mutuamente transformativa e aprimora o conhecimento de nós próprios e dos outros. Freire – O diálogo é um processo educacional que envolve aprendizagem transformacional orientada para empoderamento sociopolítico. Bohm - A inteligência coletiva é um antídoto da fragmentação social. O diálogo ajuda os participantes a tornar-se consciente do conhecimento implícito e formas de pensar e possibilita a cocriação e a partilha de significados. Rogers - O diálogo requer uma consideração positiva incondicional para o outro. Quadro 13: Principais pensadores e conceitos de diálogo Fonte: Escobar, 2011, p. 17.

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http://www.dicionarioinformal.com.br/dialogia/

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Deste conjunto interpretativo, extrapolamos algumas reflexões, nomeadamente, nos diálogos prevalece a função oral da comunicação, mediante a qual os relacionamentos entre pessoas se tornam possíveis. Contudo, o diálogo pode estender-se a outros meios que suportam esses relacionamentos. Assim, estes não apresentam, atualmente, apenas a forma oral, também as comunicações mediadas pelo computador e pelas tecnologias de informação que promovem a interação entre as pessoas e entre as organizações sob a forma escrita ou audiovisual. O diálogo entre pessoas estende-se, portanto, ao diálogo entre organizações que designaríamos por diálogo organizacional ou interorganizacional. Um dos pressupostos centrais assenta na capacidade de diálogo de estabelecer uma relação ou resposta entre os intervenientes. E, neste sentido, o diálogo difere da informação, porquanto a informação não exige resposta e pode ser descrita como um ato comunicativo de partilha entre organizações, parceiros ou stakeholders, enquanto o diálogo, pelo contrário, pressupõe uma conversa, discussão, relacionamento, feedback e evolução. Neste embasamento, a interpretação de Oswick (2008) remete para que o diálogo possa ser descrito enquanto forma de conversação entre duas ou mais partes. E contínua, expressando que, no entanto, este é mais do que uma conversa na medida em que a interação entre indivíduos ou grupos de interessados, geralmente, envolve um processo de engajamento de propósitos, posições ou perspetivas. Assim, ainda o mesmo autor refere que o diálogo é um componente central da organização e, como tal, é fundamental para o sucesso ou para o fracasso das organizações, conforme Gergen e Thatchenkery (1996) já haviam também argumentado. E, salienta ainda que vários comentadores têm destacado a existência de diferentes definições de diálogo. Para alguns, o resultado desejado é, principalmente, a troca de pensamentos e pontos de vista, com ênfase na compreensão mútua dos diferentes intervenientes. E, para outros, é mais do que um processo de partilha de pontos de vista, na medida em que o objetivo é ir além da valorização de diferentes perspetivas para alcançar a resolução ou a convergência (Oswick, 2008). Pelo que, a via estratégica do diálogo acontece enquanto função de mediação, quer seja na resolução de conflitos, quer no desenvolvimento de soluções convergentes satisfatórias às diferentes organizações envolvidas, com um propósito determinado, ou seja, o diálogo envolve o esforço e também a aprendizagem, no sentido que "o diálogo requer que aprendamos a pensar junto com outras pessoas" (Isaacs, 2008). No mundo atual é importante que as pessoas aprendam a trabalhar em conjunto e a comunicar efetivamente (Baker, 2010), pelo que "o diálogo é uma arte de pensar em conjunto" (Isaacs, 2008) e a forma mais poderosa para troca de mensagens e significados profundamente interconectados (Senge, 1990). Mas como pensamos em conjunto? Alguns autores apresentam algumas ferramentas de comunicação que podem ser desenvolvidas com vista a promover um espírito dialógico de comunicação. Por exemplo, Magda Pieczka (2011a) sugere os círculos de escuta, as tecnologias de espaço aberto, o

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diálogo deliberativo, a conferência de consensos, entre outros. Escobar (2011) apresenta as dinâmicas chave para o diálogo: construir um espaço seguro, abertura, respeito, contar histórias, escuta, suspender a resposta automática, o juízo e a certeza, a pergunta colaborativa, encontrar pontos em comum e explorar as diferenças. E, assim, com esta abordagem concetual, introduzimos a função dialógica da comunicação que tem sido alvo de estudos de várias correntes de pensamento da comunicação. Entre estas destacam-se as reflexões do filósofo pós-moderno Jürgen Habermas sobre a comunicação como dialogia que têm inspirado alguns autores e estudos críticos sobre a Comunicação Organizacional. Outros autores, ainda, desenvolveram uma teoria em torno do diálogo enquanto estratégia relacional. E, nesta variedade de teorizações, uns autores preferem referir-se ao diálogo enquanto conversação dialógica (Kent & Taylor, 2002), outros como um modelo de comunicação simétrico de duas vias (Grunig, 2001; Grunig, Grunig, Sriramesh, Huang, & Lyra, 1995; Theunissen & Wan Noordin, 2012), outros ainda, na qualidade de

comunicação de duas vias (Fisher, 2007), ou, ainda, no sentido da conversa colaborativa (Keyton, Ford, & Smith, 2008). Advogamos que todos estes conceitos se enquadram na perspetiva dialógica da comunicação. Certo é, também, este tema surge fortemente na literatura das Relações Públicas (Theunissen & Wan Noordin, 2012) a qual tem dado primordial ênfase ao diálogo enquanto processo para a construção dos relacionamentos entre públicos, assim como para o estabelecimento de uma boa imagem entre as organizações e uma comunicação simétrica. Esta vertente tem, de resto, sido seguida pelos profissionais de Relações Públicas há mais de 30 anos (Pieczka, 2011b), donde emergem na literatura de Relações Públicas duas correntes teóricas para o debate da comunicação enquanto diálogo - a teoria dialógica da comunicação e o modelo de comunicação de duas-vias simétrico (Grunig, 2001; 1992; Grunig & Hunt, 1984). Isto não significa que sejam sinónimas, já que existem diferenças filosóficas entre os dois modelos (Theunissen & Wan Noordin, 2012). Na opinião de Avidar (2012), a partir dos anos 90, em grande parte, a teoria e a pesquisa em Relações Públicas parece terem passado da perspetiva funcionalista para a abordagem cocriacional. Esta última enfatiza a importância do diálogo e da comunicação de duas-vias no processo de construção dos relacionamentos públicos. Além de um processo, Kent e Taylor (2002) conceptualizam-no enquanto "produto" e argumentam que a abertura à comunicação dialógica conduz positivamente ao engajamento das empresas, dado que estimula a troca negocial de ideias e opiniões com os públicos (Kent & Taylor, 1998; Kent, Taylor, & White, 2003). O diálogo refere-se a "qualquer troca negocial de ideias e opiniões" (Kent & Taylor, 1998, p. 325). Chamamos para este panorama, a comunicação como diálogo ou a perspetiva dialógica da comunicação, relacionada com a metáfora da voz e do discurso. Comunicar entre organizações pressupõe estabelecer o diálogo, a conversação dialógica (Kent & Taylor, 1998; Kent, et al.,

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2003), a conversa, através de uma linguagem (voz), sob a forma de texto, pela oralidade, dando expressão à informação e às ideias, participando e partilhando (mas também suprimindo informações entre os participantes), através de canais de comunicação. Pelo que poderíamos questionar, parafraseando Magda Pieczka (2011a), na sapiente conferência inaugural do Organisational and Strategic Communication

Section (OSCS), o que é que o diálogo faz na gestão? Esta académica identifica três funções do diálogo: 1) constrói reflexão e aprendizagem; 2) lida construtivamente com a diversidade; e 3) cria relacionamentos e confiança. Embora a reflexão da autora tenha sido produzida a partir da análise interna das organizações, advogamos que os mesmos princípios se podem aplicar ao diálogo entre organizações. Neste contexto, enunciamos o postulado do diálogo interorganizacional enquanto espaço de

reflexão, aprendizagem e construção. Ou seja, o diálogo como o meio para a relação interpessoal a diversos níveis, na construção de relacionamentos pessoais, organizacionais e interorganizacionais, no estímulo à confiança e à colaboração, promovendo a ação participativa, coorientada e cocriacional, seguindo o entendimento de Gadamer de que o conhecimento resulta do diálogo que por sua vez é uma conversação cocriada. Mais ainda, Eisenberg e Goodall (2010, pp. 36-46) propõem um novo modelo - as organizações como diálogo. Segundo estes académicos da Comunicação Organizacional, o “diálogo é uma comunicação balanceada ou a comunicação na qual cada indivíduo tem a oportunidade de ser ouvido e de falar” (2010, pp. 40-41). Pelo que o diálogo pode ser entendido tomando quatro características que promovem a colaboração e o respeito pelos outros, a saber, (1) o diálogo como comunicação consciente, como atenção, como uma “genuína reflexão” promovendo a função fática da comunicação; (2) o diálogo como transação equitativa em que se dá a possibilidade de todos os membros de uma organização de terem voz e participarem no diálogo organizacional; (3) o diálogo como conversa empática, o que significa aceitar o ponto de vista das outras pessoas e a diferença de interpretações mesmo quando difere dos próprios; e, (4) o diálogo como uma reunião real, onde a comunicação é interpretada sob o processo dialógico que acontece entre pessoas. Eisenberg e Goodall (2010) põem em evidência o ganho de integridade e de ética, a interação de duas vias - chave para a construção de sentido, e o diálogo como estratégia. O diálogo enquanto “conversação é uma atividade mental e relacional que tanto é intencional como estratégica” (Goodall, 2006, p. 52). Entendemos, pois, no contexto da dimensão dialógica da comunicação o estudo do diálogo pode e deve ser alargado ao campo da Comunicação Interorganizacional, sob a designação de diálogo interorganizacional. Ora, partindo do processo de construção de relacionamentos e da abordagem dialógica pode-se pensar a teoria da Comunicação Interorganizacional, na medida em que os relacionamentos interorganizacionais também se estabelecem por via do diálogo e das conversações, num modelo simétrico de duas vias. E, a partir deste enunciado podemos testá-lo no estudo de caso. Ainda que

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buscando outros contributos adicionais para o entendimento da função dialógica da comunicação, como os trabalhos de Heath, et al. (2006), Magda Pieczka e Escobar (Escobar, 2011; Pieczka, 2011b; 2012).

4.3 Os relacionamentos construtores interorganizacionais: Dimensão relacional

das

redes

de

comunicação

Partiremos para esta discussão com o pensamento de Cheney e os seus colegas (2011, p. 143) que se referem aos relacionamentos interorganizacionais, por um lado, como "blocos de construção das redes" que, em simultâneo, "são ativamente construídos" e, como tal, "são dinâmicas fluídas, não estáveis ou unitárias". Mais ainda, "é expectável que a comunicação relacional no local de trabalho seja por natureza, igualitária e interativa (ao contrário de uma-via) ". Assim, em primeiro lugar, há que distanciar a estratégia relacional do modelo de transferência unidirecional da informação, destacando o modelo bidirecional e de duas-vias; e, em segundo lugar, ressaltar que os fenómenos relacionais são

socialmente construídos, uma vez que a sua "lógica privilegia a interação, ressaltando a importância da negociação e da articulação das organizações"(I. Oliveira & Marchiori, 2012, p. 17), logo da dialogia comunicacional. Assim, a perspetiva da comunicação como transferência de informação assenta na ideia de passagem de informação (Cheney, et al., 2011), sendo que pode ser o conhecimento que se pretende deslocar das universidades, centros de investigação e desenvolvimento para sociedade empresarial. E a

perspetiva relacional estabelece-se nas díades ou nas redes, e é entendida enquanto vantagem competitiva para as empresas (Dyer & Singh, 1998). Os elementos chave da estratégia relacional, segundo estes académicos da Comunicação Organizacional (Cheney, 2011, p. 214), nascem, numa primeira fase, da definição da situação de uma

conversação que "que inclui uma espécie de entendimento dos objetivos que estamos a ter da conversação e do tipo de relacionamento que estamos a ter (ou é expectável que se tenha) como o outro(s) na conversação" (p. 146). Nem sempre a definição da situação coincide entre os participantes (às vezes sim, outras vezes não), do que resultam alguns problemas que podem tornar a conversação complexa. Segundo os autores, a questão de partida está em que os diversos intervenientes apresentam

múltiplos objetivos que podem ser identificados em três grupos: instrumentais (ou de tarefa), identitários e de relacionamento. Entre os objetivos instrumentais são apontados, por exemplo, a persuasão, a obtenção de informação, o dar instruções, a informação, a venda ou o ensino. Quanto aos objetivos de identidade numa conversação, têm a ver com a forma como os intervenientes se querem mostrar, ou seja, qual a imagem que se pretende criar e que pode ter ser construída através de aspetos de linguagem não-verbal, tais como o vestuário ou o tom de voz, bem como, a escolha das mensagens e dos conteúdos. Em conjunto provocam um determinado posicionamento ou reputação, estrategicamente definido. E

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estritamente ligada com a identidade estão os objetivos de relacionamento que podem ser também de natureza estratégica ou espontânea e que são construídos também de acordo com os pormenores da linguagem não-verbal e de todos os aspetos colocados quanto aos objetivos pretendidos com determinado relacionamento interorganizacional, dado que, conforme referem os autores, "os relacionamentos são baseados em identidades percebidas" (p. 147). Para o trabalho cooperativo os comunicadores têm de negociar e de partilhar definições, o que significa que as questões das subjetividades e pontos de vista têm uma importância crucial, donde que os intervenientes dos relacionamentos devem chegar ao ponto em que todos têm uma compreensão clara das situações e conseguem o mesmo entendimento para a situação. A isso designamos de "intersubjetividade". A partilha do mesmo entendimento é a base para uma boa conversação, profícua e positiva. Embora, isso não signifique que as pessoas comunguem dos mesmos sentidos, mas antes que percebem os sentidos que são atribuídos. Por vezes, este ponto de comunhão requer tempo, dedicação, paciência por parte dos comunicadores. Mas da sua clarificação também resultará uma conversão mais rica. Perceber o que os outros dizem, e saber se estão a compreender claramente aquilo que se pretende tornar claro, é fundamental numa conversação, mais ainda quando existem diferenças de backgrounds mentais e linguísticos.

Considerações finais do capítulo

As tendências da Comunicação Organizacional apontam para uma evolução da comunicação e dos estudos num movimento do interno ao interorganizacional, em rede e global. Donde nos parece haver lugar para um amplo estudo destas realidades mais recentes. Até porque as tendências atuais em matéria de metodologias de abordagem se orientam para o estudo das populações organizacionais e das redes de comunicação nestas comunidades de populações. E, partindo desta proposta de uma ampla abordagem da Comunicação Organizacional, concentramos a nossa atenção nas estratégias do discurso organizacional e das redes de comunicação em populações (Monge & Poole, 2008), no diálogo (Eisenberg e Goodall, 2010), relacional (Cheney, 2011) e na visão da comunicação constituiva das organizações (Taylor, 1993; Putnam & Nicotera, 2010) que resumem, de resto, as grandes linhas teóricas da Comunicação Organizacional orientadoras deste estudo. Neste contexto, o próximo capítulo versa sobre os fenómenos interorganizacionais em rede, e a sua aplicação ao campo dos relacionamentos das universidades com as empresas em processo de transferência de conhecimento.

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