Robson Pinheiro e o desenvolvimento de um \"Espiritismo de Inclusão\"

July 1, 2017 | Autor: Fabiano Vidal | Categoria: Michel Foucault, Espiritismo, Umbanda, Kardecismo
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Anais do IV Congresso da ANPTECRE “Religião, Direitos Humanos e Laicidade” ISSN:2175-9685

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ROBSON PINHEIRO E O DESENVOLVIMENTO DE UM “ESPIRITISMO DE INCLUSÃO” Fabiano Cesar de Mendonça Vidal Mestre em Ciências das Religiões Universidade Federal da Paraíba [email protected] ST 08 - Espiritualidades e Religiões na contemporaneidade: diálogos e interlocuções Resumo: O presente trabalho possui um olhar antropológico, de caráter essencialmente bibliográfico, e tem por intenção analisar o discurso de conciliação entre o Espiritismo kardecista e a Umbanda, empreendido pelo médium Robson Pinheiro. Com esse objetivo, toma como inspiração as ideias de Michel Foucault sobre a produção do discurso e utiliza-se de obras publicadas por esse autor visando identificar as estratégias por ele adotadas para a legitimação do discurso. Embora Robson Pinheiro afirme que a obra de Allan Kardec é a sua referência doutrinária, outro médium lhe serve de “mentor”: Chico Xavier, que aparece em sua biografia aconselhando-o sobre o lançamento de livros e a fundação de seu próprio centro espírita, dando legitimidade às suas ações. Se faz perceptível ainda o esforço empreendido por Robson Pinheiro para incluir no Espiritismo os princípios e metodologia de trabalho mediúnico oriundos da Umbanda, ao invés da obtenção de novas verdades doutrinárias reveladas pelos espíritos por meio da mediunidade de psicografia, através do controle universal do ensino dos espíritos idealizado por Kardec. A despeito de afirmar sua fidelidade doutrinária a Allan Kardec e da importância de Chico Xavier como alguém que lhe deu suporte na legitimação de suas ações, Robson Pinheiro se mostra um autor independente, possuidor de sua própria editora e com a autonomia necessária na divulgação do seu modo de ver, entender e complementar o Espiritismo com os princípios umbandistas, estando, desta forma, desvinculado da visão de Espiritismo implantada pela Federação Espírita Brasileira (FEB), baseada principalmente nas obras elaboradas por Jean Baptiste Roustaing, Bezerra de Menezes e do próprio Chico Xavier. Palavras-chaves: Robson Pinheiro, Espiritismo, Inclusão, Kardecismo, Umbanda

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1. Introdução

O Espiritismo enquanto doutrina organizada surge na França em 18 de abril de 1857 com o lançamento de O Livro dos Espíritos de Allan Kardec, reconhecido por Del Priore como um “pedagogo de grande integridade intelectual” que era pouco afeito “a fantasias e pouco inclinado a voos da imaginação”, sendo o responsável pela elaboração de uma doutrina que pode ser compreendida como um “observatório do tempo” no qual as pessoas se reconheciam, por abordar questões pertinentes à vida, tais como a morte, a doença, a religião, o amor, a família e, por fim, as ciências, estas últimas sob o impacto de grandes mudanças (DEL PRIORE, 2014, p.48). Embora Allan Kardec tenha atribuído a autoria de suas obras aos “espíritos superiores”, Giumbelli (2015, p.09) destaca que houve uma autoria compartilhada, onde autoria e autoridade caminhavam “de mãos juntas”. Segundo Giumbelli, “Kardec apresenta-se como um intermediário – embora ele mesmo não desempenhasse o papel de médium – e um sistematizador de ensinamentos literalmente espirituais. A autoridade, assim como a autoria, provém dos espíritos”. Na ótica deste autor, nada impede que os espíritos a quem Kardec atribuiu a autoria das obras por ele lançadas voltem a se manifestar para atualizar os ensinamentos da doutrina. Para Gonçalves (2010, p.74), se no Espiritismo a voz autorizada para dizer as verdades doutrinárias pertence aos “espíritos desencarnados”, coube a Allan Kardec a construção das regras que permitiram validar os enunciados que circularam com valor de verdade. Para esta finalidade, Allan Kardec utilizou a metodologia do Controle Universal do Ensino dos Espíritos (CUEE), cujos ditados foram selecionados pelo critério da consensualidade ao utilizar-se de vários médiuns em vários espaços e depois de ouvir inúmeros espíritos acerca de uma mesma temática. Gonçalves destaca que é através da comunicação psicográfica que o Espiritismo produz, veicula, sedimenta, divulga e atualiza os seus princípios doutrinários, o que ratifica esse modo de comunicação como um jogo de verdades cujo objetivo é “demarcar o lugar dessa religiosidade em meio a outros regimes de verdades que têm a mediunidade como princípio básico” (GONÇALVES, 2011, p.172). Desta forma, a mediunidade do tipo psicográfica se constitui na “(...) via através da qual essa doutrina atualiza os seus adeptos e mantém-se atualizada, descartando a possibilidade de tornar obsoletas suas verdades” (GONÇALVES, 2010, p.154).

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Esta breve explicação acerca da autoria da doutrina espírita e do papel desempenhado por Allan Kardec neste processo de elaboração da mesma é, a meu ver, necessária para entender como ocorre a produção do discurso espírita, as estratégias de legitimação das verdades doutrinárias do Espiritismo e como o médium Robson Pinheiro delas se apropria para a elaboração de um discurso que afirma ser fiel aos conceitos kardecistas e incorporando, ao mesmo tempo, princípios e métodos da Umbanda. Objetivando compreender essa nova vertente do Espiritismo, tomo por inspiração as ideias de Michel Foucault sobre a produção do discurso nesta pesquisa de caráter bibliográfico.

2. Robson Pinheiro: influências e iniciação no Espiritismo

Natural de Minas Gerais, Robson Pinheiro relata visões de espíritos desde sua infância, ocasião na qual brincava com o que acreditava ser um menino de nome Zezinho, que se apresentava a ele como um garoto cafuzo, trajando uma camiseta verde surrada e um calção azul: “Lembrava aqueles meninos nordestinos muito pobres, queimados de sol do sertão, ou de alguma favela cosmopolita” (PINHEIRO, 2008, p.24-25). Pinheiro informa que só tomou conhecimento da condição de espírito de Zezinho quando este, um dia, resolveu lhe contar sobre como ocorrera sua morte ao brincar numa chapada: caíra dentro de um poço e, como ninguém ouvira seus pedidos de socorro, morreu de fome e sede após agonizar de três a quatro dias. Aldemário, pai de Robson Pinheiro, informou ao filho que Zezinho se manifestava através dele, e que o respeitava profundamente, apesar de ser evangélico (PINHEIRO, 2008, p.26-27). Apesar de haver tido contato com o Espiritismo em 1979 (PINHEIRO, 2008, p.26-27), Robson Pinheiro se tornou evangélico e, no dia em que faria um teste onde deveria discorrer sobre exegese e hermenêutica bíblica para se tornar um pastor, recebeu, conforme seu relato, em plena Igreja, a visita de dois espíritos a quem chamou de demônios. De acordo com Pinheiro, os espíritos se comunicaram através dele1, e deixaram rabiscada uma mensagem no chão da Igreja: “Termina aqui, hoje, seu estágio nesta religião” (PINHEIRO, 2008, p.190-193).

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De acordo com os princípios kardecistas, este tipo de comunicação recebe o nome de mediunidade de psicofonia, conhecida vulgarmente como o fenômeno de “incorporação”.

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A exemplo de Chico Xavier, que rompe com o catolicismo para se tornar espírita, Robson Pinheiro também opta por deixar a religião evangélica e tornar-se espírita2. Segundo Pierucci (2006, p.115), é na conversão religiosa que “se passa de um status (religioso) adscrito para um status (religioso) adquirido. A conversão, posto que mudança de uma religião de origem para uma religião de escolha, descreve um movimento propriamente dito de mobilidade social” (Grifos originais do autor). Após o fato ocorrido na Igreja evangélica (da qual é expulso), Robson Pinheiro aceita o convite dos espíritos Alex Zarthú e Joseph Gleber para trabalhar na “mediunidade com Jesus”. Estes o alertam, que uma vez aceita a proposta, “não tem mais volta”, e lhe impõem condições como a de não casar, pois o trabalho a ser realizado pelo médium “não é compatível com a administração de uma família, você terá outros filhos em sua vida” (PINHEIRO, 2008, p.196197). Para Stoll (2003, p.154), a conversão religiosa

Viabiliza a releitura biográfica por meio da inscrição de uma ruptura entre dois momentos: a fase profana, em que a mediunidade é vista com desconfiança, ou como transtorno, e o trajeto iniciático, etapa que na história de vida dos médiuns inaugura (...) uma fase de exercício sistemático de disciplinarização, seja quanto ao manejo dos “dons”, seja com relação ao próprio estilo de vida.

Posteriormente, Robson Pinheiro chega à conclusão de que os “filhos” aos quais o espírito Joseph Gleber se referia eram os livros que psicografara (PINHEIRO, 2008, p.197). Uma das principais exigências impostas ao médium pelos espíritos foi a leitura, por seis meses consecutivos, de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, obra a qual Robson Pinheiro deveria estar sempre ligado (PINHEIRO, 2008, p.198). Conforme relato do próprio médium em sua biografia, um dos espíritos que mais o influenciou foi um preto-velho denominado de João Cobú ou Pai João de Aruanda, que o acompanhara em diversas fases de sua vida, devido ao fato de haver sido o mentor ou anjo guardião de sua mãe, Everilda Batista e autor das obras psicografadas Sabedoria de preto-velho e

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Se, com Chico Xavier, a figura de Emmanuel, reconhecido como seu mentor, será um dos fatores responsáveis por sua adesão ao Espiritismo e produção literária, com Robson Pinheiro, serão dois os espíritos que, por assim dizer, lhe convidam ao Espiritismo para praticar a “mediunidade com Jesus”: Alex Zarthú e Joseph Gleber (este último alega haver sido em uma vida passada um cientista solicitado pelo governo da Alemanha a ingressar na equipe de física do governo, ocasião na qual teria trabalhado com Oppenheimer e outros grandes nomes) (PINHEIRO, 1997, p.11).

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Alforria (PINHEIRO, 2008, p.61). Sua vivência pessoal com os pretos-velhos o levou a criticar abertamente o movimento espírita que, em seu ponto de vista, discrimina espíritos

Exclusivamente em função da conformação espiritual de que se revestem ao se apresentarem aos médiuns (...). Ao menos nos círculos espíritas mais conservadores, que celeuma “dos diabos” acontece quando se fala em exu, ciganas ou bombonjiros3. Quanta ignorância! E do pior tipo: a que não quer se esclarecer, por puro prejulgamento. (PINHEIRO, 2008, p.150).

Desta forma, é possível perceber a elaboração, por parte de Robson Pinheiro, de um discurso que pretende incluir, na doutrina kardecista, conceitos (e entidades) apropriados da Umbanda4. Tal intenção não foi bem recebida pelos espíritas. A obra Tambores de Angola, psicografia de Robson Pinheiro atribuída ao espírito de Ângelo Inácio é ilustrativa desse discurso. A personagem Euzália (ou Vovó Catarina), espírito responsável por uma tenda umbandista, destaca o distanciamento dos “irmãos espíritas” em relação aos “nossos trabalhadores que se manifestam como caboclos ou pretos-velhos” (PINHEIRO, 2006, p.164). De acordo com o discurso de Euzália, ambas as religiões podem “trabalhar em conjunto, visando ao mesmo objetivo, que é a elevação moral de nossas almas” (PINHEIRO, 2006, p.164-165). Robson Pinheiro relata que Tambores de Angola “Custou-nos o nome de espíritas, ao menos perante alguns que pretendem se apropriar da aplicação exclusiva do termo”. Pinheiro dispara suas críticas para aqueles que, julgando-se “autoridade oficial no assunto, arrogam-se o direito de classificar em doutrinário e antidoutrinário tudo quanto há”. Em sua defesa, traz a figura de Allan Kardec, que em seu ponto de vista, jamais teria adotado atitude semelhante, “Ainda mais ele, vítima da inquisição espanhola, que mandou queimar seus livros em Barcelona” (PINHEIRO, 2008, p.26).

3. Conclusão Depreendo, a partir deste discurso desenvolvido e divulgado por Robson Pinheiro, que o mesmo está em conformidade com o pensamento de Foucault, para quem “o discurso não é

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Segundo Robson Pinheiro, bombonjiro é uma variante do termo pombajira, e sua utilização seria mais correta que esta última. 4 Este discurso proposto por Robson Pinheiro parece ir de encontro ao mito fundador da Umbanda, onde há uma ruptura causada pelo espírito denominado “Caboclo das Sete Encruzilhadas” com a doutrina elaborada por Allan Kardec, apontando como motivo o preconceito por parte dos dirigentes das mesas mediúnicas kardecistas com as manifestações dos espíritos de caboclos e pretos-velhos (Adaptado de PINHEIRO, A., 2012, p.225).

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simplesmente aquilo que traduz as lutas ou sistemas de dominação, mas aquilo por que, pelo que se luta, o poder do qual nos queremos apoderar” (FOUCAULT, 2011, p.10). A verdade é produzida em virtude de coerções e produz efeitos regulamentados de poder, onde cada sociedade tem seu regime de verdade, ou seja, os tipos de discurso que são acolhidos e funcionam como verdadeiros, os mecanismos e instâncias que permitem distinguir o verdadeiro do falso e as maneiras, técnicas e procedimentos que são valorizados em busca dessa verdade. Em outras palavras, a verdade doutrinária do Espiritismo está sujeitada a sistemas de poder que a produzem e apoiam, e a efeitos de poder que ela induz e a reproduzem (FOUCAULT, 1979, p.12;14), o que explica a rejeição, por parte de alguns adeptos, das obras de Robson Pinheiro que englobam assuntos relacionados à Umbanda, seus princípios e entidades espirituais. Trata-se da disputa pelo poder de quem tem (ou não) a autoridade em falar em nome do Espiritismo e produzir discursos acerca desta doutrina. O posicionamento de Robson Pinheiro, ao afirmar sua fidelidade a Allan Kardec, além dos encontros e conselhos que obtém com o médium Chico Xavier, que aparece em suas narrativas o auxiliando em decisões como a construção de seu próprio centro espírita, evidencia que este procura conquistar a simpatia dos adeptos de ambos os autores ao utilizá-los como referências positivas. Através deste posicionamento independente, sem submeter-se a alguma instituição espírita, funda seu próprio centro espírita, além da editora Casa dos Espíritos, conquistando autonomia e independência para difundir suas obras. O discurso elaborado por Robson Pinheiro pode ser compreendido como de inclusão, pois ao invés de obter novas verdades doutrinárias reveladas pelos espíritos por meio da psicografia, através do controle universal idealizado por Kardec, este objetiva incluir no Espiritismo os princípios e metodologia de trabalho mediúnicos oriundos da Umbanda, sob a alegação desta ser uma complementação legítima (e necessária) à doutrina elaborada por Allan Kardec. Obviamente que não pretendo esgotar aqui todo o assunto referente ao tema aqui abordado, mas apenas dar uma pequena parcela de contribuição no que, a meu ver, é uma nova – e independente – leitura do Espiritismo elaborada por este médium, através de um recorte muito específico. Deixo claro que estas são considerações iniciais acerca de uma temática que, a meu ver, demanda leituras complementares para uma maior compreensão do discurso produzido por Robson Pinheiro. Como bem frisou Borges (1993, p.31 apud SILVA), tal atitude se faz

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necessária para a compreensão da história de uma sociedade ou de uma instituição em que se faz necessário estudar as mudanças de suas crenças e comportamentos.

Referências

DEL PRIORE, Mary. Do outro lado. São Paulo: Planeta, 2014. FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Edições Loyola, 2011. _________________. Microfísica do Poder. Organização e tradução de Roberto Machado. – Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979. GIUMBELLI, Emerson. De que Espiritismo falamos? História Viva. Editora Duetto, 2015. (Especial Grandes Temas nº 53) GONÇALVES, Iracilda. Psicografia: verdade ou fé? João Pessoa: Editora Universitária UFPB, 2010. ____________________. Na discursivização de Nosso Lar. As verdades do Espiritismo. João Pessoa: Ed. Universitária UFPB, 2011. KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. Araras, SP, IDE, 83ª edição, 2007. 464p. PIERUCCI, Antônio Flávio. Religião como solvente: uma aula. Novos estud. - CEBRAP, São Paulo, n. 75, July 2006. Available from . access on 21 Mar. 2015. http://dx.doi.org/10.1590/S0101-33002006000200008. PINHEIRO, Robson. Medicina da Alma. Contagem, MG: Casa dos Espíritos Editora, 1997. _________________. Tambores de Angola. Contagem, MG: Casa dos Espíritos Editora, 2006. _________________. Os espíritos em minha vida. Contagem, MG: Casa dos Espíritos Editora, 2008. PINHEIRO, André. Revista espiritual de umbanda: representações, mito fundador e diversidade do campo umbandista. In: ISAIA, Artur. MANOEL, Ivan (orgs.). Espiritismo e religiões afro-brasileiras. São Paulo: Ed. Unesp, 2012. SILVA, Fábio Luiz da. Espiritismo: história e poder (1938-1949). Londrina: Eduel, 2005. STOLL, Sandra. Espiritismo à brasileira. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2003. VIDAL, Fabiano Cesar de Mendonça. Em torno do Nosso Lar: uma análise das controvérsias produzidas no movimento espírita. 2014. 100 f. Dissertação (Mestrado em Ciência das Religiões) - Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2014. VISÃO ESPÍRITA. Especial Robson Pinheiro 1. . Acesso em 21 mar. 2015.

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