RODRIGUES, Jaime e BARBIERI, Márcia. \"Escola Paulista de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo\". In: MOTT, Maria Lucia e SANGLARD, Gisele (orgs.). História da Saúde em São Paulo: instituições e patrimônio histórico e arquitetônico (1808-1958). Barueri: Manole, 2011.

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Verbete 52

Es col a Paulista de E nfermagem da U n ive r sida de Federa l de São Paulo ( UNIFESP)

Outras denominações: Escola de Enfermeiras do Hospital São Paulo (1939-

-1968), Escola Paulista de Enfermagem (1968-1977), Departamento de Enfermagem da Escola Paulista de Medicina (1977-1994), Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo (1994-2009), Escola Paulista de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo (2010) Localização: Vila Clementino, São Paulo – SP Categoria: Instituição de Ensino Superior Período de construção: 1945-1960 Proprietário: Governo Federal Histórico

A história da criação do curso de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) dá-se em meio ao governo Getúlio Vargas (1930-1945), particularmente com a implantação do Estado Novo (1939-1945). É nesse contexto que, em março de 1938, por solicitação de Octávio de Carvalho, então diretor da Escola Paulista de Medicina (ver Verbete 53 – Escola Paulista de Medicina – EPM), ao vice-diretor Álvaro Guimarães Filho, foi apresentado um projeto para organização e funcionamento de uma Escola de Enfermagem. A preocupação era com a escassez de profissionais no mercado de trabalho.

Assim, o surgimento da Escola de Enfermeiras do Hospital São Paulo (EEHSP) – primeira denominação da escola – tem estreita ligação com a EPM e com o Hospital São Paulo (ver Verbete 81 – Hospital São Paulo), uma vez que, para os seus fundadores, a enfermagem deveria garantir qualidade técnica à equipe de assistência e suprir a carência de enfermeiras na cidade e, principalmente, no futuro, com o término da construção e a inauguração do hospital de clínicas da Escola. A EEHSP foi equiparada ao modelo estabelecido pelo Governo Federal como “escola-padrão” para abertura de novos cursos de enfermagem em todo o Brasil. Esse modelo, por sua vez, tinha por base a prática de assistência de enfermagem inspirada no modelo norte-americano que, entre outras características, previa um curso organizado em disciplinas com carga horária teórica e prática e incluía o regime de internato. Aos poucos, tal regime extinguiu-se, terminando por volta de 1976. Em 1938, foi criado um curso de Especialização em Enfermagem Obstétrica, por Álvaro Guimarães Filho, professor de clínica obstétrica, para formação de enfermeiras especializadas, que começou a funcionar no ano seguinte, concomitante ao de enfermagem, com 2 anos de duração. A implantação da Escola de Enfermagem foi negociada junto à Arquidiocese de São Paulo, que trouxe as religiosas da Congregação das Franciscanas Missionárias de Maria para uma parceria com a EPM. Em março de 1939, foi autorizada a implantação da escola, compartilhando das instalações da EPM. A EEHSP foi oficializada pelo Decreto n. 9.101 de 24 de março de 1942, sendo o curso reconhecido como de nível superior em 1962. Sua federalização e incorporação à EPM como Departamento de Enfermagem ocorreram em 1977 e 1994, como Departamento de Enfermagem da recém-criada Unifesp. Os 70 anos de luta pela autonomia do curso de Enfermagem não foram em vão. Por decisão estatutária em 31 de março de 2010, tornou-se Escola Paulista de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo (EPE-Unifesp). A organização técnica e administrativa do curso coube às religiosas francesas dessa congregação – enfermeiras diplomadas na Europa que, posteriormente, revalidaram seus diplomas no Brasil. Destacam-se, entre elas, as madres Marie Fontenelle, Hermana Joseph, Marie de Lenaik, Saint Domice e Marie Domineuc. Essa última teve grande destaque no cenário nacional da enfermagem, ao propor e participar da realização do primeiro Congresso Nacional de Enfermagem, sob

a organização da Associação Nacional de Enfermeiras Diplomadas Brasileiras – atual Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn) –, bem como de muitos outros eventos acadêmicos, além de ter cooperado na criação de associações de classe e fundado o Amparo Maternal (ver Verbete 39 – Amparo Maternal), com o objetivo de acolher e prestar assistência às mães e às famílias desamparadas. Por seu trabalho em prol do ensino de enfermagem no Brasil, recebeu várias homenagens da ABEn e do governo francês. Por exigência regimental, a diretora do curso deveria ser brasileira nata. Ressalta-se que as primeiras dirigentes foram muito assessoradas pelas estrangeiras. A primeira diretora foi Madre Maria das Dores (1939-1944), formada na Escola Anna Nery, do Rio de Janeiro. Em 1944, assumiu a direção Madre Áurea Vieira da Cruz, enfermeira diplomada na própria EEHSP e que permaneceu na função até 1945. De 1945 a 1948, assumiu Madre Marie Domineuc, em virtude do afastamento de Madre Áurea, que retornou em 1948 e ficou no cargo até 1973. Em 1973, Francisca Nogueira Soares (Madre Maria do Cristo Redentor) tornou-se diretora da EPE. Com as transformações ocorridas após a Segunda Guerra Mundial, pós-Concílio Vaticano II e com o país cada vez mais integrado ao capitalismo internacional, as práticas abnegadas e voluntárias das irmãs no setor da educação e da saúde foram sendo substituídas. Dessa forma, encerrava-se o ciclo religioso na direção da escola, assumindo, pela primeira vez, uma professora laica, Esmeralda Augusto (1976-1982), sucedida por Laís Helena Ramos (1982-1988), Rosa Apparecida Pimenta de Castro (1988-1991), novamente Laís Helena Ramos (1991-1994), Lucila Amaral Carneiro Vianna (1994-2000), Conceição Vieira da Silva (2000-2006) e, por fim, Alba Lúcia Bottura Leite de Barros (2006 – dias atuais). Em 1977, terminava também o caráter de escola particular – ainda que nem todas as alunas pagassem pelo ensino, em função do grande número de bolsas distribuídas e do pagamento sob a forma de trabalho junto ao HSP prestado pelas alunas ao longo de seus estudos. A EEHSP, em decorrência da origem de suas fundadoras, teve uma marca católica no ensino e no exercício profissional. Essa marca conservava uma tradição de forte influência religiosa na assistência aos enfermos, que, vinda dos tempos coloniais e do império brasileiro, ainda se manteria por muitos anos no regime republicano. No entanto, ainda sob a administração das religiosas,

os primeiros homens ingressaram na EPE, em 1969 e 1970, sem constituir um fluxo contínuo. O ingresso regular de alunos do sexo masculino deu-se após a federalização, em 1977, ainda que em pequeno número. A EEHSP, ligada a uma escola médica, iniciou suas atividades em 1939 nas dependências do recém-construído HSP e, durante anos, ocupou a área do 11º andar. Para o internato, possuía uma casa nas proximidades do hospital. Os anos que se seguiram ao final da Segunda Guerra foram de retomada da expansão na EPM. Além do curso médico, tanto o HSP como a EEHSP tinham necessidade de crescer para atender ao ampliado número de pacientes que demandavam seus serviços e de alunos que procuravam as duas escolas da área da saúde, procedentes de diferentes regiões do estado e do país. Na década de 1970, atendendo às transformações ocorridas no sistema de saúde brasileiro, o Conselho Federal de Educação modificou o currículo mínimo de enfermagem, criando as habilitações. Assim, a EPE passou a formar enfermeiros generalistas, com aprofundamentos específicos em diferentes áreas. Aquela década foi marcada pela abertura dos cursos de pós-graduação lato sensu e stricto sensu, tendo grande expansão ao longo dos três decênios seguintes (Figuras 1 e 2).

Figura 1 Vista geral do edifício sede da Escola Paulista de Enfermagem, 1970.

A organização administrativa da EPE, desde sua federalização, ocorrida em 1977, transformou-a em um departamento integrante da EPM. A partir de 1994, a EPM foi extinta e, em seu lugar, foi criada a Unifesp, sendo mantida a mesma estrutura departamental. Desde a federalização, o Departamento de Enfermagem é composto por quatro grandes disciplinas administrativas: Fundamentos de Enfermagem e Enfermagem Médico-cirúrgica; Enfermagem Pediátrica; Enfermagem Obstétrica; Enfermagem de Saúde Pública e Administração Aplicada à Enfermagem – responsáveis, com seu corpo docente, pelo ensino e pela pesquisa junto ao curso de graduação em Enfermagem. O curso de Enfermagem da Unifesp destaca-se por formar profissionais voltados à assistência ao paciente, à família e à comunidade nos diferentes níveis de atenção à saúde. Descrição arquitetônica

Um marco da expansão na área física do complexo EPM/HSP/EEHSP foi a doa­ ção, em 1947, pela Prefeitura Municipal de São Paulo, de um terreno de 12.387,2 m2, contíguo ao hospital. Pouco menos da metade da área foi destinada à construção de

Figura 2 Aula de anatomia ministrada às alunas de Enfermagem, s/d.

ambulatórios e 2.660,5 m2 ficaram reservados à construção da nova sede da EEHSP, inicialmente projetada para ser residência das madres e das alunas. As obras foram iniciadas em 1954 e concluídas em 1960, com recursos próprios e de doações governamentais. O térreo e os dois pavimentos superiores foram totalmente ocupados pela residência nos primeiros 13 anos. No subsolo, encontrava-se o vestiário. Em 1972, foi instalada, em parte do andar térreo do edifício, a Comunidade Infantil, creche destinada aos filhos de professoras e funcionários dos diversos departamentos da EPM, do HSP e da Biblioteca Regional de Medicina, tendo permanecido nesse local até 1989, quando já era pequena para seu fim. Em decorrência do número de crianças que recebia, ganhou novas instalações nas imediações. Atualmente, a creche iniciada na Escola de Enfermagem por iniciativa de seus docentes possui prédio próprio e tem o nome de Escola Paulistinha de Educação, com maternal, educação infantil e ensino fundamental. A partir de 1973, com o crescimento da EPE em decorrência do aumento da demanda pelo curso, somente o terceiro andar foi mantido com aposentos das alunas, o qual, paulatinamente, também foi reformado, dando lugar a salas de aula e gabinetes para docentes. Parte do terreno situado nos fundos do edifício, ocupada por jardim e pomar, foi destinada às instalações da Associação Atlética Acadêmica Pereira Barretto e do Centro Acadêmico Pereira Barretto. Na fachada do edifício (Figura 3), encontra-se um afresco decorativo marcante executado em 1966, o mural O bom samaritano, de autoria do artista

Figura 3 Detalhe da fachada do edifício sede da Escola Paulista de Enfermagem, Departamento de Enfermagem da Unifesp, 2009.

italiano Pietro Nerici, que apresenta a parábola do Bom Samaritano. Narrada no Evangelho segundo Lucas (Lc 10, 25-37), essa parábola dialoga com o lema da EEHSP: “Não viver senão para servir”. Registro de tombamento: não está tombada. Créditos

Márcia Barbieri e Jaime Rodrigues: pesquisa, texto e descrição arquitetônica. Fontes Augusto, M., Maranhão A. M. S. A. Resenha histórica do Departamento de Enfermagem da Escola Paulista de Medicina. Anais do jubileu de ouro do curso de graduação em Enfermagem da Escola Paulista de Medicina. São Paulo 1989, 17-22. Silva, M. R. G. A criação da Escola de Enfermeiras do Hospital São Paulo e o desenho de seu primeiro currículo (1939-1942). [Dissertação de Mestrado]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo, 2007. Vianna, L. A. C. Enfermagem: da vida abnegada à autodeterminação profissional. Acta paulista de Enfermagem 2000; 13(1): 17-26. Barbieri, M, Rodrigues, J. (orgs.). Memórias do cuidar. Setenta anos da Escola Paulista de Enfermagem. São Paulo: Unifesp, 2010.

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