Roleta Russa: 25 anos após a União Soviética, a Rússia de Vladimir Putin se projeta num mundo entre-crises

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Roleta Russa: 25 anos após a União Soviética, a Rússia de Vladimir Putin se projeta num mundo entre-crises

Carlos Frederico Pereira da Silva Gama1

Publicado em MUNDORAMA em 3 de Janeiro de 2017 https://www.mundorama.net/2017/01/03/roleta-russa-25-anos-apos-a-uniao-sovietica-a-russia-de-vladimir-putin-seprojeta-num-mundo-entre-crises-por-carlos-frederico-gama/

Natal de 1991. O Secretário-Geral do Partido Comunista Mikhail Gorbatchev anuncia ao mundo a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas2. A Guerra Fria acaba de forma surpreendente, com o fim abrupto de uma superpotência3. 25 anos depois, as manchetes de Natal são monopolizadas pelo principal estado herdeiro da União Soviética. Vitoriosa na guerra civil síria, a Federação Russa anuncia um cessar-fogo no país e é acusada de crimes de guerra na cidade destruída de Aleppo4. Enquanto o presidente Vladimir Putin anunciava a renovação do maior arsenal nuclear do planeta5 e a expansão de investimentos militares no Oceano Ártico6, o embaixador russo Andrey Karlov era assassinado por um guardacostas diante das câmeras de todo o mundo na capital da Turquia, Ankara7. Dias depois, um avião militar russo caiu no Mar Negro com 92 tripulantes. O presidente dos Estados Unidos Barack Obama acusa a Rússia de interferir (através de espionagem eletrônica) na eleição presidencial vencida por Donald Trump. 35 diplomatas russos foram expulsos do país8. Estaria o mais extenso estado do globo em busca do status de superpotência desfrutado por sua antecessora? O declínio econômico e militar da década de 1980 forçou Gorbatchev a uma retirada humilhante do Afeganistão, acossado pelos guerrilheiros mujahedins de Osama Bin Laden. A redução das armas estratégicas da União Soviética na Europa foi o prenúncio para a queda do Muro de Berlim (1989) e para a reunificação da Alemanha no ano seguinte. No Oriente Médio, a finada superpotência tinha como aliados o Egito de Gamal Abdel Nasser, o Iraque e a Síria, esses dois últimos governados pelo Partido Socialista Árabe Baath. O Egito se aproximou dos EUA e Israel após a Guerra do Yom Kippur (1973), sob Anwar Sadat. Em 1990, com o aval de Gorbatchev, o Iraque foi alvo de uma operação de segurança coletiva da ONU e deixou de ser um protetorado soviético. A invasão norte-americana em 2003 consolidou a mudança de guarda – a oposição da Rússia, porém, impediu que a invasão fosse legitimada pela ONU. Após a perda do Iraque, era previsível que o principal herdeiro da União Soviética buscasse defender, de todas as formas, seu aliado remanescente na região: Bashar Al-Assad. No front diplomático, as ações começaram em 2012. Rússia e China impediram o uso da força pela ONU contra a ditadura síria (acusada de alvejar seus opositores com armamento químico)9.

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Diretor de Assuntos Internacionais e Professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Tocantins (UFT) https://www.youtube.com/watch?v=028gd8Sn3m0 3 Gaddis J L (1986). The Long Peace: Elements of Stability in the Post-war International System. International Security 10(4): 99-142 4 https://www.theguardian.com/world/2016/sep/25/russia-accused-war-crimes-syria-un-security-council-aleppo 5 https://www.yahoo.com/news/putin-calls-strengthening-russias-military-nuclear-potential-101800687.html 6 http://rbth.com/defence/2016/12/26/russia-expands-its-presence-in-the-arctic_668653 7 http://www.reuters.com/article/us-turkey-russia-diplomacy-idUSKBN1481RE 8 https://www.washingtonpost.com/world/national-security/obama-administration-announces-measures-to-punish-russia-for-2016election-interference/2016/12/29/311db9d6-cdde-11e6-a87f-b917067331bb_story.html?tid=a_inl&utm_term=.d7670d119f58 9 Gama, Carlos Frederico Pereira da Silva (2016). “O acordo nuclear com o Irã e a as relações internacionais do Oriente Médio”. NEMRI. Disponível em: https://nemrisp.wordpress.com/2016/01/22/o-acordo-nuclear-com-o-ira-e-as-relacoes-internacionais-no-orientemedio-2/. Acesso em: 22 de Janeiro de 2016. 2

Ao adentrar decisivamente a guerra civil na Síria, a Rússia de Putin e Dmitri Medvedev auxiliou o governo a esmagar movimentos democratizantes oriundos da Primavera Árabe. A luta contra o “estado islâmico” também reforçou o discurso do regime russo, que associa movimentos separatistas (como o da Chechênia) ao terrorismo religioso. A intervenção russa sedimentou laços de aliança com o Irã, em contraponto à ingerência da Arábia Saudita, e se beneficiou da ambivalência da Turquia, aliada dos EUA, integrante da OTAN e opositora ferrenha dos grupos autonomistas curdos que operam na Síria. O fracassado golpe de estado contra Recep Tayyip Erdoğan (Julho de 2016) azedou as relações com Washington: o governo de Barack Obama foi acusado de fazer vista grossa diante das atividades de opositores do regime10. Putin já havia colhido uma vitória diplomática ao se aproximar da França de François Hollande em 201511. Ao obter apoio de um membro da OTAN e da União Europeia e portador de armas nucleares, a Rússia forçou os EUA a negociarem a tolerância mútua no teatro de guerra sírio, situação oficializada em resolução do Conselho de Segurança da ONU de 20 de Novembro de 201512. No domingo de Natal de 2016, uma aeronave militar russa caiu no Mar Negro, matando 92 tripulantes13. Seu destino era a base aérea construída em Lakatia em 2015, produto do esforço russo na guerra civil síria. Já a aeronave pertencia a outro contexto geopolítico: foi construída há 33 anos, na época de um dos efêmeros antecessores de Gorbatchev, Iuri Andropov. A queda do Tupolev TU-154 sintetiza as contradições do esforço militar russo em tempos de vacas magras na economia. Ao intensificar a presença militar em regiões nas quais a Rússia é um agente político fundamental, Putin foi obrigado a confiar em equipamento soviético desgastado (além de buscar reativar antigas bases militares soviéticas14). Uma corrida armamentista é um pesado fardo para uma economia em recessão – isso se mostrou fatal para a União Soviética. Desde a crise de 2008, o produto interno russo teve quatro anos de modesta recuperação (2011-2014) comprometidos por dois biênios profundamente recessivos (2009-2010 e 2015/2016)15 relacionados, respectivamente, com a desabada de preços do petróleo e com sanções econômicas impostas após a anexação da província ucraniana da Criméia. Em 19 de Dezembro, outra aeronave militar russa caiu na região da Sibéria (um II-18 da época de Nikita Kruschnev), ferindo parte dos seus 40 tripulantes16. Em 5 de Dezembro, um caça Sukhoi Su-33 explodiu ao tentar aterrissar no porta-aviões Almirante Kuznetsov17. Em 13 de Novembro, um caça MiG-29K caiu no Mar Mediterrâneo18, pouco antes de pousar no mesmo porta-aviões mobilizado para o esforço de guerra russo na Síria. Os incidentes foram atribuídos a falhas mecânicas. A maior operação aeroespacial envolvendo as forças armadas russas desde a invasão soviética do Afeganistão (1979-1988) não foi feita sob o signo do expansionismo. A defesa de um antigo aliado numa região onde a influência russa flertava com a irrelevância aponta os limites da estratégia global de uma potência regional em meio a uma profunda crise econômica19. Herdeira do status da União Soviética nas instituições internacionais (por exemplo, a cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU), a Federação Russa dispõe de recursos políticos comparativamente menores. A atualização do arsenal nuclear russo remonta a 2002, quando George W. Bush denunciou o tratado ABM (de 1972)20. O músculo político que tornava o apertar do botão vermelho tão atemorizante, porém, está ausente. A nostálgica Rússia do século XXI não dispõe de uma cosmovisão global como aquela oriunda da Revolução Bolshevik, que completa 100 anos em 2017.

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http://www.independent.co.uk/news/world/middle-east/isis-president-erdogan-us-coalition-support-terrorists-a7497841.html Gama, Carlos Frederico Pereira da Silva (2015). “Idas e Vindas na Segurança Coletiva: a ONU entre as Torres Gêmeas e o ‘Estado Islâmico’”. MUNDORAMA. Disponível em: http://mundorama.net/2015/11/25/idas-e-vindas-na-seguranca-coletiva-a-onu-entre-astorres-gemeas-e-o-estado-islamico-por-carlos-frederico-pereira-da-silva-gama/ . Acesso em: 25 de Novembro de 2015 12 Ibid. 13 http://tass.com/world/922433 14 http://www.telegraph.co.uk/news/2016/10/07/russia-says-it-may-reopen-soviet-era-military-bases-in-cuba-and/ 15 http://data.worldbank.org/country/russian-federation 16 https://www.rt.com/news/370700-russian-military-plane-crash-yakutia/ 17 http://rbth.com/defence/2016/12/05/why-did-russia-lose-another-jet-off-the-admiral-kuznetsov_653753 18 http://www.rferl.org/a/russia-fighter-jet-crashes-mediterranean/28116583.html 19 Gama, Carlos Frederico Pereira da Silva (2015). “Idas e Vindas na Segurança Coletiva: a ONU entre as Torres Gêmeas e o ‘Estado Islâmico’” 20 https://www.armscontrol.org/act/2002_01-02/docjanfeb02 11

A resposta cautelosa ao assassinato do embaixador russo, nas vésperas de uma reunião de cúpula de Rússia, Irã e Turquia sobre a Síria21, é outro sinal de declínio. Tal incidente não passaria despercebido nos idos da URSS (embaixadores mortos produziam ruptura de relações diplomáticas e movimentações militares). No século 21, a política externa russa tem uma autonomia de voo menor (mesmo diante da enfraquecida Turquia de Erdoğan), o que demanda maior prudência. Tal postura se provou adequada tanto nas vitórias (na Síria e na guerra com a Geórgia em 2008) quanto nos revezes (o bombardeio da OTAN na ex-Iugoslávia em 1999, que pôs fim às ambições genocidas do aliado Slobodan Milosevic). Ao buscar protagonismo geopolítico em meio a severos constrangimentos materiais (desvalorização dos combustíveis fósseis e declínio econômico), a Rússia tem imensa dificuldade em competir com os Estados Unidos e com a ascensão simultânea de China e Índia22. Mesmo com desvantagens estratégicas e econômicas frente aos competidores, a Rússia não pode ser subestimada. Nos arredores do antigo império soviético, os impactos de ações russas são notáveis. Essa é apenas uma das contradições da ex-superpotência incluída recentemente num grupo de países “emergentes”, os BRICS23. Uma guerra fria não se faz com apenas uma superpotência24. Entretanto, mesmo esbarrando nos números, a busca russa por protagonismo nos lembra que o país permanece um agente-chave da ordem internacional entre-crises do século 21.

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https://sputniknews.com/politics/201612251048984164-russia-iran-turkey-syria/ Gama, Carlos Frederico Pereira da Silva (2016). “Do G-20 à Cúpula dos BRICS: Inflexões da Economia Internacional Após a Crise de 2008”. NEMRI. Disponível em: https://nemrisp.wordpress.com/2016/10/18/do-g-20-a-cupula-dos-brics-inflexoes-da-economiainternacional-apos-a-crise-de-2008/. Acesso em: 18 de Outubro de 2016. 23 Gama, Carlos Frederico Pereira da Silva (2015). “De Volta para o Futuro: O Brasil de Dilma Rousseff entre a Rússia e os Estados Unidos". SRZD. Disponível em: http://www.sidneyrezende.com/noticia/251817. Acesso em: 13 de Julho de 2015. 24 Wolforth W (1999). The Stability of a Unipolar World. International Security 24(1): 5-41. 22

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Natal de 1991. O Secretário-Geral do Partido Comunista Mikhail Gorbatchev anuncia ao mundo a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas[2]. A Guerra Fria acaba de forma surpreendente, com o 佽m abrupto de uma superpotência[3]. 25 anos depois, as manchetes de Natal são monopolizadas pelo principal estado herdeiro da União Soviética. Vitoriosa na guerra civil síria, a Federação Russa anuncia um cessar-fogo no país

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Vladimir Putin anunciava a renovação do maior arsenal nuclear do planeta[5] e a expansão de investimentos militares no Oceano Ártico[6], o embaixador russo Andrey Karlov era assassinado por um guarda-costas diante das câmeras de todo o mundo na capital da Turquia, Ankara[7]. Dias depois, um avião militar russo caiu no Mar Negro com 92 tripulantes. O presidente dos Estados Unidos Barack Obama acusa a Rússia de interferir (através de espionagem eletrônica) na eleição presidencial vencida por Donald Trump. 35 diplomatas russos foram expulsos do país[8]. Estaria o mais extenso estado do globo em busca do status de superpotência desfrutado por sua antecessora? O declínio econômico e militar da década de 1980 forçou Gorbatchev a uma retirada humilhante do Afeganistão, acossado pelos guerrilheiros mujahedins de Osama Bin Laden. A redução das

Será o 佽m dos

armas estratégicas da União Soviética na Europa

projetos de

foi o prenúncio para a queda do Muro de Berlim

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(1989) e para a reuni佽cação da Alemanha no ano

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superpotência tinha como aliados o Egito de

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últimos governados pelo Partido Socialista Árabe Baath. O Egito se aproximou dos EUA e Israel após a Guerra do Yom Kippur (1973), sob Anwar Sadat. Em 1990, com o aval de Gorbatchev, o Iraque foi alvo de uma operação de segurança

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coletiva da ONU e deixou de ser um protetorado

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soviético. A invasão norte-americana em 2003

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consolidou a mudança de guarda – a oposição da

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Rússia, porém, impediu que a invasão fosse

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legitimada pela ONU.

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Após a perda do Iraque, era previsível que o principal herdeiro da União Soviética buscasse defender, de todas as formas, seu aliado

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remanescente na região: Bashar Al-Assad. No

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front diplomático, as ações começaram em 2012.

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Rússia e China impediram o uso da força pela

espacial: 30 https://www.mundorama.net/2017/01/03/roleta­russa­25­anos­apos­a­uniao­sovietica­a­russia­de­vladimir­putin­se­projeta­num­mundo­entre­crises­por…

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Tayyip Erdoğan (Julho de 2016) azedou as

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Obama foi acusado de fazer vista grossa diante das atividades de opositores do regime[10]. Putin já havia colhido uma vitória diplomática ao se aproximar da França de François Hollande em

A Fome na

2015[11]. Ao obter apoio de um membro da OTAN

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nucleares, a Rússia forçou os EUA a negociarem a

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2015[12]. No domingo de Natal de 2016, uma aeronave militar russa caiu no Mar Negro, matando 92 tripulantes[13]. Seu destino era a base aérea construída em Lakatia em 2015, produto do esforço russo na guerra civil síria. Já a aeronave pertencia a outro contexto geopolítico: foi construída há 33 anos, na época de um dos efêmeros antecessores de Gorbatchev, Iuri Andropov.

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A queda do Tupolev TU-154 sintetiza as

os Paradigmas

contradições do esforço militar russo em tempos

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Ao intensi佽car a presença militar em regiões nas quais a Rússia é um agente político fundamental,

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município de

Putin foi obrigado a con佽ar em equipamento

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soviético desgastado (além de buscar reativar

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antigas bases militares soviéticas[14]). Uma corrida

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para a União Soviética. Desde a crise de 2008, o produto interno russo teve quatro anos de modesta recuperação (20112014) comprometidos por dois biênios profundamente recessivos (2009-2010 e 2015/2016)[15] relacionados, respectivamente, com a desabada de preços do petróleo e com sanções econômicas impostas após a anexação da província ucraniana da Criméia.

Síria em 2017: Rússia como

Em 19 de Dezembro, outra aeronave militar russa

佽ador de uma

caiu na região da Sibéria (um II-18 da época de

eventual

Nikita Kruschnev), ferindo parte dos seus 40

vitória?, por

tripulantes[16]. Em 5 de Dezembro, um caça

Virgílio Arraes

Sukhoi Su-33 explodiu ao tentar aterrissar no

UFGD publica dossiê especial da Revista Monções

porta-aviões Almirante Kuznetsov[17]. Em 13 de Novembro, um caça MiG-29K caiu no Mar Mediterrâneo[18], pouco antes de pousar no mesmo porta-aviões mobilizado para o esforço de guerra russo na Síria. Os incidentes foram atribuídos a falhas mecânicas. A maior operação aeroespacial envolvendo as forças armadas russas desde a invasão soviética do Afeganistão (1979-1988) não foi feita sob o signo do expansionismo. A defesa de um antigo aliado numa região onde a in茐uência russa 茐ertava com a irrelevância aponta os limites da estratégia global de uma potência regional em meio a uma profunda crise econômica[19]. Herdeira do status da União Soviética nas instituições internacionais (por exemplo, a cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU), a Federação Russa dispõe de recursos políticos comparativamente menores. A atualização do arsenal nuclear russo remonta a 2002, quando George W. Bush denunciou o tratado ABM (de 1972)[20]. O músculo político que tornava o apertar do botão vermelho tão atemorizante, porém, está ausente. A nostálgica Rússia do

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século XXI não dispõe de uma cosmovisão global como aquela oriunda da Revolução Bolshevik, que completa 100 anos em 2017. A resposta cautelosa ao assassinato do embaixador russo, nas vésperas de uma reunião de cúpula de Rússia, Irã e Turquia sobre a Síria[21], é outro sinal de declínio. Tal incidente não passaria despercebido nos idos da URSS (embaixadores mortos produziam ruptura de relações diplomáticas e movimentações militares). No século 21, a política externa russa tem uma autonomia de voo menor (mesmo diante da enfraquecida Turquia de Erdoğan), o que demanda maior prudência. Tal postura se provou adequada tanto nas vitórias (na Síria e na guerra com a Geórgia em 2008) quanto nos revezes (o bombardeio da OTAN na ex-Iugoslávia em 1999, que pôs 佽m às ambições genocidas do aliado Slobodan Milosevic). Ao buscar protagonismo geopolítico em meio a severos constrangimentos materiais (desvalorização dos combustíveis fósseis e declínio econômico), a Rússia tem imensa di佽culdade em competir com os Estados Unidos e com a ascensão simultânea de China e Índia[22]. Mesmo com desvantagens estratégicas e econômicas frente aos competidores, a Rússia não pode ser subestimada. Nos arredores do antigo império soviético, os impactos de ações russas são notáveis. Essa é apenas uma das contradições da ex-superpotência incluída recentemente num grupo de países “emergentes”, os BRICS[23]. Uma guerra fria não se faz com apenas uma superpotência[24]. Entretanto, mesmo esbarrando nos números, a busca russa por protagonismo nos lembra que o país permanece um agentechave da ordem internacional entre-crises do século 21.   1. https://www.youtube.com/watch? v=028gd8Sn3m0 ↑ https://www.mundorama.net/2017/01/03/roleta­russa­25­anos­apos­a­uniao­sovietica­a­russia­de­vladimir­putin­se­projeta­num­mundo­entre­crises­por…

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2. Gaddis J L (1986). The Long Peace: Elements of Stability in the Post-war International System. International Security 10(4): 99-142 ↑ 3. https://www.theguardian.com/world/2016 /sep/25/russia-accused-war-crimes-syriaun-security-council-aleppo ↑ 4. https://www.yahoo.com/news/putin-callsstrengthening-russias-military-nuclearpotential-101800687.html ↑ 5. http://rbth.com/defence/2016/12/26/russi a-expands-its-presence-in-thearctic_668653 ↑ 6. http://www.reuters.com/article/us-turkeyrussia-diplomacy-idUSKBN1481RE ↑ 7. https://www.washingtonpost.com/world/ national-security/obama-administrationannounces-measures-to-punish-russiafor-2016-electioninterference/2016/12/29/311db9d6-cdde11e6-a87f-b917067331bb_story.html? tid=a_inl&utm_term=.d7670d119f58 ↑ 8. Gama, Carlos Frederico Pereira da Silva (2016). “O acordo nuclear com o Irã e a as relações internacionais do Oriente Médio”. NEMRI. Disponível em: https://nemrisp.wordpress.com/2016/01/2 2/o-acordo-nuclear-com-o-ira-e-asrelacoes-internacionais-no-oriente-medio2/. Acesso em: 22 de Janeiro de 2016. ↑ 9. http://www.independent.co.uk/news/worl d/middle-east/isis-president-erdogan-uscoalition-support-terroristsa7497841.html ↑ 10. Gama, Carlos Frederico Pereira da Silva (2015). “Idas e Vindas na Segurança Coletiva: a ONU entre as Torres Gêmeas e o ‘Estado Islâmico’”. MUNDORAMA. Disponível em: http://mundorama.net/2015/11/25/idas-evindas-na-seguranca-coletiva-a-onu-entreas-torres-gemeas-e-o-estado-islamico-porcarlos-frederico-pereira-da-silva-gama/ . Acesso em: 25 de Novembro de 2015 ↑ 11. Ibid. ↑ 12. http://tass.com/world/922433 ↑ 13. http://www.telegraph.co.uk/news/2016/10 /07/russia-says-it-may-reopen-soviet-erahttps://www.mundorama.net/2017/01/03/roleta­russa­25­anos­apos­a­uniao­sovietica­a­russia­de­vladimir­putin­se­projeta­num­mundo­entre­crises­por…

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Roleta Russa: 25 anos após a URSS, a Rússia de Vladimir Putin se projeta num mundo entre­crises, por Carlos Gama – Revista Mundorama

military-bases-in-cuba-and/ ↑ 14. http://data.worldbank.org/country/russia n-federation ↑ 15. https://www.rt.com/news/370700-russianmilitary-plane-crash-yakutia/ ↑ 16. http://rbth.com/defence/2016/12/05/whydid-russia-lose-another-jet-oꩭ-theadmiral-kuznetsov_653753 ↑ 17. http://www.rferl.org/a/russia-佽ghter-jetcrashes-mediterranean/28116583.html ↑ 18. Gama, Carlos Frederico Pereira da Silva (2015). “Idas e Vindas na Segurança Coletiva: a ONU entre as Torres Gêmeas e o ‘Estado Islâmico’” ↑ 19. https://www.armscontrol.org/act/2002_0102/docjanfeb02 ↑ 20. https://sputniknews.com/politics/2016122 51048984164-russia-iran-turkey-syria/ ↑ 21. Gama, Carlos Frederico Pereira da Silva (2016). “Do G-20 à Cúpula dos BRICS: In茐exões da Economia Internacional Após a Crise de 2008”. NEMRI. Disponível em: https://nemrisp.wordpress.com/2016/10/1 8/do-g-20-a-cupula-dos-brics-in茐exoes-daeconomia-internacional-apos-a-crise-de2008/. Acesso em: 18 de Outubro de 2016. ↑ 22. Gama, Carlos Frederico Pereira da Silva (2015). “De Volta para o Futuro: O Brasil de Dilma Rousseꩭ entre a Rússia e os Estados Unidos”. SRZD. Disponível em: http://www.sidneyrezende.com/noticia/25 1817. Acesso em: 13 de Julho de 2015. ↑ 23. Wolforth W (1999). The Stability of a Unipolar World. International Security 24(1): 5-41. ↑    

Carlos Frederico Gama é diretor de Assuntos Internacionais e Professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Tocantins (UFT) ([email protected]).

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Roleta Russa: 25 anos após a URSS, a Rússia de Vladimir Putin se projeta num mundo entre­crises, por Carlos Gama – Revista Mundorama

Como citar este artigo: Mundorama. "Roleta Russa: 25 anos após a URSS, a Rússia de Vladimir Putin se projeta num mundo entre-crises, por Carlos Gama". Mundorama - Revista de Divulgação Cientí佽ca em Relações Internacionais, [acessado em 03/01/2017]. Disponível em: .

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