ROMPENDO COM OS SILENCIAMENTOS: CANTANDO GÊNERO, RAÇA E SEXUALIDADE NA PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO SOBRE MULHERES E MÚSICA NO BRASIL

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ROMPENDO COM OS SILENCIAMENTOS: CANTANDO GÊNERO, RAÇA E SEXUALIDADE NA PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO SOBRE MULHERES E MÚSICA NO BRASIL Laila Rosa1 Jorgete Lago2 Rebeca Sobral3 Ítalo Araújo4 Cristiane Lima5 Ellen Carvalho6 Laura Cardoso7 Maiara Amaral8 Neila Alcântara9 Resumo: Cantar temas ainda silenciados pela produção de conhecimento sobre mulheres e música e, infelizmente, sobre o campo do musical do modo geral no Brasil é nosso argumento principal para o presente artigo. Através de pesquisas em periódicos, anais de associações nacionais de música, dissertações e teses de doutorado, temos realizado mapeamento desta produção que se encontra no seu terceiro ano de realização que somam encontros e desencontros sobre o tema. Para a empreitada, formamos um grupo, a Feminaria Musical: grupo de pesquisa e experimentos sonoros que vem atuando também artisticamente em Salvador, cantando e tocando os temas silenciados, além de nossas próprias trajetórias de enfrentamento às matrizes de desigualdades tais quais o racismo, o sexismo e a lesbo-homo-transfobia. Palavras-chave: Estudos sobre gênero, mulheres e feminismos, Produção de conhecimento, Música.

                                                                                                                        1

Musicista e compositora, profa Dra da Escola de Música da UFBA, pesquisadora permanente do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (NEIM/UFBA) e coordenadora da Feminaria Musical. Email: [email protected] 2 Profa da Universidade Estadual do Pará e doutoranda em etnomusicologia da UFBA. Tutora do projeto. E-mail: [email protected] 3 Doutoranda do programa de Estudos Interdisciplinares sobre Gênero, Mulheres e Feminismo/ PPGNEIM/UFBA. Tutora do projeto. E-mail: [email protected] 4 Músico, compositor e mestrando em etnomusicologia do PPGMUS/UFBA. Tutor do projeto. E-mail: [email protected] 5 Estudante do Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades da UFBA. Bolsista PIBIC do projeto. Email: [email protected] 6 Cantora, compositora, psicóloga e estudante do Bacharelado em Música Popular da UFBA. Voluntária do projeto. E-mail: [email protected] 7 Baixista, compositora, estudante do curso de Composição da UFBA e Bolsista PIBIC do projeto. Email: [email protected] 8 Estudante do Bacharelado em Ciências Sociais da UFBA e Bolsista PIBIC do projeto. E-mail: [email protected] 9 Cantora, compositora, estudante do Bacharelado Interdisciplinar em Artes da UFBA e Bolsista PIBIC do projeto. E-mail: [email protected]

 

 

 

1. Cantando para romper com os silenciamentos O presente artigo pretende abordar um pouco das questões levantadas pelo projeto “Feminaria Musical ou epistemologias feministas em música 2: das experiências etnográficas”, que vem sendo desenvolvido pelo grupo que envolve desde bolsistas de iniciação científica, a mestrand@s, doutorand@s e voluntári@s. Entrando em seu terceiro ano de execução, o referido projeto tem assumido como objetivo geral dar continuidade, de forma ampliada, ao mapeamento da produção de conhecimento sobre mulheres e música no Brasil e etnografia sobre compositoras em Salvador, a partir da simples pergunta: “o que (não) se produz sobre mulheres e música no Brasil?”. Temos realizado ampla pesquisa bibliográfica sobre os temas afins da pesquisa, tais quais estudos sobre música nas suas diversas áreas, estudos da performance, estudos feministas, sobre raça/etnia, sexualidades, geração e classe social numa perspectiva póscolonial (CARDOSO, 2012; CURIEL, 2007 e SOVIK, 2009), dentre outr@s, de modo a fortalecer nossos aportes teóricos e construir dialogicamente com as bolsistas, voluntárias e tutoras/es uma formação qualificada sólida e crítica para que trilhem caminhos acadêmicos, políticos, artísticos e cidadãos futuros com consistência. Pensando também nesta formação qualificada, colaborativa e também criativa, propomos o aguçar de nossa escuta musical de forma crítica, incluindo uma prática musical com as bolsistas que não são originárias de cursos de música, com nossos experimentos com leituras musicadas de poemas e improvisação experimental, já abordada em outro momento (ROSA, HORA e SILVA, 2013). Seguimos dentro de uma perspectiva antropológica da música, de um lado, conforme os parâmetros clássicos dos estudos etnomusicológicos que aborda sons e seres humanos/acústica e cultura, som/sonoridades (PINTO, 2001, p. 221): Desde a sua reformulação a partir de meados dos anos 60, tornou-se meta definida da etnomusicologia descrever os diferentes agentes e agrupamentos etnomusicais: pesquisando suas ações (criação, recepção, transmissão); interpretando as manifestações musicais (através de instrumentos, cantigas, textos, performances, reações); verificando seus conceitos (teorias, valores e normas); analisando os comportamentos psíquicos, verbais, simbólicos e sociais ligados à música (PINTO, 2001, p. 226).

De outro, trazemos uma perspectiva feminista de fazer e pensar musical, pois a ideia do grupo vem sendo a de fomentar um espaço de pesquisa feminista, antirracista e próLGBTTQI enquanto espaço coletivo criativo de caráter também extensionista com a realização de performances, intervenções, criação musical coletiva e individual, aprofundamento em prática horizontais de improvisação musical, inspirados em nossas próprias identidades, desejos e afinidades. A Feminaria Musical vem também  

 

fortalecendo a interlocução com outros grupos de proposta similar, como já vem acontecendo com o Coletivo LGBT da UFBA, o KIU!10, com a Profa Carol Barreto, que é também design de moda e o PET de Estudantes Indígenas, que subiu ao palco dos Teatros Eva Herz e Gamboa Nova novembro e janeiro passados, na ocasião do lançamento do cd autoral de Laila Rosa, o “Água viva: um disco líquido”. 11 2. Os (des)encontros da produção de conhecimento sobre música no Brasil Nossa pesquisa surge das indagações e inquietações a respeito desta grande lacuna epistemológica dentro do campo da música, especialmente (ROSA, 2012 e 2013). Deste modo, pensamos sobre música a partir da perspectiva teórica dos estudos feministas, de gênero, raça/etnia, geração, classe social e das sexualidades sob as lentes da Teoria Queer (BRET e WOOD, 2013), buscando sempre considerar as interseccionalidades entre estas categorias analíticas distintas. O foco até aqui tem sido o campo de pesquisa sobre música através das suas diversas publicações (artigos, teses, dissertações, livros, etc.) produzidas nas suas 4 subáreas: composição, educação musical, performance e etnomusicologia, sendo dada a esta última uma atenção especial pelo fato desta corresponder à área de atuação da proponente. Inicialmente, com o projeto PIBIC aprovado pelo Permanecer 2012, contemplado com três bolsas PIBIC, propusemos um recorte temporal pequeno e modesto, de apenas cinco anos (2007-2011), considerando o volume de materiais a serem pesquisados. No ano seguinte, contemplado pelo edital PIBIC UFBA 2013 com quatro bolsas PIBIC e envolvendo 4 tutoras/es, propusemos uma revisão do material anteriormente pesquisado e a inclusão da parte etnográfica, contudo, tivemos condições de ampliar o recorte temporal para dez anos (2003-2013) que está em fase de finalização. É importante ressaltar que, nestes dois anos, a pesquisa obteve dados relevantes desta produção que tem sido crescente, mas que todavia ainda se mostra tímida, como pode ser observado no artigo escrito pelo grupo e publicado em 2013 pela Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música (ANPPOM) num livro organizado pelas pesquisadoras Isabel Nogueira e Susan Campos, coletânea que já se torna referência no assunto (ROSA, et ali, 2013). Neste, fizemos um levantamento por área                                                                                                                         10

Numa intervenção na Escola Estadual Mário Costa Neto, onde a proponente colaborou em atividades de extensão no projeto “Abrindo a Roda: toda escola pela diversidade com docentes e discentes da mesma.   11 Gravado através do edital Demanda Espontânea 2011, do Fundo de Cultura do Estado da Bahia.

 

 

desta produção encontrada no primeiro recorte temporal de 2007-2011, considerando também, ainda que de modo geral, as tendências teóricas sobre a temática e quais tipos de produção encontrados (se livros, artigos, dissertações, teses) e em quais formatos (periódicos, anais, livros, teses, dissertações, etc.). A própria pesquisa nos conduziu à necessidade de ampliação do recorte temporal para dez anos, tendo em vista publicações anteriores ao período pesquisado que representam referências sobre o tema (HOLANDA E GERLING, 2005). Apresentando alguns resultados preliminares dentro neste recorte ampliado temos: 2.1. Anais No total, foram 66 trabalhos encontrados, sendo 12 na Associação Brasileira de Educação Musical (ABEM), 18 na Associação Brasileira de Etnomusicologia (ABET) e 36 na Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música (ANPPOM). Entretanto, dentre os trabalhos analisados, apenas 17 aparentam abordar questões de gênero, sexualidades e música. Dentre as três associações musicais brasileiras, a ABET demonstrou os índices mais altos de trabalhos com discussão de gênero, apresentando 11 artigos condizentes com o tema, sendo que todos eles dialogam com essas categorias através da perspectiva dos estudos feministas. Na ABEM os resultados se apresentaram mais tímidos e foi possível encontrar apenas dois trabalhos publicados entre 2007 e 2013, ambos com a mesma autoria de Harue Tanaka-Sorrentino a respeito das Ganhadeiras de Itapuã, o primeiro, de 2008, se apresenta através de um estudo de caso sobre música, gênero e educação e o outro, de 2010, discute as articulações pedagógicas no coro das Ganhadeiras. A respeito dos outros 10 trabalhos encontrados nos anais da ABEM, em grande parte são classificados como pertencentes aos campos de composição, performance e educação musical, entretanto, sem haver discussão teórica sobre estudos de gênero e feminismos. Sobre as pesquisas mais recentes, na ABET foram encontradas três publicações para o ano de 2013, “Perspectivas pós-coloniais e feministas em etnomusicologia: os “jazes” e a construção do olhar do(a) pesquisador(a)”, de Laurisabel Maria de Ana da Silva, “Naná Vasconcelos e ressignificação do berimbau na música popular”, de Sérgio Cassiano e “Trompetes Ticuna da “Festa da moça nova”, de Edson Tosta Matarezio Filho. Já na ANPPOM, foram achados quatro trabalhos publicados nos anais do último ano, sendo eles “A função da improvisação dentro da estrutura formal da peça Choro  

 

dançado”, de Maria Schneider e Paulo José da Siqueira Tiné, “Da Mãe de Deus à Deusa-Mãe: transformações estruturais nas Matinas da Conceição decorrentes da marianização do catolicismo”, de Paulo Augusto Castagna, “The Royal Fair: Dido e Elizabeth, rainha de Cartago/ rainha da Inglaterra”, de Silvana Ruffier Scarinci e “Líricas op. 25, de Helza Camêu: a leitura hipertextual na interpretação de um ciclo de canções”, de Luciana Monteiro de Castro. Como é possível constatar, em nenhum deles são discutidas questões de gênero, sexualidades, raça-etnia, feminismos, entre outros. Na ABEM, não foram encontrados dados para o ano de 2013. 2.2. Das teses e dissertações Esta tem consistido, sem dúvida, na parte de maior fôlego da pesquisa. Inicialmente, encontramos o banco de dados da escola de pós-graduação em música da UFMG, que contém 150 teses e dissertações publicadas. Durante a busca localizamos um texto que faz análise sobre a obra para clarineta com eletrônico de Ana Cristina, escrito por Flavio Ferreira (2008); um trabalho sobre a obra para canto e piano de Eunice Katunda (PEIXOTO, 2009), além do título de Marcos Vinicius (2007), sobre canções para canto e piano compostas por Helza Câmeu. Estes já tinham sido observados na pesquisa anterior, assim como os seguintes trabalhos encontrados na busca geral:, Camila do Carmo (2007), sobre mulheres jovens e Hip Hop em Belo Horizonte e Janaina de Assis (2011), sobre as personagens femininas nas canções buarquinas da época da ditadura. Em 2012 foi localizado um trabalho que não constava no projeto anterior (2012), de Talitha Couto Moreira, que revisita trabalhos de etnomusicologia e educação musical com o intuito de selecionar os que fazem intersecções entre música e relações de gênero. Na USP, a pós-graduação em música disponibiliza anualmente as teses e dissertações publicadas. No ano de 2007 foram dez publicações, sendo que nenhuma contenta a temática da nossa pesquisa. Em 2008 foram dezoito, sendo aproveitado o trabalho de Eliane Maria, que aborda Clara Schumann. Em 2009 foram quinze e, em 2010, quatorze, em nenhum desses anos foram encontrados trabalhos relativos ao nosso tema. Já em 2011, localizei outro sobre Clara Schumann, escrito por Clarissa da Costa. Em 2012, tiveram 28 publicações, destas, apenas uma é contribuir para nossa temática, que é o trabalho de Emerson Adriano sobre os cantos de Magdalena Lábeis. No banco de dados de doutorado em música foram publicadas 30 teses, porém nenhuma destas foi aproveitada em nosso levantamento. E no banco de dados geral foi localizado o de Dalila de Carvalho (2010), sobre a trajetória de Helza Camêu e Joanídia Sodré e o de  

 

Francisca Marques (2008) sobre a Festa de Boa Morte, sendo que estes dois trabalhos já estavam inclusos no levantamento anterior (2012). A UNESP funciona da mesma maneira que a USP com relação aos anos e as publicações. Em 2007 foram treze dissertações, sendo uma delas sobre sons e gestações, de Simone Maria Pires Cabrera. No ano de 2008 foram vinte e três dissertações e em 2009, quatorze, com o aproveitamento de uma sobre Chiquinha Gonzaga e o Maxixe. Entre 2010 a 2013 foram trinta, sem resultados afeitos aos propósitos do levantamento. Na Unicamp, a busca foi feita no banco de dados da área de artes, no qual se encontram as teses e dissertações relacionadas à música. Alexandre Van (2009), com estudo sobre os aspectos musicais segundo a trajetória de Joaquina Lapinha, foi o único a aparecer na pesquisa anterior. Kelly Adriano (2009) discorreu sobre fé, mulheres e escolas de samba. O trabalho de Adriano Bueno (2010) sobre o discurso do rap foi abarcado por assumir em seu resumo, ainda que de maneira tímida, tratar sobre questões de gênero. Ana Carolina Arruda (2010) focaliza o trabalho de Alice Ruiz através da sua experiência e estética, Érica Isabel (2008) aborda a cultura juvenil do Riot Grrrl e Marcia Fonseca (2009) traz um estudo sobre mulheres e funk. A UFRJ não tem um campo de busca específico para música, nesse caso a busca se deu em todo o BDTD (Banco de Teses e Dissertações), onde encontrei dois resultados importantes: Margareth Gomes (2013), sobre tambores e corpos sáficos, e Sâmara Ataíde (2008), que aborda questões sobre a memória dos cantos das lavadeiras. Com relação às universidades localizadas da região do Nordeste, a UFPB tem um banco de dados em música com 32 trabalhos que não foram incluídos para o presente levantamento por não apresentar trabalhos condizentes, mas, em outros campos de estudos, foram encontrados os seguintes: Jandilson Avelino (2011), sobre a percepção de notas após o uso moderado de etanol por homens e mulheres; Cláudia Caminha (2010), que faz uma analise léxico gramatical do feminino no forró; Jaqueline Aristides Pereira (2010) que por sua vez analisa a obra de Cecília Meireles ligando sua poética à música. A UFPE não possui banco de dados em música, visto que não há ainda um programa de pós-graduação na área (níveis mestrado e doutorado). Sabendo-se que alguns trabalhos de antropologia são também relacionados à música12, encontramos o trabalho de Jailma Maria (2011), que busca compreender relações de gênero no                                                                                                                         12

Devido ao fato do etnomusicólogo Carlos Sandroni ser também professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFPE, tendo orientado diversos trabalhos sobre música no mesmo.

 

 

maracatu nagô e o de Ester Monteiro (2010), que aborda as relações e concepções de gênero no contexto dos afoxés de Recife.13 2.3. Dos periódicos Na primeira etapa do trabalho, foi feito a revisão, onde foram encontrados mais 5 artigos, além dos 4 encontrados anteriormente, totalizando 9 trabalhos. No arquivo do ICTUS encontramos os seguintes artigos: “pode performance ser no feminino?” de Laila Rosa, “A obra pedagógica para piano de Virgínia Salgado Fiúza: análise de 29 peças e orientações para a sua utilização didática” de Simone Braga e o artigo “O Cenário Musical Paraense da primeira metade do século XX: O Rouxinol Paraense e sua rede de relações” de Gilda Maia. Por último o trabalho de Gilda Maia, resultado da pesquisa de mestrado “Os Olhares sobre Helena Nobre e sua Atividade Artística: uma musicista paraense da primeira metade do século XX”. Na Per Musi foram encontrados os seguintes artigos: “Gênero e música barroca” de Suzanne Cusick. O artigo “Um olhar sobre as atividades musicais nos teatros do Rio de Janeiro em fins do século XVIII e início do XIX: a atuação da cantora Joaquina Lapinha” de Alexandra Leeuwen e Edmundo Hora. Na revista Música e cultura foi encontrado o artigo “Música, Mulheres, Territórios: uma etnografia da atuação feminina no samba de Florianópolis” autoria de Rogério Gomes e Acácio Piedade. Já na revista Claves, encontramos o artigo “O fortepiano na Coleção Theresa Christina Maria: propostas para uma performance historicamente informada Parte I – Articulação”, tendo como autor Pedro Persone. Na revista Música em Perspectiva encontrou-se o artigo “Fruição, sedução e produção: o papel da mulher na música” de Régis Duprat. E por último a Revista Hodie com o artigo de Nadja Barbosa, Enio Lopes e Marta Assumpção, “Voz feminina na ópera de Jules Massenet: características e ajustes vocais”. 14 No arquivo do Per Musi foi encontrado apenas um artigo do autor Marcus Vinícius Medeiros Pereira que tem o título “Maria Sylvia Pinto: dos traços biográficos à sua importância para a canção de câmara brasileira”. No arquivo da Música Hodie foi encontrado os seguintes artigos: “Eunice Katunda e Esther Scliar no contexto do                                                                                                                         13

  Por conta de problemas com o site da UFBA, não foi possível realizar ainda a revisão dos levantamentos de dados sobre esta universidade. 14 Ressaltamos que durante o processo de revisão dessa primeira etapa foram incluídos mais 6 periódicos. Na segunda etapa que corresponde aos anos de 2006, 2012 e 2013 foram encontrados 7 artigos entre as revistas anteriormente mencionadas. Mas apenas a Per Musi, Em Pauta, Música Hodie e Música Popular, possuíam os arquivos supracitados.  

 

 

modernismo musical brasileiro” das autoras Joana Cunha de Holanda Cristina Capparelli Gerling e “‘A Quem Interessar Possa...’ de Vanessa Rodrigues para Violoncelo Solo” do autor Fabio Presgrave. No Música Popular em Revista foram encontrados três trabalhos, “Celly, Meire e Regiane: experiências midiáticas de três meninas do rock paulista” da autoria de Rita de Cássia Lahoz Morelli. O artigo “O Punk não é só para o seu Namorado: esfera pública alternativa, processos de identificação e testemunho na cena musical Riot Grrrl” da autora Eliza Bachega Casadei. E, por último, o trabalho da autora Simone Evangelista Cunha, “Gaiola da Cabeçudas e Gaiola das Popozudas: uma análise sobre a representatividade e os conflitos do funk carioca no YouTube”, traz o debate acerca da cultura enquanto prática social e a representação do funk carioca relacionando com gênero. Por fim, foi encontrado na revista Em Pauta o artigo “Gênero, adolescência e música: um estudo de caso no espaço escolar” da autoria de Helena Lopes da Silva. As buscas continuaram nos mesmos periódicos. Na terceira etapa a pesquisa contemplou o período de 2003 a 2005. Nesta última, apenas um artigo encontrado: este foi publicado na revista Em Pauta (UFRGS) no ano de 2003. O artigo “Identidades musicais de si: um estudo com alunas da Pedagogia”, de Maria Cecília. Chegou-se ao total de 17 artigos em um período de 10 anos. 2.4. Das etnografias Com a inclusão da parte etnográfica da pesquisa, trouxemos o enfoque sobre as compositoras atuantes dos mais diferentes gêneros musicais da cena soteropolitana recente, com mapeamento de nomes, realização de algumas entrevistas, e análise de suas obras. Este recorte emergiu a partir da preocupação em fomentar novos dados de pesquisa, ou seja, para que diante da escassez já constatada de produção de conhecimento sobre a temática, criemos também uma nova pesquisa, trazendo um olhar com o recorte de gênero e suas articulações com raça, etnia, sexualidade, geração e classe social sobre estas sujeitas e um pouco de suas trajetórias artísticas e produções musicais. Até este ponto da pesquisa, foi realizado um mapeamento e chegou-se a um número de 78 compositoras da cena de Salvador. No entanto, até aqui foi realizada a análise de materiais referentes à produção de 24 compositoras. Constatamos que poucas artistas têm seu trabalho hospedado em site próprio, podendo citar como exemplo: Manuela Rodrigues, Claudia Cunha, Marcela Bellas, Mariela Santiago, Sandra Simões,  

 

Marcela Bellas, Aiace Félix, Neila Kadhí e Juliana Ribeiro. A maioria mantém seu perfil artístico no Facebook, Myspace e/ou soundclound. Das 24 compositoras tidas como referência, observa-se que a maioria não tem disco ou EP lançado. As que têm discos ou EP lançados somam o número de 11, são elas: 1. Aiace Felix; 2. Claudia Cunha; 3. Illa Benício; 4. Juliana Ribeiro; 5. Laila Rosa; 6. Manuela Rodrigues; 7. Marcela Bellas; 8. Marcia Castro; 9. Mariella Santiago; 10. Sandra Simões e 11.Vércia Gonçalves. Dentre estas, temos 3 compositoras que destacam-se com mais de um disco lançado: Manuela Rodrigues, Marcia Castro, Mariella Santiago. Vide disposição abaixo: Manuela Rodrigues: Ano

Nome do Disco/EP

2003

Rotas

2011

Uma Outra Qualquer por aí

Ano

Disco/EP

2007

Pecadinho

2012

De pés no chão

Ano

Disco/EP

2002

Mariella

2010

In tudo que é canto

2013

Ella

Marcia Castro:

Mariella Santiago:

A partir deste primeiro levantamento, a ideia é partir para a etnografia, com realização de entrevistas com as artistas mapeadas e análise de seus perfis e produção fonográfica. 3. E ainda cantando... Numa breve explanação foi possível perceber que o universo de pesquisa é amplo, mas que, contudo, poucos foram os trabalhos encontrados que de alguma forma dialogam com os estudos de gênero, feminismos, raça/etnia, sexualidades ou mesmo traz a produção musical das mulheres em primeiro plano.

 

 

Num recorte de 10 anos, foram encontrados apenas 66 trabalhos que de algum modo dialogam com nossa grande temática nos Anais das grandes associações brasileiras de música. Um número até expressivo, mas quando pensamos que o universo é no mínimo 10 vezes maior que isso, consideramos o panorama desanimador. Silenciamento maior se dá nos periódicos, onde, em 10 anos de publicações, foram encontrados apenas 17 artigos. O mesmo ocorre nas teses e dissertações sobre música, onde,

num

universo

de

cerca

de

340

trabalhos

defendidos,

encontramos

aproximadamente 12 resultados num hiato de 10 anos de produção. Na parte etnográfica, encontramos outro dado contrastante, embora haja uma ideia de que o universo composicional seja majoritariamente masculino, entramos diversos nomes, quase 80 num primeiro levantamento, e todos os nomes atuantes somente em Salvador, ou seja, um número realmente expressivo. Contudo, fica explícita a dificuldade das compositoras em manter seus sites e gravar seus próprios trabalhos. Num universo de 78 compositoras, apenas 24 alcançam maior projeção midiática, realizando shows, etc. Destas, apenas 11 conseguiram gravar suas obras, e destas, apenas 3 têm mais de um cd gravado. O mercado da música, difícil para artistas em suas diversidade, evidencia uma perversidade sexista para com as compositoras. A partir desta constatação, pretende-se ainda obter mais dados sobre a produção artística das compositoras de Salvador, com especial enfoque às instrumentistas, para que, desta forma, possamos gerar novas referências sobre a cena musical da cidade a partir de um recorte de gênero diferenciado, onde a maioria das artistas que alcançam certa projeção é de cantoras. Seguindo, damos continuidade à pesquisa que permitirá um aprofundamento sobre o tema, que já comprovadamente corresponde a uma lacuna teórica nos estudos sobre música no Brasil em suas 4 principais subáreas de conhecimento. Esperamos que a mesma possa tornar–se referência para as mesmas e estudos afins que abordem a música enquanto importante fenômenos cultural e político. Compreendemos ainda a importância de considerar o atual momento político no campo da música como a implementação da lei 11.769/08 de obrigatoriedade do ensino de música nas escolas. Propomos fortalecer ainda articulação desta com os 10 anos da lei 10.639/03 de ensino da história e cultura afro-brasileira e 11.769/08 de inclusão de história e cultura indígena, bem como, da criação da Secretaria Especial de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial - SEPPIR e da Secretaria de Políticas para a Mulher enquanto importantes pastas ministeriais.  

 

Esperamos fomentar, portanto, uma importante articulação teórica, artística e política sobre música no século XXI, quando gênero, raça/etnia, sexualidades e o movimento LGBTQI tornaram-se pauta cultural e social fundamentais, porém ainda pouco problematizadas no campo do musical, onde as mulheres continuam invisíveis também. Ficam então as perguntas: que compreensão de música nós desejamos? Que tipo de ensino de música pode realmente dialogar com a diversidade humana? Como romper com tais silenciamentos para alcançarmos este canto plural que é nossa cultura, onde as mulheres correspondem a metade da população, onde o sexismo produz o feminicídio e violências diversas também no campo do simbólico, onde o racismo e o etnocídio imperam e a lesbo-homo-transfobia ainda se fazem cruelmente presentes? Será que não emerge então a necessidade de cantarmos “outros” repertórios?...

 

 

Referências BRETT, Philip; WOOD, Elizabeth. Música Lésbica e Guei. Tradução e notas de Carlos Palombini. IN: Estudos de gênero, corpo e música: abordagens metodológicas. Isabel Porto Nogueira (introdução e organização), Susan Campos Fonseca (introdução e organização) – Goiânia / Porto Alegre: ANPPOM, 2013. Pp. 383-455. CURIEL, Ochy. “Crítica poscolonial desde las practicas políticas del feminismo antirracista.” In: Nómadas. No. 26, Abril. Universidad Central – Colombia, 2007. Pp. 92-101. CARDOSO, Cláudia Pons. Outras falas: feminismos na perspectiva de mulheres negras brasileiras. 2012. Tese (Doutorado em Estudos Interdisciplinares sobre mulheres, gênero e feminismo). PPGNEIM, Universidade Federal da Bahia, Salvador. HOLANDA, Joana C.; GERLING, Cristina Capparelli. Estudos de Gênero em Música a partir da Década de 90: Escopo e Abordagem. Revista Associação Nacional de Música, Revista ANM, Rio de Janeiro, v. 15, 2005. PINTO, Tiago de Oliveira. “Som e música. Questões de uma Antropologia Sonora”. IN: Revista de Antropologia, vol.44, no.1 , 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-77012001000100007 ROSA, Laila; IYANAGA, Michael; ALCANTARA, Neila; HORA, Eric; SILVA, Laurisabel; ARAUJO, Sheila; MORAES, Luciano. Epistemologias feministas e a produção de conhecimento recente sobre mulheres e música no Brasil. IN: Estudos de gênero, corpo e música: abordagens metodológicas. Isabel Porto Nogueira (introdução e organização), Susan Campos Fonseca (introdução e organização) – Goiânia / Porto Alegre: ANPPOM, 2013. Pp. 110-137. ROSA, Laila; HORA, Eric e SILVA, Laurisabel. FEMINARIA MUSICAL: GRUPO DE PESQUISA E EXPERIMENTOS SONOROS. IN: Anais do Seminário Internaciol Fazendo Gênero 10. Disponível em: http://www.fazendogenero.ufsc.br/10/resources/anais/20/1385055525_ARQUIVO_Lail aRosa.pdf ROSA, Laila Andresa C. Feminaria musical ou epistemologias feministas em música no Brasil. Projeto de Iniciação Científica apresentado ao Programa Permanecer 2012. 5p. ______. Feminaria musical ou epistemologias feministas em música no Brasil: das experiências etnográficas. Projeto de Iniciação Científica apresentado ao Programa PIBIC UFBA 2013. 12p. SOVIK, Liv. Aqui ninguém é branco. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2009.

 

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